O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador Celso Amorim. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Celso Amorim. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Celso Amorim: a petite histoire diplomatica contado do seu proprio ponto de vista

Ex-chefe do Itamaraty revela detalhes de seus contatos com representantes estrangeiros em tensas negociações
FILLIPE MAURO
Revista Época, 1/07/2013

Celso Amorim: 
Breves narrativas diplomáticas 
(Benvirá, 168 páginas, R$ 27)

No final de 2003, as difíceis negociações da Alca (Acordo de livre comércio das Américas) passavam por um raro momento de tranquilidade. A ideia de por fim às barreiras alfandegárias do continente ganhava um rumo mais equilibrado. Restava apenas negociar o funcionamento de um sistema de solução de conflitos sobre patentes. Em novembro, a delicada questão levou diplomatas da região à charmosa cidade de Lansdowne, nos Estados Unidos. Brasileiros e americanos ficaram responsáveis por redigir um texto que conciliasse os sócios do projeto. O então ministro das Relações Exteriores brasileiro, Celso Amorim, não aprovou a versão final. Mesmo assim, o representante americano, Robert Zoellick, fez aquela versão circular entre os demais ministros. Amorim aborreceu-se e pediu uma revisão imediata, rejeitada por Zoellick. Irritado, Amorim levantou-se bruscamente, bateu com as mãos na mesa e decretou o fim das negociações.  
Episódios como esse são narrados por Celso Amorim em seu novo livro, Breves narrativas diplomáticas (Benvirá, 168 páginas, R$ 27). Amorim, hoje ministro da Defesa, recuperou de suas cadernetas os momentos de tensão que presenciou ao longo do primeiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O livro revela a astúcia de autoridades estrangeiras e recorda conflitos existentes entre os próprios membros do governo Lula. “Ninguém é santo em uma negociação”, disse Amorim a ÉPOCA. A seu ver, as discussões em torno da Alca não prosperaram porque estavam “tortas”. “Tudo muito pesado para o Brasil e muito leve para os Estados Unidos.”
Ao longo da narrativa, Robert Zoellick é colocado como alguém engenhoso e astuto. Durante a Rodada Doha, da OMC, essas características teriam se acentuado ainda mais. Amorim afirma que o representante do comércio americano chegou a praticar “malandragens” no encontro. Zoellick tentava criar isenções para a agricultura americana, que já era, em parte, subsidiada pelo governo. Na visão de Amorim, houve momentos em que Zoellick chegou a ser “agressivo” e “rude”. Ele e Pascal Lamy, então chefe da OMC, criaram um padrão de comportamento “contundente” que ficou conhecido comoThe Bob and Pascal Show (O show de Bob e Pascal). Em meio às negociações, a chanceler japonesa levantou questionamentos a essa forma impaciente de conduzir a Rodada Doha. Zoellick respondeu que compreendia a oposição de países como Brasil, índia e Austrália, e acrescentou: “Mas o Japão... o Japão é um mero estorvo”. 
Zoellick não era a única pedra no sapato de Amorim. O chanceler afirma que sofreu oposição de ministros do governo Lula e até mesmo de seus colegas mais leais dentro do Itamaraty. Assim que assumiu o cargo, Amorim teve de se reunir com os então ministros Antonio Palocci, da Fazenda, Luiz Fernando Furlan, do Desenvolvimento, e Roberto Rodrigues, da Agricultura. Os três se opunham à ideia de menos engajamento com o projeto da Alca. Sob a liderança de Palocci, os ministérios econômicos insistiam que o governo apresentasse o quanto antes uma oferta de participação no novo bloco alfandegário. Ao lado de Amorim estava apenas seu secretário-geral, Samuel Pinheiro Guimarães. Clodoaldo Hugueney, hoje embaixador do Brasil na China e, à época, subsecretário para temas econômicos, acompanhou a posição de Palocci. Amorim diz que Hugueney, seu “compadre”, agravou seu isolamento ainda que fosse seu assessor.
Foi essa mesma falta de inocência nas negociações diplomáticas que dificultou a formação dos Amigos da Venezuela. O grupo de países foi idealizado por Lula no final de 2002, quando uma greve geral eclodiu na Venezuela e levou às ruas até mesmo militares que pediam a renúncia do presidente Hugo Chávez. As discussões foram tão difíceis que, ao serem concluídas, Amorim as chamou de “uma vitória diplomática”. A ideia era reunir líderes latino-americanos que apoiassem o diálogo e a conciliação para evitar a escalada da violência na Venezuela. Mas Chávez esperava algo diferente. Queria que, acima de tudo, seu governo fosse apoiado. “Chávez via os ‘Amigos da Venezuela’ como seus amigos e nós não achávamos que isso traria progresso”, afirma Amorim. 

Com a morte de Chávez, no início de 2013, e a suspeita eleição de seu vice, Nicolás Maduro, surgiu o temor entre países sul-americanos de que a Venezuela sofreria com uma nova crise institucional. Como a vantagem de Maduro sobre seu principal adversário, Henrique Capriles, foi de apenas 1,5 ponto percentual, as tensões entre oposicionistas e chavistas voltaram a se agravar. Amorim não acredita que as cenas de violência de 2003 voltarão a ocorrer. “Maduro não é uma pessoa difícil de se negociar e já houve uma tentativa de golpe na Venezuela, que fracassou.” Em 1994, quando Amorim ainda era chanceler do governo de Itamar Franco, presenciou uma cena que prenunciou o que foi a frustrada tentativa de tirar Chávez do poder. Ele e seu “compadre”, o embaixador Clodoaldo Hugueney, almoçaram com um grupo de empresários em Caracas e foram servidos com coquetéis e caipirinhas. O álcool subiu as veias, e os protocolos típicos dos encontros diplomáticos se amoleceram. Os empresários começaram a propor conspirações contra o então presidente, Rafael Caldera, político de centro que antecedeu Chávez. “Graças a Deus não me lembro do nome dessas pessoas”, diz Amorim.

Antes mesmo de assumir o Ministério das Relações Exteriores, Celso Amorim já era próximo do então secretário-geral da ONU, Kofi Annan. Os dois se aproximaram na década de 1990, quando o Brasil presidiu o Conselho de Segurança das Nações Unidas e coordenou os painéis sobre o arsenal militar do regime de Saddam Hussein, no Iraque. Foi um período de intensa convivência, que Amorim classifica em seu livro como um caso de “quase cumplicidade”. Anos depois dos painéis do Iraque, que ganharam o nome de The Amorim Panels (Os painéis de Amorim), os dois voltaram a conversar. Trocaram opiniões sobre temas diversos, entre eles a guerra civil síria. Um desses encontros ocorreu em Genebra, após uma visita ao Líbano. Os dois concordaram na ocasião que uma solução para a questão síria só será possível se incluir o maior número possível de países da região. “Se países como Arábia Saudita, Irã e Turquia não fizerem parte da solução, um dia farão parte do conflito. Enquanto foi facilitador da ONU, talvez Kofi Annan não tenha conseguido ser mais explícito. Mas era nisso que eu e ele pensávamos.
>> Mario Vargas Llosa: "Dilma não deveria apoiar uma fraude eleitoral" 

domingo, 21 de abril de 2013

As opinioes mudam, a camisa tambem, segundo a oportunidade: sobre a Venezuela

O autor, embaixador venezuelano, certamente não simpático ao chavismo, examina neste artigo como as opiniões de certas pessoas mudam, segundo as circunstâncias e dependendo de quem esteja no poder. Em 1999, no Brasil, o governo era social-democrata, ou tucano neoliberal, como diriam alguns. Depois o governo mudou, e o personagem mudou de opinião. Ou talvez não, sempre foi coerente com o que pensou, apenas que não expunha...
Paulo Roberto de Almeida

O disciplinado Celso Amorim
Oscar Hernández Bernalette, embaixador venezuelano
O Estado de S. Paulo, Visão Global, 19/04/2013

Em 1999, ex-chanceler previu a diplomatas "anos difíceis" para uma Venezuela com Chávez; ao fim, negócios venceram valores

Nas relações internacionais, as coisas nem sempre funcionam com os mesmos parâmetros que na política interna.
Em geral, os países têm pouco interesse nas situações difíceis que podem estar afligindo algumas nações em determinados momentos. A história está cheia de tragédias nacionais em que governos fizeram vista grossa por demasiado tempo, sem intervir a tempo e devidamente ante essas tragédias.
Muitas situações difíceis e violações a que nações se submetem são com frequência aplaudidas por outros governos se houver interesses vitais para seus respectivos países. Por exemplo, bons negócios. Lula (o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva) é um exemplo de presidente que no exercício do cargo interveio descaradamente na política venezuelana a favor de um setor político tendo conhecimento de violações evidentes que em seu país seriam impensáveis. A atitude atual do Mercosul em relação à Venezuela é um bom exemplo. Uma coisa tão politicamente correta como a recontagem de votos ante uma evidente manipulação eleitoral é desvirtuada no momento em que os governos reagem fazendo vista grossa para a demanda da outra metade do país.
Na Venezuela, temos visto a cumplicidade de muitos governos e atores internacionais em face de muitas injustiças e violações que foram cometidas no país nos últimos anos. Há alguns dias, recordei um episódio com um dos protagonistas da política do avestruz.
Num restaurante do bucólico povoado de Coppet, nos arredores de Genebra, nos reunimos, em meados de 1999, sete diplomatas latino-americanos no que era um encontro de rotina que havíamos estabelecido para falar em caráter pessoal sobre temas de política internacional e avaliar a situação econômica e política de nossos países. Carlos Pérez del Castillo (Uruguai), Celso Amorim (Brasil), Roberto Lavagna (Argentina), Hemando JoséGómez (Colômbia), Alejandro Jara (Chile) e o que escreve essas linhas. Entre tantos temas da agenda que ocupava nossa atenção naqueles dias, chegamos a um enredo que já começava a causar indagações nos meios internacionais e entre analistas; a situação política da Venezuela.
O tenente-coronel Hugo Chávez acabava de tomar posse como presidente. Fiz uma explicação geral ao grupo de qual eram, no meu entender, as razões objetivas pelas quais um militar que havia tentado derrubar um governo eleito havia conseguido conquistar eleitoralmente o governo de uma das democracias mais sólidas do continente. Amorim, então embaixador do Brasil na Organização das Nações Unidas e na Organização Mundial do Comércio, um diplomata brilhante no melhor estilo dos homens formados no Itamaraty, interrompeu-me para fazer um comentário sucinto.
Ele garantiu aos presentes: "Anos muito difíceis esperam a Venezuela". Não pode terminar bem, assegurou, um governo que, embora livremente eleito,
origina-se com um líder que tentou derrotar pelas armas um governo legítimo.
Celso Amorim é o atual ministro da Defesa do Brasil e foi chanceler de Lula por oito anos. Ironicamente, ele foi um dos artífices da bem-sucedida relação do Brasil com o governo de Chávez.
Seguramente, ele nunca pensou que, depois daquela frase lapidar com que brindou um grupo de colegas há mais de uma década, se converteria, na sua condição de chanceler e diplomata disciplinado, em um dos esteios que daria força a Chávez em sua cruzada contra os Estados Unidos, enquanto seu país aproveitava para fazer negócios rendosos com o governo do socialismo do século 21. Viram a Venezuela como um pote de oportunidades em dólares e não como recipiente de valores democráticos que no passado foram o esteio de muitos países da região.
O sul mais uma vez dará as costas às justas demandas de milhões de venezuelanos.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Uma opcao preferencial pelas ditaduras: Celso Amorim - Carlos Malamud

