quinta-feira, 25 de julho de 2019

Foro de S.Paulo: importante ou desimportante? - Jornal Metropoles (Bsb), Paulo Roberto de Almeida

Meus comentários sobre o Foro de S. Paulo e o espantalho que a direita pretende criar
Paulo Roberto de Almeida

O Foro de S. Paulo existe desde 1990, o ano em que os castristas descobriram que o "mensalão soviético", iria realmente acabar, e que tempos duros viriam pela frente. De fato, na primeira metade dos anos 1990, com a cessação dos subsídios soviéticos – a própria URSS desapareceu no final de 1991 – Fidel Castro teve de enfrentar o que eles chamaram de "período especial", uma espécie de "cura de emagrecimento" das mais duras enfrentadas por uma ilha já de ordinário miserável, por força do falido regime socialista, e totalitário, criado pelos irmãos Castro, mantido por repressão severa contra toda a população cubana.
Só uns poucos idiotas da esquerda – e alguns supostos "intelequituais" descerebrados – continuavam apoiando Cuba no Brasil, entre eles os companheiros petistas, cujos "guerrilheiros reciclados" na direção do PT seguiram fielmente as ordens dos comunistas cubanos para criar esse Foro.
O Foro de SP nada mais é do que uma espécie de Cominform castrista, tomando exemplo nessa organização do stalinismo tardio para tentar controlar os partidos comunistas (sobretudo na Europa, contra a dissidência titoista), depois que o Stalin teve de desmantelar o Komintern criado por Lênin.
Quem não souber nada disso pode ler o livro sobre o comunismo do Archie Brown, disponível no Kindle, em inglês, mas também publicado no Brasil.
O fato é que eu, conhecedor da história do comunismo mundial, e da esquerda brasileira, fui um dos primeiros a chamar a atenção para o papel do Foro de S. Paulo na estratégia cubana para os partidos de esquerda na AL. Vou buscar os meus textos do início dos anos 1990 para comprovar o que acabo de dizer. Reconheço que Olavo de Carvalho – que já tinha sido comunista e que portanto sabia das táticas dos comunistas cubanos – também foi um dos primeiros a denunciar esse instrumento dos comunistas cubanos, e continuou assim fazendo nos últimos 20 anos, mas com sua paranoia habitual, segundo a qual, os comunistas brasileiros, e seus aliados continentais, pretendem "implantar o comunismo no Brasil". 
Acho risível esse tipo de postura, uma vez que nem o PCdoB, muito menos os comunistas cubanos pretendem implantar o comunismo no país, e não por qualquer ideologia liberal, e sim por puro oportunismo e pragmatismo: de onde eles iriam tirar dinheiro para sobreviver se não junto aos capitalistas (e trabalhadores) que produzem riquezas, que eles podem extorquir? Se eles são minimamente espertos – e imagino que sejam –, sabem que o socialismo é uma porcaria completa, e se precisasse de alguma prova a Venezuela está aí mesmo ao lado para provar que ele só produz miséria e pobreza.
Tentei explicar tudo isso a uma jornalista do Globo, que me entrevistou na semana passada, para produzir sua matéria no último domingo, que reproduzi aqui neste espaço: 
https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/07/foro-de-s-paulo-um-espantalho-util.html

De tudo o que lhe disse, ela só conseguiu extrair duas frases, que obviamente não refletem toda a evolução histórica do comunismo mundial e do socialismo cubano, e o que o Foro realmente significa para o PT e para os demais partidos da região: apoio estratégico – diplomático, político, financeiro – ao falido regime da ilha escravizada pelos Castros, e também uma maneira de carrear recursos para a sobrevivência do nefando sistema, por meios legais (porto de Mariel, programa Mais Médicos, acordos internacionais diversos) e sobretudo ilegais (super e subfaturamento em dezenas de contratos comerciais privados, mas nos quais os companheiros têm alguma participação). 

O "anti-Foro de S.Paulo" que agora se pretende criar, com os bolsonaristas no poder significa apenas continuar a agitar o espantalho do comunismo, do marxismo, que é importante nessa mobilização que a extrema direita faz em apoio às suas teses. Ou seja, é um espelho exato do que eles pretendem combater, agitando a iniciativa de uma "Internacional Conservadora" que essa direita sem qualquer doutrina pretende fundar. 

