segunda-feira, 12 de abril de 2010

2082) Protocolo adicional ao TNP: duas visoes contrastantes

Escolha a sua: uma determina a defesa da soberania nacional e recusa o Protocolo adicional (de inspeções reforçadas), a outra aceita isso, como parte de nossa inserção internacional.
Folha de São Paulo (10.04.2010):

Instrumento desnecessário e humilhante
Samuel Pinheiro Guimarães

"As ultracentrífugas de tecnologia brasileira são as mais eficientes do mundo e há grande interesse em ter acesso a suas características, uma das consequências da assinatura do Protocolo Adicional, que, no caso do Brasil, seria um instrumento desnecessário, intrusivo, prejudicial e humilhante"
Samuel Pinheiro Guimarães é ministro de Assuntos Estratégicos. Artigo publicado na "Folha de SP":

O centro da questão é o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), cujo objetivo é evitar uma guerra nuclear. A possibilidade de tal conflito não está nos países que não detêm armas nucleares, mas, sim, naqueles que as detêm. Portanto, o principal objetivo do TNP deve ser a eliminação das armas dos países nuclearmente armados: Estados Unidos, Rússia, China, França e Inglaterra.

Há 42 anos esses países se comprometeram a eliminar suas armas, e há 42 anos não cumprem esse compromisso. Ao contrário, aumentaram a eficiência de suas armas nucleares.

Apesar de não terem se desarmado, esses países insistem em forçar os países não nucleares a aceitar obrigações crescentes, criando crescentes restrições à difusão de tecnologia, inclusive para fins pacíficos, a pretexto de evitar a proliferação.

Os países nucleares, ao continuarem a desenvolver suas armas e, portanto, a intimidar os países não nucleares, estimulam a proliferação, pois os países que se sentem mais ameaçados procuram se capacitar. Isso ocorreu com a então União Soviética (1949), com a França (1960) e com a China (1964).

Hoje, diante da inexistência de ameaça de conflito nuclear, o argumento dos países nucleares é a possibilidade de terroristas adquirirem a tecnologia ou as armas.

Essa tecnologia está disponível. A questão é a capacidade de desenvolver industrialmente as armas e os vetores para atingir os alvos.
Nenhum grupo terrorista detém os vetores (mísseis e aviões), nem a estrutura industrial para produzir o urânio enriquecido, nem a técnica para fabricar detonadores. Por outro lado, os terroristas poderiam obter essas armas justamente onde existem, nos países nucleares.

Nesse contexto se insere o Protocolo Adicional. O TNP prevê que todos os países-membros assinem acordos de salvaguardas com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), pelos quais os Estados não nucleares submetem a inspeção todas as suas instalações nucleares. O objetivo do acordo é verificar se há, para fins militares, desvio de material nuclear da instalação (reatores, usinas de enriquecimento etc.).

O Brasil tem atividades nucleares exclusivamente para fins pacíficos, como determina a Constituição, e tem um acordo de salvaguardas com a AIEA, que permite à agência inspecionar instalações brasileiras. Tudo com respeito à soberania nacional e a nossos interesses econômicos.

A AIEA, por proposta americana e a pretexto do programa do Iraque, elaborou um modelo de protocolo adicional aos acordos de salvaguardas, permitindo a visita de inspetores, sem aviso prévio, a qualquer local do território dos países não nucleares para verificar suspeitas sobre qualquer atividade nuclear, desde pesquisa acadêmica e usinas nucleares até a produção de equipamentos, como ultracentrífugas e reatores.

O Protocolo Adicional constituiria uma violação inaceitável da soberania diante da natureza pacífica das atividades nucleares no Brasil, uma suspeita injustificada sobre nossos compromissos constitucionais e internacionais e uma intromissão em atividades brasileiras na área nuclear.

Essa intromissão causaria graves danos econômicos, quando se consideram as perspectivas brasileiras na produção de combustível nuclear, que terá forte demanda com a necessidade de enfrentar a crise ambiental.

A solução ambiental exige a reforma da matriz energética, tanto nos emissores tradicionais, como os EUA, quanto nos de rápido desenvolvimento, como a China e a Índia.

Uma das mais importantes fontes de energia não geradora de gases de efeito estufa é a nuclear. O Brasil tem grandes reservas de urânio, tem o conhecimento do ciclo de enriquecimento do urânio e a capacidade para produzir reatores, ultracentrífugas, pastilhas etc. e, assim, pode vir a atender uma crescente demanda externa.

