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domingo, 8 de março de 2015
Venezuela: o ideologo do socialismo do seculo 21 diz que o sistema e'inepto; e nao faz autocritica
Um idiota completo, que ao menos reconhece que a sua construção faliu completamente. Queria o quê? Um socialismo que funcionasse? Onde é que isso ocorreu?
Para
sociólogo alemão ex-mentor de Hugo Chávez e idealizador do socialismo
do século 21, crise econômica e violência urbana derrubaram popularidade
do governo
Eleito
em 2013 após a morte de seu padrinho político, Hugo Chávez, o
presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, enfrenta uma crise econômica
agravada pela queda do preço do petróleo, uma popularidade em torno dos
20% e críticas dentro e fora da Venezuela pela prisão de políticos da
oposição, a quem acusa de tentar derrubá-lo. Para o sociólogo alemão
Heinz Dieterich, ideólogo do socialismo do século 21 defendido por Hugo
Chávez, que nos últimos anos tornou-se crítico do chavismo, o maior
risco de golpe vem de dentro do próprio chavismo e não da oposição. "Se
não tomar medidas drásticas e corretas para resolver os problemas
econômicos e de segurança, perderá o apoio dos militares chavistas, que
vão tirá-lo do poder", disse ele ao Estado. A seguir, a íntegra da
entrevista, concedida por e-mail.
Qual
a avaliação do senhor sobre as recentes medidas econômicas do
presidente Maduro, especificamente a criação de uma banda de câmbio
flutuante (Simadi)?
Desde
o ponto da economia política, é uma medida completamente disfuncional e
até idiota, porque joga gasolina no fogo. O volume do Simadi é tão
pequeno que não cobre a demanda. Em consequência, exerce uma pressão que
eleva o preço do dólar. Isso é evidente no mercado paralelo, onde o
preço do dólar subiu 60% em um dia. A diferença do mercado negro para o
Simadi já supera os 100 bolívares por dólar (280 a 177). No aspecto
político, é uma medida classista em favor dos estratos privilegiados que
podem ter fundos e contas em dólares e a favor das empresas
transnacionais que podem trocar os seus dólares para pagar trabalhadores
com um salário real a nível africano. Novamente, os pobres pagam as
contas dos tímidos ajustes neoliberais de um governo absolutamente
inepto.
Por que a popularidade do governo caiu tanto?
Há
duas razões. O governo Maduro não resolveu dois grandes problemas que
afligem os cidadãos: a economia e a segurança. A inflação do ano passado
superou 60%. A de janeiro chegou a 12% ao mês e é possível que em 2015
ocorra uma hiperinflação, o que quer dizer na prática o colapso do
sistema financeiro e monetário. Um calote em parte da dívida externa até
o fim do ano é possível. Uma taxa de crescimento negativo do PIB, como
ocorreu nos últimos anos é provável. A produtividade, a produção e a
eficiência na distribuição de mercadorias não se recuperará diante do
sistema administrativo atual, que é controlado pelo estado. As receitas
públicas do petróleo não se recuperarão nos próximos anos e uma reforma
fiscal ou o aumento da gasolina se darão em um ano de debilidade
eleitoral do governo. E esse desastroso panorama se repete no setor de
segurança. A segunda razão é que a mais de dois terços da população já
não acreditam na desculpa do governo, de que isso é resultado da "guerra
econômica" dos capitalistas e de Washington. Na prática, quase 80% já
não acredita no discurso oficial de Maduro, como dizem as pesquisas
sérias.
Na
sua opinião, como os coletivos chavistas e as pessoas mais pobres estão
enfrentando a crise. Eles ainda têm confiança no chavismo?
O
que foi quase o monolítico Bloco de Apoio Chavista (BAC) nos tempos do
presidente Chávez hoje está rachado. Os 20% de apoio que resta a Maduro
nas últimas pesquisas é essencialmente dos mais pobres, que, com razão,
temem perder as conquistas sociais que tiveram com Chávez. E eles ainda
acreditam nas mentiras do governo porque é a única esperança e consolo
que lhes restaram diante do futuro neoliberal. Algo como os jesuítas
diziam: credo quia absurdum est: acredito apesar do absurdo que é. A
classe média está muito decepcionada com o governo e com a oposição e
busca o que chamam de "terceira via". Os mais politizados do movimento
chavista querem, de um lado, soluções impossíveis como a "ditadura
revolucionária" e de outro a reestruturação da troica governante. Até
agora tiveram pouco êxito. Um último setor, por fim, se despolitiza e se
conforma que não se pode fazer nada.
