Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
terça-feira, 3 de maio de 2016
Os livros mais prejudiciais 'a humanidade, segundo conservadores americanos
Jesse Souza vs Joel Pinheiro da Fonseca: um nao-debate em torno de mentiras sectarias (FSP)
Paulo Roberto de Almeida
Quem deu o golpe, e contra quem?
RESUMO Para o autor, decisão da Câmara a favor do processo de impeachment da presidente Dilma ameaça a democracia. Em texto que retoma ideias já expostas aqui e em seu livro mais recente, diz que esta crise, como outras, contou com a manipulação, mediada pela imprensa, da classe média pela "elite de dinheiro".
O ponto de inflexão da história recente do Brasil contra a herança escravocrata foi a revolução comandada por contraelites subordinadas que se uniram em 1930.
A visão pessoal de Getúlio Vargas transformou o que poderia ter sido um mero conflito interno de elites em disputa em uma possibilidade de reinvenção nacional.
O sonho era a transformação do Brasil em potência industrial com forte mercado interno e classe trabalhadora protegida, com capacidade de consumo. Nossa elite do dinheiro jamais sequer "compreendeu" esse sonho, posto que "afetivamente" nunca sentiu compromisso com os destinos do país.
Desde então o Brasil é palco de uma disputa entre esses dois projetos: o sonho de um país grande e pujante para a maioria; e a realidade de uma elite da rapina que quer drenar o trabalho de todos e saquear as riquezas do país para o bolso de meia dúzia.
A elite do dinheiro manda pelo simples fato de poder "comprar" todas as outras elites.
É essa elite, cujo símbolo maior é a bela avenida Paulista, que compra a elite intelectual de modo a construir, com o prestígio da ciência, a lorota da corrupção apenas do Estado, tornando invisível a corrupção legal e ilegal do mercado que ela domina; que compra a política via financiamento privado de eleições; e que compra a imprensa e as redes de TV, cujos próprios donos fazem parte da mesma elite da rapina.
De acordo com a conjuntura histórica, sempre que o Executivo está nas mãos do inimigo, imprensa e Congresso, comprados pelo dinheiro, se aliam a um quarto elemento que é o que suja as mãos de fato no golpe: as Forças Armadas antes, e o complexo jurídico-policial do Estado hoje em dia.
A história do Brasil desde 1930 é um movimento pendular entre esses dois polos. Getúlio caiu, como o desafeto histórico maior desta elite, por um conluio entre Congresso comprado, imprensa manipuladora e Forças Armadas que se imaginavam pairar acima dos conflitos sociais.
O suicídio do presidente adia em dez anos o golpe formal, que acontece em 1964 pela mesma articulação de interesses. O curioso, no entanto, é que dentro das Forças Armadas existia a mesma polarização que existia na sociedade.
INFRAESTRUTURA
O nacionalismo autoritário das Forças Armadas articula, por meio do 2º PND (Plano Nacional de Desenvolvimento) do presidente Geisel, uma versão ambiciosa do sonho getulista: investimento maciço em infraestrutura e setores-chave da vanguarda tecnológica com a disseminação de universidades e centros de pesquisa em todo o país.
Ainda que o capital privado fosse muito bem-vindo, a condução do projeto de longo prazo era do Estado. Foi o bastante para que os jornais se lançassem em uma batalha ideológica contra a "república socialista do Brasil" e os empresários descobrissem, de uma hora para outra, sua inabalável "vocação democrática".
O processo de redemocratização comandado pela elite do dinheiro tem tal pano de fundo. As Diretas-Já, na verdade, espelham a volta da rapina de curto prazo e uma nova derrota do sonho de um "Brasil grande".
Aqui já poderia ter ocorrido a conscientização de que a rapina selvagem é o fio condutor, e que a forma autoritária ou democrática que ela assume é mera conveniência. Mas o processo de aprendizado foi abortado. O público ficou sem saber por que o golpe tinha ocorrido e, depois, por que ele havia sido criticado. Criou-se uma anistia do "esquecimento" no mesmo sentido da queima dos papéis da escravidão por Rui Barbosa: para que jamais saibamos quem somos e a quem obedecemos.
Com o governo FHC, essa elite da rapina de curto prazo se insere, enfim, não apenas no mercado mas também, com todas as mãos, no Estado e no Executivo.
A festa da privatização para o bolso da meia dúzia de sempre, da riqueza acumulada pela sociedade durante gerações, se deu a céu aberto. A maior eficiência dos serviços, prometida à sociedade e alardeada pela imprensa, sempre solícita e sócia de todo saque, se deixa esperar até hoje.
Como uma imprensa a serviço do saque e do dinheiro não pode fazer todo mundo de tolo durante todo o tempo, e como ainda existem sonhos que o dinheiro não pode comprar, o Executivo mudou de mãos em 2002.
O novo governo tentou o mesmo projeto desenvolvimentista anterior, de apoio à indústria e à inteligência nacional. Mas seu crime maior foi a ascensão dos setores populares via, antes de tudo, a valorização real do salário mínimo.
Os mais pobres passaram a ocupar espaços antes exclusivos às classes do privilégio.
