O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

domingo, 24 de abril de 2022

Pontes de Miranda: mirandianas, por Marcos Vasncelos Filho

 Pontes de Miranda: uma recordação e três teses nos seus 130 anos [*] 

por Marcos Vasconcelos Filho 

22/04/2022

 

(I) Janeiro, 2008. Rio. Estada. Pesquisa. Ipanema. Prudente de Moraes, 1.356. No chalé suíço, de perto dum século, moldado em pedra, sob inspiração eclética, espólio de desacordos entre as filhas dos dois consórcios do mestre Pontes de Miranda (1892-1979), conheço sua viúva, a embaixatriz Amneris Cardilli. 

 

Sentada, a consciência já se lhe ausentara. Acompanha-a, naquele aposento, seu filho Sílvio de Piro. É ele, auxiliado por uma bengala, por conta de uma neoplasia, quem nos ciceroneia por corredores sombrios e empoeirados. Nos fundos da residência, mostra-me o fichário de seu notável padrasto, ademais de pastas coloridas; leio haicais inéditos; noutras pilhas se depositam projetos — um deles, nunca mais se me desgrudou da memória: os rascunhos dos planos com fito à ampliação do »Tratado de direito privado« e um extenso sumário, quase uma régua, a um »Tratado de direito penal«. (Pontes acreditava viver 200 anos?). 

 

Ao depois, à principal biblioteca do anfitrião morto, o enteado me pasma: »amanhã, venha e escolha o que quiser«. »O quê?«, espanto-me no automático: »Eu vou levar é agora!« Porém, logo me restabeleço: pondero não ser leal privar outros curiosos daquelas fontes; seria preferível se destinassem menos ao doméstico, sim ao institucional. Só por fraqueza, confesso, traria comigo na bagagem umas duas peças. Uma: encadernação anotada de »Introducção á sociologia geral« (1926) — dentro dela, sem ciência prévia, descobriria folhas soltas manuscritas e datiloscritas, com anotações pessoais de Pontes, nas quais ele cita, entre outros gênios, Spinoza e Einstein. 

 

(II) Do jurisconsulto alagoano, é possível alguém tenha ouvido falar no título »Methodo de analyse socio-psychologica«. Há pequenas transcrições e referências suas em outras obras, dizendo-se-lhe rodada pelo famoso editor carioca Pimenta de Mello, no ano de 1925. Ou, no máximo, um resumo de conferência pronunciada em maio de 28, estampada por jornais brasileiros. 

 

Desconheço quem lhe consultara cópia sequer. Verdadeiro enigma, chegou-se a afirmar, até, do Kremlin um exemplar seu desaparecera. 

 

Ora, todo autor costuma criar em derredor de si uma aura de ficção. Suave mitomania. Ouso, por aí, suspeitar: o livro jamais fora impresso. Prove-se: numa entrevista a San Tiago Dantas (1911-64), inserida na revista »Novidades literárias« (1930), o nosso conterrâneo participa: »Pretendo publicar durante o ano próximo trabalhos em conclusão. [...] o ›Método de Análise Sócio-psicológico‹ [sic], ›Sociologia Estética‹ e ›Espaciologia Social‹, já prontos há três anos, só em 1932 aparecerão«.         

 

»Methodo« se irmana a »Systema de sciencia positiva do direito« (1922), »Introducção á politica scientifica« (1924) e »Introducção á sociologia geral« (1926). Esta tetralogia apresenta um dos conceitos-chave do »corpus pontemirandianum«: os processos sociais de adaptação, mecanismos de controle de nossas condutas a fim de que consigamos coexistir junto a nossos semelhantes e administrar os bens do viver. São eles: religião, ciência, economia, direito, política, arte e moral. Todavia (consoante veremos), apenas o direito é uma convenção impositiva. 

 

Curiosidade congruente: dos maiores sociólogos da história das ideias, diplomado em direito, Niklas Luhmann (1927-98) principiou também a elaborar (a contar do final dos anos 60) um escrito a cada sistema social e concebeu o jurídico um subsistema de engrenagens autônomas, a se comunicar com os demais subsistemas. Por isso denominei Pontes de Miranda »o nosso Luhmann«, pelas ambição e sincronicidade das teorias, malgrado de períodos e línguas distintos. 

