terça-feira, 26 de setembro de 2017

Conselho de Relacoes Internacionais, em Sao Paulo - Rubens Antonio Barbosa (OESP, 26/09/2017)


CONSELHO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Rubens Barbosa
O Estado de S. Paulo, 26/09/2017

As relações internacionais e a politica externa são domínios pouco frequentados pelos políticos brasileiros, com as exceções de praxe.  A percepção é a de que trabalhar nessa área não dá voto e tem pouca repercussão interna. Mesmo no comercio exterior, são poucos os congressistas que estão acompanhando as politicas internas e a evolução das negociações internacionais.
Poucos se dão conta de que, com as transformações profundas por que passa o cenário global, praticamente desapareceu o limite que sempre existiu entre a agenda do que ocorre no mundo e a formulação e a execução da politica econômica e de comércio exterior doméstica.
Se o presidente Trump adotar medidas internas para proteger a indústria norte americana, as empresas industriais brasileiras que mantém comércio com aquele pais terão de se ajustar. As negociações de acordos de livre comércio podem demandar a alteração de normas legais internas, como estamos acompanhando com os mega acordos regionais, que estão criando regras e padrões que vão forçar os países a se ajustarem, se quiserem manter suas exportações. Decisão da Organização Mundial de Comércio questiona a política industrial brasileira nos setores automotriz e de informática e, caso o órgão de apelação em Genebra decida contra o Brasil, o governo vai ter de compatibilizar os subsídios, os incentivos e o apoio a pedidos de conteúdo nacional às regras multilaterais não discriminatórias. Tudo isso tem de ver com politica econômicas e industriais internas e com a geração ou a perda de empregos.
            São Paulo é a 19ª maior economia do mundo, a 2ª maior economia da América do Sul (atrás do Brasil) e a 3ª da América Latina, depois de Brasil e México. É o maior polo de atração de investimentos na América Latina e conta com a maior concentração de corporações multinacionais em todo o continente. Dentro desse contexto é difícil explicar a inexistência  de um forum representativo para discutir essas questões.
            Sua economia é a mais internacionalizada do Brasil. O Estado exportou US$ 52,6 bilhões em 2016, respondendo por 28,4% das exportações brasileiras e recebeu em 2015 cerca de 30% do fluxo de investimentos diretos no Brasil. São Paulo está inserido na economia global e é reconhecido por sua liderança econômica e por sua atuação internacional.
            A marginalização do Brasil no cenário internacional representa hoje um problema para as empresas que deve ser melhor examinado para encontrar formas de superá-la. Recuperar a projeção externa e reinserir-se nos fluxos dinâmicos do comércio exterior são alguns dos maiores desafios que a sociedade brasileira enfrenta. A presença brasileira nos fóruns internacionais, inclusive na área de comércio e meio ambiente, cria uma demanda interna para empresas e diferentes setores da sociedade que poderia ser atendida pela criação de um forum desse tipo.         
            Faltava no governo de São Paulo um forum consultivo que pudesse mobilizar diferentes setores – oficiais, empresariais, da sociedade civil – para discutir, do ponto de vista do interesse paulista, políticas na área externa e de comércio exterior.
Com uma visão atualizada das relações do Brasil com o mundo e até certo ponto com uma percepção que vai na contramão da ação dos políticos em nosso pais, o governador Geraldo Alckmin decidiu instituir o Conselho Consultivo de Relações Internacionais do governo do Estado de São Paulo, que hoje se instala e se reúne pela primeira vez. De maneira pioneira e com visão de futuro, a criação do Conselho é um reconhecimento da importância das relações internacionais para o desenvolvimento social e econômico do Estado.
Dentre suas atribuições, o Conselho deverá informar sobre as principais tendências nas relações internacionais; formular recomendações sobre o posicionamento do Estado de São Paulo no exterior visando a conciliar suas ações com os objetivos da Politica Externa Brasileira; propor uma estratégia para o Estado na área internacional na próxima década. O novo Conselho está integrado por representantes do governo estadual, empresários, especialista em relações internacionais e do meio acadêmico, sob a presidência do governador do Estado.
            Essa plataforma terá uma visão da inserção internacional do Brasil levando em conta a posição relativa preponderante do Estado, onde diversos subsistemas financeiro, manufatureiro, tecnológico, intelectual e migratório, que compõem o sistema econômico nacional, possuem centros nevrálgicos. Será importante agregar ao debate das relações internacionais e comércio externo do Brasil, propostas de ação próprias de São Paulo.
            O Conselho deverá firmar-se como um "locus" dentro do governo paulista para a discussão de temas relevantes para a comunidade empresarial e de todas os setores que tenham atividades na área externa.
Como no próximo ano São Paulo vai sediar o World Economic Forum latino-americano, o Conselho poderá dar uma contribuição importante assessorando o governo paulista na elaboração do programa e na escolha de personalidades para participar desse relevante evento. Esse é um dos exemplos em que o Conselho poderá dar subsídios para a sucesso de atividades internacionais organizadas pelo governo estadual.
A discussão de estratégias na área internacional para o Estado de São Paulo vai permitir um exame sobre a politica econômica, a politica industrial e a politica de comércio exterior para os próximos anos. Espera-se que o Governador Alckmin possa aproveitar a oportunidade da instalação do Conselho para se posicionar sobre os desafios internos e externos que terão influência na definição de políticas nas áreas prioritárias de atuação do novo colegiado.

Rubens Barbosa, presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (IRICE).




Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários são sempre bem-vindos, desde que se refiram ao objeto mesmo da postagem, de preferência identificados. Propagandas ou mensagens agressivas serão sumariamente eliminadas. Outras questões podem ser encaminhadas através de meu site (www.pralmeida.org). Formule seus comentários em linguagem concisa, objetiva, em um Português aceitável para os padrões da língua coloquial.
A confirmação manual dos comentários é necessária, tendo em vista o grande número de junks e spams recebidos.