Parte da classe média sofria profundo incômodo diante dessa nova proximidade em shopping centers e aeroportos, mas "pegava mal" expressar o descontentamento em público. Pior, a classe média temia que essa classe ascendente pudesse vir a disputar os seus privilégios e os seus empregos.
O discurso da "corrupção seletiva" manipulado pela mídia permite que se enfrente agora o medo mais mesquinho com um discurso moralizador e uma atitude de pretenso "campeão da moralidade". O que antes se dizia a boca pequena entre amigos agora pode ser dito com a camisa do Brasil e empunhando a bandeira nacional. Está criada a "base popular", produto da mídia servil à elite da rapina.
A luta contra os juros desencadeada pela presidente Dilma em 2012 reedita a eterna crença da esquerda nacionalista brasileira na existência de uma "boa burguesia", ou seja, a fração industrial supostamente interessada em um projeto de longo prazo de fortalecimento do mercado interno.
Mas todas as frações da elite já mamam na mesma teta dos juros altos que permite transferir recursos de todas as classes para o bolso dos endinheirados de modo invisível, funcionando como uma "taxa" que encarece todos os preços e transfere parte de tudo o que é produzido para os rentistas –inclusive da classe média feita de tola pela imprensa comprada.
Quando em abril de 2013 as taxas de juros voltam a subir, a elite está armada e unida contra a presidente. As "jornadas de junho" daquele ano vêm bem a calhar e, por força de bem urdida campanha midiática, transformam protestos localizados em uma recém-formada coalizão entre a elite endinheirada e a classe média "campeã da moralidade e da decência" contra o projeto inclusivo e desenvolvimentista da esquerda.
Como os votos dos pobres recém-incluídos são mais numerosos, no entanto, perde-se a campanha de 2014. Mas a aliança entre endinheirados e moralistas de ocasião se mantém e se fortalece com um novo aliado: o aparato jurídico-policial do Estado.
Construído pela Constituição de 1988 para funcionar como controle recíproco das atividades investigativas e jurisdicionais, todo esse aparato passa por mudanças expressivas desde então. Altos salários e demanda crescente por privilégios de todo tipo associados ao "sentimento de casta" que os concursos dirigidos aos filhos das classes do privilégio ensejam transformam esses aparelhos que tudo controlam, mas não são controlados por ninguém, em verdadeiros "partidos corporativos" lutando por interesses próprios dentro do aparelho de Estado.
A manipulação da "corrupção seletiva" pela imprensa é o discurso ideal para travestir, também aqui, os mais mesquinhos interesses corporativos em suposto "bem comum". O troféu de "campeão da moralidade pública" passa a ser disputado por todas as corporações e se estabelece um conluio entre elas e a imprensa, que os vazamentos seletivos cuidadosamente orquestrados comprovam tão bem.
Esse é o elemento novo do velho golpe surrado de sempre. Ainda que o golpe tenha se dado no circo do Congresso em uma palhaçada denunciada por toda a imprensa internacional, sem o trabalho prévio dos justiceiros da "justiça seletiva" ele não teria acontecido.
O Estado policial a cargo da "casta jurídica" já está sendo testado há meses e deve assumir o papel de perseguir, com base na mesma "seletividade midiática", o princípio: para os inimigos a lei, e para os amigos a "grande pizza".
A "pizza" para os amigos já está em todos os jornais e acontece à luz do dia. O acirramento da criminalização da esquerda é o próximo passo. Esse é o maior perigo. Muita injustiça será cometida em nome da Justiça.
Mas existe também a oportunidade. Nem toda classe média é o aprendiz de fascista que transforma seu medo irracional em ódio contra os mais fracos, travestindo-o de "coragem cívica".
Ainda que nossa classe média esteja longe de ser refletida e inteligente como ela se imagina, quem quer que tenha escapado do bombardeio diário de veneno midiático com dois neurônios intactos não deixará de estranhar o mundo que ajudou a criar: um mundo comandado por um sindicato de ladrões na política, uma justiça de "justiceiros" que os protege, uma elite de vampiros e uma sociedade condenada à miséria material e à pobreza espiritual. Esse golpe precisa ser compreendido por todos. Ele é o espelho do que nos tornamos.
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A objetividade contra o discurso sectário
Agora as circunstâncias mudaram. Temos um governo a serviço do partido, que já abandonou qualquer projeto de ajuste e que se mostra incapaz de governar. Enquanto isso, a economia não dá sinais de melhora, e o desemprego já passa dos 10%; não podemos nos dar ao luxo de esperar mais três anos. Nessa conjuntura, defender o governo com unhas e dentes não é tarefa fácil. Não faltam, contudo, intelectuais dispostos a fazê-lo, com variável grau de seriedade.
Em "Quem deu o golpe, e contra quem?" (Ilustríssima, 24/4), Jessé Souza apresenta uma leitura de nossa história amplamente guarnecida de adjetivos e juízos de valor, mas desprovida de fatos. Faz acusações sem prova e rebaixa a discussão, tudo para proteger um projeto de poder particularmente criminoso, cuja incompetência tem destruído o sonho de milhões de brasileiros.
