O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Guinness da NAO-leitura: o mais importante livro NAO lido do seculo XXI: despikettyzando as leituras...

Gozação, claro, mas não menos real: o livro MAIS IMPORTANTE do século XXI, como se apressaram em caracterizar esse tijolo de 700 páginas os distributivistas afoitos, é também, segundo essa pesquisa totalmente não-científica, o livro MAIS NÃO LIDO do mesmo século.
O que já é alguma coisa, reconheçamos: muita gente comprou o livro, encheu a conta bancária do autor de royalties exagerados, e deixou o livro nas primeiras trinta páginas.
Acho que vão ter de constituir um comitê especial de trituração de invendidos apenas para esse livro...
Como apontado na matéria abaixo, a maior parte das pessoas que falaram sobre o livro não o tinha lido, o que também é o caso deste blogueiro.
Mas eu já conhecia as teses do autor desde pelo menos dois anos atrás, pois acompanho a produção dos intelectuais franceses, e estava dando aulas em Paris em 2012, quando as primeiras matérias a respeito saíram em forma de artigos analíticos (vou procurar no meu computador o que guardei a respeito sobre o autor e suas teses). Não antecipei, como muitos, o "sucesso" do livro quando ocorreu a edição americana. Aí, fui ler numa livraria, como sempre faço antes de eventualmente comprar, o tal livro. Fiquei bem uma hora e meia em cima do diagnóstico (razoável) e das prescrições (todas ruins) do autor. Talvez eu escreva algo a respeito, mas já venho fazendo comentários seguidos neste blog, introduzindo todas as matérias que julgo interessantes a respeito das teses do autor. Como já antecipado aqui, depois das glórias recebidas pelo autor, cabe "despikettyzar" as mentalidades, contaminadas pelo ardor distributivista-estatal do francês.
Acho que já está chegando...
Paulo Roberto de Almeida

Not Many People Got Past Page 26 Of Piketty's Book

Posted: Updated: 
Print Article
PIKETTY
Thomas Piketty's "Capital in the Twenty-First Century," a 700-page economic tome on the dangers of rising income inequality, is the summer's most unread book, according to a totally non-scientific analysis conducted by a mathematics professor and published by the Wall Street Journal.
Professor Jordan Ellenberg looked at the five most popular book passages in a number of current best-sellers, according to data from Amazon Kindle readers. He determined the average page number readers highlighted and divided that by the total number of pages in the book. A high number, according to Ellenberg, means that readers are reading until the end. Donna Tartt's Pulitzer Prize-winning blockbuster, The Goldfinch, for example, earned a score of 98.5 percent on the index.
Piketty's book scored a dismal 2.4 percent. The latest of the five most popular highlights in Piketty's book is located on page 26, according to the Ellenberg.
When "Capital" was first translated from French into English earlier this year, it shot up to number one on Amazon's best-seller list. The print book briefly sold out on the site.
"Piketty mania" went totally viral. Despite the book's fame, it was pretty clear all along that a lot of the people talking about the book hadn't read it.
The French economist is apparently OK with that.
“The problem with all the publicity is you have people who write about the book who apparently have not opened it,” Piketty said in June on Bloomberg TV’s “Countdown.” “That’s fine with me, the objective was to promote debate.”
That objective has clearly been achieved. In May, the Financial Times published a harsh rebuttal to Piketty's work, saying his data was manipulated and full of mistakes. In response, a bunch of the world's most renowned economists spent Memorial Day weekend churning out takedowns of the FT's takedown of Piketty.
If you, like the author of this post, haven't yet finished Piketty's tome, the short of it is that he analyzed centuries of economic data to illustrate how modern-day capitalism makes the rich richer much faster than wages grow for everybody else and if governments don't step in to intervene, the future looks pretty bleak. There are a bunch of good guides to the book online. You can also watch HuffPost's interview with the author here.

Educacao: a escolha fatal do Brasil pelos 10pc do PIB vai atrasar ainda mais o setor - Mailson da Nobrega

Escolha fatal: 10% do PIB para a educação Coluna: Mailson da Nóbrega
Veja, 5/07/2014

A lei que obriga a aplicar 10% do PIB em educação é equivocada. Quase dobra os atuais 5,8% do PIB. que é a média dos países da OCDE. A regra será cumprida até 2024. O gradualismo dá a ideia de responsabilidade e realismo. Teríamos tempo para nos preparar. Nada disso. Trata-se de escolha inconsequente, irrealista e futura causa de oportunidades perdidas.
A história está cheia de escolhas fatais, adotadas com boas intenções ou com o mero objetivo de poder c fama. Quando erradas, podem condenar um país ao declínio ou à pobreza por muitas gerações. No século XV, a dinastia Ming interrompeu a exploração marítima chinesa por considerá-la a fonte da crise nas finanças públicas. Segundo o historiador americano David Landes, quem fosse ao mar, mesmo para comércio, podia receber a pena de morte. A China era uma potência naval.
Seus navios eram dez vezes maiores do que as caravelas portuguesas. Em 1421, o almirante Zheng He navegou pelo mundo com uma frota de 317 navios e 28000 homens.

Assim, Portugal e Espanha — e não a China — lideraram as grandes descobertas e estenderam seus domínios à África, à Ásia e às Américas. Landes afirma que tal isolamento explica os cinco séculos do declínio chinês. A China, a maior potência mundial da época, tornou-se pobre e humilhada por invasores europeus e japoneses. Somente quando Deng Xiaoping decidiu abraçar a economia de mercado (1978) a China iniciou a recuperação.
Outro historiador, o britânico Ian Kershaw, analisou dez escolhas fatais na II Guerra, entre 1940 e 1941. Destaco duas delas, que contribuíram para a vitória dos aliados: (1) a invasão da União Soviética pela Alemanha, que enfraqueceu seu poder bélico; e (2) o ataque a Pearl Harbor pelo Japão, que fez com que os Estados Unidos entrassem no conflito.
Claro, a nova lei não terá a dramaticidade dos casos citados, que tiveram forte repercussão mundial. Aqui, vai ser apenas nosso o ônus do aumento de gastos em educação. Será mais um efeito do ambiente criado pelos governos do PT, segundo os quais sempre é possível ampliar gastos sociais, mesmo que seja inviável sua continuidade ou que beneficiem essencialmente os não pobres, como nas despesas previdenciárias. Criticar o aumento desses gastos é considerado preconceito contra os pobres, insensibilidade, neoliberalismo e semelhantes. Como ser contra investir mais em educação? Daí o amplo apoio do Congresso ao projeto de lei.
Dois êxitos dos últimos cinquenta anos — Coréia do Sul e China — se devem à boa formulação e gestão de políticas de educação, que resultam em ganhos de eficiência nos gastos. Seus dispendios na área equivalem, proporcionalmente, a somente dois terços dos nossos. Dinheiro não é tudo.
Defensores da lei dos 10% já reconhecem que isso é muito mais do que se vê nos aíses ricos, mas agora recorrem a outro parâmetro: nosso menor gasto per capita em educação. No Brasil, a despesa por aluno é de 3067 dólares, contra 9313 dólares da OCDE (devo esses dados a Hélio Schwartsman). Na verdade, em relação às nações desenvolvidas, o Brasil gasta menos per capita em quase tudo, e não apenas em educação, pelo simples fato de ainda não sermos ricos. A renda per capita média da OCDE em 2009 era de 35900 dólares, mais de quatro vezes a do Brasil, de 8 472 dólares. - Ninguém faz comparações desse tipo. Por exemplo. não se avalia a carga tributária pela arrecadação, mas por sua relação com o PIB. Se a ideia valesse, os benefícios per capita do INSS, equivalentes a 4 157 dólares, deveriam ser igualados aos da OCDE, de 17 880 dólares, também de mais de quatro vezes os nossos (sempre dados de 2009, por razões de uniformidade). Em proporção do PIB, a despesa do INSS iria de 7,5% para 32,2%, quase a carga tributária (então de 32,3% do PIB).
A lei tem outros problemas, advindos da ideologia e do corporativismo que impregnam seu texto. No caso dos 10% do PIB em educação, seu efeito será piorar a já grave situação fiscal.
A educação não precisa de mais dinheiro, e sim de uma revolução na gestão e na forma de remunerar os professores, para melhorar sua qualidade. A lei pouco ou nada contribuirá para isso. Tende a ser uma escolha ruinosa.