Ou, um amigo sincero de Cuba, tão sincero que subordina todas as demais considerações à prioridade de integrar Cuba e seu regime perfeitamente totalitário ao sistema regional, ao mesmo tempo em que isola o perverso imperialismo americano.
Servo fiel e coerente com uma ideia. Merece a ordem nacional, se já não tem...
Paulo Roberto de Almeida 

Carlos Malamud: America Latina y la Defensa

Celso Amorim y su peculiar vision del mundo

Infolatam
Madrid, 9 octubre 2012
(Infolatam).- Cuando fue ministro de Exteriores de Brasil, Celso Amorim se caracterizaba por sus declaraciones extravagantes. Con el cambio de cartera ministerial -ahora ocupa la de Defensa- no ha perdido las buenas costumbres. Durante la X Conferencia de Ministros de Defensa de América celebrada en Punta del Este, Uruguay, afirmó con total soltura que el sistema interamericano de defensa debía ser más plural a la vez que cuestionó por anacrónico el aislamiento al que se somete a Cuba dentro del mismo.
Resulta curioso que el representante de uno de los principales países impulsores de la Unasur, y con ella del Consejo Sudamericano de Defensa (CSD), realice una crítica de semejante naturaleza. Que se sepa, Cuba no forma parte de ninguna de las dos instituciones y la integración entre Unasur y la CELAC (Comunidad de Estados de América Latina y el Caribe) de momento es bastante incipiente. Es más, nada indica que Unasur vaya a desaparecer para fortalecer a la CELAC, lo que sería una vía, quizá la más efectiva, para romper definitivamente el aislamiento de Cuba.
La política exterior brasileña inspirada en su momento por Amorim y su consuegro Samuel Pinheiro Guimaraes, con profundas raíces nacionalistas e incluso antiamericanas, buscaba hacer de América del Sur su feudo particular, una especie de fortaleza que excluía al resto de América Latina, comenzando por México y continuando por América Central y el Caribe. Actualmente las cosas han cambiado no porque se haya modificado sustancialmente la doctrina, sino en función de los importantes intereses económicos brasileños presentes en Cuba.
Para Amorim la cooperación interamericana en defensa “será tanto más efectiva cuanto más capaz sea de reconocer la heterogeneidad de las situaciones geopolíticas y geoestratégicas entre las diversas regiones y subregiones del continente americano”. Esta reflexión intenta incorporar a Cuba a un esquema de cooperación hemisférica, lo que implica borrar de un plumazo la historia militar de la Cuba revolucionaria. La idea sorprende aún más si se recuerda que hace 50 años fue Fidel Castroquien introdujo armas atómicas en América Latina y desencadenó una crisis que podría haber resultado fatal para todo el continente.
Hasta la caída de la Unión Soviética, el gobierno de La Habana se alineó claramente con uno de los dos bandos enfrentados en la Guerra Fría, al tiempo que las Fuerzas Armadas Revolucionarias intentaban exportar la revolución a prácticamente todos los países latinoamericanos. Y esto sin contar las aventuras militares en Angola o Mozambique. Está claro que hay una evidente heterogeneidad en materia de defensa, pero ésta no se saldará con el voluntarismo del que hace gala el ministro brasileño.
En la misma línea de las declaraciones anteriores, Amorim insistió en que “La verdadera solidaridad entre los países de las Américas pasa por el respeto a la pluralidad de nuestras circunstancias”. Ahora bien, una cosa es respetar la pluralidad de las circunstancias, que son muchas, y otra hacer tabla rasa del acervo democrático latinoamericano. Mercosur en su momento y Unasur después se dotaron de cláusulas democráticas. En base a ellas, por ejemplo, se suspendió a Paraguay de Mercosur después del juicio político que apartó a Fernando Lugo de la presidencia del país.
Para Amorim la democracia es una suerte de comodín que unas veces se defiende y otras no, dependiendo de quién se trate. Este pragmatismo cínico, muy propio de algunos nacionalistas brasileños, le causa un gran daño a la imagen internacional de Brasil. Según parece, en el caso de Cuba, la cláusula democrática es una minucia intrascendente, como también apuntó en su momentoNéstor Kirchner al comienzo de su mandato, quien planteó incluso la posibilidad de que el país caribeño ingresara en Mercosur.

sábado, 25 de agosto de 2012

Os inimigos dos inimigos do ministro da "Defesa" - Editorial Estadao

Cada um tem o inimigo que merece. Os do Estadão são a corrupção, a burrice, a ineficiência pública, o estatismo exagerado, e outros males que os inimigos do neoliberalismo adoram (dada sua adesão a alguns deles...).
Os inimigos do ministro da Defesa são as grandes potências. Como só tem uma em condições de nos atacar, vamos ter de desenvolver planos contra os EUA, ao que parece.
O Estadão já encontrou outro inimigo, e vice-versa...
Paulo Roberto de Almeida


O verdadeiro inimigo
Editorial - O Estado de S.Paulo, 10 de agosto de 2012

O ministro da Defesa, Celso Amorim, voltou a pedir a ampliação dos gastos com as Forças Armadas, em recente evento da Associação de Estudos da Defesa, como noticiou o Estado (7/8). No entanto, sua justificativa para pedir mais recursos na área militar foi constrangedora: o ministro acredita na possibilidade de agressão não de algum vizinho, tampouco de narcoguerrilhas ou grupos terroristas, mas de "grandes potências e alianças militares" – que só podem ser Estados Unidos e Otan.
Amorim avalia que há hoje um "forte sentimento de insegurança no sistema internacional" em razão de ações militares unilaterais, referindo-se às guerras no Iraque e no Afeganistão, deflagradas pelos americanos, e à intervenção da Otan na Líbia sem que houvesse claro mandato da ONU para isso.
Como sugere a fala do ministro, casos como esses mostram que o Brasil deve se precaver. "Temos um patrimônio que nos transforma num dos territories mais ricos do planeta", disse ele, enfatizando também a "nova estatura internacional do Brasil ao redor do mundo" (sic !). E arrematou: "O Brasil deve construir capacidade dissuasória crível, que torne extremamente custosa a perspectiva de agressão externa a nosso país". Os estrategistas militares de Washington devem ter perdido o sono depois disso.
O discurso de Amorim se aproxima perigosamente da delirante retórica bolivariana, que enxerga nos Estados Unidos uma ameaça militar permanente, como se uma invasão dos "ianques" fosse acontecer a qualquer momento na América do Sul. Foi com essa desculpa grotesca que o caudilho venezuelano, Hugo Chávez, armou-se até os dentes com equipamento bélico russo – muito mais para atemorizar a oposição interna, graças à militarização das chamadas "milícias bolivarianas", do que para enfrentar uma improvável intervenção americana. Essa coincidência entre a posição de Amorim e as bandeiras do bolivarianismo não deveria causar espanto, a julgar por sua trajetória na Chancelaria do governo Lula.
Nada disso significa que não haja necessidade de qualificar os investimentos nas Forças Armadas, sobretudo diante do estado de penúria em que elas se encontram. Um estudo produzido pelo Ministério da Defesa mostra que metade dos equipamentos militares do Brasil simplesmente não tem condições de uso. Há casos críticos, como o da Marinha, responsável por patrulhar a área que guarda uma das principais riquezas a que aludiu Amorim - isto é, o petróleo do pré-sal. Os números mais recentes, compilados no ano passado, mostram que somente 2 dos 23 jatos A-4 da Marinha estavam em condições de voar. Além disso, apenas 53 das 100 embarcações e 2 dos 5 submarinos podiam navegar. Na Aeronáutica, nem metade dos aviões saía do chão, e a maior parte da envelhecida frota superou os 15 anos de uso. Como se sabe, porém, essa renovação, prometida ainda no governo Lula, está emperrada.
O Brasil gasta 1,5% do PIB com defesa, e Amorim quer algo em torno de 2%, equiparando-se à China, Rússia e Índia. É difícil imaginar, no entanto, que o Brasil tenha necessidades militares semelhantes às desses países, a não ser como expressão de megalomania. Ademais, já estamos entre os 15 países do mundo que mais gastam na área militar - na Lei Orçamentária Anual para este ano, a dotação do Ministério da Defesa foi de R$ 64,795 bilhões. O problema é que, desse valor, R$ 45,298 bilhões estavam destinados ao pagamento de pessoal e de encargos sociais, enquanto R$ 9,128 bilhões foram destacados para investimentos. Ainda assim, a verba para modernizar a área militar vem crescendo constantemente desde 2007, quando somou R$ 5 bilhões.
Mais econômico, portanto, seria investir numa equação em que as Forças Armadas gastassem melhor os recursos disponíveis e priorizassem a proteção das fronteiras, sem ter de, recorrentemente, fazer o papel que cabe à polícia.
Não resta dúvida de que é imperativo manter uma força militar capaz de enfrentar os desafios da defesa nacional, mas é preciso estabelecer prioridades claras, lastreadas em ameaças reais, e não na imaginação fertile de um punhado de ideólogos.

domingo, 22 de julho de 2012

'A patria nada se pede, 'a patria tudo se da' - Augusto Nunes

Uma postagem antiga, que tinha passado despercebida. Sem endossar...


