Paulo Roberto de Almeida
O Foro de S. Paulo existe desde 1990, o ano em que os castristas descobriram que o "mensalão soviético", iria realmente acabar, e que tempos duros viriam pela frente. De fato, na primeira metade dos anos 1990, com a cessação dos subsídios soviéticos – a própria URSS desapareceu no final de 1991 – Fidel Castro teve de enfrentar o que eles chamaram de "período especial", uma espécie de "cura de emagrecimento" das mais duras enfrentadas por uma ilha já de ordinário miserável, por força do falido regime socialista, e totalitário, criado pelos irmãos Castro, mantido por repressão severa contra toda a população cubana.
Só uns poucos idiotas da esquerda – e alguns supostos "intelequituais" descerebrados – continuavam apoiando Cuba no Brasil, entre eles os companheiros petistas, cujos "guerrilheiros reciclados" na direção do PT seguiram fielmente as ordens dos comunistas cubanos para criar esse Foro.
O Foro de SP nada mais é do que uma espécie de Cominform castrista, tomando exemplo nessa organização do stalinismo tardio para tentar controlar os partidos comunistas (sobretudo na Europa, contra a dissidência titoista), depois que o Stalin teve de desmantelar o Komintern criado por Lênin.
Quem não souber nada disso pode ler o livro sobre o comunismo do Archie Brown, disponível no Kindle, em inglês, mas também publicado no Brasil.
O fato é que eu, conhecedor da história do comunismo mundial, e da esquerda brasileira, fui um dos primeiros a chamar a atenção para o papel do Foro de S. Paulo na estratégia cubana para os partidos de esquerda na AL. Vou buscar os meus textos do início dos anos 1990 para comprovar o que acabo de dizer. Reconheço que Olavo de Carvalho – que já tinha sido comunista e que portanto sabia das táticas dos comunistas cubanos – também foi um dos primeiros a denunciar esse instrumento dos comunistas cubanos, e continuou assim fazendo nos últimos 20 anos, mas com sua paranoia habitual, segundo a qual, os comunistas brasileiros, e seus aliados continentais, pretendem "implantar o comunismo no Brasil".
Acho risível esse tipo de postura, uma vez que nem o PCdoB, muito menos os comunistas cubanos pretendem implantar o comunismo no país, e não por qualquer ideologia liberal, e sim por puro oportunismo e pragmatismo: de onde eles iriam tirar dinheiro para sobreviver se não junto aos capitalistas (e trabalhadores) que produzem riquezas, que eles podem extorquir? Se eles são minimamente espertos – e imagino que sejam –, sabem que o socialismo é uma porcaria completa, e se precisasse de alguma prova a Venezuela está aí mesmo ao lado para provar que ele só produz miséria e pobreza.
Tentei explicar tudo isso a uma jornalista do Globo, que me entrevistou na semana passada, para produzir sua matéria no último domingo, que reproduzi aqui neste espaço:
https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/07/foro-de-s-paulo-um-espantalho-util.html
De tudo o que lhe disse, ela só conseguiu extrair duas frases, que obviamente não refletem toda a evolução histórica do comunismo mundial e do socialismo cubano, e o que o Foro realmente significa para o PT e para os demais partidos da região: apoio estratégico – diplomático, político, financeiro – ao falido regime da ilha escravizada pelos Castros, e também uma maneira de carrear recursos para a sobrevivência do nefando sistema, por meios legais (porto de Mariel, programa Mais Médicos, acordos internacionais diversos) e sobretudo ilegais (super e subfaturamento em dezenas de contratos comerciais privados, mas nos quais os companheiros têm alguma participação).
O "anti-Foro de S.Paulo" que agora se pretende criar, com os bolsonaristas no poder significa apenas continuar a agitar o espantalho do comunismo, do marxismo, que é importante nessa mobilização que a extrema direita faz em apoio às suas teses. Ou seja, é um espelho exato do que eles pretendem combater, agitando a iniciativa de uma "Internacional Conservadora" que essa direita sem qualquer doutrina pretende fundar.