Para Souza, nossa história é dominada por uma "elite de rapina" que sabota qualquer esforço mais generoso de promover a ascensão social do restante do país, como supostamente era o objetivo do PT e de Dilma. Não só o golpe de 64, mas também as Diretas-Já e os protestos de 2013 foram ardis da elite malvada contra as classes trabalhadoras.
Nos raros momentos em que não está atribuindo finalidades escusas a seus desafetos e interpretando a linha do tempo seletiva e minguada que ele mesmo constrói, Souza comete inverdades flagrantes, como a afirmação de que a imprensa internacional tem "denunciado" o processo de impeachment como golpe.
Uma rápida pesquisa revela que nenhum jornal importante o fez. Aliás, publicações de peso como "Le Monde", "The Economist" e "Washington Post" rejeitaram explicitamente a tese do golpe em seus editoriais. Tal tese existe apenas entre nossa elite cultural engajada.
ALIANÇAS
Para manter a narrativa moralista em nível quase de caricatura, ele ignora por completo as complexidades de alianças políticas que, se lembradas, refutam sua leitura. A "av. Paulista", símbolo máximo das forças do mal, era, até pouco tempo atrás, aliada de Dilma. Basta lembrar que a Fiesp elogiou a redução tarifária da eletricidade e as isenções e desonerações de setores e empresas.
O subsídio do BNDES a grandes corporações, conhecido como "bolsa empresário" (que supera em valor o Bolsa Família), fez a alegria do alto empresariado brasileiro. O setor bancário lucrou como nunca, e sua atitude oscilava entre o apoio explícito e o silêncio omisso. A mudança de trajetória dos juros, ademais, foi consequência direta da piora de nossos fundamentos econômicos, causados por esse mesmo governo.
A afirmação de que o que move o impeachment é o ódio contra a ascensão econômica dos pobres não resiste à mais simples constatação: a luta para derrubar o governo só tomou fôlego a partir de 2015, justamente quando o desemprego passa a subir rapidamente e a inflação corrói a renda dos mais pobres. Naquela época dourada em que o PT podia se gabar de que pobre andava de avião, não havia nenhum movimento minimamente forte que defendesse o impeachment.
Para completar, Souza omite e relativiza os crimes e a corrupção. O petrolão, maior esquema de corrupção da história do Brasil, nem é mencionado. Cabe dizer que ele não é uma consequência inevitável do capitalismo –mesmo porque países muito mais capitalistas que o Brasil não têm a mesma corrupção que nós–, e sim fruto de um projeto de captura do Estado que viola as regras mais elementares de nosso sistema. O mesmo vale para a fraude fiscal cometida pelo governo Dilma e que dá a base legal do impeachment.
Apesar do viés, o artigo nos leva a considerar horizontes mais amplos. Para além da grave ilegalidade cometida pelo governo Dilma ao fraudar as contas para esconder o rombo fiscal, é possível buscar uma narrativa maior por trás do impeachment –o embate de forças históricas que disputam os rumos do Brasil. Não vejo, contudo, a luta maniqueísta entre espíritos generosos, de um lado e aves de rapina, do outro.
O real embate de nossa política é entre a busca do desenvolvimento em algum atalho facilmente trilhado pela canetada política e pelo gasto irresponsável –os crentes no poder mágico do Estado–, e a crença de que o importante é ter um sistema funcional e sustentável para promover o desenvolvimento de longo prazo.
PÉS PELAS MÃOS
Intenções boas e más existem em todos os lados. Elas em nada alteram os resultados práticos de diferentes políticas. Saído de uma ditadura estatizante, burocrática e autoritária, o Brasil meteu os pés pelas mãos repetidamente. Inflação, desemprego e uma "década perdida" foram os resultados de governos supostamente preocupados com o desenvolvimento.
A discussão séria de políticas públicas prescinde da avaliação moral dos participantes. Suponhamos que a política monetária dos anos 1980 estivesse de fato munida das melhores e mais generosas intenções ao atribuir ao Banco Central a missão de financiar o desenvolvimento do Brasil. Funcionou? Não. Apenas gerou a hiperinflação que só seria vencida com o Plano Real. Foi somente no governo FHC que, contrapondo-se à demagogia populista de curto prazo, se conseguiu o equilíbrio fiscal e a estabilidade monetária que permitiram ao país crescer. O primeiro mandato de Lula manteve essas conquistas e trouxe um importante foco em políticas de transferência de renda para a base da pirâmide.
O que poderia ser um novo caminho para um Brasil mais sério, contudo, foi abortado pelo projeto de poder do Partido dos Trabalhadores. A partir de 2006, machucado pelo mensalão, o governo fez o que se chamou na época de uma "inflexão desenvolvimentista", e voltamos aos velhos vícios.
As obras vistosas do PAC, a miragem do pré-sal, a aposta na expansão do crédito ao consumo, a política de campeões nacionais, o controle de preços, a piora de nossa dívida pública, as aventuras geopolíticas. Se foram mesmo reflexos de boas intenções eu não sei, o fato é que nos lançaram no que já é uma nova década perdida. Década que foi antecedida por muitas oportunidades perdidas.
