A revista VEJA acabou com o meu final de semana
6 de setembro de 2014 por mansueto
Nada como passar os olhos descomprometidos pelos jornais e pelas revistas semanais no sábado de manhã, antes de sair com as crianças. Mas não é que a revista Veja desta semana me surpreendeu com um soco violento na barriga.
A primeira matéria que me deixou de estômago embrulhado é a matéria da capa que trata da lista grandes de políticos envolvidos nos desvios de recursos dos contratos da Petrobras. Isso veio à tona e continuará a pautar a imprensa antes e depois das eleições porque o ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, fez um acordo de delação premiada para não “pagar sozinho o pato”. Isso me parece ser nitroglicerina pura e que poderá trazer para o banco dos réus políticos importantes.
A segunda matéria que me assustou é aquela que mostra a transcrição de conversas telefônicas entre a contadora Meire Poza, que trabalhava para o doleiro preso Alberto Youssef, e um advogado contratado não se sabe por quem, mas a revista cita o nome de grandes empreiteiras brasileiras, para intimidar a contadora a não contar o que sabe. A contadora é de uma coragem impressionante.
Este caso está ligado ao do ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa. É impressionante a capacidade que grandes empreiteiras do Brasil têm de vez em quando saírem no noticiário econômico e aparecerem nas páginas policiais dos jornais. Essas empresas deveriam, rapidamente, ajudar nas investigações para afastar qualquer indicio de envolvimento no pagamento de propinas nos contratos com a Petrobras e/ou de ajudar na identificação, se for o caso, de funcionários seus envolvidos.
A terceira matéria que me surpreendeu é uma queixa-crime do Banco Central aos recorrentes a ácidos ataques do economista Alexandre Schwartsman ao Banco. Alexandre é sempre duro nas suas críticas, mas o Banco Central abrir um queixa-crime contra o economista me parece um evidente exagero. Lembro do economista atacar a postura do “Banco Central”, não exatamente os seus diretores. O correto seria criticar alguns diretores?
Eu já escutei coisas priores sobre o Banco Central nos corredores do Ministério da Fazenda e mesmo de políticos. Por exemplo, Luciana Genro do PSOL e Eduardo Jorge do Partido Verde vivem falando para quem quiser ouvir da submissão do governo e do Banco Central ao grandes banqueiros. Isso sim é difamação, mas nem por isso o BACEN vai processar os dois. E representantes do PT que vem falando do complô da “grande imprensa”. A grande imprensa deveria processar todo mundo?
Talvez o que incomode algumas pessoas no BACEN, no caso do economista Alexandre Schwartsman, são suas análises técnicas. O Alex usa uma linguagem dura de mercado que, às vezes, irrita algumas pessoas. Mas ele é um economista brilhante e ativo no debate. Tenho a impressão que algumas pessoas gostariam que o economista escrevesse de uma forma diferente para a expressar as suas críticas. Por exemplo:
“É possível que a nossa autoridade monetária, apesar de sua reconhecida competência técnica, esteja passando por algumas dificuldades momentâneas para convencer o mercado quanto à velocidade da convergência da inflação para o centro da meta. Alguns economistas falam de uma suposta interferência política do Palácio do Planalto, ainda não comprovada, mas que não deveria ocorrer pois a independência operacional do Banco Central é importante para a boa administração da política monetária. Assim, vamos esperar por uma maior clareza quanto à velocidade de convergência da inflação para a meta e por um maior clareza da política fiscal, que pode ajudar ou atrapalhar esse processo de convergência”.
Tudo muito bonito e educado, mas os analistas de mercado não têm tempo (e nem saco) para esse tipo de frases longas e cuidadosas. Muito falariam simplesmente assim: “Esses caras estão fazendo a maior M…. e vão se F……. no controle da inflação”. Essa é a linguagem informal do mercado. Alexandre neste aspecto utiliza uma linguagem dura, mas muito menos ríspida do que aquela utilizada nas reuniões fechadas de analistas e operadores do mercado.
A boa noticia é que a juíza federal, Adriana Delboni Taricco, decidiu rejeitar a queixa crime por entender que as criticas do economista “não ultrapassaram os limites do mero exercício de sua liberdade de expressão”.
Dito tudo isso e depois da Revista Veja ter estragado com a minha alegria do final de semana, quero saber o seguinte. Primeiro, o Banco Central não deveria processar aqueles que falam que o Banco aumenta a taxa de juros para favorecer o grande capital? Já estou preparando a minha lista para enviar ao Banco Central e a grande maioria dos nomes são de pessoas do partido do governo.
Segundo, as minhas criticas ao Tesouro Nacional não são contra a instituição nem mesmo quanto à honra de pessoas que dirigem o órgão. Eu tenho certeza que as poucas pessoas que adotaram a contabilidade criativa fazem isso por convicção por acreditarem que estão ajudando o crescimento do Brasil e, por isso, continuarão a fazer o mesmo enquanto estiverem por lá. Acho essa prática “meio complicada” (uma M….. na linguagem do mercado), mas não tenho nada contra as pessoas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentários são sempre bem-vindos, desde que se refiram ao objeto mesmo da postagem, de preferência identificados. Propagandas ou mensagens agressivas serão sumariamente eliminadas. Outras questões podem ser encaminhadas através de meu site (www.pralmeida.org). Formule seus comentários em linguagem concisa, objetiva, em um Português aceitável para os padrões da língua coloquial.
A confirmação manual dos comentários é necessária, tendo em vista o grande número de junks e spams recebidos.