O sobrenome do chanceler que vive de joelhos é mais que uma contradição. É um insulto aos patriotas de verdade

Sequestrado pelas Farc em 13 de outubro de 1998, Elkin Rivas sobrevive há quase 100 mil horas ao mais brutal dos cativeiros. Ele tinha 22 anos e era tenente da polícia colombiana quando foi capturado sem ter cometido qualquer crime e sentenciado, sem julgamento formal, a um tipo de horror que não tem prazo para terminar. Aos 34, não sabe quando ─ ou se ─ retomará a vida interrompida. Enquadrado na categoria dos “reféns políticos”, Elkin é um dos 13 remanescentes do grupo cuja soltura as Farc condicionam desde 2006 ao indulto de 500 narcoterroristas capturados pelo governo e condenados pela Justiça.
A interrogação sugerida no segundo parágrafo do post de 9 de agosto de 2010, reproduzido integralmente na seção O País quer Saber, foi desfeita à bala pouco mais de um ano depois. Em 26 de novembro de 2011, em meio a uma tentativa de resgate empreendida por soldados do exército, a tropa narcoterrorista cumpriu a lei da selva: antes de fugir, matou os quatro reféns que mantinha acorrentados. Um era civil. Entre os três militares estava o tenente Elkin Rivas, executado com três tiros na cabeça.
“O Brasil tem uma posição neutra sobre as Farc”, recitou Marco Aurélio Garcia desde o começo do governo Lula, para camuflar as relações de cumplicidade entre o Planalto e a organização narcoterrorista. Em 2010, orientados pelo Assessor Especial para Assuntos Internacionais, o presidente Lula e Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores, não se comoveram com o martírio imposto aos sequestrados por companheiros colombianos.
Em 2011, também monitorados pelo conselheiro Garcia, Dilma Rousseff e o atual chanceler Antonio Patriota não disseram uma única palavra sobre o desfecho do drama. O silêncio da dupla reafirmou a opção obscena por um tipo de neutralidade que iguala um governo constitucional e um bando de assassinos, o certo e o errado, a claridade e a treva. E mostrou que era Garcia o chanceler de fato.
Era e é, berra o desembaraço com que vem agindo o professor de complicações cucarachas desde o impeachment sofrido pelo companheiro Fernando Lugo. Inconformado com a perda do reprodutor de batina, decidiu no mesmo minuto que Hugo Chávez e seus estafetas bolivarianos tinham razão: houve “um golpe” contra a democracia. A descoberta do primeiro golpe da História que obedeceu ao que manda a Constituição do país foi a senha para a sequência de pontapés na verdade e na soberania do Paraguai.
Ninguém, não custa registrar, deve espantar-se com o que diz a boca à espera de um dentista: Garcia acha que a solução para o futuro do subcontinente está num passado que não deu certo. Espantoso é o silêncio dos embaixadores ainda na ativa ou aposentados. Espantoso é o servilismo dos chefes do Itamaraty escalados para a execução da política externa da cafajestagem formulada por essa velharia perdida nos escombros do Muro de Berlim.
A vassalagem de Celso Amorim garantiu-lhe o emprego e a estima de todos os liberticidas amigos de Lula. A sabujice de Antonio Patriota ratifica a fama de melhor aluno de Amorim. A ausência de luz própria identifica um integrante da tribo que consulta o chefe até para escolher o prato no restaurante. A expressão assustadiça rima com quem vive de joelhos. E está sempre pronto para defender o indefensável, como atestou a tentativa de justificar no Senado mais um papelão internacional do Brasil.
“A suspensão do Paraguai do Mercosul e da Unasul enviou um sinal claro ao governo recém-instalado em Assunção e mostrou que a região não tolera desvios que comprometam a plena vigência da democracia no continente”, declamou Patriota. Ele considerou o reconhecimento do novo governo paraguaio por dezenas de países tão irrelevante quanto o relatório de Jose Miguel Insulza, secretário-geral da Organização dos Estados Americanos, que voltou de uma visita ao Paraguai sem ter enxergado qualquer ilegalidade no afastamento de Lugo.
“É uma opinião pessoal”, desdenhou. “A questão paraguaia precisa ser discutida por todos os membros da OEA. Nosso compromisso com a democracia é inegociável”. As eleições presidenciais marcadas para daqui a nove meses podem normalizar as coisas, concedeu o representante do governo que exigiu a devolução a Cuba da carteirinha de sócio da OEA. Por que o Paraguai só será redimido pela aparição das urnas que sumiram há mais de 50 anos da ilha-fazenda dos Irmãos Castro? “Nenhuma democracia é perfeita”, balbuciou. A ditadura comunista, portanto, é uma democracia imperfeita.
E os países governados por tiranetes amigos só precisam de ajustes, informou a continuação do palavrório: “Todos nós estamos aqui lutando para aperfeiçoar nossa democracia e pode haver aspectos em uma democracia e outra que nos pareçam aprimoráveis”. A plateia indignada com o espetáculo do autoritarismo encenado na Venezuela, na Argentina ou na Bolívia só precisa ter paciência com o bolívar-de-hospício, a viúva-de-tango e o lhama-de-franja. Os três são “aprimoráveis”.
Antes de janeiro de 2003, as diretrizes da política externa se subordinavam aos interesses do país ─ e o cargo de ministro das Relações Exteriores decididamente não era para qualquer um. Hoje, a diplomacia brasileira revogou a altivez para atender aos interesses de um partido, aos caprichos do Planalto e às vontades de vizinhos vigaristas. No Brasil de Lula e Dilma, até um Celso Amorim pode virar ministro. Até um Antonio Patriota.
O sobrenome do chanceler é mais que uma contradição. É uma afronta à história do Itamaraty. E é um insulto aos patriotas de verdade.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Itamaraty e a ditadura dos Castros: em 1993-94 e, quem sabe?, em 2003-2010

A gestão do ex-chanceler Celso Amorim sempre foi conhecida por ser ostensivamente pró-cubana, ou melhor, pró-governo comunista da ilha caribenha; pró-cubano eu também sou, pró-povo de Cuba. A gestão Amorim, em seus dois, ou três (quem sabe mais?) mandatos, foi é a favor da ditadura dos irmãos Castro, sempre, com fidelidade inquestionável. Se alguém achar que estou exagerando ou mentindo, aceito censura, quem sabe até punição...
Paulo Roberto de Almeida 



Fernanda Odilla e Rubens Valente
Folha de S.Paulo, 25/09/2011

Amorim vetou diálogo com dissidentes
A gestão do então chanceler do governo Itamar Franco (1992-1994), Celso Amorim, hoje ministro da Defesa, proibiu que a Embaixada do Brasil em Washington mantivesse contato com exilados cubanos e aumentou as grades da embaixada em Havana para impedir invasões. Além disso, expulsou quatro cubanos que invadiram o prédio - dois deles acabaram presos pela polícia do regime. É o que revelam 636 telegramas confidenciais trocados entre o Itamaraty e a Embaixada do Brasil em Havana, obtidos pela Folha após pedido de desclassificação feito ao Itamaraty e que a partir de hoje são divulgados no Folha Transparência.
Procurado pela reportagem no início da semana passada, Amorim informou na tarde de sexta-feira, pela assessoria, que “o Ministério da Defesa não comentará as informações relativas aos documentos em questão”. Em 1994, o embaixador em Washington, Paulo Tarso Flecha de Lima, pediu autorização ao Itamaraty para participar de um café da manhã em Miami com “entidades representativas da comunidade de tendência moderada”. O objetivo do grupo era “marcar a presença” à margem da Cúpula das Américas, que ocorreria em Miami.
O Itamaraty vetou o encontro, o que deixou o embaixador contrariado. Em telegrama, ele respondeu: “Na realidade, sempre fez parte da tradição do Itamaraty procurar conversar, quando possível, com todos os segmentos envolvidos em confrontos políticos em países ou regiões que, de alguma forma, são importantes para o Brasil”. Os telegramas evidenciam a baixa disposição do Itamaraty, no período 1993-1994, em manter relações com críticos da ditadura de Fidel Castro. A ponto de expulsar quatro deles da embaixada em Havana, em 1993.

sábado, 6 de agosto de 2011

Amores e odios na Defesa: uma aposta na continuidade...

O comentarista abaixo parece ter certeza de que o novo ministro da Defesa não fica mais do que doze meses. Eu apostaria na tese da continuidade, mas talvez ele esteja mais bem informado do que eu. Eu me oriento apenas pela minha percepção das coisas, que é eminentemente subjetiva...
Paulo Roberto de Almeida

Amorim volta ao governo como ministro da Defesa
InfoRel, 06/08/2011 - 12h12

O ex-ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, retornou ao governo sete meses depois de deixá-lo. Agora como ministro da Defesa, ele terá muito trabalho para ganhar a confiança do meio militar.

Com a demissão prá lá de anunciada do ministro Nelson Jobim, a presidente Dilma Rousseff surpreendeu ao chamar o ex-chanceler.

Celso Amorim já foi considerado o melhor diplomata do mundo, mas nos quartéis é odiado.

Ele deverá assumir o cargo na próxima semana.

Seu nome foi “sugerido” pelo ex-presidente Lula.

Cotado para o cargo e com apoio dos militares, Aldo Rebelo (PCdoB-SP) foi ignorado pela presidente. Sua atuação durante a votação do Código Florestal pesou.

Na época, o deputado foi acusado de unir-se ao PSDB e ao DEM para aprovar seu relatório.

Celso Amorim chega ao ministério da Defesa com várias obras inacabadas como a licitação para a compra de caças para a FAB, a elaboração do Livro Branco da Defesa e a criação da Comissão da Verdade.

Além disso, terá pela frente o desafio de evitar mais cortes no orçamento militar.

No início do ano, a presidente anunciou que R$ 4,4 bilhões seriam cortados o que obrigou as Forças Armadas a readequarem seus gastos e prioridades.

Agora, Exército, Marinha e Aeronáutica, podem perder mais 50% do que sobrou. Caso isso se confirme, todos os projetos em curso sofrerão adiamentos e muitos terão de ser paralisados por completo.

Análise da Notícia
Marcelo Rech

Quando a presidente Dilma Rousseff assumiu em janeiro, já sabia que seu ministério passaria por uma reforma em no máximo dois anos.

Diferentemente de seu antecessor, ela viu caírem três ministros em sete meses (sem contar a quantidade de assessores de segundo e terceiro escalões colocados no olho da rua).

Ainda assim, uma reforma ministerial deverá ser realizada em abril de 2012 (é ano eleitoral e muita gente vai aproveitar para se mandar antes de serem demitidos).

Celso Amorim que não servia para continuar no Itamaraty chega para um mandato tampão.

Não deve ficar 12 meses no cargo.

Os militares não o toleram. Não gostam dele e não compactuam com seus gostos ideológicos.

Se não se mancar, saem com ele.

Foi uma péssima escolha da presidente.

Para piorar, Celso Amorim ainda fará sombra ao seu ex-Secretário-Geral, Antonio Patriota.

No cargo de ministro, Patriota tem conduzido vários assuntos de forma muito diferente da de seu antecessor.

Dilma ainda não conseguiu musculatura suficiente para imprimir sua marca ao seu governo.

Lula manda e desmanda e dissimulado, não assume.

O próprio ex-presidente não acredita na capacidade de sua pupila. Para Lula, apenas ele é capaz de governar.

"É permitida a reprodução total ou parcial, desde que citada a fonte"
Fonte: www.inforel.org

Comentários
Faça o seu comentário »

Soldados e diplomatas: unidos pelo Conselho de Seguranca

Então fica assim: o que não se conseguiu em oito anos de gestão direta, poderá ser obtido em quatro anos de gestão coadjuvante, ou indireta.