O Brasil surfou a onda internacional favorável, quando nossas exportações valiam muito, e não fez nenhuma reforma significativa: nosso Estado não investiu em nossos gargalos e criou dificuldades para o investimento privado; nada se fez pela educação básica; nossa arcaica legislação trabalhista (que mantém 40% da mão de obra na informalidade) ficou intocada; a bomba-relógio da Previdência foi empurrada para o futuro incerto; nossos impostos continuaram superiores aos de países com a mesma renda per capita, sem falar de nossa complexidade tributária, que é recordista mundial inconteste.
Em suma, apostamos na demanda sem nada fazer para resolver as limitações de nossa oferta. O desenvolvimento ilusório deu lugar à recessão.
E agora, quando o Brasil precisa encontrar saídas, ficamos presos à polarização crescente. O terrorismo eleitoral governista impediu qualquer debate nos anos decisivos de 2010 e 2014. Perdeu-se de vista qualquer ideia de projeto para o Brasil.
É o retumbante fracasso teórico e prático do projeto governista que cria a necessidade da demonização de propostas alternativas. O resultado é o empobrecimento do debate público e a entronização de um discurso altamente moralista que, como sempre acontece, serve para justificar práticas corruptas.
Quais países na América Latina e na África têm tido mais sucesso? Os que criam instituições sólidas e regras claras, com equilíbrio fiscal, respeito à propriedade e facilidade de empreender e investir, ou os que, em nome de algum ideal, gastam o que não têm e criam entraves ao trabalho e ao lucro?
Essa escolha determinará nosso futuro, para o nosso bem, ela deve ser discutida sem partir do pressuposto de que o lado contrário é mau por natureza.
Uma política séria, madura e democrática (que aceita e respeita a existência de uma oposição) não demoniza adversários, discute soluções. Essa evolução –que é também institucional– tem sido combatida ferozmente pelo governo e por sua tropa de choque intelectual. Felizmente, ninguém mais acredita no discurso oficial.
O governo responsável por lançar 3 milhões de famílias da classe C para a classe D segue dizendo que governa para os pobres. Resta à oposição ter a grandeza e a maturidade que a gestão do PT não teve. Onde vigora o espírito sectário, devemos cultivar a objetividade. Ou então reeditaremos o fracasso petista em uma versão verde e amarela.
PSDB estabelece 15 requerimentos para apoiar novo governo Temer
O item que aborda o novo regime consta do trecho que trata sobre a necessidade de se realizar uma reforma política. "Defendemos a criação de cláusula de desempenho eleitoral, o voto distrital e a formação das bases de discussão para a implementação do parlamentarismo a partir de 2018", disse o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG).
O tucano deve entregar a carta pessoalmente a Temer nesta terça-feira, após reunião com integrantes da Executiva do partido. No documento, a cúpula do PSDB também defende a "expressa" redução do número de ministérios e cargos comissionados. O tema foi inserido como um dos itens prioritários num momento em que ainda não há, dentro da legenda, consenso sobre como participar do novo governo Temer.
A ideia de parte de integrantes da cúpula do PSDB é aguardar em cima do muro o início da nova gestão e "ver que cara terá" para só depois integrá-la. Dentro desse entendimento, a possibilidade de o senador José Serra (PSDB-SP) vir a ocupar um ministério na nova gestão deverá ser considerada como uma indicação "pessoal" de Temer e não do partido. Além de Serra, o deputado Bruno Araújo (PSDB-PE) também é cotado para assumir um posto no novo governo.
Privatização
Na parte que trata do cenário econômico, o documento do PSDB defende que um dos caminhos para sair da atual crise é a ampliação das concessões e privatizações. Essa orientação teve a colaboração do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, nome que chegou a ser sondado para participar da equipe econômica do vice-presidente da República.
"É imperativo que o novo governo proponha, em regime de urgência uma agenda de reformas estruturais que criem condições para que o Brasil volte a ser um País competitivo, com melhores condições de gerar emprego, renda e bem-estar para as pessoas, e com equilíbrio nas contas públicas. E, ainda, recupere as agências regulatórias por meio de gestão profissional, buscando de forma equilibrada o interesse da sociedade e o aumento significativo do investimento em infraestrutura, baseado num programa consistente de privatizações e concessões", diz a carta.
No texto, integrantes da cúpula do PSDB também defendem, sem dar detalhes, o combate rigoroso à inflação, preservando o poder de compra dos salários e a simplificação o sistema tributário, tornando-o mais justo e progressivo.
O documento aborda ainda temas relacionados às área de saúde, educação, e a manutenção e qualificação dos programas sociais implementados pelo governo do PT.
"Numa situação de crise aguda como a atual, deve estar garantida a manutenção e a ampliação dos programas sociais que se direcionam para os segmentos mais vulneráveis e de menor renda da população, em especial o Bolsa Família, o Minha Casa Minha Vida, o Pronatec, o Fies e o Prouni", diz o texto.
São os seguintes os 15 pontos relacionados no documento do PSDB:
1. Combate irrestrito à corrupção. Que se assegure expressamente que todas as investigações, em especial a Operação Lava Jato, com foco no combate à corrupção, tenham continuidade. E que seja garantida a independência funcional da Controladoria Geral da União e do Tribunal de Contas da União, da Polícia Federal e do Ministério Público.