A preservação do conhecimento tecnológico é, assim, aspecto essencial na área nuclear. Ora, as ultracentrífugas de tecnologia brasileira são as mais eficientes do mundo. Há grande interesse de certos países em ter acesso a suas características, uma das consequências da assinatura do Protocolo Adicional, que, no caso do Brasil, seria um instrumento desnecessário, intrusivo, prejudicial e humilhante.
(Folha de SP, 10/4)

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Adesão não contraria interesse nacional
Rubens Ricupero

"O Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) é desigual e injusto, mas superior às alternativas existentes"
Rubens Ricupero é diretor da Faculdade de Economia da Faap e do Instituto Fernand Braudel de São Paulo. Foi secretário-geral da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) e ministro da Fazenda (governo Itamar Franco). Artigo publicado na "Folha de SP":

Da mesma forma que a democracia, segundo Churchill, é a pior forma de governo, exceto todas as demais, o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) é desigual e injusto, mas superior às alternativas existentes. Durante os 40 anos de sua vigência, renunciaram à arma atômica 11 países que já a possuíam ou desejavam adquiri-la (entre eles Brasil, Argentina e África do Sul).

Dos 4 que se tornaram nucleares, 3 (Índia, Paquistão e Israel) jamais assinaram o TNP, e a Coreia do Norte teve que deixá-lo antes de construir a bomba. O controle das armas de destruição de massa não é impossível, pois desde Hiroshima e Nagasaki o mundo viveu 65 anos sem que a tragédia se repetisse.

Brasil e Argentina tomaram juntos a decisão de abandonar seus programas nucleares rivais, desarmando perigosa corrida armamentista na América Latina e abrindo caminho à integração do Mercosul.

O processo culminou, em 1991, com a assinatura do acordo entre o Brasil, a Argentina, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e a Agência Argentino-Brasileira de Controle, pelo qual os dois países aceitaram as inspeções da agência da ONU.

A adesão ao TNP constituiu a consequência natural, pois a proibição da arma nuclear já constava da Constituição de 1988 e o acordo de 1991 havia criado para o país todas as obrigações que decorreriam do tratado.

Quando a adesão se deu, em 1997-1998, os únicos que não haviam assinado eram Índia, Paquistão e Israel, que tinham para isso uma razão: queriam adquirir a bomba (o quarto era Cuba, que aderiu logo depois). Que sentido teria tido para o Brasil ficar de fora, em companhia dos três belicistas, se já havíamos assumido na prática as obrigações do TNP?

O mesmo argumento se aplica ao Protocolo Adicional, que não é mais que a aceitação de fiscalização reforçada. O Brasil é dos raros países que permitem à agência acesso até a suas instalações militares. O que teríamos a temer se nada temos a esconder?

Alega-se que deveríamos proteger a originalidade de nossa tecnologia. O objetivo é legítimo, mas, segundo especialistas, pode ser perfeitamente assegurado pela negociação com a agência de modalidades que preservem os segredos tecnológicos.

Até agora, a recusa era justificada pelo desinteresse do governo americano de cumprir a obrigação de desarmamento constante do TNP.

A situação mudou totalmente com o advento do governo Obama, o acordo com a Rússia para redução de ogivas nucleares e a nova estratégia dos EUA, que restringe o papel das armas nucleares. Ainda se está longe do desarmamento, mas é mudança construtiva que deve ser encorajada.

Neste momento, a persistência da recusa será vista como obstrução à evolução positiva em curso. A infeliz coincidência com a visita do presidente Lula a Teerã avivará suspeitas sobre nossas intenções.

Cedo ou tarde, o processo de reforço do TNP conduzirá à proibição da exportação ou importação de urânio enriquecido e restrições de acesso tecnológico para os que rejeitam o protocolo. É risco gratuito quando nossa tecnologia pode ser preservada por negociação cautelosa.

Se o real motivo for armamentista, equivale a golpe gravíssimo contra a Constituição. O argumento da soberania não procede, pois a adesão não contraria o interesse nacional.

Que interesse haveria em adquirir a bomba para país que não está sob ameaça ou em zona de conflito, tendo completado 140 anos de paz ininterrupta com seus dez vizinhos?

Na hora lancinante da catástrofe do Rio de Janeiro, só o delírio de grandeza e a perda de contato com a realidade explicam desviar recursos escassos para prioridades erradas e desnecessárias como os desvarios atômicos. A realidade que chega pela tela da TV nos revela aonde estão nossos inimigos: não no exterior, mas aqui dentro.