Patriota diz que Amorim ajudará Brasil a obter vaga no Conselho da ONU
Jornal do Brasil, 6/08/2011

O novo ministro da Defesa, Celso Amorim, contribuirá para fortalecer o papel internacional do Brasil, ajudando-o na sua tentativa de conquistar uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).

A avaliação foi feita nesta sexta-feira, no Rio, pelo ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota. Amorim, assinalou Patriota, tem grandes experiência em temas como desarmamento e não proliferação de armas nucleares, além de ter comandado o Itamaraty durante o governo Lula.

De acordo com Patriota, Amorim levará para o Ministério da Defesa "uma extraordinária experiência em temas que terão relevância na gestão da pasta, como, por exemplo, a atuação bem-sucedida do Brasil como Força de Paz no Haiti". "Ele também é um profissional extremamente comprometido com a integração sul-americana", destacou Patriota, que presidiu a solenidade em homenagem ao centenário de nascimento do político, jornalista e diplomata San Tiago Dantas, na Academia Brasileira de Letras (ABL).

Patriota ressaltou ainda o papel do Brasil no processo de construção da paz e de cooperação entre as nações. "Estamos no Conselho de Segurança da ONU como membro não permanente e temos contribuído para estabelecer pontes entre diferentes posições. Tenho certeza que, à frente do Ministério da Defesa, ele (Amorim) ajudará a fortalecer o papel internacional do Brasil".

domingo, 8 de maio de 2011

Indulging with himself - a view from Harvard (Amorim na Carta Capital)

O mais recente dos colunistas regulares da Carta Capital volta a escrever sobre política internacional, desta vez desde Harvard. As potências ocidentais sempre devem algo à consciência universal, claro, pelo fato de também matarem inocentes. Que horror não é mesmo? Elas deveriam ficar quietas, e esperar que os ditadores desaparecem da face da terra por morte natural. Também, a pretexto de que suas ações acabam atingindo civis inocentes, elas deveriam deixar que os próprios ditadores eliminem as resistências...
O compasso moral é inatacável...
Paulo Roberto de Almeida

O panorama visto de Harvard
Celso Amorim
Carta Capital, 7 de maio de 2011

Da ampla janela do escritório/mansarda que me foi atribuído na Harvard Kennedy School enxergo o topo de outros edifícios que fazem parte do complexo da universidade. A forma abobadada e o colorido dos campanários fazem lembrar cúpulas que se veem em outras paragens, meridionais ou mesmo orientais (Maetternich dizia que o Oriente começava na Rnnweg, na saída de Viena).

Tudo isso dá um ar pacífico e multicultural à paisagem, conducente à reflexão e ao debate. É verdade que esta atmosfera leve não se reflete sempre nos temas dos debates, em geral concentrados em situações nada tranquilas, como as duas guerras em que este país está envolvido e em outros conflitos potenciais. A Líbia, embora muito presente no noticiário, surge menos nas discussões, possivelmente em razão do seu baixo valor estratégico, apesar da tragédia humanitária que a intervenção da Otan não diminuiu em nada, como bem assinalou o ministro Antonio Patriota.

Há neste país uma não disfarçada perplexidade com as mudanças imprevistas em operação no mundo, em especial no Oriente Médio. A estratégia dos EUA para essa região há anos está baseada em conceitos, como o de “árabe moderado” (por oposição a árabe fundamentalista ou radical, supõe-se), que hoje já não têm sustentação na realidade. Na verdade, nunca tiveram. O que significa ser um árabe moderado? Ou ser um árabe radical? A derrubada de Hosni Mubarak pela revolução popular tornou o paradigma de “líder árabe moderado”, que ele mais que ninguém encarnava, definitivamente obsoleto. A mudança no Egito, como assinalei desde o início – em que pese a brutalidade de outras situações, inclusive em tradicionais aliados dos EUA, como o Bahrein e o Iêmen –, é o fato de maior impacto geopolítico na questão que é chave para todas as outras: o conflito Israel-Palestina.

O acontecimento de maior relevo dos últimos dias, por suas implicações de médio e longo prazo, é o acordo entre as lideranças do Fatah e do Hamas. A reconciliação entre as duas facções antagônicas, resultado direto das outras mudanças na região, principalmente no Egito, mas, de forma paradoxal, também na Síria, é a única via para se chegar a uma paz duradoura entre árabes e israelenses. Claro, isso exigirá uma evolução por parte do Hamas, que terá de aceitar a existência do Estado de Israel, um fato da história que nenhuma ideologia pode pretender apagar. Já o governo israelense tem de compreender – e, quanto mais rápido o fizer melhor para todos, sobretudo para Israel – que um acordo que venha abarcar todos os segmentos representativos da população palestina terá muito mais possibilidade de ser um acordo durável. Isso era verdade antes das atuais mudanças. A expectativa de que Tel-Aviv pudesse chegar a um entendimento com a Autoridade Palestina, que somente controlava, ainda assim parcialmente, uma parte do território, que depois fosse imposto à outra facção (expectativa, diga-se de passagem, também nutrida pelos negociadores da Autoridade Palestina), sempre foi, a meu ver, ilusória.

Hoje, com um governo egípcio onde a opinião popular – inclusive aquela, muito ponderável, da Irmandade Muçulmana – terá em qualquer circunstância mais influência, em que a ilusão torna-se mera fantasia. Goste-se ou não, é essa a realidade que terá de ser enfrentada, não só por Israel, mas por qualquer potência que pretenda ter influência na região. E que ninguém se iluda, neste particular, com a situação na Síria. Todos (ou ao menos todos aqueles que se consideram democratas e progressistas, no Brasil e alhures) desejamos um desfecho que ponha fim à brutal repressão que Bashar al-Assad desencadeou (contrariando expectativas de muitos que, inclusive no Ocidente, viam nele um líder modernizador e aberto ao diá-logo que lutava para se libertar do aparato herdado do pai).

Mas um governo mais democrático em Damasco não significará necessariamente um governo mais fácil de lidar do ponto de vista de Washington e de Tel-Aviv, ao menos de acordo com a estratégia seguida até aqui. A maior repressão empreendida pelo pai de Bashar foi contra a Irmandade Muçulmana. Diferentemente dos filmes de mocinho e bandido, que parecem constituir a lente pela qual uma parte da opinião pública e, infelizmente, dos próprios tomadores de decisão, vê o mundo, a realidade é mais complexa.

Por falar nisso, passou despercebida, creio, da nossa mídia uma interessantíssima análise do ex-presidente sul-africano Thabo M’Beki sobre o ocorrido na Costa do Marfim. Para o ex-mandatário, mediador do conflito, antes dos trágicos episódios que culminaram com o bombardeio por helicópteros franceses – devidamente autorizados pela ONU, ao que parece – à residência presidencial, a história é bem diferente daquela contada pela mídia ocidental. Segundo M’Beki, os grandes perdedores teriam sido a ONU e a União Africana. Os ganhadores, naturalmente, os defensores de interesses coloniais e neocoloniais. Vale conferir.

NR: A coluna de Amorim foi escrita no sábado 30, antes da morte de Bin Laden. O fato não altera, porém, o teor das análises

Celso Amorim é ex-ministro das Relações Exteriores do governo Lula. Formado em 1965 pelo Instituto Rio Branco, fez pós-graduação em Relações Internacionais na Academia Diplomática de Viena, em 1967. Entre inúmeros outros cargos públicos, Amorim foi ministro das Relações Exteriores no governo Itamar Franco entre 1993 e 1995. Depois, no governo Fernando Henrique, assumiu a Chefia da Missão Permanente do Brasil nas Nações Unidas e em seguida foi o chefe da missão brasileira na Organização Mundial do Comércio. Em 2001, foi embaixador em Londres.

Artigos anteriores:

BRICS
Ser radical é tomar as coisas
A Velha Ordem está morrendo. Viva a Nova! Já não será possível que um grupo de potências ocidentais dite a vontade do mundo

Acordo Brasil, Turquia e Irã
A (f)utilidade das sanções
Em geral, elas atingem principalmente os setores mais frágeis

Radical Livre
Consequências de um voto
Dizer que o apoio à resolução da ONU contra o Irã não afetará a percepção que se tem da nossa postura internacional é tapar o sol com a peneira.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Reflections on Brazil's Global Rise - Celso Amorim

O Brasil costuma ser um país superlativo, até exagerado nos motivos de engrandecimento: sempre fomos, ou ainda somos, os maiores, nisso ou naquilo, geralmente em produção e exportação de uma série de produtos, os maiores em futebol, em graça, beleza, simpatia, enfim, grandes num pouco de tudo o que é positivo, e isso até por necessidade psicológica de reforçar o que temos,ou teríamos, de bom, face a tantas mazelas sociais e problemas persistentes (desigualdades sociais, corrupção, dificuldades de reformar estruturas e instituições defasadas, etc.).
Agora somos grandes também no mundo, na política externa, na inserção internacional.
Eu até diria que o nosso "PIB diplomático" é maior do que o PIB material, econômico, e certamente muito maior do que o "PIB militar", e todos ficam menores ante o "PIB futebolístico" e quem sabe até o "PIB das modelos fashion".
Mas, acho que ninguém bate a "superlatividade" diplomática tal como expressa neste artigo do ex-chanceler: somos grandes, ou pelo menos acreditamos que somos.
Paulo Roberto de Almeida

Reflections on Brazil's Global Rise
BY CELSO AMORIM
Americas Quarterly, Spring 2011 issue

The man who led Brazil into its new global era discusses his diplomatic vision and Brazil-U.S. relations.

This is the first article I have written since leaving the foreign ministry of Brazil. As someone who was very active in formulating foreign policy during what might be called “the Lula era” (and still without the benefit of much hindsight), it is an opportunity to begin taking stock of what has been achieved so far. The most remarkable fact about Brazilian foreign policy in recent years has been Brazil’s new and more prominent stance in the international arena. To be sure, this qualitative change, which resulted in The Economist describing Brazil as “a diplomatic giant,” is not solely—or even principally—due to foreign policy.

In recent years, Brazil has grown economically while keeping inflation under control, improved income distribution and, above all, strengthened its democracy. Who could have predicted after years of military dictatorship, immediately followed by the impeachment of the country’s first popularly-elected president, that Brazil’s next three heads of state would be an intellectual who fought against the dictatorship, a labor leader routinely labeled as a dangerous revolutionary, and now a woman who once was a political prisoner?

These changes have had a major impact on Brazil’s stance toward other countries and also on how other countries view Brazil. As I said in a recent interview, Brazilian foreign policy may not have created the wave, but it learned how to ride it. It should come as no surprise that international interest in Brazilian foreign policy has increased notably in recent years, culminating with the 2010 elections.

A professor interviewed by Le Monde in the period leading up to the presidential vote called the Lula administration’s diplomacy “imaginative.” Others have been less generous. Either way, it cannot be said that Brazil’s foreign policy in recent years has been ineffective or has maintained a low profile.

