domingo, 10 de julho de 2016

Privatizar pode ser uma via: Fritschak (Empiricus)


O AntagonistaEmpiricus,
10 de Julho de 2016

Se quer caixa de verdade, Temer deve privatizar Eletrobras e Petrobras

Claudio Fritschak, um dos maiores especialistas em infraestrutura do país, diz que é hora de discutir o assunto

Por Márcio Juliboni

Esqueça as rodovias e os aeroportos. Se o governo quiser dinheiro grosso para resolver seu problema de caixa, é hora de privatizar os elefantes brancos que atazanam as contas públicas e a vida dos brasileiros: Eletrobras e Correios. Além disso, por que não discutir a venda da própria Petrobras? A avaliação é de Claudio Fritschak, um dos maiores especialistas em infraestrutura do país.

Numa conta rápida, somente o pré-sal poderia render uns US$ 20 bilhões para o governo. Só a Eletrobras aportaria mais US$ 15 bilhões – com o benefício extra de se livrar de um cabide de empregos loteado por políticos de todas as colorações partidárias. Economista e fundador da consultoria Inter.B, Fritschak afirma que não faltam interessados no Brasil. O que falta mesmo é pôr a mão na massa.

Veja os principais trechos da entrevista a O Financista:

O Financista: O governo tem pressa com as concessões porque precisa de dinheiro. Quais são as áreas mais fáceis e rentáveis para licitar?

Claudio Fritschak: Se quiser começar pelo mais fácil, primeiro são os aeroportos. Uma coisa boa é que o governo já tirou a Infraero do processo. Um aeroporto é composto por três negócios: uma operação logística, um grande shopping center e as operações imobiliárias do entorno, como hotéis e estacionamentos. Então, é muito atraente, porque gera muito dinheiro para os investidores.

O Financista: E as rodovias?

Fritschak: Há várias categorias de rodovias. A primeira são as que podem estender o contrato de concessão por meio de aditivos, em troca de investimentos. Mas é preciso ter regras claras para isso. Não pode fazer, por exemplo, o que se fez na ponte Rio-Niterói. Outro grupo são as rodovias que precisam de investimentos muito pesados, como a chamada “Rodovia do Frango”. Neste caso, o governo deve esquecer essa ideia de determinar uma taxa máxima de retorno.

O Financista: Quanto esses ativos podem render para o caixa do governo?

Fritschak: Se o governo quer caixa mesmo, é preciso privatizar. Não só concessões, mas venda de ativos mesmo. Temos o pré-sal. Monetizar parte dele faz todo o sentido. Precisamos ir além do Campo de Libra. Com o petróleo na faixa de US$ 50 por barril, e fazendo um bom projeto, em uma estimativa bem preliminar, o governo pode conseguir entre US$ 20 bilhões e US$ 30 bilhões. Outra é a Eletrobras. Não tem sentido manter uma estrutura como aquela. É claro que depende da modelagem, mas pode render uns US$ 15 bilhões. Os Correios são outro. É incompreensível esse monopólio, que só serve para interesses políticos. E a Petrobras. Por que não discutir isso? Enfim, dá para dizer que existem ativos da ordem de dezenas de bilhões de dólares que podem ser vendidos.

O Financista: Como tornar tudo isso, efetivamente, interessante para os investidores?

Fritschak: Há alguns pressupostos. Primeiro, a confirmação do impeachment de Dilma. Segundo, que Temer vá, mesmo, até 2018. Terceiro, a sensação de uma certa normalidade econômica. Com isso, os ativos brasileiros começarão a se valorizar. Mas um processo de privatização bem feito pode gerar boas receitas. Não faltam recursos lá fora. Mas é preciso desaparelhar as agências reguladoras e respeitá-las. Definir um plano estratégico de infraestrutura, e não apenas leiloar projetos isolados, que não fazem sentido para o investidor. Oferecer os projetos básicos e deixar que as empresas compitam pelo melhor projeto executivo. E criar uma agenda de PPPs, que são fundamentais para áreas como saneamento e mobilidade urbana. Para essas PPPs, é preciso um fundo garantidor, cujos recursos poderiam vir das privatizações.

O Financista: Mas há, mesmo, interesse dos estrangeiros pelo Brasil?

Fritschak: Muito. Não são apenas as empresas de private equity. Há também os fundos de pensão estrangeiros e as seguradoras. Os dois têm o mesmo problema: o equilíbrio atuarial. Por isso, precisam de investimentos de longo prazo. Há os fundos soberanos; alguns são muito grandes. E temos a China. Eles já estão aí no setor elétrico, por exemplo. E os chineses têm uma mentalidade de melhorar as operações. Não é apenas comprar, mas desenvolver. Isso não seria bom para todo mundo? Os consumidores teriam um serviço melhor. O país teria uma infraestrutura melhor.














 

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