2. Reforma política imediata. Imposição de cláusula de desempenho eleitoral mínimo para o funcionamento dos partidos políticos e adoção do voto distrital misto e do fim das coligações proporcionais. Além disso, que se volte a discutir a implementação do parlamentarismo a partir de 2018.
3. Renovação das práticas políticas e profissionalização do estado. Combate incessante ao fisiologismo e à ocupação do estado por pessoas sem critérios de competência.
4. Manutenção e qualificação dos programas sociais. Em especial o Bolsa Família, o Minha Casa, Minha Vida, o Pronatec, o Fies e o Prouni.
5. Revisão dos subsídios fiscais para fomentar o crescimento.
6. Responsabilidade fiscal. Governo não pode gastar mais do que arrecada. O executivo deverá apresentar em no máximo 30 dias um conjunto de medidas para a recuperação do equilíbrio das contas públicas.
7. Combate à inflação, preservando o poder de compra dos salários.
8. Simplificar o sistema tributário, torná-lo mais justo e progressivo. Apresentar nos primeiros 60 dias de governo uma proposta de simplificação radical da carga tributária.
9. Reformas para a produtividade
10. Maior integração com o mundo, reorientando a política externa e comercial.
11. Colocar em prática a sustentabilidade.
12. Reformulação das políticas de segurança pública.
13. Educação para cidadania. Apoio a estados e municípios que cumprirem metas rigorosas de cobertura e melhoria da qualidade e equidade nos sistemas de ensino.
14. Mais saúde para salvar vidas.
15. Nação solidária, com mais autonomia para estados e municípios.
segunda-feira, 2 de maio de 2016
Tullo Vigevani: repercussoes internacionais da crise brasileira - CRIES
Crise no Brasil e seu impacto regional
Tullo Vigevani, Universidade Estadual Paulista
Coordinadoria Regional de Investiogaciones Económicas y Sociales
Grandes Desafios ao Brasil: politica e economia - 12 e 13/05, Uniceub, 19h25
Fiquem atentos para nossos próximos avisos.
Paulo Roberto de Almeida
Economia brasileira: ambiente de negocios - Itau Macro
Itaú Macro
Informações até 29 de abril de 2016
Este relatório, publicado seis vezes por ano, resume relatos sobre o ambiente de negócios que ouvimos de contatos no setor real, especialistas e outras fontes fora do Itaú. Exceto pela seção ‘Nossa visão’, este relatório não reflete necessariamente a visão da área de pesquisa econômica do Itaú.
Seções:
Consumo e produção de bens e serviços
A maioria dos segmentos ligados ao consumo indica que as vendas continuaram em queda no segundo bimestre. Varejistas e produtores avançam no processo de ajustes à nova realidade da demanda.
Investimento
A confiança do empresário se estabilizou, ainda em nível baixo. A recessão, a elevada ociosidade em muitos setores e as incertezas do cenário global mantêm o cenário desfavorável ao investimento.
Mercado de trabalho, custos de produção e preços
Os custos de produção ainda são percebidos como elevados, mas vêm gradualmente deixando de ser uma preocupação. A maioria dos setores reporta que o período de inflação de custos ficou para trás.
Mercado imobiliário
O ritmo de vendas de imóveis residenciais segue fraco, limitado pela confiança do consumidor em baixa e pelas condições de crédito mais conservadoras.
Commodities
O setor agrícola deve enfrentar uma recessão mais tênue do que o resto da economia este ano. Na siderurgia, a recessão prolongada na indústria manufatureira mantém as vendas domésticas comprimidas.
Nossa visão
Os dados de atividade indicam que a recessão continua neste primeiro semestre. A recuperação da economia depende da capacidade de aprovação de ajustes e reformas, especialmente no campo fiscal.
Resumo
A maioria dos segmentos ligados ao consumo indica que as vendas continuaram em queda no segundo bimestre. Com aumento do desemprego, juros elevados e o consumidor final ainda alavancado, há pouca expectativa de recuperação este ano. Nesse ambiente, varejistas e produtores avançam no processo de redução de estoques e de adequação do seu tamanho à nova realidade da demanda.
A confiança do empresário se estabilizou, ainda em nível baixo. Os números preliminares de abril sugerem uma melhora na atividade, mas ainda é cedo para afirmar que se trata de uma tendência. A recessão doméstica, a elevada ociosidade em muitos setores e as incertezas do cenário global mantêm o cenário desfavorável ao investimento privado. O investimento público também está em baixa, devido à crise fiscal dos governos regional e central.
Os custos de produção ainda são percebidos como elevados, mas vêm gradualmente deixando de ser uma preocupação. A readequação dos custos, aliada a alguma redução nos preços de energia, aluguéis e fretes, vai tornando a economia mais ajustada. Nesse cenário, a maioria dos setores reporta que o período de inflação de custos ficou para trás: a expectativa, adiante, é de preços mais estáveis.
O ritmo de vendas de imóveis residenciais segue fraco, limitado pela confiança do consumidor em baixa e pelas condições de crédito mais conservadoras. O cenário é semelhante para o imobiliário comercial, mas, nesse segmento, o ajuste é mais rápido. Os preços e aluguéis já recuaram sensivelmente, o que vem sendo uma opção para as empresas reduzirem custos.