Termino dizendo que o Foro de S. Paulo não tem nenhuma importância em si mesmo – mais do que a ação própria dos partidos nacionais – a não ser como correia de transmissão e mecanismo de controle que os comunistas cubanos exercem em direção dos partidos de esquerda na região. Eles precisam disso, para sobreviver e se abastecer financeiramente. Não tem absolutamente nada de ideológico: apenas necessidade de manutenção de uma "bolsa pró-Cuba" a ser generosamente concedida por regimes afins (chavismo na Venezuela, lulopetismo no Brasil) e pelos partidos da esquerda na AL que eventualmente cheguem ao poder. As fontes estão secando, mas os partidos continuam sob vigilância dos cubanos, e as quermesses – de esquerda e de direita – continuam agitando bandeiras.
Os dirigentes sabem bem o que fazem, manipulando esses foros, e os militantes ingênuos continuam se mobilizando de forma canhestra.
O PT continua em sua missão VERGONHOSA de defender as ditaduras castrista em Cuba e chavista-madurista na Venezuela, assim como todos os regimes totalitários no mundo.
A nova "direita" brasileira se engaja no mesmo circo para tentar se contrapor aos desmiolados da esquerda, mas usam o espantalhos para fins políticos próprios.
Considero ambos os grupos potencialmente totalitários – só que não conseguem, por motivos óbvios, implantar uma ditadura no Brasil – e tento manter um mínimo de racionalidade e de objetividade na avaliação dessas manifestações equivocadas.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 25 de julho de 2019
Foro de São Paulo começa na 6ª. Afinal, o que é realmente o grupo?
Encontro de partidos de esquerda marcado para este fim de semana na Venezuela é alvo de críticas da ala olavista do governo Bolsonaro
Jornal Metrópoles, 24/07/2019
Entre esta sexta-feira (26/07/2019) e domingo (28/07/2019), a capital venezuelana, Caracas, receberá o 25° encontro do Foro de São Paulo. O evento, que reúne cerca de 200 partidos considerados de esquerda da América Latina, entre eles PT, PDT, PCdoB, PCB e PSB, ocorre pelo menos desde 1990 e já passou por diversas cidades da região.
Nos últimos dias, contudo, o tema voltou ao centro das atenções da nova – e muitas extrema – direita brasileira, personificada no professor on-line de filosofia Olavo de Carvalho. O ideólogo bolsonarista e seus seguidores atribuem ao Foro de São Paulo uma espécie de “superpoder” comunista, veem o grupo como um instrumento maléfico da esquerda.
O “perigo” alertado pela militância olavista não é recente. O próprio escritor, por exemplo, fala do tema pelo menos desde a década de 1990, como gosta de destacar em seus vídeos.
Os discípulos do guru dão voz à pauta. Vários integrantes do governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL), entre eles o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-RJ), dão destaque ao Foro de SP e tratam constantemente do tema no Congresso e mesmo em conversas internacionais.
Visões conflitantesEduardo Grin, cientista político da Fundação Getúlio Vargas (FGV), descreve o Foro de SP como um encontro que surgiu nos anos 1990, logo depois da queda do muro de Berlim, que tem por finalidade “preservar o legado de uma visão mais progressista e que reúne, portanto, vários governos, partidos e organizações de esquerda” da América Latina.
“Foi um espaço de encontro, de troca de ideias, com uma visão de um segmento mais progressista, que nem todos eram alinhados a uma visão a ‘la cubana’, mais radical. Mas havia um pensamento de que era possível criar fórmulas de acabar ou controlar com o capitalismo e de subverter várias formas de dominação política”, explica o professor.
Para Olavo de Carvalho, no entanto, o Foro de São Paulo é “a maior organização política que já existiu no continente latino-americano”, que reúne mais de 200 partidos políticos “e quadrilhas de narcotraficantes e sequestradores”, com o objetivo de “divulgar e implantar o comunismo”. Segundo Olavo, a função do PT é fornecer dinheiro para o movimento. “É um negócio monstruoso”, exclama.
“O Foro de São Paulo é um vasto plano de ocupação do continente inteiro pelo comunismo. E tudo o que está sendo roubado do Brasil é para financiar esse grupo”, disse em vídeo publicado no último final de semana. Em seguida, ele acusou os militares do governo, sobretudo o vice-presidente, Hamilton Mourão, de omissão.
