sexta-feira, 3 de maio de 2013

Mafia sindical quer recriar o pacto perverso que levou o pais ao precipicio inflacionario

Pacto perverso é quando espertos e expertos se unem para prejudicar todo o resto da sociedade.
Ocorreu em várias sociedades: na Inglaterra pré-Thatcher, por exemplo, quando a CUT deles, o Trade Union Congress, se reunia com os equivalentes da FIESP e da CNI locais -- os patrões poltrões do capitalismo britânico -- para decidir sobre aumento reais de salários, repassando a conta para toda a sociedade, algo que cansamos de ver aqui no Brasil entre sindicatos aparentemente agressivos (o de Mister Lula, por exemplo) e patrões complacentes.
Eles fingiam que brigavam, e logo saiam com aumentos de salários (supostamente reais) de um lado, e aumentos de preços do outro. Nós pagávamos a conta, com mais inflação.
Na Grã-Bretanha, tanto o Labour bonzinho com o socialismo dos trabalhadores, como os Tories medrosos não ousavam enfrentar esses nefastos amigos da miséria alheia, os parceiros no pacto perverso que levou o país à completa decadência. Foi preciso vir uma primeira-ministra com algo que não tinham esses políticos medrosos para enfrentar patrões e sindicatos e colocar ordem na bagunça que tinha virado o país.
No Brasil, o pacto perverso teve curso nos anos 1980 e início dos 90, quando se "negociavam aumentos" e gatilhos salariais, a loucura completa protagonizada pela CUT, pelo próprio governo e pelos patrões medrosos (eles continuam medrosos).
Agora, o nosso Labour (atrasado, pré-Tony Blair) é o partido dos companheiros, que leva adiante o pacto perverso, com os mafiosos sindicalizados. Vamos todos pagar o preço da loucura...
Paulo Roberto de Almeida


Espertos no gatilho

02 de maio de 2013 | 2h 05
Editorial O Estado de S.Paulo
Se, por esperteza política ou incapacidade de percepção da vida real, ignoram os efeitos desastrosos que, no passado recente, a inflação teve sobre a economia e sobre o rendimento do trabalho, certos dirigentes sindicais deveriam pelo menos avaliar as consequências nocivas que a alta média dos preços já impõe aos salários reais no presente, antes de apresentar propostas que, se adotadas, podem piorar a vida dos trabalhadores e causar sérios danos a todo o País.
Nada, a não ser demagogia pura e simples ou ignorância, pode justificar a proposta que vem sendo defendida pelo presidente da Força Sindical, deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o "Paulinho da Força", e por seus parceiros na central sindical, de recriação do chamado "gatilho salarial", que seria disparado a cada três meses, com o objetivo de corrigir os salários nominais com base na inflação passada.
Trata-se, como se lembram bem os que tiveram de conviver com a alta contínua dos preços, de um mecanismo de indexação plena dos salários. A indexação, lembram-se também essas pessoas, foi o grande realimentador da inflação e, com a disseminação de seu uso, tornou muito mais difícil a estabilização da economia.
Era falsa a proteção que a indexação parecia oferecer aos trabalhadores. Na corrida entre salários e os demais preços todos perdiam, mas os trabalhadores perdiam mais. É essa corrida que, sem o admitir publicamente, "Paulinho" e seus companheiros querem recomeçar, sob o falso argumento de proteger o trabalhador.
Se quiserem mesmo assegurar a renda real, esses sindicalistas deveriam lutar pela queda da inflação. O efeito socialmente mais precioso do Plano Real, de 1994, foi, com a estabilidade, preservar a renda dos brasileiros e, em seguida, propiciar seu aumento real, em decorrência do crescimento econômico.
A inflação, ao contrário, corrói o salário real e, quando se acelera, anula eventuais ganhos obtidos pelos trabalhadores.
Embora muito longe do descontrole registrado entre 1985 e 1994, a inflação está alta, já desgasta salários e, se não apresentar uma tendência clara de desaceleração nos próximos meses, pode dificultar as futuras negociações salariais, em prejuízo dos trabalhadores.
Um balanço feito pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) dos reajustes salariais negociados nos três primeiros meses deste ano mostram que os ganhos reais foram menores do que os do ano passado e beneficiaram um número proporcionalmente menor de categorias profissionais.
O ganho real médio neste ano é de 1,4%, menos do que o de 1,96% registrado em 2012. A porcentagem de categorias que obtiveram ganho real também diminuiu, de 94,6% para 87%.
Não é uma situação ruim. O mercado de trabalho continua a registrar índices muito baixos de desemprego, o que, em tese, tende a estimular aumentos reais de salários.
Mas a persistência da inflação em níveis altos - nos 12 meses encerrados em março, ela alcançou 6,59%, acima do limite de tolerância da política de meta inflacionária - e a estagnação da produtividade, pois os investimentos no setor produtivo estão em nível muito baixo, indicam que as empresas enfrentam mais dificuldades para o pagamento da folha de pessoal.
Se essa situação se mantiver por mais tempo, as conversações entre empregadores e empregados a respeito da correção dos salários serão mais difíceis.
Mais empresas proporão reajustes inferiores à inflação passada, enquanto os trabalhadores, cujos orçamentos estarão mais apertados por causa da alta mais acelerada dos preços, quererão aumentos maiores. Quanto à atividade econômica, já há sinais de que, por causa da inflação, a demanda interna começa a se arrefecer.
É esse quadro ruim que, por meio de sua proposta irresponsável, a Força Sindical quer tornar ainda pior, deteriorando as relações trabalhistas, perturbando o mercado de trabalho e causando perdas para todos - trabalhadores, empregadores, as empresas, as famílias.

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