O setor agrícola deve enfrentar uma recessão mais tênue do que o resto da economia este ano. A alta recente dos preços dos grãos melhorou a perspectiva da rentabilidade do setor, mais do que compensando os efeitos da apreciação recente da taxa de câmbio.
No setor de siderurgia, a recessão prolongada na indústria manufatureira mantém as vendas domésticas comprimidas. Na mineração, a alta recente do preço do minério de ferro trouxe um alívio, mas há dúvidas se a tendência é sustentável.
Nossa visão: Os dados de atividade indicam que a recessão continua neste primeiro semestre. O desemprego deve seguir em alta, reforçando o cenário de consumo em queda. A estabilização dos indicadores de confiança sugere que a recessão pode se atenuar no segundo semestre. Mais adiante, a recuperação da economia depende da capacidade de aprovação de ajustes e reformas, especialmente no campo fiscal.
Consumo e produção de bens e serviços
A maioria dos segmentos ligados ao consumo indica que as vendas continuaram em queda no segundo bimestre. O movimento do consumidor em busca de produtos de menor valor agregado e preços mais baixos vem se intensificando. Com aumento do desemprego, juros elevados e o consumidor final ainda alavancado, há pouca expectativa de recuperação da demanda nos próximos meses. A demanda fraca é confirmada também por produtores de insumos para bens de consumo, como embalagens, que reportam fraqueza generalizada nas encomendas.
Diante desse cenário, produtores e varejistas avançam no processo de redução de estoques e de adequação do seu tamanho à nova realidade da demanda. Na maioria dos casos, a percepção é que o processo ainda não foi concluído. Como reportado no último Orange Book, há uma diferença entre setores de bens duráveis - automóveis, eletrodomésticos -, que parecem mais ajustados ao cenário por terem começado o ajuste há mais tempo, e segmentos de bens semi e não duráveis, em que a queda da demanda é mais pronunciada agora do que no ano passado.
O setor de serviços também indica queda adicional da atividade. O movimento em shopping centers, hotéis, restaurantes segue baixo, e aumenta a preocupação com relação à saúde financeira de pequenos e médios varejistas e prestadores de serviço, especialmente em meio a um cenário de juros ainda elevados. A maioria das cadeias de varejo vem implementando uma redução no número de lojas no País.
A inadimplência segue uma preocupação crescente entre os setores de bens e serviços. Esse movimento intensifica a preocupação com liquidez na economia. O número de pedidos de recuperação judicial continua aumentando.
Em contrapartida, o aumento dos custos de produção de 2015 vem deixando de ser uma preocupação. A acomodação da taxa de câmbio em patamar um pouco mais apreciado, o repasse aos preços que já ocorreu e os esforços de ajuste adotados deixaram a maioria dos setores mais equilibrados. Poucos segmentos ligados ao consumo reportam intenção de aumentos significativos de preços adiante.
Investimento
A confiança do empresário se estabilizou, em nível baixo. Nosso indicador, construído a partir de uma base ampla de clientes, ainda que com alguma volatilidade, tem-se mantido em níveis próximos aos observados desde o fim de 2015. Os números preliminares de abril sugerem uma melhora, mas parece cedo para afirmar que se trata de uma tendência. O indicador de 'investimento previsto' segue no nível mais baixo da série histórica.
A recessão doméstica, a elevada ociosidade em muitos setores e as incertezas do cenário global mantêm o cenário desfavorável ao investimento privado. O investimento público também está em baixa, devido à crise fiscal dos governos regional e central.
Nos setores de bens de capital e veículos pesados, a demanda doméstica segue deprimida, em parte em virtude da antecipação de compras durante o período de crédito subsidiado. Nesse ambiente, as montadoras continuam adequando a produção com ajustes nas linhas de produção e férias coletivas. Há preocupação com a sustentabilidade de alguns revendedores e fornecedores de peças, segmentos mais pulverizados.
A exportação tem sido uma opção para reduzir os estoques para esses setores. A demanda externa continua crescendo, ainda que em ritmo mais lento, e os níveis atuais da taxa de câmbio tornam os produtos brasileiros mais competitivos, especialmente na América Latina.
Com relação ao investimento estrangeiro, o interesse de empresas (especialmente as multinacionais) em comprar novos ativos ou expandir seus negócios atuais no Brasil continua. A postura é cautelosa, diante das incertezas de diversas naturezas, mas o número de negócios vem aumentando.
Mercado de trabalho, custos de produção e preços
O foco da maioria dos setores para este ano é de redução de custos, para se adequar à nova realidade da demanda. O processo está em estágios diferentes entre os setores da economia, mas a percepção é que ainda continuará na maioria deles. Essa tendência sugere que o mercado de trabalho deve continuar a se enfraquecer à frente. A maioria dos setores tem fechado acordos salariais abaixo da inflação passada.
Os custos de produção ainda são percebidos como elevados, mas vêm deixando de ser uma preocupação. O processo de redução de custos, aliado a alguma redução nos preços de energia, aluguéis e fretes, vai tornando a economia mais ajustada à nova realidade da demanda interna. A acomodação da taxa de câmbio em patamar menos depreciado também gera algum alívio para segmentos com elevados níveis de insumos importados.