Maílson da Nóbrega é economista.

Mercosul: Brasil deveria seguir sozinho segundo Roberto Gianetti da Fonseca (Veja)

O Brasil deve seguir sozinho
Entrevista: Roberto Giannetti da Fonseca
Duda Teixeira
Veja, 5/07/2014

O economista e ex-diretor da área internacional da Fiesp diz que é hora de deixar a enrolada e endividada Argentina de lado e fazer um acordo de livre-comércio com a União Européia

Por nove anos, o economista Roberto Giannetti da Fonseca foi diretor de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), entidade que representa 41% do setor industrial nacional. Até o ano passado, quando deixou o cargo, trabalhou dentro dessa instituição para que o Brasil se abrisse para o mercado internacional. Aos 64 anos, ele agora se dedica a sua consultoria econômica, a Kaduna. "Por causa da decisão de priorizar o Mercosul, o Brasil ficou muito dependente das exportações para a Argentina", diz o economista. Para Giannetti, com o país vizinho à beira de um novo calote na dívida externa, fica claro quanto o Brasil se arrisca em não reduzir essa dependência.

A Argentina tem até o fim deste mês para pagar uma dívida com credores estrangeiros. Qual é o risco de o país dar o calote?

É bastante alto. A Argentina caiu em uma armadilha jurídica. No contrato de reestruturação da dívida, feito alguns anos atrás, há uma cláusula muito importante. Ela determina que os credores que aceitaram receber o valor da dívida com desconto devem ter um tratamento igual ao dos demais credores. A questão é que uma parte menor dos credores, que ficou com 8% do montante, obteve na Justiça americana o direito de receber os títulos pelo seu valor de face, ou seja, 100%. Se os outros, que aceitaram receber menos, agora também entrarem na Justiça, a Argentina terá de pagar o valor integral. Isso representaria uma dívida total de 100 bilhões de dólares, muito mais do que os 28 bilhões de dólares de reserva internacional que o país tem.

O que pode ser feito, então?

A única saída é negociar com aqueles que aceitaram o desconto e tentar retirar a cláusula. Ao mesmo tempo, é necessário convencer os outros fundos, chamados de abutres, a aceitar o valor de face, mas em um prazo mais longo.

O que aconteceria se a Argentina desse o calote?

Se o calote for inevitável, os argentinos estarão diante de uma crise da maior gravidade. Eles ficarão isolados do resto do mundo. Será uma situação caótica. Qualquer propriedade do Estado argentino no exterior — imóveis, navios e contas bancárias — poderá ser penhorada para pagar aos fundos abutres. A comunidade internacional, porém, se esforçará para evitar esse cenário. Deve haver uma nova renegociação, com a ajuda do FMI (Fundo Monetário Internacional) e de outras instituições. Para isso, a Argentina tem de se sentar à mesa sem arrogância, com humildade.

A palavra "abutre" não é exagerada?

Pode ser, mas a analogia não deixa de fazer sentido. Esses fundos compram títulos de dívida de países ou empresas em dificuldades por uma fração da cifra original. Depois, entram na Justiça e tentam ganhar o valor integral do devedor, arrancando o seu fígado. Pode-se não gostar deles, mas a realidade é que não há nada de novo nisso. Fundos mais agressivos existem em qualquer mercado. O erro por parte da gestão dos presidentes Néstor e Cristina Kirchner foi acreditar que eles não seriam um problema no futuro. Houve um certo descaso. O governo argentino deveria ter negociado antes com os administradores desses fundos e minimizado as dificuldades. Era algo que podia ter sido evitado.

Qual seria a conseqüência, para o Brasil, de um calote argentino?

As conseqüências não seriam financeiras, já que os investidores sabem muito bem diferenciar um país do outro. Os efeitos negativos ocorreriam mais no âmbito comercial. O mercado interno argentino está em franco declínio e é o destino de mais de 20% das nossas exportações de manufaturados, como peças de automóveis, sapatos e eletrodomésticos. Sem reservas em dólar, ou seja, se der o calote, a Argentina não terá como pagar esses bens. O volume do nosso comércio com a Argentina então cairia bastante. A perda em exportação de manufaturados pode chegar a 5 bilhões de dólares por ano.

No mês passado, o Brasil alterou o acordo automotivo com a Argentina. Antes, podíamos exportar sem imposto 1,95 dólar em carros e peças para cada dólar importado. Agora, ficou em 1,5 dólar para cada dólar importado. Ou seja, ficou mais caro exportar. Foi uma decisão acertada?

Qualquer acordo é melhor do que nada. Mas, se a crise chegar, nem essa ajuda terá efeito. Eles não terão como pagar o que importam de qualquer jeito.

Dar ênfase demais ao comércio com a Argentina foi um erro?

Certamente. Preso ao Mercosul, o Brasil deixou de assinar acordos de livre-comércio com outros países. Exportar 20% dos manufaturados para um país instável como o dos nossos vizinhos é muito arriscado. Se nossa economia fosse mais aberta, estaríamos exportando esse valor para países como Japão, Estados Unidos, Canadá ou para a Europa.

O Mercosul negocia um tratado de livre-comércio com a União Européia há catorze anos, mas a Argentina sempre atrapalha as conversas. Qual é a probabilidade de esse país embolar o jogo novamente?

Os argentinos sempre surpreendem na última hora. Deixam a negociação seguir para avaliar até onde o Brasil é capaz de chegar. Então, quando tudo está bem adiantado, dizem que não aceitam o que foi colocado na mesa. Em 2004, o Brasil chegou muito perto de fechar com a União Européia, mas aí houve o boicote da indústria argentina, que reclamou do risco de ter tarifas reduzidas cm relação aos concorrentes europeus. Houve uma sabotagem em um momento decisivo. Foi uma pena porque, enquanto o Mercosul fracassou, o México já havia feito um acordo com a União Européia quatro anos antes. O Chile concluiu o seu em 2003. O tratado com a Colômbia e o Peru entrou em vigor no ano passado. O elevado desempenho da economia desses países atualmente é resultado direto desses tratados. O Mercosul, contudo, foi na contramão e preferiu ficar isolado.

Pelas regras do Mercosul, o bloco só pode decidir por consenso. O Brasil está de mãos amarradas, ou há alternativas?

Os negociadores brasileiros deveriam ter assinado o acordo com a União Européia sem a Argentina, dando cinco anos para os nossos vizinhos se adaptarem à nova situação. Para fazer isso, há uma saída técnica. Bastaria usar o waiver, como é chamada a possibilidade de abrir uma exceção quando os membros do bloco não chegam a um consenso. Isso permitiria ao Brasil sintonizar os ponteiros com a União Européia em condições privilegiadas. Paraguai e Uruguai têm interesses semelhantes aos nossos e certamente iriam aderir de imediato. Não podemos mais responsabilizar a Argentina porque as coisas não avançam. A culpa é toda nossa, porque temos realmente todos os argumentos técnicos e jurídicos para concretizar o acordo. Negociar tratados é uma atitude soberana de cada país. É verdade que a Argentina prejudica o andamento das conversas, mas isso não deve ser um impeditivo aos demais membros do Mercosul.

Qual é a conseqüência da decisão do Brasil de fazer tudo em bloco e se contentar com os tratados de livre-comércio que o Mercosul já assinou?

Uma das desvantagens competitivas das empresas brasileiras atualmente é que elas não têm acesso facilitado a vários mercados. Nossos produtos, por pagarem taxas de importação maiores, tornam-se caros e são preteridos por consumidores e indústrias de outros países. Nossos concorrentes mexicanos, chilenos, colombianos ou malaios, que fizeram tratados de livre-comércio, vendem seus produtos mais barato em todo o planeta. Em geral, as indústrias brasileiras perdem para esses rivais tanto em preço quanto em tecnologia. Antigamente, os carros produzidos no Brasil eram bastante competitivos. A Fiat, a Volkswagen e a General Motors vendiam automóveis à China, à Europa e à África.
Hoje é impossível imaginar isso. Na comparação com outros veículos, o nosso é muito caro, porque todos os insumos têm preço elevado e trazem uma tecnologia defasada.