  

Tanto um quanto outro dialogam com as vertentes dos positivismos —pensadores tal qual Auguste Comte (1798-1857). Este influi em Pontes, inclusive, na intitulação de seus produtos capitais do intelecto: »Système de politique positive« (1851-4). 

 

Outra sugestão. Pontes de Miranda beberia no estilo do sociólogo francês por quem nutria, de sorte confessa, bastante admiração: Émile Durkheim (1858-1917), o discípulo-mor comtiano. Da apreciação de »Les Règles de la méthode sociologique« (1895) sente-se a dívida literária. 

 

(III) Dês os tempos de graduação em Ciências Jurídicas e Sociais pelo Recife (1907-11) Pontes de Miranda alimentava o vago afã de um teorema. Embora desde muito moço aspirasse a estudar ciências exatas em Oxford, o legado pontemirandiano não se prende ao universo da matemática em sentido estrito, contudo derivado, a partir duma metodologia de saber lógico como instrumento dedutivo-analítico para as suas categorias — dentre elas, o »quantum« despótico, os círculos sociais, os espaços socialmente entendidos. 

 

Longe de haver uma ruptura epistemológica entre o jovem intelectual dos anos 1910 aos 1950 e o maduro investigador das ciências sociais aplicadas daí em diante, além dos citados trabalhos, de »O problema fundamental do conhecimento« (1937) ao seu predileto »Tratado das ações« (1970-8) assevera-se a colaboração do logicista através das noções nodais de »jecto« em filosofia científica e da classificação quinária em processualismo. 

 

Emendo uma subtese exemplificadora: quem se der ao labor da leitura dos tomos 7 ao 9 do »Tratadão« nas suas seis dezenas de blocos, de maneira a cotejá-las com publicações anteriores, concluirá por uma autocoletânea da trilogia »Tratado de direito de família« (1947; por sua vez, surgida unitária em 17). Particularidade idêntica haveremos de flagrar em outros microssistemas dos direitos civil, comercial e do trabalho — afluentes de elaborações publicizadas entre as décadas de dez a trinta do século passado. 

 

Pois bem: a coluna vertebral do »Tratado de direito privado« é o fato jurídico, o qual se fundamenta ao longo da Parte Geral e se materializa através da categoria da incidência (da norma jurídica). 

 

Conforme o próprio nome carrega consigo, a norma recai sobre um conjunto de fatos (suporte fático) relevantes à concepção do fato em específico juridicizado. A inferência, plena de logicidade, é, por conseguinte, a varinha mágica transformadora do que há na realidade dos fatos gerais da existência em especialmente jurídicos. Mais: é a razão de ser da obrigatoriedade do direito. Ela se acha não no senso da aplicação concreta do comando da letra, mas na obediência sem a necessária consequência sancionadora da proposta kelseniana. (Teria sido esta a justificação por que o Mestre dedicará suas melhores energias criadoras ao campo cível?). 

 

Penso, destarte, haver nascido o conceito aos poucos, notadamente após o contato com a bibliografia de Edmund Husserl (1859-1938). Não é à toa que »O problema fundamental do conhecimento« antes se designara »Investigações epistemológicas« — uma leve imitação da fenomenologia das »Investigações lógicas« (1900-1901). 

 

Pontes de Miranda propõe uma ideia chamada »jecto« — uma construção mental que abstrai o sujeito e o objeto dos fenômenos e os equaciona em uma constante. Ao mesmo tempo, entretanto, esta fusão (sub)jecto + (ob)jecto se concretiza no mundo real quando um indivíduo segue as regras morais e jurídicas da comunidade não por receios de punição do pecado, ônus pecuniário, pena punidora ou temor ao ridículo — o oposto: seu cumprimento se guia por uma motivação psicológica e coletiva. 

 

(IV) 1933. Pontes de Miranda começa a proferir uma série de palestras a trabalhadores, sobretudo do Rio de Janeiro. Interessantíssimo o noticiário da época. É então que saem do forno três dos cinco livrinhos anunciados da coleção »Os 5 direitos do homem«: subsistência, trabalho e educação. Esses »novos direitos« são hoje os sociais, econômicos e culturais da segunda dimensão dos direitos fundamentais. Constitui evidente pioneirismo doutrinário dotado de contemporaneidade, a atestar um precursor do social-liberalismo e do neoconstitucionalismo, respectivamente pelo equilíbrio mercado x Estado, regras frias x princípios compassivos, norteados pela autorrealização da pessoa humana e a universalização da efetividade de garantias.    