Agora o preço do petróleo está em baixa. Por que o chavismo não conseguiu estar preparado para esse cenário?
Foi
uma conjunção de fatores que derrubou o preço do petróleo: o gás de
xisto, a ruptura da Opep pela Arábia Saudita, a crise mundial e outros.
Obviamente, os estrategistas da PDVSA e do governo não previram a
gravidade dessa crise porque os fundos de reserva que tinham separado
são totalmente inadequados para suportar uma crise dessa natureza. A
segunda razão é que todo o programa de substituição de importação via
industrialização endógena e a soberania alimentar falhou. Na prática, um
gigantesco volume de divisas seguem no exterior sem efeito produtivo na
Venezuela. Por último, o desperdícios de recursos, como por exemplo o
preço da gasolina, a corrupção e a destruição das cadeias produtivas por
uma intervenção estatal absurda e ineficiente e o despreparo do sistema
para absorver um choque externo como o atual
Não
seria melhor que o chavismo tivesse investido em infraestrutura
produtiva, como fizeram Evo Morales e Rafael Correa? Ou as
características políticas da burguesia venezuelana não tornariam isso
possível?
Sim,
era o indicado. E, de fato, Chávez queria potencializar a Venezuela
dessa maneira. Mas o único setor onde conseguiu melhorar a
infraestrutura foram as Forças Armadas. E, de maneira assistencial, no
combate à pobreza e na saúde. A burguesia venezuelana é, de fato, uma
das mais parasitárias e improdutivas da América Latina. Sempre viveu da
renda do petróleo, como as dinastias feudais-mercantis do Oriente Médio e
de sua relação plutocrática com o Estado. A ideia de Chávez era
substituir essa classe social falida com cooperativas e setores
nacionalistas, o que sempre foi um romantismo. Isso requeria um projeto
racional e uma burocracia eficiente de imposição, como o Ministério do
Planejamento japonês. Chávez nunca conseguiu criar essa estrutura de
direção e controle.
O que Maduro ganha politicamente com a prisão de Ledezma?
Intimidar
a direita golpista, que não acreditava que ele ia se atrever a
prendê-lo. Mas isso tem um efeito de curta duração. Ganhou dois ou três
meses nos quais Washington e seus aliados golpistas venezuelanos terão
de se readequar à nova situação e reconfigurar sua estratégia de
desestabilização. Em suas fileiras, Maduro se lança como um marechal de
campo que derrota o inimigo. Mas, novamente, é uma vitória de Pirro,
porque o efeito é conjuntural.
Em
artigo em janeiro no site aporrea, o senhor apostou que Maduro fica no
poder no máximo até 2016, seja por referendo revocatório, renúncia ou
intervenção militar. Qual desses cenários é mais provável?
Se
não tomar medidas drásticas e corretas para resolver os problemas
econômicos e de seguança, perderá o apoio dos militares chavistas, que
vão tirá-lo do poder. Há diferentes maneiras de fazê-lo e isso pode
ocorrer antes de dezembro desse ano. Se isso não ocorrer, sai em 2016 no
referendo revocatório ou eleições antecipados.
Que motivos teriam as Forças Armadas para intervir?
A
perda do projeto chavista original, com seus fortes componentes
nacionalista, antiimperialista, bolivariano e social. Chávez deu aos
militares uma razão de ser e uma missão secular. Se a perderem, vem o
caos e a anarquia. E nada é mais terrível para um militar que a ideia de
anarquia. Evidentemente, os oficiais de alta patente perdem também seus
enormes privilégios econômicos e políticos atuais, uma vez que fazem
parte da classe dominante.
O
que está por trás politicamente da decisão de tirar o ex-presidente da
PDVSA Rafael Ramírez do Ministério Do Petróleo, fazê-lo chanceler e
depois enviá-lo para ser chanceler na ONU?
Ramírez
e Diosdado Cabello sempre foram inimigos porque Cabello é um
anticomunista até a morte, enquanto Ramírez é um sobrevivente do
socialismo do século 20. Como o ex-ministro do Planejamento Jorge
Giordani, representa a esquerda do passado que não entende o socialismo
do século 21, mas que, de qualquer forma, são inaceitáveis para um
burocrata fazedor de intrigas e autoritário como Cabello. Dado que é
Cabello quem manda na Venezuela, uma vez que Maduro nada mais é que a
face pública da facção chavista dominante, era só uma questão de tempo
até eliminar qualquer vestígio de esquerda no gabinete. A Venezuela está
na fase do Termidor. Acabou a fase revolucionária dos jacobinos
latino-americanos.
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