Qual tem sido o impacto da perda de mercados internacionais dentro do Brasil?

Nossa dificuldade de exportar manufaturados está criando uma situação perigosa, que é a especialização da produção. Em vez de o Brasil ter uma indústria diversificada e ampla, passa a se concentrar em alguns nichos, no agronegócio e na produção de minérios. Eu não sou contra o desenvolvimento dessas áreas. O problema é que elas não são suficientes para um país do porte do Brasil.

Por que não são suficientes?

Um país com o tamanho do nosso pode e deve ousar muito mais. Até porque, nos anos 1970 e 1980, o Brasil foi um dos líderes mundiais na exportação de manufaturados, de baixo e médio nível tecnológico, e também de bens de consumo. O pais se saía muito bem na competição com a Coreia do Sul, com a China ou com a Malásia. A indústria nesse tempo era pujante e gerava bons empregos, com bons salários. Alguns especialistas têm dito que não há evidência empírica de que a indústria tenha melhorado o padrão de vida das sociedades. Essa afirmação é absurda. Na Inglaterra, nos Estados Unidos e na Alemanha, foi a revolução da indústria que alçou esses países aos patamares elevados que desfrutam hoje em termos de hegemonia econômica e bem-estar. Existe uma ou outra exceção à regra, como Singapura, mas trata-se de uma ilhota com 5 milhões de habitantes. Singapura pode viver de serviços porque nem sequer há onde instalar uma zona manufatureira. Em uma nação da dimensão do Brasil, com 200 milhões de habitantes, isso seria inviável. Os empregos fornecidos pela indústria são fundamentais para o desenvolvimento do nosso país.

O desemprego no Brasil está em um nível considerado baixo, de cerca de 7%. Como isso é possível se a indústria enfrenta problemas?

Mais do que olhar esse número, é preciso observar a qualidade dessas vagas. Os melhores empregos são os industriais, que exigem uma formação profissional. Anualmente, o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) forma 3,5 milhões de técnicos no pais. A questão agora é: por que investir neles se depois não haverá emprego na indústria? Nosso setor de eletroeletrônicos, por exemplo, sumiu. Em 2006. o Brasil exportou 2,6 bilhões de dólares em celulares. No ano passado foram apenas 147 milhões de dólares, segundo a consultoria Teleco. Milhares de bons empregos desapareceram. As vagas que estão em ascensão são aquelas de meio período, de baixa qualidade, sem produtividade. O brasileiro que pensa que isso não tem nada a ver com sua qualidade de vida no futuro está enganado. O salário que ele conseguirá e o valor dos produtos que terá condições de comprar dependem diretamente da solução ou não desse problema. Esse é o ponto.

É justo concluir que os empresários brasileiros apoiam o protecionismo estatal por medo de competir?

Alguns setores certamente não estão preparados para concorrer com importados mais baratos. Outras políticas devem ser postas em prática, como a desoneração plena e permanente de tributos na exportação. Também seria necessário melhorar a qualidade dos portos, ferrovias e estradas. Essas medidas, em conjunto com a abertura da economia, proporcionariam crescimento econômico e gerariam empregos de qualidade. A curto prazo, a exposição maior ao mundo traria competição forte. Mas essa dificuldade inicial depois seria recompensada. Achar que políticas isolacionistas podem funcionar para sempre é uma ilusão. Os empresários brasileiros sabem que, se ficarem limitados ao Mercosul, seus produtos se tornarão velhos e suas empresas não terão perspectivas a médio e longo prazo.

Quanto tempo os empresários brasileiros levariam para se adaptar, se um tratado com a União Européia fosse assinado?


Se tudo for benfeito, três ou quatro anos. Um mandato presidencial seria suficiente.

Wikileaks Itamaraty e a alianca dos companheiros com bolivarianos (revista Veja)

Convivência diplomática
Duda Teixeira
Veja, 5/07/2014

Documentos vazados do Itamaraty revelam que, ao saber do envio de tropas e blindados venezuelanos para massacrar a oposição na Bolívia, em 2007 e 2008, o governo do PT preferiu abafar o caso

A autodeterminação dos povos significa que uma nação não pode se intrometer nos assuntos internos de outra. Neste ano, esse princípio foi usado, corretamente, para condenar a Rússia pela invasão da Crimeia e pelo envio de paramilitares para o leste da Ucrânia. Apesar de se apresentar como defensora do princípio da autodeterminação, a diplomacia brasileira se absteve, em reunião da ONU, de repudiar o intervencionismo do governo russo. Documentos confidenciais revelam que o Brasil tem a mesma postura de conivência em crises internas que envolvem os vizinhos da América do Sul.
Em 2007. a Venezuela sobrevoou o espaço aéreo brasileiro para enviar soldados e viaturas militares para ajudar a Bolívia a massacrar protestos populares. Como os governos boliviano e venezuelano são ideologicamente afinados com o brasileiro, o caso foi abafado. Parte dessa história aparece cm um relatório confidencial do Ministério da Defesa do Brasil. O texto narra a visita de militares e do ministro da Defesa Nelson Jobim à Venezuela entre 13 e 14 de abril de 2008. O documento faz parte de um pacote de 397 arquivos surrupiados do sistema de e-mails do Itamaraty e disponibilizados na internet por hackers, em maio passado. Segundo o relatório, após desembarcarem em Caracas, os representantes brasileiros se reuniram na manhã do dia 14 na casa do embaixador Antônio José Ferreira Simões para acertar os ponteiros antes do encontro com o chanceler Nicolás Maduro, hoje presidente da Venezuela. Cada aparte dos presentes foi registrado no papel. Em determinado momento, o general Augusto Heleno, comandante militar na Amazônia, perguntou se os demais sabiam de aviões Hercules C-130 que transportavam tropas venezuelanas para a Bolívia. O embaixador Simões interveio: "Uma denúncia brasileira de presença de tropas venezuelanas na Bolívia pode piorar a situação".

Enquanto isso, o governo de Evo Morales continuava enviando tropas e milícias para lutar contra opositores no Estado de Pando, na fronteira com o Acre. Em dezembro de 2007, um cargueiro Hercules C-130 da Força Aérea Venezuelana tivera problemas técnicos e aterrissou em Rio Branco, no Acre, vindo da Bolívia. A Polícia Federal vistoriou a aeronave, não encontrou armas nem munição e permitiu que o avião seguisse para a Venezuela. Os documentos vazados mostram que isso era só a ponta do iceberg. Na conversa na casa do embaixador, o general Heleno afirmou que "há presença não apenas de venezuelanos na Bolívia, mas também de cubanos, com interesse operacional". Segundo o tenente-brigadeiro Gilberto Burnier, durante a crise, a Venezuela fez 114 voos. "Informavam que transportavam veículos comerciais, porém foi visto que transportavam viaturas blindadas para transporte de pessoal (VBTP) e outras viaturas militares", lê-se no documento. No encontro com os venezuelanos, o ministro Nelson Jobim sugeriu que fosse criado um corredor aéreo para "sacar da agenda esse problema", ou seja. abafar o caso, pois a lei proíbe o sobrevoo de material bélico sobre o território nacional sem autorização. A proposta contava com o apoio do presidente Lula. Em agosto de 2008, o Diário Oficial da União publicou um memorando pelo qual os venezuelanos se comprometem a pedir autorização para cruzar o espaço aéreo brasileiro. A Venezuela, portanto, continuou enviando tropas e armas sem ser incomodada. Um mês depois, mais de quinze pessoas morreram em uma guerra campal em Pando. Alguns agentes da repressão, segundo denúncias de opositores, eram venezuelanos. Quem comandou a operação foi o atual ministro da Presidência da Bolívia, Juan Ramón Quintana, o mesmo que, posteriormente, em 2010, foi visto saindo com maletas da casa do narcotraficante brasileiro Maximiliano Dorado, em Santa Cruz de la Sierra.