 

E será justo o livrão »Democracia, liberdade, igualdade: os três caminhos« (1945) — portanto, antecedente à Declaração Universal de 48 e debaixo ainda da ditadura estado-novista de um contraditório Vargas —, quem selará a sua progressista visão sociopolítica (diria: de alcance da quarta geração de direitos humanos). 

 

É de se imaginar, ao término, qual haveria de ser o lugar científico a ocupar Pontes de Miranda com a promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil em outubro de 88 — oito anos e dez meses em seguida ao seu misterioso falecimento. Comentador das cartas magnas de 34, 37, 46 e 67, presumo alinhar-se-ia aos hermeneutas moderados (ou aos teóricos impuros do direito à Voegelin), sem a perda dos parâmetros formais acautelatórios ao julgador-intérprete, embasado na racionalidade fundamentadora das decisões judiciais. 

 

[*] VASCONCELOS FILHO, Marcos. Pontes de Miranda: uma recordação e três teses nos seus 130 anos. »Tribuna do Sertão«, Palmeira dos Índios, ano XXV, n. 1.221, segunda-feira, 25 abr. 2022, Opinião, Cantoneira: página de crítica e de história, p. 09.  




sábado, 23 de abril de 2022

Eleições francesas: Le Monde promete resultados e análises quase imediatamente: https://www.lemonde.fr/resultats-elections/

 Eis o link para os resultados do 2do turno das eleições presidenciais na França, neste domingo 24 de abril,  a partir de 20hs francesas, quatro horas antes no Brasil: https://www.lemonde.fr/resultats-elections/

Les résultats du second tour de l’élection présidentielle

Les premières estimations des résultats du second tour de l’élection présidentielle seront disponibles ici dès 20 heures.

En attendant, suivez la journée électorale en direct avec la rédaction du Monde.

Les résultats du premier tour de l’élection présidentielle

CANDIDAT
SCORE
Emmanuel MACRON
Qualifié
La République en marche
27,85 %
9 783 058
Marine LE PEN
Qualifiée
Rassemblement national
23,15 %
8 133 828
Jean-Luc MÉLENCHON
La France insoumise
21,95 %
7 712 520
Éric ZEMMOUR
Reconquête
7,07 %
2 485 226
Valérie PÉCRESSE
Les Républicains
4,78 %
1 679 001
Yannick JADOT
Europe-Ecologie-Les Verts
4,63 %
1 627 853
Jean LASSALLE
Résistons !
3,13 %
1 101 387
Fabien ROUSSEL
Parti communiste français
2,28 %
802 422
Nicolas DUPONT-AIGNAN
Debout la France
2,06 %
725 176
Anne HIDALGO
Parti socialiste
1,75 %
616 478
Philippe POUTOU
Nouveau Parti anticapitaliste
0,77 %
268 904
Nathalie ARTHAUD
Lutte ouvrière
0,56 %
197 094

Eleições francesas, 2do turno das presidenciais: Editorial do Le Figaro

L’éditorial du Figaro, par Vincent Trémolet de Villers

Étrange veillée d’armes. La politique, ces derniers jours, malgré le débat, malgré les meetings, semblait comme assourdie. Le grand rendez-vous démocratique qu’est l’élection présidentielle relégué au rang des préoccupations secondaires. Pourtant, la guerre est en Europe, l’économie mondiale retient son souffle, la menace islamiste couve toujours et l’instabilité générale devrait être accentuée par la possibilité d’une alternance politique périlleuse. Certes, les appels résonnent contre «la menace Le Pen», mais ils tiennent plus du rituel que de l’expression d’une angoisse profonde. Comme si les Français, peuple politique, avaient compris dès le soir du premier tour que la reconduction du chef de l’État avait la force de l’évidence.

Les quinze jours qui s’achèvent, d’enquêtes d’opinion en confrontations télévisuelles, ont confirmé cette impression première. Il faut dire que la candidate du Rassemblement national a montré dans sa stratégie (à gauche toute) l’étroitesse de sa vision…

(...)