Nesse cenário, muitos setores reportam que o período de inflação de custos ficou para trás: a expectativa, adiante, é de preços mais estáveis.
Mercado imobiliário
O ritmo de vendas de imóveis residenciais segue fraco, limitado pela confiança do consumidor em baixa e pelas condições de crédito mais conservadoras. Nesse cenário, os estoques permanecem elevados, levando o setor a discutir descontos maiores e estratégias de vendas mais ativas. Como reportado no último Orange Book, o receio é o aumento do distrato, o que poderia tornar ainda mais difícil o reequilíbrio do mercado. O volume de lançamentos continua em queda.
O cenário é semelhante para o imobiliário comercial. O nível de vacância é elevado, especialmente em escritórios comerciais, e existem ainda projetos em construção. O ajuste no segmento comercial, no entanto, é mais rápido. Os preços e aluguéis já recuaram sensivelmente, o que vem sendo uma opção para as empresas reduzirem custos.
A crise traz oportunidades. A queda nos preços dos terrenos e no custo da obra incentiva o investimento das empresas menos alavancadas. Outro segmento que vem crescendo é o de terceirização de ativos imobiliários, que se apresenta como uma solução mais eficiente e mais barata de armazenagem para empresas.
Commodities
O setor agrícola deve enfrentar uma recessão mais tênue do que o resto da economia este ano. A perspectiva é de volumes semelhantes aos do ano passado, com a produtividade de algumas culturas, como a soja, melhor do que em anos anteriores. A alta dos preços dos grãos melhorou a perspectiva da rentabilidade do setor, mais do que compensando os efeitos da apreciação recente da taxa de câmbio. Com a perspectiva de o fenômeno La Niña afetar a próxima safra, a avaliação é de que a alta recente dos preços tende a ser sustentável.
A gestão de caixa é uma preocupação. A disponibilidade de crédito diminuiu, limitando a capacidade de investimentos e prejudicando os segmentos mais endividados, como o sucroalcooleiro.
No setor de siderurgia, a recessão prolongada na indústria manufatureira mantém as vendas domésticas comprimidas. A competitividade da produção local melhorou com a desvalorização do real, mas afeta a gestão de caixa das empresas, uma vez que o setor tem dívidas em dólar. Na mineração, a alta recente dos preços trouxe um alívio para as preocupações do início do ano, mas há dúvidas se a tendência é sustentável. Contudo, a preocupação com as perspectivas da demanda chinesa permanecem.
No setor de petróleo, a atividade continua fraca e as incertezas seguem elevadas. Os preços em patamar relativamente baixo - apesar da recuperação recente - e o endividamento do setor continuam afetando a cadeia produtiva. A possibilidade de vendas de ativos públicos e de mudanças no marco regulatório do setor mantêm as empresas do setor atentas.
Nossa visão
Os dados de atividade indicam que a recessão continua neste primeiro semestre. A taxa de desemprego deve seguir em alta, refletindo o ajuste da economia, o que reforça o cenário de consumo em queda.
A estabilização dos indicadores de confiança sugere que a recessão pode se atenuar no segundo semestre.
Com a depreciação cambial, o setor externo vem contribuindo positivamente. Há um processo de substituição de importações, que já ocorre desde o ano passado, e, mais recentemente, há sinais de retomada das exportações.
Para a frente, o cenário no Brasil depende da capacidade de aprovar ajustes e reformas, especialmente no campo fiscal.
domingo, 1 de maio de 2016
O estranho caso da suspensao do Paraguai do Mercosul em 2012 - Paulo Roberto de Almeida, Ricardo Seitenfus
A agenda perdida da area internacional - Marcos Sawaya Jank (FSP)
A agenda perdida da área internacional
Após o aumento de mais de 40% no número de representações desde o governo Lula, o Brasil se vê hoje na constrangedora situação de ter de fechar postos e reduzir despesas correntes para não ser despejado em alguns países.
Acompanho o trabalho dos diplomatas brasileiros há mais de 20 anos e posso afirmar, com segurança, que a nossa diplomacia se posiciona entre as melhores do mundo. Trata-se de uma das poucas carreiras de Estado bem estruturadas no Brasil, marcada pela seleção criteriosa, pela formação sólida e pela reputação reconhecida no mundo todo.
Mas, apesar dos bons serviços prestados no exterior, muitas vezes de forma heroica e voluntária, a coordenação do governo como um todo deixa a desejar.
Os Ministérios das Relações Exteriores, Indústria e Comércio Exterior, Agricultura e a Apex (Agência de Promoção de Exportações e Investimentos) precisam juntar esforços de forma mais eficiente, definindo claramente as suas atribuições e limites, somando recursos e evitando duplicidades.
Missões esporádicas ao exterior são necessárias, principalmente em nível presidencial e ministerial, mas datas e horários precisam ser respeitados e o follow-up do que foi acordado precisa ser cumprido. Falhas homéricas têm ocorrido –além de sucessivos cancelamentos e atrasos, quase sempre há muito barulho no momento da visita, mas pouco preparo prévio e uma execução deficiente na sequência.