Contra a imprensa independente: projeto comum de chavistas e companheiros

Tanto os chavistas, que não disfarçam sua ditadura de fato, quanto os seus companheiros tupiniquins, que cada vez mais alçam o tom contra a independência da imprensa e contra a imprensa independente -- não são a mesma coisa, pois a primeira é um princípio, a segunda são os veículos reais -- e pretendem amordaçá-la.
Matéria sobre o fim da independência da imprensa e o estrangulamento dos órgãos privados sob a ditadura chavista. Seria este o projeto dos companheiros no Brasil?
Paulo Roberto de Almeida

Acabar con el cuarto poder
Raúl Lotitto
La Nación, 6/07/2014

La guerra contra la prensa independiente que lanzó Chávez y continúa Maduro busca anular por completo a un actor imprescindible de las sociedades abiertas, que aún resiste

CARACAS.- El periodismo padece en Venezuela la peor crisis de su historia, fruto de una guerra iniciada hace tres lustros, cuando el difunto Hugo Chávez, aconsejado por Fidel Castro, eligió a sus dos primeros enemigos: el imperio norteamericano y los medios de comunicación. Hoy está muy claro que la grave crisis política, ética y económica que atormenta a Venezuela no es culpa de los gringos ni del periodismo. Pero los medios y sus profesionales sufren las consecuencias.
En principio, el control de cambios y su perverso manejo ponen en juego la sobrevivencia de diarios y revistas por la falta de papel, tintas y planchas, que no se producen en Venezuela, pero cuya importación se entorpece con el retaceo de divisas. A la vez, dada la asfixiante situación de la industria, el comercio y los servicios, hay una grave crisis publicitaria en todos los medios independientes, incluyendo la radio y la televisión, lo que atenta contra su éxito económico: única garantía de independencia para un medio.
Tal vez por eso existe el cobarde blackout de la televisión no oficial de mayor rating, que ignora casi por completo lo que sucede en el país político. La prueba es que nadie refiere sus noticieros -¿existen?- y casi no hay programas de opinión, ni crítica de ningún tipo en las novelas (como sucedía antes del chavismo) y menos aun por vía del humor, que desapareció de las pantallas. Sin noticias, la televisión grita su silencio. Lo mismo pasa en radio, con destacables excepciones como RCR y Circuito Éxitos.
Intervenciones, presiones y "sugerencias" lograron a lo largo de estos años que muchos periodistas pierdan sus programas y que los dueños teman por sus licencias radioeléctricas, que no son renovadas y quedan en un limbo legal cuando se vencen. Con esa excusa se cerraron medios clave como el circuito radial CNB y Radio Caracas Televisión (RCTV). Además, fueron compradas por "manos amigas" radios y televisoras como el Circuito FM Center o Globovisión y la editorial Cadena Capriles, lo que impulsó fuertes controversias en el ejercicio del periodismo.
Casos notables últimamente fueron los de Shirley Varnagy, que dejó Globovisión tras la censura de su entrevista nada menos que a Mario Vargas Llosa; Iván Ballesteros, a quien el gobierno le suspendió su popular programa Plomo Parejo en Radio Caracas, y Luis Chataing, que salió del canal Televen denunciando "presiones".
Por transmitir las protestas estudiantiles iniciadas el 12 de febrero, la televisora colombiana de noticias NTN 24 sufrió algo inédito en Venezuela para un medio internacional: prohibición de operar y orden a Directv de sacarlo de su grilla. También Nicolás Maduro amenazó a CNN con suspensión de credenciales y se invitó a su figura estelar, Patricia Janiot, a abandonar el país. Y hasta el Oscar cayó en desgracia: tras 39 temporadas con ese show, Venevisión, el canal de mayor rating, se eximió de transmitirlo este año, al circular en redes sociales que divas y astros del cine denunciarían la crisis venezolana.
Así, el triste manto de la censura se apaña con el telón de la autocensura. Todo vale en pos del objetivo del silencio. Hay chismes que alientan miedo y suspicacias que dibujan intereses tentadores. El diario El Universal siempre está primero en los rumores de venta. Y nadie sabe quién compró realmente la poderosa Cadena Capriles. Queda dicho que una mayoría radiotelevisiva se aferra al lema "no te metas", pero la audiencia cambió de sintonía y participa con fervor en el nuevo paradigma mundial de las redes sociales, que juegan tan duro como en la Primavera Árabe. El periodismo ciudadano se suma al que aún practican los profesionales que pueden en los medios que se atreven.
Una tarea difícil para un país que -cuando casi toda América latina estaba bajo la bota militar- supo jactarse orgulloso de su estirpe democrática. De su libertad de expresión. De sus diarios con cuatro cuerpos cargados de páginas. De su publicidad boyante. Tiempos en los que el periodismo se reconocía como cuarto poder. Tiempos de democracia representativa, muy diferente de la democracia participativa y protagónica inventada como antesala del sobrevenido socialismo del siglo XXI: chaleco de fuerza al libre albedrío de los poderes, que era la condición esencial -hoy perdida en Venezuela- para que la democracia se llamase democracia, sin calificativos ni sobrenombres.
Para someter al cuarto poder el socialismo del siglo XXI arrancó un proceso paciente y multiforme. Minó las bases de medios y periodistas, puso a los comunicadores como lacayos y atacó sus valores ferozmente no sólo en el frente intelectual. Acusados como grandes culpables de casi todo, los medios fueron maltratados más allá del verbo. Violencia contra reporteros en la calle, hostigamiento y asalto a las sedes de los diarios El Nacional o El Universal y a los canales Globovisión o RCTV, que fueron emblemáticos hace ya años.
A la vez, el Estado acumuló tantos medios como nunca tuvo: cinco televisoras sólo desde Caracas, periódicos y radios por doquier (algunas potencialmente poderosas como la cadena YVKE Mundial) y decenas de emisoras comunitarias. Pero su audiencia mediática no rima con tan costoso despliegue.
Surgió también el llamado "periodismo militante", enrolado en el pensamiento oficial. Igual que en la Argentina, donde el espejo con Venezuela es sintomático, incluyendo la crisis económica. Y la ética. Por reacción inevitable aparecieron también medios y periodistas frontalmente opositores. Lo peor para un negocio que, por principio, busca la verdad y debe ver los hechos a través de un prisma imparcial y ecuánime.
En su ofensiva, el gobierno además ninguneó al periodismo. Le negó el rol que lo define como interlocutor social, garante de la libertad y la democracia. Así, empezó por ignorar olímpicamente reclamos y denuncias (sobre todo de corrupción) enfatizando que provenían "del enemigo", para debilitar a los medios y desencantar de un solo golpe a las fuentes y al público ¿Para qué denunciar si el gobierno no hace caso? Una ecuación perversa, eficaz desde la sociología del socialismo del siglo XXI.
El ninguneo tuvo otra cara: el presidente eliminó las ruedas de prensa con medios nacionales. El líder era el gran vocero oficial, pero sólo en las cadenas de radio y televisión y el programa Aló Presidente, que reemplazaba incluso a los Consejos de Estado. Y pese a que multiplicó los ministerios, redujo al mínimo la vocería, condenando al funcionariado al ostracismo ("no estoy autorizado para declarar"), en una curiosa forma de censura que actúa directo sobre las fuentes.
Se trata de impedir el diálogo informativo y la opinión, claves para el periodismo en las sociedades abiertas. El modelo funciona con vías monologales, sin preguntas: un presidente que habla en cadena, pero no da entrevistas, y ministros "no sabe no contesta". Hay excepciones, pero cuesta encontrarlas. Una conjura contra el cuarto poder para impedirle contar con información y opinión para divulgarlas, confrontarlas, refutarlas y volverlas a discutir.
Así, al periodismo se le dificulta pendular como equilibrio de los demás poderes, para fortalecer la sociedad y sus valores. Por eso en los foros mundiales que evalúan la libertad de expresión como derecho humano fundamental, Venezuela sale siempre reprobada. La SIP y el Freedom House son los últimos ejemplos. Pero no los únicos.