Novo livro na praça: Venezuela e o Chavismo em perspectiva: análises e depoimentos; organizadores Paulo Velasco e Pedro Rafael Azevedo; prefácio Paulo Roberto de Almeida

Leio, com grata satisfação, nota no Instagram de Pedro Rafael Pérez Rojas Mariano de Azevedo, um dos organizadores, junto com o professor Paulo Afonso Velasco Júnior, deste livro: Venezuela e o Chavismo em perspectiva: análises e depoimentos (Appris, 2022).


Hoje é o Dia Internacional do Livro e fico muito (muito mesmo!) feliz em anunciar que um projeto de anos está pronto, publicado e impresso: o livro sobre política venezuelana! 

Um livro escrito sob muitas mãos e com diversas visões… mas que seria impossivel acontecer sem a parceria do meu orientador da faculdade de Relações Internacionais @paulo.velasco.jr, a quem agradeço imensamente pela confiança! Agradeço também ao embaixador @pralmeida por fazer o prefácio e aos amigos @jffa18@tanialopezlizca@mariaoropeza94 ...

De fato, colaborei, mas pouco, apenas fazendo o prefácio, que reproduzo abaixo e convido todos a lerem este livro, ainda atual, pois o chavismo continua aparentemente firme, embora não inabalável, na Venezuela, e foi o fenômeno político mais importante na América Latina, no século XXI (pelo menos até aqui): 

Paulo Roberto de Almeida: “Venezuela: apogeu e tragédia da aventura chavista”, Prefácio ao livro de Paulo Afonso Velasco Júnior e Pedro Rafael Pérez Rojas Mariano de Azevedo (orgs.), Venezuela e o Chavismo em perspectiva: análises e depoimentos (Curitiba: Appris, 2022).

Venezuela: apogeu e tragédia da aventura chavista

  

Paulo Roberto de Almeida

Venezuela e o Chavismo em perspectiva: análises e depoimentos

Paulo Afonso Velasco Júnior e Pedro Rafael Pérez Rojas Mariano de Azevedo (orgs.) 

 

Com as conhecidas exceções dos sistemas judaico e islâmico, o calendário mais aceito no mundo – inclusive por uma velhíssima civilização, como a da China – é o cristão, que divide o tempo histórico entre uma época anterior ao nascimento de Cristo (AC) e a que se lhe segue imediatamente (DC). Aceitando-se que os dados de respeitáveis órgãos do sistema multilateral (FMI e Cepal) sejam fiáveis, a Venezuela – que era, até os anos 1980, um dos países mais ricos da região – tornou-se agora, depois até do Haiti, o país mais pobre da América Latina. Pode-se, a partir daí, estabelecer um novo calendário para a história do país: como o cristão, ele também pode ser dividido em um AC e um DC, apenas que se trata de um Antes e Depois de Chávez. De fato, como confirmado pelo título deste livro, a Venezuela e o chavismo são praticamente indissociáveis nas primeiras duas décadas do século XXI.

O contraste entre uma e outra situação é realmente notável, extraordinário mesmo, levando-se em conta que essa inacreditável derrocada, da maior renda per capita para uma situação próxima da miséria absoluta, não resultou de nenhuma guerra, nenhuma catástrofe natural, nenhuma invasão estrangeira ou maldição divina; ela foi, em tudo e por tudo, integralmente fabricada pelos próprios dirigentes nacionais, numa acumulação de erros econômicos e de conflitos políticos e sociais criados inteiramente pela desastrosa gestão chavista do país, desde 1999 e continuada após a sua morte, em 2013, por seus sucessores designados. Trata-se, possivelmente, de um caso único na história econômica mundial, uma vez que todos os demais casos de declínio econômico ou político costumam ser processos mais longos de perda de dinamismo de sua base produtiva ou o efeito de regimes políticos especialmente incompetentes, mas cuja ação se prolonga num tempo mais largo. No caso da Venezuela, processou-se uma deterioração da situação econômica e uma degradação de suas instituições políticas em um tempo incrivelmente curto: o principal responsável foi Chávez.