Termino dizendo que o Foro de S. Paulo não tem nenhuma importância em si mesmo – mais do que a ação própria dos partidos nacionais – a não ser como correia de transmissão e mecanismo de controle que os comunistas cubanos exercem em direção dos partidos de esquerda na região. Eles precisam disso, para sobreviver e se abastecer financeiramente. Não tem absolutamente nada de ideológico: apenas necessidade de manutenção de uma "bolsa pró-Cuba" a ser generosamente concedida por regimes afins (chavismo na Venezuela, lulopetismo no Brasil) e pelos partidos da esquerda na AL que eventualmente cheguem ao poder. As fontes estão secando, mas os partidos continuam sob vigilância dos cubanos, e as quermesses – de esquerda e de direita – continuam agitando bandeiras.
Os dirigentes sabem bem o que fazem, manipulando esses foros, e os militantes ingênuos continuam se mobilizando de forma canhestra.
O PT continua em sua missão VERGONHOSA de defender as ditaduras castrista em Cuba e chavista-madurista na Venezuela, assim como todos os regimes totalitários no mundo.
A nova "direita" brasileira se engaja no mesmo circo para tentar se contrapor aos desmiolados da esquerda, mas usam o espantalhos para fins políticos próprios.
Considero ambos os grupos potencialmente totalitários – só que não conseguem, por motivos óbvios, implantar uma ditadura no Brasil – e tento manter um mínimo de racionalidade e de objetividade na avaliação dessas manifestações equivocadas.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 25 de julho de 2019


Foro de São Paulo começa na 6ª. Afinal, o que é realmente o grupo?

Encontro de partidos de esquerda marcado para este fim de semana na Venezuela é alvo de críticas da ala olavista do governo Bolsonaro

Jornal Metrópoles24/07/2019

Entre esta sexta-feira (26/07/2019) e domingo (28/07/2019), a capital venezuelana, Caracas, receberá o 25° encontro do Foro de São Paulo. O evento, que reúne cerca de 200 partidos considerados de esquerda da América Latina, entre eles PT, PDT, PCdoB, PCB e PSB, ocorre pelo menos desde 1990 e já passou por diversas cidades da região.
Nos últimos dias, contudo, o tema voltou ao centro das atenções da nova – e muitas extrema – direita brasileira, personificada no professor on-line de filosofia Olavo de Carvalho. O ideólogo bolsonarista e seus seguidores atribuem ao Foro de São Paulo uma espécie de “superpoder” comunista, veem o grupo como um instrumento maléfico da esquerda.
O “perigo” alertado pela militância olavista não é recente. O próprio escritor, por exemplo, fala do tema pelo menos desde a década de 1990, como gosta de destacar em seus vídeos.
Os discípulos do guru dão voz à pauta. Vários integrantes do governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL), entre eles o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-RJ), dão destaque ao Foro de SP e tratam constantemente do tema no Congresso e mesmo em conversas internacionais.

Visões conflitantesEduardo Grin, cientista político da Fundação Getúlio Vargas (FGV), descreve o Foro de SP como um encontro que surgiu nos anos 1990, logo depois da queda do muro de Berlim, que tem por finalidade “preservar o legado de uma visão mais progressista e que reúne, portanto, vários governos, partidos e organizações de esquerda” da América Latina.
“Foi um espaço de encontro, de troca de ideias, com uma visão de um segmento mais progressista, que nem todos eram alinhados a uma visão a ‘la cubana’, mais radical. Mas havia um pensamento de que era possível criar fórmulas de acabar ou controlar com o capitalismo e de subverter várias formas de dominação política”, explica o professor.
Para Olavo de Carvalho, no entanto, o Foro de São Paulo é “a maior organização política que já existiu no continente latino-americano”, que reúne mais de 200 partidos políticos “e quadrilhas de narcotraficantes e sequestradores”, com o objetivo de “divulgar e implantar o comunismo”. Segundo Olavo, a função do PT é fornecer dinheiro para o movimento. “É um negócio monstruoso”, exclama.
“O Foro de São Paulo é um vasto plano de ocupação do continente inteiro pelo comunismo. E tudo o que está sendo roubado do Brasil é para financiar esse grupo”, disse em vídeo publicado no último final de semana. Em seguida, ele acusou os militares do governo, sobretudo o vice-presidente, Hamilton Mourão, de omissão.
Como de praxe no discurso olavista, as críticas voltam-se também à imprensa. Segundo o morador da Virgínia (EUA),há um “conluio” da imprensa para transformar o Foro em “uma reunião discreta”.