Como de praxe no discurso olavista, as críticas voltam-se também à imprensa. Segundo o morador da Virgínia (EUA),há um “conluio” da imprensa para transformar o Foro em “uma reunião discreta”.
“Sem consequências”
Exagerado? Para o doutor cientista político David Fleischer, muito. Mestre em estudos latino-americanos pela Universidade da Flórida, nos Estados Unidos, o especialista explica que o Foro de SP é, na verdade, apenas um pingo em um copo de água. Ou seja, não tem todo o valor que divulga a nova direita do país.
“O Foro de SP é encarado como o grande inimigo, mas não contribui para nada. Porque não se vê muitas consequências a partir dessa reuniões”, explica o americano naturalizado brasileiro. O cientista político lembra que a opinião de Olavo de Carvalho sobre a ida de Eduardo, “filho 03” do presidente, para a embaixada brasileira nos Estados Unidos teve como base essa ideia.
Na ocasião, o guru do bolsonarismo desaprovou a indicação pois o deputado teria uma “missão histórica” no Brasil bem mais importante que ser diplomata em Washington. Na sua opinião, Eduardo é o “guerreiro” responsável por eliminar o “esquerdismo maldito” através da “destituição do Foro de SP”.
Como deputado, Eduardo assinou, em junho deste ano, requerimento para a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a atuação do Foro. O comitê, na realidade, é coordenado pela deputada federal Chris Tonietto (PSL-RJ), mas seria o deputado paulista o “verdadeiro líder”.
Os “antiforistas” culpam o grupo pela ascensão de governos de esquerda na América Latina nos primeiros anos do século 21. David Fleischer, entretanto, considera mais um exagero por parte da extrema-direita. Ele explica, paulatinamente, o que realmente teria motivado o crescimento da esquerda no continente, o que é uma “circunstância local de cada país”.
“O Foro não teve nada a ver com isso. Os governos de esquerda subiram ao poder devido às circunstâncias de cada país. No Equador e no Peru, por exemplo, foi por causa de gestões corruptas de conservadores. Na Argentina, os peronistas estavam governando há muito tempo, antes mesmo da criação do Foro”, explica o doutor em Ciência Política.
Para o deputado Ivan Valente (PSol-SP), o atual governo, junto a seus aliados, usa o Foro como um tipo de “contrapropaganda” bolsonarista para, assim, tentar criar certos fantasmas. “O Foro é muito mais uma troca de ideias do que uma articulação internacional que tenha peso”, disse o deputado.
Paulo Kramer, cientista político aposentado da UnB, nega, contudo, o caráter minimalista que os críticos dão ao Foro de SP. “Ele serviu como um espaço de troca de ideias e de informações que acabou fortalecendo em conjunto dessa esquerda, no momento em que ela protagonizou uma onda conquistando o governo de vários países. É um erro minimizá-lo”, avalia.
Segundo Kramer, o próximo encontro, em Caracas, servirá para “lamber as feridas de seu fracasso em vários países e articular uma estratégia de sobrevivência”.
Bolsonarismo e o 25° Foro de SPO evento, marcado para este final de semana, tem como slogan o título: “Pela paz, a soberania e a prosperidade dos povos: unidade, luta, batalha e vitória.” As reuniões contam com grupos de esquerda europeu, afrodescendentes, povos originários, mulheres, jovens, parlamentares progressistas do mundo, artistas, intelectuais e movimentos sociais.
As pessoas interessadas em participar do 25º Foro de SP, em Caracas, devem pagar US$ 50 (cerca de R$ 187) pela entrada, segundo a organização do evento. Já o valor da entrada para partidos, movimentos e organizações é de US$ 250 (cerca de R$ 935). A Venezuela cobrirá os custos de hospedagem, alimentação e transporte interno para duas pessoas de cada delegação nacional.