O que simboliza, mais que quaisquer outros aspectos, a derrocada do país mais rico da América Latina é o exílio forçado, por razões políticas ou mais simplesmente econômicas, de quase 1/5 da população do país, com a primeira leva coincidindo com a implantação de um regime autoritário e a segunda como consequência do desastre econômico criado pelo projeto eminentemente chavista de “socialismo do século XXI”. Em parte, essa derrocada pode ser atribuída à influência dos dirigentes castristas sobre Hugo Chávez e associados; mas isso é incrível, uma vez que a ilha caribenha já tinha acumulado ampla experiência própria sobre os desastres do socialismo de tipo soviético, e poderia ter “instruído” melhor seus aliados no país que já foi o mais importante produtor de petróleo na região. Não o fizeram porque eles mesmos estavam extenuados com seu regime inoperante, e precisavam extrair da Venezuela o máximo de recursos financeiros e energéticos; não há dados fiáveis sobre essa extração.

Houve um tempo, na primeira década do século, em que Chávez foi, ao lado de Lula, o mais importante líder político da região, com a diferença de que este soube operar uma economia de mercado visando políticas sociais de caráter redistributivo, sem alterar os mecanismos essenciais do sistema capitalista. Chávez, como Lênin e os cubanos, tentou “domar” o mercado, usando métodos rústicos de estatização. Combinado ao maná do petróleo – cujo barril chegou a 140 dólares naquela época –, sua economia esquizofrênica só produziu uma queda fenomenal da oferta interna e uma corrupção raras vezes vista num continente habituado a conviver com estamentos políticos do tipo predatório. A produção de petróleo reduziu-se cinco vezes desde o início do chavismo: a recuperação do setor vai demandar um enorme aporte de investimentos e de know-how estrangeiro, algo que não está perto de ocorrer em vista da persistência de uma direção gangsterista no comando do Estado. A inflação “bolivariana” já ultrapassou os exemplos mais dramáticos da história monetária mundial, traduzida em diversas “moedas” até se chegar à atual dolarização informal. 

O livro aborda essas diversas facetas do drama chavista na Venezuela, por autores que, inclusive por experiência própria, conhecem a fundo como foi sendo construído o maior desastre humanitário vivido no continente, só comparado, talvez, à emigração síria, mas esta provocada por dez anos de guerra civil e intervenção estrangeira. Chávez, os castristas e seus seguidores construíram uma derrocada única na história da região, uma tragédia ainda hoje sustentada pelas forças de esquerda em países vizinhos: estas parecem não perceber que Chávez é o mais próximo que se conheceu de um êmulo de Mussolini na região. A verdade, porém, é que a história não se repete e, no caso do chavismo, sequer como farsa. Trata-se de uma “aventura” a ser detidamente estudada: este livro é um excelente começo para a tarefa.

 

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

Brasília, dezembro de 2021

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4029: 30 novembro 2021, 2 p.



Le Pen Closer Than Ever to the French Presidency (and to Putin) - Roger Cohen (NYT)

Nunca a extrema direita chegou tão perto do poder. A extrema-esquerda também.


Le Pen Closer Than Ever to the French Presidency (and to Putin)

As elections approach Sunday, the far-right candidate is linked to the Russian president by a web of financial ties and a history of support that has hardly dimmed despite the war in Ukraine.

By Roger Cohen

The New York Times, April 22, 2022



Marine Le Pen, left, the challenger for France’s presidency, and President Vladimir V. Putin of Russia at the Kremlin in March 2017. She has supported his annexation of Crimea.Credit...

Pool photo by Mikhail Klimentyev

 


PARIS — When Europe’s far-right leaders gathered in Madrid in January, they had no problem finding unity on the issues they hold dear, whether cracking down on immigrants or upholding “European Christian ideals.” But as Russian troops massed on the Ukrainian border, they were divided on one issue: the threat posed by President Vladimir V. Putin.

Marine Le Pen, the extreme-right challenger for the French presidency, objected to a paragraph in the final statement calling for European solidarity to confront “Russian military actions on the eastern border of Europe.” Even in a gathering of illiberal nationalists, she was an outlier in her fealty to Mr. Putin.

Now, on her campaign website, the leaders’ statement appears with that paragraph cut in an unacknowledged change to the text. This little subterfuge is consistent with an embrace of Mr. Putin so complete that even his ravaging of Ukraine has hardly diminished it.