“Sem consequências”
Exagerado? Para o doutor cientista político David Fleischer, muito. Mestre em estudos latino-americanos pela Universidade da Flórida, nos Estados Unidos, o especialista explica que o Foro de SP é, na verdade, apenas um pingo em um copo de água. Ou seja, não tem todo o valor que divulga a nova direita do país.
“O Foro de SP é encarado como o grande inimigo, mas não contribui para nada. Porque não se vê muitas consequências a partir dessa reuniões”, explica o americano naturalizado brasileiro. O cientista político lembra que a opinião de Olavo de Carvalho sobre a ida de Eduardo, “filho 03” do presidente, para a embaixada brasileira nos Estados Unidos teve como base essa ideia.
Na ocasião, o guru do bolsonarismo desaprovou a indicação pois o deputado teria uma “missão histórica” no Brasil bem mais importante que ser diplomata em Washington. Na sua opinião, Eduardo é o “guerreiro” responsável por eliminar o “esquerdismo maldito” através da “destituição do Foro de SP”.
Como deputado, Eduardo assinou, em junho deste ano, requerimento para a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a atuação do Foro. O comitê, na realidade, é coordenado pela deputada federal Chris Tonietto (PSL-RJ), mas seria o deputado paulista o “verdadeiro líder”.

Assinei hoje requerimento para criação da CPI DO FORO DE SÃO PAULO junto com o Presidente Civil da Frente Cidadã, Maciel Joaquin. O Foro de SP, cujo um dos integrantes é o PT e aliado de Maduro e FARC.

View image on Twitter

3,636 people are talking about this
Os “antiforistas” culpam o grupo pela ascensão de governos de esquerda na América Latina nos primeiros anos do século 21. David Fleischer, entretanto, considera mais um exagero por parte da extrema-direita. Ele explica, paulatinamente, o que realmente teria motivado o crescimento da esquerda no continente, o que é uma “circunstância local de cada país”.
“O Foro não teve nada a ver com isso. Os governos de esquerda subiram ao poder devido às circunstâncias de cada país. No Equador e no Peru, por exemplo, foi por causa de gestões corruptas de conservadores. Na Argentina, os peronistas estavam governando há muito tempo, antes mesmo da criação do Foro”, explica o doutor em Ciência Política.
Para o deputado Ivan Valente (PSol-SP), o atual governo, junto a seus aliados, usa o Foro como um tipo de “contrapropaganda” bolsonarista para, assim, tentar criar certos fantasmas. “O Foro é muito mais uma troca de ideias do que uma articulação internacional que tenha peso”, disse o deputado.
Paulo Kramer, cientista político aposentado da UnB, nega, contudo, o caráter minimalista que os críticos dão ao Foro de SP. “Ele serviu como um espaço de troca de ideias e de informações que acabou fortalecendo em conjunto dessa esquerda, no momento em que ela protagonizou uma onda conquistando o governo de vários países. É um erro minimizá-lo”, avalia.
Segundo Kramer, o próximo encontro, em Caracas, servirá para “lamber as feridas de seu fracasso em vários países e articular uma estratégia de sobrevivência”.
Bolsonarismo e o 25° Foro de SPO evento, marcado para este final de semana, tem como slogan o título: “Pela paz, a soberania e a prosperidade dos povos: unidade, luta, batalha e vitória.” As reuniões contam com grupos de esquerda europeu, afrodescendentes, povos originários, mulheres, jovens, parlamentares progressistas do mundo, artistas, intelectuais e movimentos sociais.
Mais sobre o assunto
  • Igo Estrela/Metrópoles
  • Foto: Marcos Corrêa/PR
As pessoas interessadas em participar do 25º Foro de SP, em Caracas, devem pagar US$ 50 (cerca de R$ 187) pela entrada, segundo a organização do evento. Já o valor da entrada para partidos, movimentos e organizações é de US$ 250 (cerca de R$ 935). A Venezuela cobrirá os custos de hospedagem, alimentação e transporte interno para duas pessoas de cada delegação nacional.
Entre os temas que serão debatidos durante os três dias de encontro, estão a “elaboração de um plano comum de luta”; “Perspectivas e Enigmas da Economia Mundial”, “Experiências e Perspectivas dos Governos Progressistas da América Latina e Caribe” e “A Luta do Povo Venezuelano pela Democracia, a Paz e a Soberania Nacional”, dentre outros.
Para o chanceler Ernesto Araújo, “o Foro de São Paulo infelizmente está vivo e se reunirá em Caracas para fortalecer a coligação nefasta que fundamenta esse projeto de poder: socialismo-narcotráfico-corrupção-crime organizado-terrorismo”. O ministro diz, sem apresentar provas, que o “ataque insidioso ao ministro Moro e à Lava Jato obviamente faz parte dessa estratégia do Foro.”
O vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), o “filho 02”, concordou. “Fomos governados por décadas pelas diretrizes do Foro de SP. Se engana quem diz que estão mortos. Seus filhos maldosamente inteligentes, que sabem o que fazem para manipular, continuam sedentos pelo poder e evitar o término da roubalheira que nos destruiu financeira e moralmente”, tuitou.
A ideia levantada por integrantes do governo Bolsonaro logo é contestada por Eduardo Grin. O cientista político explica que, esse “combate” ao Foro de SP é muito mais político do que real. Ou seja, algo simbólico desenvolvido pela nova direita e que não tem efetividade alguma.