But to what extent and why has its foreign policy contributed to that prominence?

Some of the factors are objective and others subjective. Let us begin with the latter. Brazil, like many other developing nations, especially in our hemisphere (a term I am ambivalent about, which I’ll come back to later), historically suffered from a lack of self-esteem. “We cannot;” “We must be careful;” “This is very dangerous.” These and other similar statements were most often heard every time a bolder-than-usual leader brought forth some truly innovative diplomatic initiatives.

This occurred during the “independent foreign policy” of Jânio Quadros and João Goulart. It was next seen—military rule notwithstanding—during the Geisel-Silveira period. And it again manifested itself, in a more emphatic fashion, during President Lula’s administration. We had a preconceived notion of our place in the world and our ability to influence international events. In fact, if anything, non-Brazilian analysts were more aware of the discrepancy between the country’s size (territorial, demographic, economic, etc.) and its position in the world. I remember reading an article in the International Herald Tribune during President Itamar Franco’s administration, saying that Brazil “punched below its weight.”

The Gloves Come Off
From the first months of President Lula’s mandate, when his administration courageously opposed the Iraq invasion, we demonstrated that Brazil’s new foreign policy would not be timid or overly cautious. This change of attitude and posture did not occur overnight. It was the result of a lengthy process of democratic maturation and increased self-confidence on the part of the Brazilian people. The process of change, the subterranean shift and currents, if you will, had started some time before and culminated in the election of an ex-lathe operator as president. The “yes we can” slogan used in Barack Obama’s campaign could just as easily have explained the sentiments of most voters who cast their ballots for Lula in 2002.

Our foreign policy captured this state of mind and tried to translate it into concrete actions that could affect the course of regional and world events. In doing so, we changed the international agenda. One example of this is the one-time plan of the United States to establish a Free Trade Area of the Americas (FTAA). Rarely has a policy priority of the greatest power in the hemisphere been taken off the agenda because of the firm stance of another country. We don’t need WikiLeaks to know that Brazilian resistance prevented what was an essentially unbalanced trade negotiation process—based on the then-outdated ideas of the “Washington Consensus”—from becoming reality.

Contrary to what many believe, Brazil did not obstruct the FTAA. It simply sought to redefine the terms of the agreement. We believed that it was necessary for us to maintain the autonomy to make decisions about our own development model. And we almost achieved it at the Ministerial Conference in Miami in October 2003. Based on a “three-track approach,” our compromise would have allowed the FTAA to concentrate on aspects of market access and some basic common trade rules, while leaving more complex subjects such as intellectual property and agricultural subsidies to the World Trade Organization (WTO). U.S. Trade Representative Robert Zoellick and I had agreed on a common outline. But this simplified version, dubbed by some critics as “FTAA light,” ran into the opposition of the most ideological defenders of the original version of the FTAA. Although we came close to a compromise, we eventually could not agree. Few today remember this, but as head of the Brazilian delegation, I spent more time trying to convince our friends in Venezuela not to block consensus than arguing with my U.S. counterpart, Zoellick (though Venezuela eventually just submitted a note of reservation). We were also criticized by members of the business sector in Brazil and by Brazilian media. Nevertheless, by sticking to our principles rather than giving into the original rigid model, we preserved our policy development options.

At first, Brazil led this fight almost alone. Little by little, we gained support from others, above all from our partners in Mercosur: Argentina, Uruguay and Paraguay. Events since have proven many of the criticisms at the time to be misguided. Even without the FTAA—or perhaps precisely because of the absence of one—Brazil has experienced sustained growth, expanded its foreign trade, become a major recipient of direct investment, and has itself become a major source of investment in other countries. Moreover, the financial crisis that rocked the U.S. economy at the end of the decade and the minimal effect it had on the Brazilian economy justified our growth model and the choices we made to concentrate more on our domestic market and to diversify trade partners. Personally, though, the most significant and gratifying validation was the award I was presented by Latin Trade in Miami exactly seven years after the 2003 Ministerial meeting.

In August 2003, shortly before that meeting, the Lula administration first asserted itself in the global arena during the WTO Ministerial meeting in Cancún, Mexico. There, in the midst of discussions to reduce global trade barriers, we worked with other developing countries in an unprecedented joint political-diplomatic effort that averted a protectionist treaty. The draft agreement that was presented by the chairman of the WTO Council for discussion at the Ministerial conference would have, if approved, preserved huge subsidies to European and U.S. farmers. Those subsidies would have harmed developing countries and limited their ability to grow, including some very poor West African cotton producers (known as the “Cotton Four”).

Our success resulted in the formation of a new grouping in the WTO, with a specific mandate to negotiate on agricultural matters. This group, which came to be known at the meeting as the G-20 nations (not to be confused with the G-20 of leading economies), after its original membership, had a great influence on the negotiating process in Cancún and beyond.

As a result of our position, we faced enormous criticism; some even depicted us as enemies of a multilateral trade agreement. Curiously, several of those critics, especially in Brazil, later accused us of being obsessed with a global agreement to the detriment of bilateral or regional arrangements involving developed countries.

To be sure, we have not been able to conclude the Doha Round of WTO negotiations. But that failure stems largely from ineffective leadership in the richer nations, not from real economic needs. I am confident that there will be a successful conclusion to the round, and when that happens, it will no longer be possible to treat the interests of poor countries or of developing countries as mere footnotes.

Promoting Regional Solidarity and Asserting Global Status
Cancún and Miami were two events that had symbolic importance for Brazilian foreign policy. Concurrent with these two processes (one regional, the other global, but both involving the most powerful nation on earth), Brazilian diplomacy was working to promote South American solidarity and integration. A great deal of President Lula’s personal efforts (and mine as well) were dedicated to this objective, with remarkable results in the economic, commercial, infrastructural, and political spheres. Our main goal is to transform South America into a true “Peace Zone”—a goal Brazil is gradually achieving.

I emphasize these facts not only for the practical results they produced—reflected in trade and investment figures—but also because they are unprecedented. Rarely, if ever, during my approximately 45 years of diplomatic life (from which I should subtract seven during which I was busy performing other government functions) have I observed such dramatic change in such a short span of time. In the early days of the Lula administration, Brazil’s foreign policy was marked by an essentially defensive agenda in the FTAA and the WTO—a situation we reversed in only one year. At the same time, we also managed to place South American regional integration at the forefront of Brazilian diplomacy. We restored confidence in Mercosur and initiated the process that led to the creation of the 12-member Union of South American Nations (UNASUR), which includes the whole continent from Colombia to Argentina.

The basis of UNASUR is a series of economic and trade agreements, but it also has a strong political component. That political role proved to be of central importance during recent crises, both internal (Bolivia, Ecuador) and between countries (Colombia-Venezuela). But our “diplomatic activism”—in the best sense of the word—was not restricted to South America. At the Sauipe Summit in Bahia, all the Latin American and Caribbean nations convened to discuss cooperation plans aiming at greater development and political understanding across the region.

In broader terms, in the first years of the administration, we strengthened—and in some cases established—strategic partnerships with China, India, Russia, and South Africa. As a result, we created new channels of cooperation among developing nations, such as the IBSA Dialogue Forum—a mechanism for cooperation and political consultation involving India, Brazil and South Africa. Another channel was the establishment of a summit process involving Arab countries and South America and, separately, African countries and South America. On the economic front, our designation as a member of the BRIC countries (Brazil, Russia, India, and China) has become an essential reference point for us, while it has given our four nations a new economic and political status. Another group of emerging nations, BASIC (Brazil, South Africa, India, and China), has also played a leading role in the international negotiations on climate, with our support and encouragement. Relations with other nations with growing influence in their regions, including Turkey, have brought new and somewhat unexpected opportunities for political action.

Our work with countries across the global South has helped to strengthen the perception of Brazil as a nation whose interests and influence go beyond its own region. This, in addition to our growing strength in the areas of trade, economics and the environment, has contributed to the European Union’s decision to make Brazil a strategic partner and to the establishment of a dialogue with the U.S. to work together on global issues.

Analysts and government officials from several countries, including the U.S., have noted Brazil’s arrival as a global player—though only time and other factors, including subjective ones, will confirm the permanence of our newfound status. Most of the comments have been positive. But one notices a natural ambivalence from some, especially in the United States. If Brazil continues on its current path, it will be the first time that another country in the Americas becomes a global player. To be sure, in terms of “hard power” Brazil cannot compete with the United States. This is obviously true in military terms, where the supremacy of the U.S. is undeniable. Furthermore, in economic terms, the differences between the GDPs of the U.S. and Brazil remain large. In other spheres, too, the gap is considerable.

Nevertheless, Brazil’s presence has been felt on a number of issues and in various regions. In May 2010, working with Turkey, we drafted the Tehran Declaration, in which the Iranian government committed to abide by the objectives originally proposed by the U.S. and its allies and accepted by the International Atomic Energy Agency (IAEA). This was no small achievement and was applauded by, among others, Mohammed El-Baradei, the former IAEA chief. The commitment by Iran to remove 1,200 kg of low-enriched uranium to a third country (Turkey) within one month (before Iran would receive the corresponding amount of fuel), even if it was considered insufficient by some, demonstrated our potential influence in promoting a peaceful and negotiated approach to the international deadlock.

The sanctions against Iran agreed to one month later in the UN Security Council effectively quashed the possible benefits of the agreement in the short run. But it is my firm belief that our approach remains valid, as implicitly recognized in some of the statements of the so-called P5+1 (the five permanent members of the Security Council plus Germany).

More recently, the Brazilian government’s decision to recognize the Palestinian state triggered a series of similar acts by other Latin American countries. The gesture even contributed to some European countries reviewing their stance.

Given Brazil’s new willingness to act on the international stage, it is natural that it would raise concern in some quarters. The official and unofficial statements by U.S. authorities have been mostly positive in nature, but the unease is palpable. It is possible that the Brazilian action undertaken with Turkey toward Iran has caused some discomfort in Washington DC. The agreement obliged the U.S. government to explain, not always convincingly, its reasons for refusing an agreement that met all of the points raised in President Obama’s letter to President Lula less than three weeks earlier.

But Brazil’s increasing resourcefulness and independence will benefit the United States. On a number of occasions, Brazil’s stance has permitted a consensus that seemed impossible in the face of more radical positions. This was what happened at the Organization of American States (OAS) General Assembly meeting in June 2009 in San Pedro Sula, Honduras, when the decision was made to revoke Cuba’s suspension from the OAS. In other matters, such as Haiti or the conflicts involving Colombia, Venezuela and Ecuador, Brazil’s firm yet sensible position has been a steadying factor that has helped mitigate—if not fully eliminate—tensions and conflicts. Brazil’s influence in the region derives from its own economic and geographic weight, but is also influenced by its role in the international arena.