Over the past decade, Ms. Le Pen’s party, the National Rally, formerly the National Front, has borrowed millions from a Russian bank, and Ms. Le Pen has supported Mr. Putin’s annexation of Crimea in 2014, as well as his incendiary meddling that year in the Donbas region of eastern Ukraine, where just this week Russia redoubled its offensive.

Her support for Mr. Putin is one thing in a time of peace and another in a time of war. Russia, a nuclear power, has invaded a European state, and Ms. Le Pen is closer than ever to her cherished goal of becoming president of France, having narrowed the gap with President Emmanuel Macron before the decisive round of the election on Sunday.

With polls showing Ms. Le Pen gaining about 44.5 percent of the vote to Mr. Macron’s 55.5 percent, she is within range of the shocks that produced Brexit and Donald J. Trump’s victory in 2016. As in Britain and the United States, alienation and economic hardship have fed a French readiness to gamble on nationalist dreams.

If Ms. Le Pen wins, which is not likely but possible, her victory will almost certainly fracture the allied unity engineered by President Biden in an attempt to defeat Mr. Putin. It would hand Mr. Putin by far his most important ally in Europe, one he could leverage in his aims to divide Europe from the United States and fracture Europe’s decades-old project of unity.

France, a core member of the European Union and NATO, is suddenly the possible soft underbelly of the West.

Julien Nocetti, a Russia expert at the French Institute of International Relations, said there was “a complete ideological alignment between Putin and Le Pen” — one that would be deeply worrying to France’s American and European allies.

The Ukraine war has caused Ms. Le Pen to pivot a little by saying Mr. Putin crossed “a red line” with the invasion, but she still says her foreign-policy priority is a rapprochement with Russia once the fighting stops.

Since Ms. Le Pen, 53, took over the leadership of her party in 2011, she has only deepened its Putin predilection, making four trips to Moscow and one to Crimea. She would support sanctions against Russia, she says, but not cutting off imports of Russian oil and gas, which she has equated with economic death for France.

“We have to think of our people,” she said in a recent TV interview, a position consistent with the strong focus on pocketbook issues that has propelled her campaign. The majority of French people are more focused on getting to the end of the month than getting Russia out of Ukraine.

Certainly, Ms. Le Pen vaunted her connection with Mr. Putin until he went to war on Feb. 24. She included a photo of herself shaking hands with him in her election brochure as evidence of her “international stature.” This handout disappeared abruptly from view after the Russian invasion.

The photo was taken at the Kremlin on March 24, 2017. That was less than five weeks before the first round of the last presidential election, in which Mr. Macron defeated Ms. Le Pen by 66.1 percent to 33.9 percent. The National Rally leader said then that she would immediately review lifting “unjust” sanctions against Russia if elected.

As for Mr. Putin, he said with a knowing smirk that Russia did “not want to influence events in any way.”

Jean-Maurice Ripert, the French ambassador in Moscow from 2013 to 2017, said in an interview that a fellow European ambassador, a close friend, had asked the Russian leader after the French election why he had backed Ms. Le Pen.

“Because I had been told she was going to win,” Mr. Putin said.

Certainly that is what he wanted. Ms. Le Pen, committed to “equidistance” between great powers and hostile to “America’s protectorate on European soil,” sees in Mr. Putin the defender of the nation-state, family and Christianity against border-eroding multilateralism and irreligious cultural decay.

“It’s all about sovereignty,” said Marlène Laruelle, the French director of the Institute for European, Russian and Eurasian studies at George Washington University. “The sovereign state against international organizations; the sovereign traditional family against L.G.B.T.Q. rights.”

Then there is the money. Unable to get a loan from French banks, Ms. Le Pen and several of her top aides scrambled for cash in Russia, accepting a 9.4 million euro loan, then $12.2 million, at a 6 percent interest rate, from the First Czech-Russian Bank in September 2014. It was supposed to be repaid by 2019.

Wallerand de Saint-Just, who was long the National Rally’s treasurer before leaving the position last year, negotiated the deal in Moscow. In a written answer to a question as to why French banks had refused any loan to the National Rally, he said “My experience with the six big French banking groups is that they obey orders from the political executive.”

But given the lack of transparency and accountability in Russia’s financial sector — and Mr. Putin’s sway over it in his pay-to-play system — the sum has long raised hard questions of just how beholden Ms. Le Pen actually is to the Russian president, and whether some of her outspoken backing for him has been a consequence.