Anular al periodismo y los medios críticos es directamente proporcional a profundizar el proceso, que es la razón de esta guerra. Que el gobierno vaya a triunfar es otra cosa. Porque aunque no la tiene fácil, el cuarto poder demuestra, con sus armas de siempre -aunque menguadas- y la fortaleza descomunal de las nuevas herramientas digitales, que tiene cómo defenderse. Hoy Venezuela, con su abrumadora crisis de mil cabezas y el descalabro social a cuestas, está en la mira del mundo gracias al periodismo, creyente insobornable de que la verdad es tan poderosa, que sólo le basta aparecer.

Relacoes Brasil-Cuba: em direcao de um futuro calote? - Russia cancela divida bilateral com Cuba

Em meio a um longo artigo sobre as loucuras argentinas, uma noticia que não seria surpreendente se não nos tocasse também, no plano dos compromissos financeiros.
Destaco este trecho e comento:

El viernes pasado, Moscú canceló a Cuba una deuda color sepia con la Unión Soviética: US$ 35.000 millones, impagables.

Comento: o Brasil seria a Rússia de amanhã?
Muito provavelmente, pois Cuba não vai pagar os empréstimos -- SECRETOS, não custa lembrar -- fez à ditadura comunista, e que servem de alento ao moribundo regime da ilha-prisão, em estado pré-falimentar.
35 bilhões de dólares não é pouca coisa, mas é o resultado de anos e anos de subsídios soviéticos a um regime condenado à bancarrota. Quanto o Brasil já comprometeu no mesmo circuito de calotes anunciados?
Por acaso, sabe-se que o Ministério do Desenvolvimento Agrário, que sempre esteve no círculo de "influências" do MST, liberou mais 58 milhões de dólares para financiar compra de equipamentos para subsidiar a agricultura familiar cubana. Ou seja, além de subsidiar nossos próprios agricultores familiares, o MDA do MST financia os cubanos. E o ministro vai a Cuba ainda este ano. Como se vê, o Brasil continua generoso com uma ilha falida...
Paulo Roberto de Almeida

Alianzas ingenuas en la guerra contra EE.UU.
Por Carlos Pagni
La Nación (Argentina), 6/07/2014

Lo único que falta es que Nicolás Maduro denuncie a la faringolaringitis como la última enfermedad que el imperialismo inocula en la América bolivariana para frustrar su liberación. Por culpa de esa afección, Cristina Kirchner tuvo que suspender la celebración de la Independencia, prevista para pasado mañana en Tucumán.
El silencio político, única respuesta al escándalo Boudou, se transformó en silencio clínico. Una frustración para Maduro, Evo Morales, Rafael Correa y José Mujica, que visitarían el país para apoyar a la Presidenta en su campaña contra los holdouts.
Ella aplicó al problema de la deuda en default el protocolo del reclamo por Malvinas. Donde siempre dice "Reino Unido", ahora dice "buitres". El sábado, la Presidenta debería estar repuesta. Ese día llegará Vladimir Putin. Y el 19, Xi Jinping, el presidente de China. La búsqueda de esos respaldos hace juego con la creciente politización del pleito con los holdouts.
Primero se denunció la voracidad desalmada de los "buitres"; después, la "extorsión" de Thomas Griesa; ahora, la contradicción es con Washington. El objetivo es que la Argentina integre un bloque contra los Estados Unidos, en una nueva pero dudosa Guerra Fría.
Esta estrategia, si se la puede llamar así, tiene algunas deficiencias inquietantes. La primera es que supone que Daniel Pollack, el special master designado por Griesa, es sensible a la presión de la diplomacia. Pollack recibirá hoy en Nueva York a una comitiva de funcionarios argentinos: el ministro de Economía, Axel Kicillof; el secretario de Finanzas, Pablo López; el secretario legal del Ministerio de Economía, Federico Thea, y el subprocurador del Tesoro, Javier Pargament. Es improbable que hablen de los pronunciamientos del G-77 o de las recomendaciones de la OEA sobre las reestructuraciones de deuda. Pollack ni siquiera ejerce una mediación: es el mero ejecutor de la sentencia de Griesa.
La otra falla de la campaña oficial es que llegó fuera de hora. En el supuesto de que el Poder Judicial de los Estados Unidos sea receptivo de alguna sugerencia política, la del kirchnerismo es extemporánea. Las presentaciones internacionales de Kicillofy Héctor Timerman, igual que las advertencias de economistas extranjeros sobre el riesgo en que ha puesto Griesa a las finanzas globales, hubieran sido oportunas antes de que la Corte de los Estados Unidos rechazara la apelación argentina. La Presidenta tuvo más de diez años para realizar ese ejercicio. Pero recién se despabiló al advertir que sería ella, y no su sucesor, la responsable de pagar. Entonces ordenó saldar contra reloj todas las deudas -Ciadi, Club de París, Repsol-, y creyó que con eso alcanzaría para que los jueces norteamericanos no pusieran al país al borde del default. No funcionó. Ahora el esfuerzo diplomático es muy tardío. De nada sirve despotricar contra una sentencia firme.
El kirchnerismo puso en funcionamiento sus creencias más atávicas. Primero, no hay decisión jurídica ni económica que no pueda ser doblegada por la política. Segundo, la independencia de los magistrados es tan ilusoria en los Estados Unidos como en la Argentina o Venezuela. Hay un tercer axioma, que se activará en los próximos días: el poder de Washington se sentirá menoscabado si en Buenos Aires deciden "irse con otro". Néstor Kirchner giró hacia el chavismo en 2005, cuando advirtió que George Bush no sería su abogado frente al Fondo Monetario Internacional. Cristina Kirchner firmó su acuerdo con Irán, que hasta hoy no puede explicar, al convencerse de que, a pesar de su posición contra el terrorismo islámico, Barack Obama seguiría aplicándole sanciones comerciales. La indiferencia de la justicia neoyorquina pondrá a la Argentina en brazos de Putin y de Xi, que llegarán a Buenos Aires aprovechando que van a Brasil para la cumbre de los Brics.
Contexto Cambiado
El idilio con el presidente ruso comenzó con la anexión de Crimea. La representante argentina en la ONU, que votó en contra en el Consejo de Seguridad, se abstuvo diez días después en el plenario. "No cambiamos nosotros, sino el contexto", bromeó Timerman. Putin llega a Buenos Aires envuelto en la bandera antinorteamericana. El viernes pasado, Moscú canceló a Cuba una deuda color sepia con la Unión Soviética: US$ 35.000 millones, impagables. Además, desde que Estados Unidos y Europa la sancionaron, Rusia invita a sus socios a comerciar en monedas distintas del dólar.
En la Casa Rosada confían en que esa fobia terminará dando un beneficio. ¿Habrá un aporte ruso al alicaído Banco Central? Cristina Kirchner quiere que, antes de que llegue Putin, el Senado trate un proyecto que otorga inmunidad a las reservas monetarias que otros Estados depositen en el país. Esa protección ya fue dada por la ley 24.488, de 1995. Aunque el nuevo proyecto agrega un resguardo contra "cualquier medida coercitiva" -¿el embargo de un tercero?- y menciona entre los depositantes a "otras entidades monetarias".
Putin volará desde Buenos Aires hacia Fortaleza, donde el lunes 14 comienza la cumbre de los Brics: Brasil, Rusia, la India, China y Sudáfrica. La innovación que esos países realizarán en el tablero internacional enfervorizará a la Presidenta: crearán un banco que cada uno capitalizará con US$ 10.000 millones. También formarán un fondo de reserva de US$ 100.000 millones, de los cuales China aportará 41.000 millones; Rusia, la India y Brasil, 18.000 millones cada uno, y Sudáfrica, 5000 millones. Los Brics ensayan una institucionalidad paralela a la del Fondo Monetario Internacional y el Banco Mundial. Este nuevo régimen, alternativo al fundado en Bretton Woods, está diseñado, sobre todo, por los chinos, que no consiguen traducir su capacidad económica en poder en los organismos dominados por Europa y los Estados Unidos. ¿Será una de estas nuevas organizaciones la "otra entidad monetaria" a la que se refiere el proyecto que la Presidenta envió al Congreso?
La reunión de Fortaleza se prolongará en Brasilia, adonde los presidentes de los Brics invitaron a sus colegas de la Unasur. Si supera la faringolaringitis, la señora de Kirchner se verá allí con Xi, que el 19 visitará Buenos Aires. El presidente chino anunciará el desembolso de US$ 10.000 millones para las obras del Belgrano Cargas y las faraónicas represas Néstor Kirchner y Jorge Cepernic. Esas centrales serán construidas por la china Gezhouba, asociada con Electroingeniería, de Gerardo Luis Ferreyra, un íntimo de Carlos Zannini.
Los contratos se terminaron de iniciar el 13 de junio pasado. Es decir, 72 horas antes del rechazo de la Corte norteamericana. Los funcionarios argentinos leyeron esa anticipación como un respaldo. Para ellos todos los fenómenos están vinculados entre sí. Salvo las represas santacruceñas con el sistema eléctrico. Conectarlas costará varios miles de millones de dólares. Es un detalle.
A los chinos les resulta simpático que se interprete su incursión en Sudamérica como una avanzada contra Washington. ¿Washington no viene sellando acuerdos militares con Japón, Vietnam y Filipinas? Pero el paradigma de la Guerra Fría es engañoso para interpretar la actualidad. Para China, el grupo preferido es el que integra con los Estados Unidos: el G-2. Ambas potencias coinciden en la agenda de largo plazo: terrorismo, energía, alimentación y medio ambiente. Se volverá a notar pasado mañana, cuando comience en Pekín la sexta ronda de diálogo estratégico y económico de los dos países.
La ensoñación de construir un nuevo orden bipolar releva al kirchnerismo de explicitar una solución para un conflicto que, a diferencia del de Malvinas, tiene vencimiento el próximo 31. Los funcionarios que hoy visitan Nueva York esperan que Griesa despeje la muy discutible amenaza de la cláusula Rufo y de los "buitres" holgazanes, que no iniciaron juicio. Kicillof está atrapado por el dilema de Protágoras: pagando o dejando de pagar, siempre pierde. Así como los holdouts, que se cubrieron del default comprando credit default swaps, cobrando o dejando de cobrar, siempre ganan.
Tal vez sea contraproducente insultar al magistrado. Pero la señora de Kirchner ve en Griesa al emergente de una gran conspiración. El miércoles pasado terminó de corroborarlo. Ariel Lijo fue el invitado más visible en la celebración nacional de la embajada de los Estados Unidos. Para el oficialismo hay una armonía tranquilizadora: a Griesa y Lijo los mueve el mismo titiritero. Además, en la fiesta también estuvo Héctor Magnetto. Todo cierra.