Deveríamos reduzir a busca por holofotes passageiros em megaeventos de custo astronômico e cuidar melhor da relação cotidiana com nossos parceiros comerciais. Por exemplo, na Ásia, região mais dinâmica do mundo, a nossa presença física é tímida e desconectada, menos expressiva do que a de países bem menores do que o Brasil.
No caso das commodities, que representam dois terços das nossas exportações, mais importante do que participar esporadicamente de feiras e rodadas de negócios é direcionar recursos para a labuta diária nos órgãos reguladores dos países-chave: redução das barreiras comerciais, entrega rápida de questionários de habilitação de unidades produtivas, organização de visitas e missões, negociação de acordos bilaterais –sanitários, contra a dupla tributação, de facilitação de comércio e investimentos etc.
Precisamos ultrapassar a fase das demandas unilaterais de acesso ao país-alvo e desenvolver parcerias estratégicas de longo prazo que beneficiem os dois lados. As oportunidades de cooperação bilateral são imensas.
Mas nada disso é novidade, porque já estivemos em melhor posição no passado, inclusive no vasto universo das negociações para a formação de megablocos comerciais, à semelhança dos que hoje proliferam pelo mundo afora.
Não faltam no Brasil cabeças brilhantes para enfrentar o jogo internacional com desenvoltura. O que falta, sim, é organização e foco, envolvendo não apenas os diversos órgãos do governo como também as associações e as empresas do setor privado. É hora de recuperar a agenda perdida da área internacional.
Itamaraty: Senador Jose Serra assume o ministerio - Patricia Campos Mello (FSP)
Patricia Campos
DE SÃO PAULO
Folha de São Paulo, 30/04/2016
A perspectiva de ter o senador José Serra (PSDB-SP) como próximo chanceler anima o Itamaraty, segundo apurou a Folha. Ter como ministro um político de estatura em vez de um diplomata de carreira fortaleceria o ministério em um momento de fragilidade. Com Serra, o Itamaraty voltaria a ter o peso que não tinha desde a saída do chanceler Celso Amorim, em 2010, acreditam diplomatas.
Mas a possibilidade de transferir a área de comércio exterior para o ministério é alvo de fortes críticas. Um Itamaraty "turbinado" incluiria toda área de comércio exterior, ou somente a Apex, agência que faz promoção comercial. O primeiro cenário gera pânico no Ministério do Desenvolvimento e profundo desagrado no Itamaraty.
"Seria como misturar vinho com azeite", diz uma fonte. São duas carreiras muito diferentes –a política externa segue uma visão de Estado enquanto a política comercial precisa abrir mercados e vender produtos. "É preciso ter um órgão que receba demandas do setor privado, como defesa comercial, e o Itamaraty não pode ser esse órgão, porque vai priorizar as relações diplomáticas com outros países", diz uma fonte do Desenvolvimento. União Europeia, EUA, China e Japão têm ministérios separados para lidar com comércio exterior e diplomacia.
Além disso, a incorporação da área de comércio exterior tomaria muito tempo e talvez nem estivesse pronta até o fim do governo Temer, em 2018.
Pessoas próximas a Temer afirmam que o vice fez a proposta a Serra sem pensar exatamente em como esse Itamaraty "turbinado" sairia do papel, tentando emplacar um "ministério fortalecido" em vez das pastas da Fazenda ou Planejamento, que o tucano preferia.
De qualquer maneira, diplomatas já comemoram a possibilidade de um ministro Serra. "Seria um ministro com acesso ao presidente e ao Ministério do Planejamento, que lidera os cortes de verbas do Itamaraty", diz um diplomata. Entre as mudanças esperadas estariam o fechamento de postos na África, menos ênfase no relacionamento Sul-Sul e uma guinada no Mercosul.
Mas o embaixador Rubens Ricupero, ex-ministro da Fazenda que é muito próximo de Serra, com quem conversa regularmente, não acredita em mudanças dramáticas na política para o Mercosul. "Não se sabe se transformar o Mercosul em área de livre comercio traria benefícios e a Argentina agora tem um presidente, Mauricio Macri, que não seria obstáculo a negociações comerciais", diz. Matias Spektor, professor de Relações Internacionais da FGV e colunista da Folha, concorda. "Fazer reformas no Mercosul e no comércio exterior é muito complexo e geraria muitos inimigos", diz.
Em relação à personalidade difícil do senador, um diplomata é pragmático: "Depois de tanto tempo trabalhando com a Dilma, o Serra não seria um problema."
Entre os diplomatas com bom trânsito com o senador tucano estão Sergio Danese, atual secretário-geral do Itamaraty; Santiago Mourão, embaixador em Teerã, Mário Vilalva, embaixador em Lisboa, Marcos Galvão, embaixador junto à OMC, e Roberto Jaguaribe, embaixador em Pequim.
Se o chanceler for mesmo um político, o assessor internacional da presidência, cargo hoje ocupado por Marco Aurelio Garcia, poderia ser um diplomata de carreira, e o nome de Danese surge com força. Segundo um interlocutor de Temer, o vice já teve várias audiências com Danese e a "química foi boa".