I asked Ms. Le Pen this month at a news conference whether the outstanding loan did not create at least the impression of dependence on Russia, a liability for any future president?

“Absolutely not,” she said. “I am totally independent of any link to any power.”

In her current campaign, again unable to get a loan from a French bank, Ms. Le Pen turned to Hungary, where Viktor Orban, the anti-immigrant Hungarian prime minister, has been in power for 12 years. A Hungarian bank has now lent the National Rally another $11.4 million, so if she were to win she would be indebted to both Mr. Putin and Mr. Orban.

Already her backing of Mr. Putin has been borderline fawning. Ms. Le Pen visited Moscow and Crimea in June 2013; Moscow in April 2014; and Moscow again in May 2015. She was received by the president of the Duma, the lower chamber of Russia’s Parliament, during the first of these visits, and sprinkled her Russian sojourns with pro-Putin remarks.

In 2013, she blamed the European Union for a new “Cold War on Russia.” In 2015, also while in Moscow, she criticized France’s pro-American stance and suggested this would change “in 2017 with Marine Le Pen as president.” In 2021, she recommended Russia’s uncertain Sputnik vaccine for the coronavirus, saying “our anti-Russian ideology should not ruin our capacity to vaccinate our fellow citizens.”

The 2014 visit came at a particularly delicate moment, given the Crimea annexation. It was one of several demonstrations of support for Mr. Putin from prominent members of Ms. Le Pen’s party who visited Crimea that year, and the Donbas, the Ukrainian region where clashes kindled by Moscow had begun.

Among them was Aymeric Chauprade, her former top diplomatic adviser, who went to Crimea to observe the dubious March 2014 referendum that massively backed the Russian annexation. A United Nations General Assembly resolution declared the vote invalid.

“It was the West that began changing European borders with Kosovo’s independence in 2008,” Mr. Chauprade, who has since left the National Rally, said in an interview. “There was an openness to accepting invitations from Russia, a good atmosphere.”

Russian troops guarded a Ukrainian marine base in Crimea as Mr. Putin moved to annex the peninsula in March 2014. Le Pen has visited Moscow and Crimea and made remarks that were supportive of Russia. 

Mediapart, a French investigative news website, was the first to expose the Russian loan to the National Rally in September 2014. In an earlier interview with Mediapart, Mr. Chauprade said visits to the Donbas that year and in 2015 by Jean-Luc Schaffhauser, a former National Rally member of the European Parliament, had been a “quid pro quo” for the loan.


“Going to the Donbas amounted to strong support for Russia,” he said.

Mr. Schaffhauser did not respond to a request for comment.

I asked Mr. Chauprade whether the loan was indeed a “quid pro quo.” He said that while there was an “inclination to help,” there was “no conditionality.”

The Russian loan, whatever the strings, has had a convoluted history.

Shortly after the First Czech-Russian bank collapsed in 2016, the National Rally loan was acquired by Aviazapchast, a private Russian company that in Soviet times was part of the aviation ministry, supporting Soviet aircraft operating abroad.

On its website, Aviazapchast describes its main activities as “supply of aviation technical equipment and civil and dual-use material as well as repair of aircraft.”

Its general director is listed as Dzheruk V. Ivanovic, who served in the Russian armed forces from 1983 to 1996. A former deputy general director, Yevgeny N. Barmyantsev, worked as a Soviet spy in the United States, before he was expelled in 1983.

New York Times account at the time said he was “caught in the act of retrieving what he thought were stolen American military secrets from the base of a tree in rural Maryland.”

Odd company, on the face of it, for a French presidential candidate’s party to keep.

Mr. Saint-Just, in his written answer, said that Aviazapchast’s “holding of the loan has been entirely approved by the court of appeal in Moscow.”

“This is a very obvious and clear case of dependence on Russia,” Mr. Nocetti, the Russia expert, said. “The company holding the loan has an organic link with the Russian government through its military origins.”

Mr. Macron, in an electoral debate on Wednesday with Ms. Le Pen, said, “When you speak to Russia, you speak to your banker.” She insisted that she was “a totally free woman.”

Ms. Le Pen, in answer to my question, said she was ready for any French or American bank to take over the loan. “We continue to reimburse the loan. That is the only obligation of my movement,” she said.