Igual hay un problema: así como la militancia internacional no resuelve la encerrona de los holdouts, la existencia ostensible de un complot no libera al kirchnerismo del lastre en que se ha convertido Amado Boudou. Sobre todo si, como afirman algunas versiones de las últimas horas, aparecen conexiones entre la causa Ciccone y los fondos administrados por el santacruceño Ernesto Clarence, a quien Elisa Carrió denomina "el cajero de los Kirchner". La Casa Rosada debería conseguir la licencia de Boudou. O la Presidenta tendrá más temas de los que no hablar.

Nao existe povo palestino, existe uma regiao com esse nome - Flavio Bierrembach

Palestina
Flavio Flores da Cunha Bierrenbach
Folha de S. Paulo, 6/07/2014

Ainda que não exista um povo palestino, o pensamento politicamente correto, que não costuma frequentar a razão, adotou a expressão

Não existe povo palestino. A Palestina é uma região geográfica, assim como a Patagônia ou o Pantanal. Seu nome vem do Império Romano. Era a forma como as legiões romanas se referiam aos sítios áridos do Oriente Médio, à estreita faixa de terra que se estende da franja do Mediterrâneo ao mar da Galileia e ao Mar Morto, delimitada ao norte pelas colinas de Golã e pelos montes do Líbano, e ao sul pelo deserto do Sinai e pelo golfo de Eilat. Antes, o pequeno território era conhecido pelos nomes atribuídos, desde tempos bíblicos, às suas sub-regiões, como a Galileia, a Judeia e a Samaria.

A expressão "povo palestino" é nova. Fruto de jogada magistral de marketing de Yasser Arafat, foi incorporada aos poucos e acabou digerida a contragosto por Israel, na vã esperança da paz, no amplo contexto dos acordos de Oslo, do espetáculo da entrega simultânea dos prêmios Nobel da Paz e do cansaço.

O preço tem sido caro, pois, embora seja fácil comprovar com argumentos históricos, geográficos, antropológicos, literários e até religiosos, a inexistência de um povo palestino, o pensamento único politicamente correto, que não costuma frequentar a razão, adotou-a.

Entretanto, sob qualquer critério utilizado pelas ciências sociais, não se identificará nos agrupamentos humanos agora chamados de "povo palestino" característica capaz de incorporar conceitos elementares aplicados à tentativa racional de definir o que seja um povo.

Como o Estado moderno afirma que todo poder vem do povo e em seu nome é exercido, a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) não demorou a perceber que a utilização política da expressão "povo palestino" significaria a melhor fonte possível de legitimação do poder.

Entretanto, não faz muito tempo, quando seus integrantes se dedicavam ao ofício de explodir aviões de passageiros, ninguém se atrevia a usá-la; naquela época, isso soaria estranho até à ética peculiar do Fatah. Expulsa da Jordânia e inadaptável a qualquer outro país árabe, a organização de Yasser Arafat buscava apenas um território para exercer poder político. Nele, abrigaria grupos díspares e dispersos (Jihad, Hizbullah, Hamas), cujo singular fator de unidade era e é o ódio a Israel.

O antissemitismo é a mais antiga, renitente e perversa forma de preconceito. Foi matriz da diáspora, da Inquisição e do genocídio. Depois da Segunda Guerra Mundial, quando sobreviventes do holocausto migraram para a Palestina, unindo-se aos milhares de judeus que já residiam lá, e com a instituição do Estado de Israel, o antissemitismo vestiu uma camuflagem conveniente; apenas mudou de nome. Passou a chamar-se antissionismo.

Varrer Israel do mapa era um artigo programático do estatuto da OLP. Aniquilar os judeus, a "solução final" engendrada por Hitler, e executada em Auschwitz, Buchenwald, Dachau e alhures, continua a ser o objetivo de pessoas, grupos, organizações terroristas e até de Estados.


A Constituição diz que o Brasil repudia o terrorismo, o racismo, preconceitos e discriminações. Seja nas Nações Unidas, seja em qualquer foro, mais do que identidades ideológicas fugazes ou laços pessoais oportunistas, são esses fatos irrefutáveis que devem ser levados em consideração na adoção de qualquer posição oficial brasileira que diga respeito à região denominada Palestina.

FLAVIO FLORES DA CUNHA BIERRENBACH, 74, é ministro aposentado do Superior Tribunal Militar.

Politica comercial companheira: pequenos flagrantes de protecionismo comercial explicito

O Brasil desde muito deixou de ser um país competitivo, por diferentes motivos, mas poucos vinculados a eventual dumping de produtos importados.
A maior parte se deve mesmo a problemas internos, entre eles a taxação excessiva sobre a produção interna.
Constatado esse problema, o governo deveria atuar sobre as causas do chamado custo Brasil, certo?
Errado, segundo o governo. Os culpados são os produtos estrangeiros que entram aqui muito baratos.
Vejam vocês que, de forma coordenada, todos estes países estavam conspirando contra o Brasil, e suas empresas decidiram vender mais barato aqui do que produzem nos países de origem: Arábia Saudita, China, Egito, Emirados Árabes, EUA e México.
Eles são desleais, segundo o governo.
O governo então resolve punir os consumidores e os produtores brasileiros que importam insumos, aumentando o seu preço de entrada.
É o que se chama de protecionismo explícito.
Outro absurdo: óleo de mamona produzido pela agricultura familiar. Como sabemos, a agricultura familiar não tem estrutura para produzir uma commodity industrial, no máximo ela pode participar da oferta de alimentos em níveis locais. Como então se explica isto?:
"O órgão (Camex) explica que a alteração da alíquota no óleo de mamona tem como objetivo manter a renda do agricultor familiar que produz a semente e fortalecer a cadeia produtiva."
Mas quem colocou o agricultor familiar nessa situação foi o governo, obrigando a Petrobras a comprar óleo de mamona desse simpático personagem SEM QUALQUER ESTUDO TÉCNICO RELATIVO A CUSTOS, e obrigando o diesel normal a ter esse componente.
Mais uma vez, o governo adota medidas compulsórias sem qualquer atendimento a critérios de custos, preços de mercado, etc.
Inacreditável: o Brasil há muito deixou de ser um país capitalista para ser um sistema socialista, pois quem administra a economia é o governo, não o livre mercado.
Paulo Roberto de Almeida

Governo aumenta taxas de importação
O Globo, 5/07/2014

Eletrodomésticos, filtros cerâmicos, porcelanatos e vidros agora pagam mais

Para proteger o mercado interno de práticas desleais de comércio exterior, o governo decidiu elevar a alíquota do Imposto de Importação de quatro produtos. A Câmara de Comércio Exterior (Camex), ligada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, aprovou sobretaxas nas importações de vidros para eletrodomésticos, filtros cerâmicos refratários, porcelanatos e vidros planos.