Entre os temas que serão debatidos durante os três dias de encontro, estão a “elaboração de um plano comum de luta”; “Perspectivas e Enigmas da Economia Mundial”, “Experiências e Perspectivas dos Governos Progressistas da América Latina e Caribe” e “A Luta do Povo Venezuelano pela Democracia, a Paz e a Soberania Nacional”, dentre outros.
Para o chanceler Ernesto Araújo, “o Foro de São Paulo infelizmente está vivo e se reunirá em Caracas para fortalecer a coligação nefasta que fundamenta esse projeto de poder: socialismo-narcotráfico-corrupção-crime organizado-terrorismo”. O ministro diz, sem apresentar provas, que o “ataque insidioso ao ministro Moro e à Lava Jato obviamente faz parte dessa estratégia do Foro.”
O vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), o “filho 02”, concordou. “Fomos governados por décadas pelas diretrizes do Foro de SP. Se engana quem diz que estão mortos. Seus filhos maldosamente inteligentes, que sabem o que fazem para manipular, continuam sedentos pelo poder e evitar o término da roubalheira que nos destruiu financeira e moralmente”, tuitou.
A ideia levantada por integrantes do governo Bolsonaro logo é contestada por Eduardo Grin. O cientista político explica que, esse “combate” ao Foro de SP é muito mais político do que real. Ou seja, algo simbólico desenvolvido pela nova direita e que não tem efetividade alguma.
“Esse é um governo que, se não tem algum inimigo, ele cria. Tem sempre uma força estranha e oculta, que não se sabe quem é, tentando fazer alguma coisa contra o país. Tem sempre o comunismo a espreita tentando de maneira clandestina se organizar. Estou usando essas expressões um pouco caricatas porque é dessa maneira que o governo vê o mundo”, diz o professor da FGV.
Para Eduardo Grin, o governo pensa, sobretudo, nas próximas eleições. “O bolsonarismo está retomando uma discussão de 30 anos atrás. Quem é que fala no comunismo hoje em dia? Mas, na construção ideológica do governo é importante manter esse discurso, pois temos que entender o contexto da luta política se está fazendo, já pensando nas próximas eleições”, complementa.
O PT no 25° Foro de SPA presidente nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), não participará do encontro. Desde quando assumiu a presidência da sigla, em 2017, esta é a primeira vez que ela não participará. A assessoria de imprensa do partido informou que Gleisi não irá ao Foro por “questões de agenda”.
A direção nacional do PT, fundador do encontro, enviou uma nota, publicada nessa segunda-feira (22/07/2019), a respeito do 25º Foro de SP. A carta, postada em íntegra no site oficial do partido e no do encontro (leia), recomenda seis temas para debater durante o período. Entre eles, o recorrente “Lula livre!”.
Além de discutir a libertação do ex-presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, preso desde abril do ano passado, a sigla quer trabalhar com a paz na Venezuela e na Colômbia, pôr fim ao bloqueio econômico imposto pelos EUA contra Cuba e apoiar as candidaturas “progressistas e de esquerda” no continente.
Sendo assim, as diretrizes do PT para o 25º Encontro do Foro de São Paulo serão:
- Paz na Colômbia: pelo cumprimento dos Acordos de Paz de 2016, pelo fim do genocídio dos líderes sociais, pela apuração e punição dos responsáveis pelos 500 líderes sociais assassinados desde a assinatura dos Acordos;
- Paz na Venezuela: pelo fim da ingerência estadunidense nos assuntos internos da Venezuela, pelo fim das sanções econômicas, pelo direito à auto determinação do povo venezuelano e apoio aos Diálogos de Negociação entre as partes, auspiciados pelo Governo da Noruega, que ocorrem em Barbados.
- Fim do bloqueio econômico a Cuba e contra o acirramento das sanções econômicas recentemente determinadas pelo governo estadunidense (título 3 da Lei Helms-Burton).
- Apoio às candidaturas que representam os campos progressista e de esquerda nas eleições presidenciais de outubro deste ano na América do Sul: Alberto Fernández, na Argentina; Evo Morales, na Bolívia; e Daniel Matinez, da Frente Ampla, no Uruguai.
- Em defesa da democracia na região e contra a perseguição política e judicial das lideranças políticas e sociais da Região.
- Lula Livre!
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