It is possible that the exercise of power, if she is elected, would attenuate Ms. Le Pen’s long-held pro-Putin, anti-NATO positions, especially if Mr. Putin prosecutes the war in Ukraine with relentless brutality.

Last week, however, she said that she would withdraw France from the integrated military command of NATO, a technical step with powerful symbolism at a moment when NATO’s original mission to defend a free Europe against Moscow has been revived.

America’s alliance with France, one of its oldest, has been put to many tests over the centuries. But all the evidence suggests that a France governed by Ms. Le Pen would pose enormous problems for President Biden just when he needs his nuclear-armed ally most.

One core issue is how free Ms. Le Pen would really be when it comes to Russia. “If Ms. Le Pen is still reimbursing, she is not free, she’s dependent,” said Sylvie Bermann, who succeeded Mr. Ripert as French ambassador to Russia in 2017.

Mr. Saint-Just, the former National Rally treasurer, had another explanation of Ms. Le Pen’s Russia policy. “She believes in balance and equidistance. She has always had in her head a phrase of General de Gaulle: ‘In foreign affairs, France has no friends, only interests.’ 


Adèle Cordonnier contributed reporting.

 

What to Know About France’s Presidential Election 

Heading to a runoff. In the first round of the election, French citizens voted to advance President Emmanuel Macron and the far-right leader Marine Le Pen to the second round on April 24. This runoff, which polls predict could be close, will hinge to a large extent on perceptions of the economy. Here’s a look at the race:

The incumbent. Mr. Macron, an inveterate political gambler, who in 2017 became the nation’s youngest elected leader, announced his re-election bid just a day before the deadline, against the background of the war in Ukraine. After a lackluster campaign, Mr. Macron is trying to tap into the country’s large pool of voters worried about the environment with ambitious promises.

The far-right veteran. Ms. Le Pen, a nationalist with an anti-immigrant agenda, is making her third attempt to become president of France and is facing Mr. Macron for a second time after losing to him in the 2017 runoff. Though she has sought to sanitize her image, her proposal to ban Muslim women from wearing head scarves is controversial.


What comes next? At 8 p.m. in France on April 24, the French news media will work with pollsters to publish projected results based on preliminary vote counts, though projections might not become clear until later if the race is close. Read more about the runoff here.


Eleições na França: debate após os resultados oficiais

 No canal You Tube do MyNews, sendo que os resultados definitivos deverão confirmar a vitória de Macron. Esta não é a grande novidade e sim a progressão da nova esquerda e da extrema-direita.


sexta-feira, 22 de abril de 2022

Como andamos para trás! - Embaixador Sergio Abreu e Lima Florêncio

 Como andamos para trás!

Embaixador Sergio Abreu e Lima Florêncio
Autor do livro Diplomacia, Revolução e Afetos: de Vila Isabel a Teerã (Curitiba: Appris, 2022)
Brasília, 20/04/2022
Em 1976, diante de provas irrefutáveis da prática de tortura pela ditadura militar, o Almirante Júlio Bierrenbach, meu tio em segundo grau, Ministro do Superior Tribunal Militar - STM, afirmava. " Não podemos admitir que o homem, depois de preso, tenha sua integridade fisica atingida por indivíduos covardes, na maioria das vezes, de pior caráter que o encarcerado."
Em 2022, vem a público mais de 10 mil horas de gravação de sessões do STM. Foram examinados na época casos de tortura que provocaram a indignação de Ministros como Julio Bierrenbach e Rodrigo Otavio.
Diante de tão vergonhosas evidências, o atual Presidente do STM, Luis Carlos Gomes Matos, declara. " Simplesmente ignoramos uma notícia tendenciosa daquela, que nós sabemos o motivo, né?"
Logo em seguida, o Vice-Presidente da República , com ar de deboche, acrescenta. " Vai tirar do túmulo?"
O Vice e o Presidente da República, repetidas vezes, afirmam sua admiração pelo oficial Brilhante Ustra, um dos maiores torturadores no regime militar.
Ao comparar as declarações dos Ministros do STM em 1976, com a reação do atual Presidente do STM e com o deboche seguido de riso do Vice- Presidente, em 2022, a conclusão é inescapável. Como andamos para trás!
Triste Brasil.