Parte de robôs bolsonaristas usados em ataques tem origem no exterior
Uma parcela dos robôs que atuam na militância virtual bolsonarista tem origem no exterior, de acordo com integrantes da comissão mista que investiga a disseminação de notícias falsas.
Assim como ocorreu nos EUA, na França e no México, as eleições e os debates políticos brasileiros podem estar sendo influenciados por forças externas, contratadas desde o Brasil ou diretamente pagas no exterior.
O uso de robôs políticos está em destaque desde o depoimento da deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP) nesta quarta-feira na CPMI das Fake News.
Antes aliada da família Bolsonaro, a relevância da narrativa de Hasselmann está na fissura que provocou na máquina de promoção e linchamento virtual governista.
Hasselmann revelou que 1,4 milhão dos 5,5 milhões de seguidores do presidente Jair Bolsonaro corresponde a robôs, ou seja, 25% são usuários artificiais geridos por computador. A deputada do PSL apresentou estudo que indicou que o deputado federal Eduardo Bolsonaro, a quem qualificou de chefe do "gabinete do ódio", tem 468 mil robôs em meio ao 1,7 milhão de seguidores que possui, o equivalente a 26% de perfis falsos.
De acordo com a deputada, servidores e recursos públicos alimentam a máquina virtual, com uma só hashtag a ser lançada na rede custando R$ 20 mil.
Houve momentos constrangedores no depoimento como quando Hasselmann disse a deputada Carla Zambelli (PSL-SP) que Bolsonaro questionara se a parlamentar fora prostituta na Espanha ou aquele em que o plenário da CPMI ouviu gravação de assessor de Eduardo Bolsonaro fazendo referências chulas a ex-aliados.
Decoro e elegância parecem coisas ultrapassadas quando a militância virtual está em questão. Os robôs bolsonaristas adoram trocadilhos com aqueles que apoiaram ou tinham a admiração do presidente e em algum momento saíram do tom. Trump vira Trapo; Lobão é rebatizado de Lobostão; Alexandre Frota de Fruta. Estes são alguns dos apelidos publicáveis porque há uma dezena deles com trocadilhos com alusões genitais a nomes como o do general Santos Cruz ou ex-ministro Gustavo Bebbiano.
Os robôs têm sido usados por todo o espectro político não apenas para conquistar seguidores, mas também para conduzir ataques a opositores. São contas de redes sociais controladas por software que gera artificialmente conteúdo e estabelece interações com não robôs. As contas buscam imitar o comportamento humano, interferir em debates espontâneos e criar discussões forjadas. Criam a falsa sensação de amplo apoio político a certa proposta, ideia ou figura pública, modificam o rumo de políticas públicas, interferem no mercado de ações, disseminam rumores, notícias falsas e teorias conspiratórias, geram desinformação e poluição de conteúdo. Um quinto das discussões políticas em momentos importantes como as eleições têm origem em robôs, contabilizou a Diretoria de Análise de Políticas Públicas da FGV.
É difícil, entretanto, que a partir do relato de Hasselmann haja punição aos mentores de linchamentos virtuais. O crescimento da ação de robôs representa riscos concretos à democracia ao manipular o processo de formação de consensos e do estabelecimento das agendas públicas e ao influenciar na escolha de representantes no Executivo e no Legislativo.
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