Leafing through old clippings in my files, I came across a photo taken at the U.S. State Department in which former Secretary of State Condoleezza Rice, a minister from Guinea-Bissau and I are signing a tripartite agreement to help strengthen the Guinean parliament. I believe that was the first trilateral cooperation agreement involving Brazil, the U.S. and an African nation. More recently, our two countries signed another agreement, this time with Senegal, regarding ethanol production (just as we had done with other countries in the Caribbean and Central America).

Actions such as these, which benefit poorer countries, do not just bring immediate gains to the local populations; they also serve the cause of stability and development, provided they respect each nation’s priorities and autonomy. In the case of many African nations, where tremendous need coexists with enormous potential, structured cooperation between Brazil and the U.S. could bring real benefits and make strong strategic sense. During President Rousseff’s inauguration, I briefly shared the idea with U.S. Secretary of State Hillary Clinton, who seemed open to it.

Of course, we will not always be in agreement, but even in those cases where we disagree, Brazil and the U.S. will have more to gain from dialogue than confrontation. The fact that there are two—not just one—powers with global reach in our macro-region (the word “hemisphere” has echoes of the Cold War era, which do not bring back good memories) will be beneficial for all and will help strengthen the position of our countries and the values we defend.

PostScript (written on January 31, 2011)
This text was originally sent to the editors of Americas Quarterly before two important facts were known (one of them more of a process than a fact): the announcement made by President Barack Obama that he would visit Brazil (as well as Chile and El Salvador) in March, and the spreading unrest in various Arab nations following the demonstrations that brought about the fall of Zine el Abidine Ben Ali in Tunisia and Hosni Mubarak in Egypt.

When commenting on the announcement of the visit, several U.S. government officials stressed the global reach of their relationship with Brazil. On the other hand, there has been no lack of criticism by U.S. pundits regarding the direction of Washington’s relations with Arab nations. Is it not time to use Brazil’s good relationship—and that of other South American countries—with the Arab world to begin a new dialogue that promotes the values we share while respecting the rhythms and processes of each country? In this, Brazil can serve as an effective broker or third party in negotiations. Moreover, the example of Tunisia is doubly illuminating: first, because it occurred endogenously, without being externally induced through sanctions or other pressures; and second, because it occurred in a country whose leader was considered an ally in the war on terror. Perhaps a less Manichean and more nuanced view of reality, such as the one Brazil and other South American countries have shown, would be useful in dealing with these thorny situations, especially in the Middle East. We may have finally reached a time to move beyond dialogue to a global strategic partnership.

============

No mesmo número da Americas Quarterly:

Americas Quarterly: The New Brazil and the Changing Hemisphere
Spring 2011

It’s time to rethink how both obvious and subtle changes are making the region more diverse, its future more unpredictable, and policy challenges more complex. This was shown by President Obama’s trip to three Latin American countries in March, and it comes at a time when trends such as migration, the declining influence of the United States and in the majority of countries a convergence toward more market-oriented economic models are promoting demographic and economic integration.

The Spring issue of Americas Quarterly—released on May 2, 2011— explores the political, economic and demographic forces that are changing the Americas.

Current and former government officials, scholars, and activists look at what national and international shifts over the past few decades, including the rise of Brazil, will mean for the hemisphere’s future. In his first article since leaving office, former Brazilian Foreign Minister Celso Amorim candidly shares his views on Brazil’s place in the world and his efforts to assert its diplomatic agenda, while Matías Spektor of Fundação Getulio Vargas analyzes prospects for greater U.S.-Brazilian collaboration. Beyond Brazil, Jorge Heine of the Balsillie School of International Affairs and Indian Ambassador R. Viswanathan discuss India’s growing interests in an evolving region, while this issue’s charticle looks at the mission and operation of President Chávez’ ALBA coalition. In the U.S., Secretary of Labor Hilda Solis points out how immigrants are the key to future economic growth.

Also, AQ interviews Chinese Vice Minister of Foreign Affairs Li Jinzhang on his country’s plans as it increases economic and political ties with the region, Omar Everleny Pérez and José Antonio Ocampo debate whether Cuba’s economic reforms will succeed, Alejandro Grisanti of Barclays Capital Inc. analyzes Venezuela’s oil policies, and Robert Maguire of Trinity Washington University looks at the challenges ahead for Haitian President-elect Michel Martelly.

In This Issue:
BRAZIL RISES

Reflections on Brazil’s Global Rise
CELSO AMORIM
The man who led Brazil into its new global era discusses his diplomatic vision and Brazil-U.S. relations.

One Foot in the Region, Eyes on the Global Prize
MATÍAS SPEKTOR
In an era of new global threats, Brazil and the U.S. need to collaborate.

The Opportunities and Challenges for President Dilma Rousseff
ROBERTO SETUBAL
Political will is necessary to face a new generation of policy issues.

(neste link)

sábado, 9 de abril de 2011

Diplomacia lulista: retocando (ou restaurando) a imagem - Carta Maior

Esse site, identificado com os antiglobalizadores do FSM, só poderia rasgar elogios ao antigo titular da diplomacia lulista, que teve assim alguns band-aids colocados sobre algumas feridas recentes, em vista dos debates que aconteceram na imprensa em torno das diferenças entre a diplomacia lulista - personalista ao extremo - e a diplomacia dilmista - aparentemente mais profissional e mais afeta ao próprio Itamaraty.
Não cabia a um jornal digital como esse criticar a atual diplomacia, inclusive porque seria contraproducente. Fica o registro da tentativa de reparação...


Celso Amorim: Brasil superou o complexo de vira-lata
Marco Aurélio Weissheimer
Carta Maior, 7/04/2011

Link: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17664&boletim_id=887&componente_id=14429

Em palestra a estudantes de Relações Internacionais, em Porto Alegre, o ex-chanceler disse que não vê "diferenças profundas nem superficiais" entre a política externa do governo Dilma e a do governo Lula. Celso Amorim apontou o conceito de desassombro como uma das razões do sucesso da política externa brasileira nos últimos anos. Segundo ele, o Brasil parou de ter medo da própria sombra e superou o complexo de vira lata cultivado por alguns setores da sociedade. O Brasil pode e deve influenciar os assuntos globais, acrescentou, destacando as mudanças dramáticas que estão ocorrendo no Oriente Médio e na África.

PORTO ALEGRE - O sucesso da política externa brasileira nos últimos anos deve-se à presença forte do presidente Lula, à constelação política que se formou no país e também a uma atitude de desassombro, no sentido etimológico da palavra, ou seja, uma atitude de não ter medo da própria sombra. O Brasil deixou de ter medo da própria sombra. Foi assim que o ex-ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, definiu a política externa implementada pelo país nos últimos oito anos. O chanceler que percorreu o mundo ao lado do presidente Lula falou para um auditório lotado de estudantes de Relações Internacionais – em sua maioria -, na tarde desta quinta-feira (7), na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).


Celso Amorim esteve em Porto Alegre a convite do governo gaúcho, com apoio da Fundação de Economia e Estatística (FEE), do Centro de Estudos Internacionais sobre Governo (Cegov) e do Núcleo de Estratégias e Relações Internacionais (Nerint), da UFRGS. Na abertura do encontro na Faculdade de Direito, o governador Tarso Genro apresentou Amorim como responsável por uma linha de política externa que colocou o Brasil em outro patamar no mundo. E lembrou o reconhecimento internacional que o chanceler brasileiro obteve.


Em 2009, a revista Foreign Policy, uma das mais respeitadas publicações de política externa do mundo, apontou Celso Amorim como o melhor chanceler do mundo. No ano a seguinte, a mesma revista escolheu-o como um dos cem pensadores globais mais importantes do planeta.
Só quem parece não ter descoberto isso, assinalou o governador, foi a imprensa brasileira que, durante a gestão de Amorim no Itamaraty, apresentou-o como se fosse “um nacionalista fundamentalista que não gostava dos Estados Unidos”, criticando-o a partir de “uma visão pelega e subserviente de política externa”.


Em sua fala, Celso Amorim, falou do desassombro da atual política externa brasileira e do sentimento que o jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues definiu como “complexo de vira lata”, ainda muito presente em alguns setores da sociedade brasileira. 

“Recentemente li um artigo comentando a Apologia de Sócrates, de Platão, onde ele diz que ser corajoso não é não ter medo, mas sim não ter medo daquilo que não é preciso ter medo. Muito da opinião veiculada pela mídia fica constantemente excitando nosso medo. O medo existe, é algo que está dentro de cada um de nós. Mas precisamos trabalhar para evitar que ele predomine sobre nossos sentimentos, perspectivas e visões”.


Nem os nossos mais ferozes críticos, acrescentou Amorim, podem negar que o Brasil adquiriu uma nova posição no cenário internacional. “Quem fizer uma pesquisa na imprensa internacional a respeito do que foi veiculado sobre o Brasil na época da última eleição presidencial verá como a nossa política externa foi tema de debate fora do país”. Vários adjetivos foram utilizados para definir a nossa política. O jornal Le Monde classificou-a como “imaginativa”.
A própria Foreign Policy usou um termo que não é muito comum em língua portuguesa, chamando nossa política de “transformativa”, logo após nosso reconhecimento do Estado palestino. 


“Uma amiga minha brincou”, contou Amorim, “que, no final de 2010, quando todo mundo pensava que o governo já tinha acabado, veio o reconhecimento do Estado palestino, e depois, nos últimos dias mesmo, veio a adoção de quotas para negros na primeira fase do exame para o Instituto Rio Branco (Itamaraty). Essas coisas mexem muito com a cabeça das pessoas. Até por isso é alvo de críticas e polêmicas. É uma área da política que mexe muito com conceitos”.


E foi esse, justamente, um dos principais pontos da fala de Amorim.
Ele enfatizou a importância do conceito de desassombro na política e na vida (das pessoas e dos Estados), defendendo que o Rio Grande do Sul volte a ter essa postura no cenário nacional. “O Rio Grande do Sul sempre foi um Estado muito politizado que influenciou o Brasil diversas vezes com ideias, energia e vontade política”. Mais do que uma disposição voluntarista, acrescentou, essa é uma exigência do mundo de hoje que está mudando de modo dramático.



A política externa dos governos Lula e Dilma
Questionado sobre uma suposta solução de continuidade entre a política externa do governo Lula e a do governo Dilma, tema que vem sendo martelado com insistência na imprensa brasileira, Amorim negou que isso esteja acontecendo. As linhas gerais da política são as mesmas: defesa do interesse nacional, uma visão de solidariedade em relação aos outros povos e países e princípio da não indiferença em relação aos problemas do mundo. 


“Não vejo diferença nem profunda, nem superficial, na condução da nossa política externa. Isso não quer dizer que não possam existir diferenças pontuais na hora de decidir sobre questões particulares”.