Para vidros, a decisão atinge produtos originários da China usados para fazer prateleiras de geladeiras e freezers. A medida vale por cinco anos, com sobretaxas fixas que variam de US$ 2,74 a US$ 5,45 por metro quadrado de vidro importado, dependendo do fabricante. Segundo a Camex, a taxa foi aplicada em valor inferior ao apurado na investigação da prática de comércio desleal - o Dumping  - para "preservar a estabilidade de preços nas etapas seguintes da cadeia produtiva.

Para os filtros originários da China, usados na filtragem de metais líquidos para fundição, a medida valerá por cinco anos, com sobretaxa de US$ 6,06 por quilo importado para todos os produtores.

Também foi aprovada sobretaxa para importações de vidro plano, incolor, produzido pelo método de flotação, com espessuras de 2 mm a 19 mm, originárias de Arábia Saudita, China, Egito, Emirados Árabes, EUA e México. O produto é usado pela indústria automobilística, construção civil, setor moveleiro, no transporte rodoviário e em eletrodomésticos e eletrônicos. A sobretaxa varia de US$ 172,27 a tonelada a US$ 334,35.
A Camex decidiu ainda alterar a Lista Brasileira de Exceções à Tarifa Externa Comum (Letec) com o aumento de Imposto de Importação de seis itens. Essa lista permite que o governo modifique temporariamente a alíquota do imposto de importação para cem itens, até 31 de dezembro de 2015.

Para o óleo de mamona hidrogenado, a alíquota sobe de 10% para 20%; para os óleos de vaselina ou de parafina, passa de 4% para 20%; para bicarbonato de sódio, de 10% para 20%; para ácido ricinoleico, de 2% para 20%; para centros de usinagem, de 14% para 20%; e para redutores, multiplicadores, caixas de transmissão e variadores de velocidade, incluindo os conversores de torque, de 14% para 20%.

O órgão explica que a alteração da alíquota no óleo de mamona tem como objetivo manter a renda do agricultor familiar que produz a semente e fortalecer a cadeia produtiva.


Para incluir esses itens, a Camex retirou da lista de exceções: pêssego, que terá a alíquota reduzida de 55% para 35%; cimento, que estava com imposto reduzido a 0% e passa para 4%; pneus de bicicletas, de 35% para 16%; papel-moeda, que passa de 12% para 6%; porcelanato técnico, que estava com Imposto de Importação de 35% e volta para 12%; e instrumentos para demonstração em ensino e exposições, que estava com 2% de Imposto de Importação (Letec) e passa para 16%.

Plano Real, 20 anos: uma homenagem necessaria, mas nao muito correta -Carlos Alberto Sardenberg

O autor, jornalista competente e sempre muito preciso, desta vez cometeu alguns equívocos.
Metas de inflação e câmbio flutuante não faziam parte fo plano original e portanto não estão fazendo 20 anos.
Várias outras medidas, como a mudança da lei do petróleo, tampouco têm a ver, estrito senso, com a estabiluzação macroeconômica, e sim com a modernização do Estado. As privatizações começaram muito antes, com a fraude do Collor, que nisso fez certo, a despeito da incompetência em várias outras áreas.
O autor mistura muita coisa, de épocas muito diferentes, mas se são os 20 anos passados que ele quer projetar para a frente, melhor não: poderíamos continuar com bandidos e incompetentes, como já tivemos.

Paulo Roberto de Almeida 

Mais 20 anos

Primeiro de julho de 1994: pela primeira vez, os brasileiros estavam animadíssimos com seu dinheiro. Foi um lance genial a introdução das novas cédulas num único dia, em todo o país. Deu força psicológica para o Real. Mas o plano foi muito além disso: uma impressionante sequência de reformas macro e microeconômicas.
No macro: regime de metas de inflação com BC independente; responsabilidade fiscal e superávit primário; câmbio flutuante; e acerto da dívida dos estados. Aqui também um lance genial: regras com limites para o gasto e a norma proibindo que a União voltasse a financiar os estados e municípios.
As privatizações (telecomunicações, mineração, siderurgia, transportes, bancos e energia elétrica) foram cruciais para a infraestrutura. E mais os dois grandes programas de ajuste do sistema bancário, um para o setor privado, outro para o público.
Também foi crucial a quebra do monopólio da Petrobras. Abriu a exploração de petróleo ao capital privado, nacional e estrangeiro, trouxe os investimentos que resultaram na descoberta do pré-sal.
Na área de gestão pública, destaques: reforma administrativa, com a criação das agências reguladoras; reforma no INSS, com a introdução do fator previdenciário em 1999.
Transferência de renda completou o quadro, ao reduzir a desigualdade e favorecer a expansão das classes C e D
Para facilitar a vida econômica de pessoas e empresas, no micro, tivemos: o Simples e a regra de suspensão temporária do contrato de trabalho, importante flexibilização da legislação trabalhista. Tudo isso na era FH.
O primeiro governo Lula, com Antonio Palocci na Fazenda, reforçou o superávit primário e avançou muito na agenda micro. Destaques: conta bancária e poupança simplificadas; a portabilidade do crédito e o regime do Supersimples.
Mudanças na legislação permitiram a volta e a expansão do financiamento imobiliário e a criação do crédito consignado. Com o boom da economia mundial — uma grande sorte — houve abundância de financiamento externo barato. Em cima das mudanças locais, o resultado foi o crescimento vertiginoso do crédito.
Ainda na era Lula: a nova Lei das SAs (2007) e regras aperfeiçoando a área de seguros. Mais a aprovação, em 2004, da contribuição previdenciária de funcionários púbicos aposentados.
Com Dilma, ainda linha ortodoxa: o cadastro positivo de crédito e a criação do fundo de previdência complementar dos funcionários públicos. E, claro, a volta às privatizações, com a concessão de aeroportos.
O mundo ajudou. Do início deste século até a crise financeira de 2008, a economia global experimentou um período de forte crescimento. Consolidou-se o fenômeno China, cuja voracidade por commodities, alimentos, minérios, petróleo e tanta coisa mais abriu enorme espaço para os países emergentes exportadores.
O agronegócio brasileiro tornou-se grande produtor e exportador mundial. Não foi por acaso, nem obra da natureza, mas da inovação, tecnologia e eficiência de empreendedores que se espalharam pelo país todo.
Mais os minérios — e as exportações brasileiras saltaram de US$ 55 bilhões/ano, na virada do século, para os US$ 250 bi de hoje.
Com os investimentos externos que entraram para aproveitar o novo Brasil, completou-se a mudança estrutural: uma economia que sempre sofreu com a falta de dólares tornou-se credora internacional nessa moeda.
Na área social, o reajuste real do salário-mínimo, política iniciada logo após o Real, e os programas sociais de transferência de renda completaram o quadro, ao reduzir a pobreza, a desigualdade e favorecer a expansão das classes C e D.
Hoje, porém, parece que o efeito dessas mudanças já se esgotou. Por exemplo: o crédito não tem como dobrar de novo nos próximos anos. Também não será possível continuar dando aumentos expressivos para o mínimo sem ganhos de produtividade e sem mais uma reforma na Previdência. Sem isso, não será mais distribuição de renda, mas simplesmente mais inflação e déficit público.
Com a deterioração da política econômica, o Brasil não cresce mais que 2% ao ano, com inflação na casa dos 6%. Comparado com as décadas perdidas, está bom. Mas é menos do que fazem os demais emergentes importantes, que conseguem crescer mais com menos inflação.
Hoje, temos um governo que deve muito, arrecada muito, gasta muito e muito mal, com poucos recursos para investimentos. O setor privado é limitado pela carga tributária, juros altos, péssima infraestrutura, custos de produção elevados e um ambiente de negócios hostil, o tal custo Brasil.
Do que resulta a agenda: refazer os fundamentos (metas de inflação, superávit primário, reforma do setor público) e, sobretudo, abrir as portas para um surto de investimentos privados, em todos os setores. Ou seja, mais 20 anos de Real.
Fonte: O Globo, 3/7/2014

