sábado, 4 de fevereiro de 2023

Da banalidade do mal que acaba de ser extirpado depois de quatro anos de infortúnio nacional - Paulo Roberto de Almeida

Da banalidade do mal que acaba de ser extirpado depois de quatro anos de infortúnio nacional

Paulo Roberto de Almeida

O novo governo, com a eventual ajuda de certo Judiciário, ainda vive no rescaldo dos absurdos perpetrados durante quatro anos de bolsonarismo destrambelhado. O Brasil vai demorar para se liberar de quatro anos de pura loucura, ignorância e vulgaridade no poder. Como foi possível termos atravessado algo tão disfuncional na suprema esfera da governança?

À medida em que são revelados os traços mais grosseiros da Famiglia no poder entre 2019 e 2022, suponho que os generais e outros altos oficiais que sustentaram tamanha loucura comecem a sentir enorme vergonha por terem participado da maior degradação jamais vista no supremo comando da nação. Shame on you!

Se não bastassem as falcatruas na sede do poder, a desumanidade revelada no tratamento de indígenas— que são basicamente seres humanos como quaisquer outros — é algo tão estarrecedor que até o emprego de conceitos extremos como genocídio e nazismo pode aparecer como necessário. Apenas seres cruéis poderiam ser coniventes com as barbaridades agora reveladas. 

Parece a banalidade do mal, de que falava Hannah Arendt sobre um mero executor da barbárie nazista contra outros seres humanos, alguns por serem simplesmente judeus, outros por serem apenas indígenas. 

O Brasil se descobriu tingido pela mesma enfermidade mental e moral que contaminou no passado um dos povos mais cultos do mundo: a psicopatia no comando da nação produz algumas das monstruosidades que já atormentaram artistas como o Goya da invasão francesa na Espanha ou o Picasso de Guernica. 

Por enquanto dispomos das fotos de ianomamis levados ao extremo da desnutrição fabricada pelas mãos de agentes de uma vontade maior.

O que descobriremos doravante, quando registros e testemunhos sustentarão uma visão desimpedida sobre esses tempos tão sórdidos e macabros que acabamos de descobrir? 

Precisaremos de um novo Conrad para descrever o horror do parêntese bolsonarista?

Apenas uma certeza: a descrição objetiva e a interpretação circunstanciada do que acabamos de viver não pertence apenas ao domínio da ciência política ou da sociologia. Será preciso recorrer à psiquiatria e às demais ciências do espírito humano para tentar entender o que se passou na mais alta cúpula do poder.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4/02/2023

Um comentário:

  1. Durante o governo Lula fome e desnutrição também foi registrada entre os yanomamis
    Segundo o Inquérito Nacional de Saúde e Nutrição dos Povos Indígenas de 2009, em uma escala nacional, a desnutrição atingia na época, uma em cada três crianças indígenas. Nas crianças residentes no Norte, as prevalências foram de mais de 40%.

    O Inquérito apontou ainda a ausência de acesso a suplementação como o sulfato ferroso que ainda não era usado como forma universal pelos agentes de saúde.

    Especificamente sobre os povos yanomamis o Inquérito traz um alerta para o “impacto da introdução da malária em uma comunidade indígena associada à atividade garimpeira”.

    Embora seja uma realidade que os dois primeiros mandatos de Lula, entre 2003 e 2011, foram exitosos e com avanços sociais para o país, é importante pontuar que fatores como a falta de demarcação de terras, os desafios para conter a exploração e ausência de políticas mais eficazes, não preservaram os povos originários.

    https://revistaafirmativa.com.br/genocidio-yanomami-ha-decadas-estes-povos-indigenas-sofrem-com-violencias-e-descaso-por-parte-das-autoridades/

    ResponderExcluir

Comentários são sempre bem-vindos, desde que se refiram ao objeto mesmo da postagem, de preferência identificados. Propagandas ou mensagens agressivas serão sumariamente eliminadas. Outras questões podem ser encaminhadas através de meu site (www.pralmeida.org). Formule seus comentários em linguagem concisa, objetiva, em um Português aceitável para os padrões da língua coloquial.
A confirmação manual dos comentários é necessária, tendo em vista o grande número de junks e spams recebidos.