2/O Foro de São Paulo infelizmente está vivo e se reunirá em 25/7, em Caracas, para fortalecer a coligação nefasta que fundamenta esse projeto de poder: socialismo-narcotráfico-corrupção-crime organizado-terrorismo.
3/De fato, o Foro de São Paulo hoje é isso: marxistas instrumentalizando traficantes e vice-versa, com o apoio de forças que, há 60 anos, tentam submergir a América Latina no totalitarismo e no atraso, destruindo a liberdade de nossos povos.

663 people are talking about this
“Esse é um governo que, se não tem algum inimigo, ele cria. Tem sempre uma força estranha e oculta, que não se sabe quem é, tentando fazer alguma coisa contra o país. Tem sempre o comunismo a espreita tentando de maneira clandestina se organizar. Estou usando essas expressões um pouco caricatas porque é dessa maneira que o governo vê o mundo”, diz o professor da FGV.
Para Eduardo Grin, o governo pensa, sobretudo, nas próximas eleições. “O bolsonarismo está retomando uma discussão de 30 anos atrás. Quem é que fala no comunismo hoje em dia? Mas, na construção ideológica do governo é importante manter esse discurso, pois temos que entender o contexto da luta política se está fazendo, já pensando nas próximas eleições”, complementa.
O PT no 25° Foro de SPA presidente nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), não participará do encontro. Desde quando assumiu a presidência da sigla, em 2017, esta é a primeira vez que ela não participará. A assessoria de imprensa do partido informou que Gleisi não irá ao Foro por “questões de agenda”.
A direção nacional do PT, fundador do encontro, enviou uma nota, publicada nessa segunda-feira (22/07/2019), a respeito do 25º Foro de SP. A carta, postada em íntegra no site oficial do partido e no do encontro (leia), recomenda seis temas para debater durante o período. Entre eles, o recorrente “Lula livre!”.
Além de discutir a libertação do ex-presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, preso desde abril do ano passado, a sigla quer trabalhar com a paz na Venezuela e na Colômbia, pôr fim ao bloqueio econômico imposto pelos EUA contra Cuba e apoiar as candidaturas “progressistas e de esquerda” no continente.
Sendo assim, as diretrizes do PT para o 25º Encontro do Foro de São Paulo serão:
  1. Paz na Colômbia: pelo cumprimento dos Acordos de Paz de 2016, pelo fim do genocídio dos líderes sociais, pela apuração e punição dos responsáveis pelos 500 líderes sociais assassinados desde a assinatura dos Acordos;
  2. Paz na Venezuela: pelo fim da ingerência estadunidense nos assuntos internos da Venezuela, pelo fim das sanções econômicas, pelo direito à auto determinação do povo venezuelano e apoio aos Diálogos de Negociação entre as partes, auspiciados pelo Governo da Noruega, que ocorrem em Barbados.
  3. Fim do bloqueio econômico a Cuba e contra o acirramento das sanções econômicas recentemente determinadas pelo governo estadunidense (título 3 da Lei Helms-Burton).
  4. Apoio às candidaturas que representam os campos progressista e de esquerda nas eleições presidenciais de outubro deste ano na América do Sul: Alberto Fernández, na Argentina; Evo Morales, na Bolívia; e Daniel Matinez, da Frente Ampla, no Uruguai.
  5. Em defesa da democracia na região e contra a perseguição política e judicial das lideranças políticas e sociais da Região.
  6. Lula Livre!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários são sempre bem-vindos, desde que se refiram ao objeto mesmo da postagem, de preferência identificados. Propagandas ou mensagens agressivas serão sumariamente eliminadas. Outras questões podem ser encaminhadas através de meu site (www.pralmeida.org). Formule seus comentários em linguagem concisa, objetiva, em um Português aceitável para os padrões da língua coloquial.
A confirmação manual dos comentários é necessária, tendo em vista o grande número de junks e spams recebidos.