Eleicoes 2014: Instituto Millenium pretende fazer trabalho didatico

Este blog já vem, desde algum tempo, fazendo o trabalho de informação, análise e opinião que o Instituto Millenium vai começar agora, com a abertura oficial da campanha eleitoral.
Vou colaborar dentro do possível.
Paulo Roberto de Almeida

Home » Blog » Especial “Eleições 2014”

Especial “Eleições 2014”

Com o objetivo de promover o debate e, assim, fortalecer a democracia e estimular o exercício da cidadania, o Instituto Millenium lança a página “Eleições 2014”, neste domingo, 6 de julho, data oficial de início da propaganda eleitoral. Por meio de notícias, artigos, arquivos de áudio e vídeos, o eleitor poderá se informar sobre as principais propostas dos candidatos para enfrentar os problemas do Brasil e fazer sua escolha de forma consciente.
Em 5 de outubro, primeiro turno das eleições, os brasileiros vão às urnas votar para presidente e vice-presidente da República, deputados federais e estaduais, senadores, governadores e vice-governadores. O segundo turno está marcado para o dia 26 de outubro.
É hora de ficar atento ao processo eleitoral e avaliar cada proposta. Acesse a página “Eleições 2014” e deixe seu comentário.

Um governo autista, que acha que o mundo esta' errado, so' ele esta' certo... - Mansueto Almeida

Existe alguma novidade econômica, ou de simples pensamento econômico, vindo do governo. O governo, ou a governanta, é autista, autossuficiente e satisfeito consigo mesmo.
Tem o contentamento dos beatos, dos simples, dos ingênuos, dos ignorantes...
Paulo Roberto de Almeida 

Os fundamentos econômicos estão ótimos? Brincadeira de mau gosto.

Só pode ser brincadeira. Hoje na Folha de São Paulo (clique aqui) ha uma matéria que diz que a presidenta Dilma busca um interlocutor na área econômica para acalmar o mercado. O que me impressionou foi a explicação de um ministro (que como sempre fala em off porque tem “convicção”) no final da matéria:  “Um ministro explica que a posição do governo será a de bater na tecla do presente, de que “os fundamentos do país estão ótimos” entre as principais economias do mundo: PIB, geração de emprego, reservas cambias e superávit.”
Isso só pode ser brincadeira e esse tipo de atitude serve apenas para piorar a falta de confiança do mercado no governo. Será que o governo teria coragem de falar o seguinte: “os fundamentos econômicos do Brasil estão ótimos e a desaceleração da economia é explicada, integralmente, pelos problemas do resto do mundo e pela incerteza em relação as eleições deste ano. A política econômica denominada de “Nova Matriz Econômica” será reforçada pelo governo do PT”.
Parece que não “caiu a ficha” do governo em relação ao desastre da “Nova Matriz Econômica”. Os jornais deveriam procurar os economistas ligados ao governo, como fizeram no aniversário do Plano Real, para “comemorar” o aniversário da Nova Matriz Econômica. O problema é que os economistas fogem da autoria da Nova Matriz Econômica como o diabo foge da cruz.
A verdade é que, com exceção do emprego, todos os indicadores econômicos pioraram nos últimos três anos. E o que causa preocupação no mercado é não saber se, em caso de reeleição, haverá de fato mudanças. Os nossos “fundamentos ótimos” são:
(i) A inflação consolidada perto do teto da meta de 6,5% e sem perspectiva que volte ao centro da meta;
(ii) O crescimento do PIB para este e o próximo ano na faixa de 1% a 1,5% e risco do baixo crescimento começar a afetar a taxa de desemprego já no segundo semestre deste ano;
(iii) Saldo da balança comercial piorou muito desde 2011 (passou de US$ 30 bilhões, em 2011, para US$ 2,6 bilhões em 2013) e déficit em conta corrente aumentou mais de 50% no mesmo período;
(iv) A participação dos básicos na pauta de exportação passou de 50% no primeiro semestre deste ano e o Brasil vem perdendo participação nas exportações mundiais desde 2011;
(v)  Os indicadores de confiança da FGV do comércio, serviços e industria estão todos em quedas consecutivas nos últimos quatro meses (seis meses no caso da industria). Índice de confiança da indústria está no seu menor nível desde maio de 2009,
(vi) O superávit primário, em 12 meses até maio, foi de  1,5% do PIB, queda de 50% em relação ao primeiro ano do governo atual (2011), quando foi de 3,1% do PIB. Se descontarmos as receitas extraordinárias de  novembro (leilão de libra e Refis), o primário em 12 meses até maio cai para 0,7% do PIB. Se descontarmos truques com restos a pagar, a conta de precatórios e sentenças judiciais que são tradicionalmente pagas em abril e neste ano foram postergadas para o final do ano, primário de 12 meses fica entre “zero” e 0,5% do PIB;
(vii) A taxa de juros Selic de 11% ao ano hoje é maior do que no início do governo Dilma quando era de 10,75% aa. Adicionalmente, a taxa de juros para pessoa física no segmento de crédito livre voltou para faixa de 42% ao ano -mesma taxa de 2011;
(viii) crescimento da despesa primária do governo federal em três anos de governo Dilma já foi de 1,5 pontos do PIB (ainda falta 2014), muito próximo aos oito anos de governo, quando foi de 1,7 pontos do PIB. A esse ritmo é certo que o governo aumentará a carga tributária ou a dívida. Neste ano até maio, a Dívida Líquida do Setor Público (DLSP) já cresceu em 1 ponto do PIB e a tendência para os próximos anos, dada a política econômica atual, é de crescimento;
(ix) De acordo com dados do IBRE-FGV, a produtividade da economia (PTF) está estagnada nos últimos três anos e a produtividade do trabalho estagnada nos últimos dois anos;
 (x) Taxa de investimento na economia está estagnada nos últimos três anos, por volta de 18% do PIB em valores correntes ou de 20% do PIB a preços constantes do último ano. O que preocupa é um aumento tão forte do déficit em conta corrente – em mais de 50% em três anos- apesar da estabilidade da taxa de investimento; 
O que podemos falar em relação à tendência? A tendência é de os indicadores melhorarem? Não, com a política econômica e com a equipe econômica atual, da qual a presidenta faz parte ativamente, a tendência é piorar porque a despesa pública continua crescendo a um ritmo muito acima do crescimento da receita, o que significa queda do primário; não há perspectiva de forte crescimento das exportações do Brasil e, logo, o déficit em conta corrente pode até melhorar mas continuará perigosamente elevado; e com inflação próxima ao teto da meta e ainda com a perspectiva de reajuste dos preços dos combustíveis e tarifas de energia, a inflação continuará elevada neste e no próximo ano e, logo, as taxas de juros permanecerão elevadas.
Por fim,  os empresários não voltarão a investir enquanto não enxergarem de forma muito clara como o (novo) governo resolverá os problemas acima. É bom mesmo que o governo indique o grupo de economistas que está pensando a “novíssima matriz econômica”. O problema é que, mesmo as pessoas próximas ao governo hoje, já namoram com a ideia que o melhor é voltar ao passado e restabelecer o tripé macroeconômico e a retomada da agenda de reformas.