Uma dessas diferenças pontuais, que vem sendo objeto de grande interesse midiático, estaria na questão dos direitos humanos. Como costuma acontecer na insólita “diversidade” de opiniões na mídia brasileira, vários colunistas políticos repetem, com algumas variações, o mesmo comentário: enquanto o governo Lula foi pragmático nesta área, fechando os olhos para alguns casos de violação dos direitos humanos, o governo Dilma estaria rumando para uma posição mais principista na área, o que teria sido confirmado pelo recente voto do Brasil na ONU a favor do envio de um relator especial ao Irã para investigar a situação dos direitos humanos naquele país.
Sobre esse tema, Celso Amorim comentou:

“Creio que a palavra chave quando se fala em Direitos Humanos é dignidade. Este foi um dos principais conceitos que orientou o governo Lula, tanto em sua luta contra a fome e a pobreza, quanto em seus votos na Organização Mundial do Comércio. Esse debate sobre direitos humanos no plano internacional é muito complexo. Os Estados Unidos já mudaram de posição mais uma vez nesta área em relação a China, por exemplo, dependendo de suas motivações políticas e comerciais. Quem se atreve, por exemplo, a pedir na ONU o envio de um relator especial aos Estados Unidos para investigar a situação dos presos em Guantánamo? É fundamental que a política tenha um substrato moral, mas não podemos esquecer que ela é “política” e, nesta dimensão, na maioria das vezes, o diálogo tem um efeito mais positivo do que condenações”.



Revolta Árabe: o papel central do Egito

Celso Amorim também falou sobre as revoltas que estão ocorrendo em diversos países do Oriente Médio e da África. Para ele, o mundo está atravessando um período de mudanças dramáticas, de consequências ainda imprevisíveis. No caso das chamadas revoltas árabes, o ex-chanceler brasileiro considera que o caso mais importante a acompanhar não é propriamente o da Líbia, país com cerca de 4 milhões de habitantes, mas sim o do Egito, com 80 milhões de habitantes e um posição chave na definição do problema palestino. 


Amorim elogiou o voto brasileiro no Conselho de Segurança da ONU, abstendo-se na votação que aprovou a criação de uma zona de exclusão aérea. E questionou os resultados alcançados até aqui pelas forças da OTAN. Segundo ele, a zona de exclusão aérea instalada no Iraque anos atrás é brincadeira de criança perto do que está sendo feito agora na Líbia e que não se limita a um controle do espaço aéreo. Além disso, a alegada proteção à população civil também está cercada por dúvidas. Há população civil em torno de Kadafi e entre os rebeldes. Estão sendo protegidos ou bombardeados? – questionou.


O ex-titular do Itamaraty defendeu que o Brasil deve continuar a exercer uma diplomacia ativa no mundo. “O Brasil pode e deve influir nos assuntos globais. Isso é de interesse do mundo e do Brasil”, resumiu, lembrando que o nosso país não tem nenhum conflito com seus vizinhos e é respeitado internacionalmente por sua capacidade de diálogo. “Que outro país recebeu em um único mês os presidentes do Irã, de Israel e da Autoridade Palestina?” – resumiu.


"Obama perdeu grande oportunidade"

Sobre uma suposta decepção com a recente visita do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, pelo fato dele não ter feito um pronunciamento mais incisivo em defesa da presença do Brasil como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, Amorim foi taxativo: “Não há nenhuma decepção. O presidente Obama é que perdeu uma grande oportunidade de firmar uma parceria estratégica com um país que está se tornando uma potência mundial. Acho que ele e seus assessores não perceberam isso. As declarações dele em favor da presença da Índia no Conselho de Segurança enviaram um péssimo sinal ao mundo. Parece que ter a bomba atômica é uma condição para ingressar no Conselho como membro permanente”.


O elogio do desassombro na política e na vida feito por Celso Amorim foi muito aplaudido pelos estudantes de Relações Internacionais que, ao final do debate, fizeram fila e disputaram centímetros para chegar perto e tirar uma foto com um dos brasileiros mais influentes do planeta nos últimos anos.



terça-feira, 5 de abril de 2011

Brasil-Iran: ex-chanceler lamenta o voto brasileiro na CDH-ONU

O ex-chanceler termina seu artigo, como novo colunista da revista Carta Capital, com esta expressão: "Oxalá eu esteja errado."
Eu também espero. Aliás tenho certeza...
Paulo Roberto de Almeida

Coluna / Radical Livre
IRÃ: Consequências de um voto
Celso Amorim
Carta Capital, 3 abril 2011

No DIA 24 DE MARÇO, o Brasil apoiou a resolução do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas que instituiu um Relator Especial para investigar a situação no Ira. Esse tipo de relator sobre um país específico, do ponto de vista simbólico, representa o nível mais alto de questionamento sobre o estado dos direitos humanos. Para se ter uma ideia, apenas oito países estão sujeitos a esse tipo de escrutínio.
Se excluirmos o Haiti, cuja inclusão se deve sobretudo aos efeitos de catástrofes naturais e contou com o apoio do próprio governo de Porto Príncipe, todos os demais (Camboja, Mianmar, Somália etc.) foram palco de tragédias humanitárias graves. São em geral países muito pobres, ditos de menor desenvolvimento relativo, em que o Estado, seja por incapacidade (Burundi, Haiti), seja em razão de sistemas políticos autocráticos (Coreia do Norte, Myanmar), não atende minimamente às necessidades dos seus cidadãos. Mesmo países, certa ou erradamente, considerados pelas potências ocidentais como ditaduras (Cuba, China e Líbia, antes dos últimos acontecimentos) ou que passaram a ser qualificados como tais recentemente (Egito e Tunísia, antes da Revolução do Jasmim) não fazem parte dessa lista infamante. Noto, a propósito, que um recente artigo publicado no Herald Tribune dava conta da opinião de um ex-diplomata norte-americano sediado em Teerã de que haveria no Ira mais elementos de democracia do que no Egito de Mubarak, então apontado como exemplo de líder árabe moderado. Que eu me recorde, o Ira é o único país que poderia ser classificado como uma potência média que está sujeita a esse tipo de escrutínio. Não procedem explicações que procuram minimizar a importância da decisão com comparações do tipo: "O Brasil também recebe relatores" ou "não houve condenação".
Não há como comparar os relatores temáticos que têm visitado o Brasil com a figura de um relator especial por país. Na semiologia política do Conselho de Direitos Humanos e de sua antecessora, a Comissão, a nomeação de um relator especial (ressalvados os casos de desastres naturais ou situações pós-guerras civis, em que o próprio país pede ou aceita o relator) é o que pode haver de mais grave. Se não se trata de uma condenação explícita, implica, na prática, colocar o país no banco dos réus. Quando fui ministro do presidente Itamar Franco, viajei a Cuba com uma carta do nosso chefe de Estado, a qual, além de referir-se à ratificação do Tratado de Tlatelolco, sugeria que Cuba fizesse algum gesto na área de direitos humanos. Cuba admitiu convidar o Alto Comissário das Nações Unidas para o tema, mas recusou-se terminantemente a receber o relator especial sobre o país. Conto isso não para justificar a atitude de Havana, mas para ilustrar a reação que desperta a figura do relator especial. Não cabe assim diminuir a importância do voto da semana passada. Pode-se concordar ou não com ele, mas dizer que não afetará as nossas relações com Teerã ou a percepção que se tem da nossa postura internacional é tapar o sol com a peneira.
Nos últimos meses e anos, o Brasil participou de várias ações ou empreendeu gestões que resultaram na libertação de pessoas detidas pelo governo iraniano, tanto estrangeiros quanto nacionais daquele país. É difícil determinar qual o peso exato que nossas démarches tiveram em situações como a da norte-americana Sarah Shroud ou do cineasta Abbas Kiarostami. No primeiro caso, a jovem alpinista veio nos agradecer em pessoa. Em outros casos, como a da francesa Clotilde Reiss, não hesito em afirmar que a ação brasileira foi absolutamente determinante. Mesmo no triste caso da mulher ameaçada de apedrejamento, Sakineh Ashtiani, os apelos do nosso presidente, seguidos de várias gestões no meu nível junto ao ministro do Exterior iraniano e ao próprio presidente Ahmadinejad, certamente contribuíram para que aquela pena bárbara não tenha se concretizado.
Poderia mencionar outros, como o do grupo de bahais, cuja condenação à morte parecia iminente. Evidentemente, tais ações só puderam ser tomadas e só tiveram efeito porque havia um certo grau de confiança na relação entre Brasília e Teerã, grau de confiança que não impediu que o presidente Lula tenha demonstrado ao presidente iraniano o absurdo de suas declarações que negavam a existência do Holocausto ou que propugnavam pela eliminação do Estado de Israel. Parece-me muito improvável que o governo brasileiro se sinta à vontade para esse tipo de démarche depois do voto do dia 24. Ou caso se sinta, que os nossos pedidos venham a ser atendidos. Muito menos terá o Brasil condições de participar de um esforço de mediação como o que empreendemos com a Turquia, em busca de uma solução pacífica e negociada para a questão do programa nuclear iraniano (o que, certamente, fará a alegria daqueles que desejam ver o Brasil pequeno e sem projeção internaciona). Oxalá eu esteja errado.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Noticias da (Santa) Casa, 1: criador e criatura...

Blog do Ricardo Setti - Revista Veja
03/12/2010  à 12:3

Celso Amorim se consideraria “traído” pelo provável novo chanceler, Antonio Patriota

Patriota e Amorim: o chanceler se sentiria "traído" pelo secretário-geral
Se for mesmo confirmada hoje, em meio a uma fornada de futuros ministros, a designação como ministro de Relações Exteriores no governo Dilma do atual secretário-geral do Itamaraty, embaixador Antonio Patriota, não terá sido certamente por empenho do chanceler Celso Amorim.
O designação de Patriota chegou a ser anunciada ontem como certa pelo site do jornal carioca O Dia.
O criador, Amorim, parece ter-se voltado contra a criatura, Patriota.  Diplomatas próximos a Amorim chegaram a comentar, nos últimos dias, que o embaixador Patriota “traiu” o chefe ao indicar que estaria disposto a assumir a chancelaria.
Amorim até ontem ainda permanecia na luta para continuar no cargo e considera-se que ainda poderia fazer uma última tentativa para isso, com a ajuda de Lula.

domingo, 28 de novembro de 2010

Diplomacia brasileira: um balanco para a Foreign Policy

The Soft-Power Power
Susan Glasser, Foreign Policy's editor in chief, met Foreign Minister Celso Amorim in Brasilia for a wide-ranging conversation on Brazil's role as the rest rises. Below, the edited excerpts.
INTERVIEW BY SUSAN GLASSER | DECEMBER 2010

Susan Glasser: What is the big idea, as far as you see it, for Brazil's role in the world? Some people have argued that Brazil is a negotiating power, or a symbol of the emerging world order. What is your view?
Celso Amorim: I would say, of course it's a negotiating power. But it would be very simplistic to think Brazil always looks for consensus for consensus's sake. We also have a view of how things should be, and we tend to work in that direction. We struggle to have a world that is more democratic, that is to say, more countries are heard on the world scene -- a world in which economic relations are more balanced and of course in which countries in different areas can talk to each other without prejudice. And that's what we try to do in our foreign policy.
But of course Brazil is also a big country with a big economy, a multitude of cultures, and in a way similar to the United States -- but also in some ways different because the way people got here and the way they mixed was slightly different. So, Brazil has this unique characteristic which is very useful in international negotiations: to be able to put itself in someone else's shoes, which is essential if you are looking for a solution.

SG: What does Brazil want from the world right now, and what are you prepared to give to get it?
CA: Well, we give engagement. We give our minds, our thoughts. This costs quite a lot. I could be using -- President Lula, myself, and all others could be using our brains for other purposes, political or economic or whatever.
Brazil still has many problems. Inequality is still very big. It diminished a lot during President Lula's government, but it's still very big. So there is a long way to go. We know our shortcomings. If you look around, you'll see more women ambassadors and so on; you'll see some black people; but there is still a long way to go. But in any case, we have also this capacity to discuss and to have dialogue which was helpful in our own evolution and has helped in our relations with South America, and I think can help with the world at large.
I'll give you an example. One time, when I was ambassador to the U.N., they were looking for someone to take care of the sanctions committee on the former Yugoslavia. I received a call from the president of the Security Council. I was on a 10-day vacation -- a very rare thing -- in Greece somewhere, and he said, "No, no, it has to be you, Celso. It has to be Brazil because Brazil is the only one that both the Americans and the Russians will accept." Because the others either were seen as very partial or, let us face it, too weak to be able to stand the different pressures.

SG: You make a great case for Brazil as a sort of global negotiator with hopes for a permanent seat on the U.N. Security Council. But to what extent is that a strategy for your country, or is it really a tactic?
CA: Well, having a seat at the table is a means to have your voice heard and to have your ideas heard -- because we believe in them. In the same way that you believe in the American Dream, we believe in the Brazilian Dream and also how the Brazilian example can be useful for others. And maybe because we came after we can do that maybe with some more humility, which helps. We'll never have the military power that gets near to that of -- not even to speak of the United States -- but Russia or China. We'll have to have some military power because that is essential for any state as long as the nation-state exists. But we are aware that it cannot be at that level.
In the present-day world, military power will be less and less usable in a way that these other abilities -- the capacity to negotiate based on sound economic policies, based on a society that is more just than it used to be and will be more just tomorrow than it is today -- all these are things that help. I don't think there are many countries that can boast that they have 10 neighbors and haven't had a war in the last 140 years.

SG: So you're the ultimate soft-power power.
CA: There have to be some hard elements in it, as well: economic growth, as I mentioned, and we have to have some military power, some deterrent military power. Not because of the region; we don't think anything can happen, actually. [Latin America is] quickly becoming what I choose to call a "security community" in which war becomes inconceivable. But if other conflicts happen between other countries, we have to be prepared that it doesn't come to us. So some modicum of military power is necessary. It's not totally soft. People also say we have our music; I won't say our beautiful women because that would sound not very like a --

SG: Retro, not the future.
CA: Exactly.

SG: The Brazilian example in the world sounds so similar to what President Barack Obama campaigned on: the embrace of multilateralism, the sense that new institutions of global governance are needed, talking to one's enemies and not just one's friends.
CA: At some point he even said: "It's good," he said to President Lula, "that you can talk to some people I cannot talk to."
In ideological terms, I think we are very close to President Obama. We feel a lot of identification and actually saluted and welcomed the election of President Obama in a very strong way. Even though President Lula had a very pragmatic relationship with President Bush, the fact is that precisely because of the reasons that you mentioned -- because of what he represents in terms of fighting for equality, fighting inside his country, and also fighting for a more multilateral democratic world -- we felt very much at ease, and I would say that this is still the case. It's not for me to judge, but I do believe that maybe some hard facts of reality imposed themselves on President Obama. So it's up to him to see how he can deal with them.

SG: What of your experience with multilateralism do you think is useful to the United States? What are the limits of a multilateral world?
CA: It's more useful to think about the limits of unilateralism. Because when we see the situation in Iraq, what is the country that has benefited the most from the Iraq invasion? It's probably Iran. Nowadays Iran is seen as the biggest enemy. It's a strange situation.
So unilateralism also has its limits. But with multilateralism, it's like asking, "What are the limits of democracy?" Of course democracy has its limits. Of course sometimes I would like to have things done in one month and they take one year because you have to discuss them with other ministries, with NGOs, with trade unions, with the business class, and so on. So it takes a long time. And sometimes it doesn't happen in the way I have thought precisely. But still it's much better than having an autocrat acting very quickly, even if it's an autocrat with good intentions. I would say that multilateralism is for international politics, at the stage at which we live today, more or less the equivalent of what democracy represents inside states. And people could say the same thing of multilateralism that Churchill said of democracy.

SG: The worst system except for all the others?
CA: Yes.

SG: Tell me about your new partnership, or alliance, with Turkey. How did that come about? With your joint action on Iran, you must, I think, have built a close working relationship with your counterpart, Ahmet Davutoglu.
CA: Yes. Let me say, we, as part of our diversification of partners, we already had made some approaches to Turkey and vice versa because I think they were more or less in the same process. So there was an exchange of presidential visits, which had never taken place before.

SG: Yes, it's such an unlikely couple.
CA: Well, you know, sometimes unlikely couples are the most interesting ones!
What happened is that we both were trying to see how we could help in this problem of Iran. I think Turkey has its extra motives -- it's a neighbor of Iran and a Muslim country and so on and so forth. But let me tell you about the case of Brazil.
We were last year about to become a nonpermanent member of the Security Council. We think that when we are in the Security Council, whether permanent or not, we have to contribute to peace and security in the world and not just deal with our own interests.
I have followed this subject for a long time, and it was a problem that I always thought had no solution until I heard about the swap agreement. I discussed the [nuclear material] swap agreement with [then EU foreign-policy chief Javier] Solana -- which was proposed, you understand, by the United States as a reply to Iran's request to buy fuel. So I had these discussions with Solana, with [former International Atomic Energy Agency head Mohamed] ElBaradei, and I found there was a possibility of working for something. And I thought maybe a country like Brazil, which has this capacity for dialogue with several countries, could somehow help.
And so I discussed this subject with the Iranians. President Ahmadinejad came here. And I made trips to Iran, and I really found that it was in principle possible to pursue that role.
I had, just by chance, a trip to Turkey at the beginning of this year. When we compared notes in relation to Iran, I found out that both of us were trying to do the same thing and work along the same lines to use the swap agreement that was proposed by the United States, which was almost accepted by Iran. We saw that that was a possibility. So we found out that we were doing more or less the same thing, and we tried to coordinate our acts. And both being countries that look to have, how should I say, a more creative role in the world.

SG: For many people it was a sign of "the rise of the rest," that there was a different world order in which there would be other players and not just a small handful involved in negotiating major world solutions.

CA: I don't think we had an objective to show that. But that's really true, I believe, and that will happen more and more. Of course, we keep aspiring to be a permanent member of the Security Council. But in any case, what was clear is that the nonpermanent members of the Security Council in an important case like that didn't have any say whatsoever. We were invited to see the resolution after it was really ready. I came to know it through the news agencies. Only later on were we invited to make suggestions. Of course, it was suggestions that had no importance whatsoever, so we preferred not to make any. So I think it's a good lesson also on the lack of transparency of the Security Council. What I saw in this case, and I say that very openly and without any resentment of any kind, is that the fact that you have five permanent members with veto powers discussing only among themselves lends itself to all kinds of bargaining, which is not the best kind. Negotiation is natural. Of course you have to negotiate. But you know, if I am looking for exemptions for my own firms, this is not good for world order.

SG: Did the experience leave a lasting bad taste, do you think, between Brazil and the Obama administration?

CA: No, I don't think there is any bad taste. Of course, we were disappointed because we thought we were doing precisely what was, at least in spirit, the role that was being sought. So we were disappointed that there was no time even for examination. Actually, in Brazil you have a saying for when you don't like something, a book for instance; you say, "I haven't read it, but I didn't like it." So that was what happened with the Tehran declaration. Before it was at least analyzed in all its implications, it was refused.
And another moment was when, after I think three or four weeks, the Vienna group -- the United States, Russia, and France -- wrote back to the International Atomic Energy Agency. They didn't wait for Iran's reply. They presented their letter in the morning, and before midday they were adopting the sanctions. So, again, even if Iran would say, which of course would be unlikely, they said something like, "We'll accept everything," still the sanctions would be there. I think there was this haste to approve the sanctions that we didn't like.
But this is natural. We don't take that with resentment. But of course we cannot accept when people say, "Well, you knew that it would not be sufficient" or "You knew that we would not accept" because that did not correspond to the signals we received. Now, even Ahmadinejad is already saying that he's ready to interrupt the 20 percent enrichment if there is a swap agreement. As I said, the P5 [the five permanent Security Council members] was, I think in the latest meeting, during the General Assembly, they said that they were prepared to look at the revised swap agreement -- you don't even need to call it revised. We won't charge copyright.

SG: If there's one persistent criticism of President Lula's foreign policy, it has been the surprise at his unwillingness to criticize violators of human rights. It's one thing perhaps to negotiate with President Ahmadinejad over nuclear proliferation issues, but --
CA: I don't agree with that criticism. Because first, it's not true. We have criticized very often. But we don't think that just pointing your finger at someone will actually improve human rights on the ground. So, you know, it's a different view. And we are a very strong proponent, as you know, of the Universal Periodic Review, in which everyone will be analyzed: Brazil, Sudan, the United States, Germany, everyone. What we don't like is singling out one country. We have been critical; we have made recommendations to Iran; we have made recommendations to Cuba -- we have ongoing political dialogue with Cuba in which no subject is taboo. But that's the way we act. There are things we are able to say to them that we would not be able if I just go to the world podium and say, "Here I am; I'm a great guy. I'm a self-righteous guy. And you have to do what I say."
President Lula, as you know, went very publicly, for instance, on the story of the stoning of the lady in Iran, even to the point that it might sound like a little bit of interference to our Iranian friends. But we thought in that case it was justifiable and that we had, let us say because of our good relations with them and what we had tried to do, we had the moral authority to do so. Others don't, to be quite honest. They won't be heard. They may think they have the moral authority, but they won't be heard. President Lula is heard. How many foreign ministers, how many countries can have meetings on the same day with Bill Gates and President Ahmadinejad?

Celso Amorim is Brazil's foreign minister.
Susan Glasser is editor in chief of Foreign Policy.