A corrupção e a incompetência diante da urbanização selvagem, a patética incapacidade de salvar vidas, a falta de dinheiro para dar casa decente aos trabalhadores -são essas as ameaças a enfrentar. E não será com submarinos nucleares e urânio enriquecido que vamos diminuir um só desses perigos reais e imediatos.
(Folha de SP, 10/4)

2081) Brasil: potencia economica de semiletrados

Há muito tempo, com base unicamente em minha experiência pessoal, venho insistindo no tema educacional, sem ser especialista no setor, e sem sequer fazer pesquisas nessa área. Trata-se de simples percepção pessoal: para mim, o Brasil é um gigante de pés de barro, e mais ainda, se trata de um gigante bobão, com uma classe política e supostas elites sumamente ignorantes, alguns ostentando mesmo o que se poderia chamar de "ignorância enciclopédica" (isto é, espalhando sua estupidez por vários campos do saber e das atividades humanas, e nem preciso lembrar quem é).
Pois bem, creio que este texto de um conhecido especialista no setor ajuda a explicar um pouco as raízes do problema e a agravar o alerta que venho sempre fazendo:
Em matéria de educação, estamos muito pior, mas muuuuiiiito piiiiior do que jamais ousaríamos imaginar, e a situação tende a se agravar, graças ao sindicalismo professoral, às pedagogas freirenas do MEC, às políticas absolutamente erradas do governo (de todos os governos, ou quase).
Acho que o Brasil tem um futuro muito ruim pela frente a persistir essa situação, que aliás não se corrige facilmente, mas exigiria pelos menos uma geração inteira de paciente reconstrução do sistema educacional.
A tragédia, contudo, é que sequer tomamos consciência da situação e ainda não começamos a corrigir o problema...
Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 13.04.2010)

Brasil: a primeira potência de semiletrados?
Gustavo Ioschpe
Revista Veja, 14.04.2010

"Apesar do oba-oba, o Brasil está próximo de ser um colosso econômico e esquecer a formação de sua gente"

Quando voltei ao Brasil, depois de anos no exterior, queria montar meu escritório rapidamente. Contratei, então, um desses serviços de secretariado virtual para me ajudar enquanto iniciava o processo de busca por uma equipe permanente. Notei que a secretária virtual não era um gênio, mas achei que quebraria o galho. Certo dia, mandei um e-mail a ela pedindo que me conseguisse a informação de contato do cônsul brasileiro em Houston (EUA). Informação encontrável na internet em poucos minutos. Passaram-se cinco minutos, cinco horas, e nada.
Três dias depois, recebi um e-mail da fulana: "Sr. Gustavo, procurei na Cônsul e até na Brastemp, mas ninguém conhece esse tal de Houston". Pensei que fosse piada. Reli. Não era. Para quem havia ficado alguns anos construindo teses acadêmicas sobre a importância da educação para o desenvolvimento das nações, através do seu impacto na produtividade de uma população, estava ali o exemplo pronto e acabado de como é difícil produzir algo quando a ignorância campeia à volta. É assim para uma pessoa, uma empresa e um país.
Os economistas Gustav Ranis, Frances Stewart e Alejandro Ramirez ilustraram essa relação de forma clara. Analisaram 76 países durante um período de 32 anos. Dividiram-nos de acordo com dois critérios: crescimento econômico e desenvolvimento humano (nesse caso, medido através de uma combinação de indicadores de educação e saúde). Usando essas duas dimensões, você pode ter duas situações de equilíbrio (quando o lado humano e o econômico são igualmente altos ou baixos) e duas de desequilíbrio (quando o humano é alto e o econômico baixo, e vice-versa). Surgem algumas conclusões interessantes desse estudo.
A primeira é que as situações de desequilíbrio duram pouco. Se um país tem muito crescimento econômico e pouco capital humano (CH), ele tende a parar de crescer (caso, sim, do Brasil nas décadas de 60 e 70) ou a aumentar seu lado humano.
A segunda: é muito difícil sair de uma situação de equilíbrio negativo: mais da metade dos países que tinham baixo crescimento e baixo CH em 1960 permanecia empacada na mesma posição na década de 90.
A terceira é que o crescimento econômico, quando desacompanhado de evolução do lado humano, dura pouco: de todos os países que tinham alto crescimento econômico e baixo CH no início do período, nenhum conseguiu chegar ao equilíbrio em alto nível. Todos, sem exceção, terminaram o período com baixo crescimento e baixo CH.
A quarta, e mais importante, é que a estratégia de privilegiar o lado humano dá frutos muito melhores do que aquela que enfatiza só o lado econômico: dos países que começaram o período com alto CH e baixo crescimento econômico, um terço chegou ao nirvana da alta renda e alto nível humano; um terço continuou com um lado mais desenvolvido que o outro, e apenas um terço regrediu para o fim trágico do baixo crescimento e baixo CH.
O resumo da ópera é o seguinte: é muito difícil passar de uma situação de subdesenvolvimento e chegar ao chamado Primeiro Mundo. Mas, se o período 1960-92 servir de guia, das duas estratégias possíveis – privilegiar o crescimento econômico versus privilegiar o crescimento humano –, a primeira se mostrou um fracasso total, e só através da segunda é que um terço dos países chegou ao objetivo desejado.
Esse aprendizado é, hoje, especialmente importante para o Brasil. Apesar de todo o oba-oba com o país nas capas de revistas e jornais estrangeiros, o Brasil está, na verdade, perigosamente próximo de repetir a trajetória do fim da década de 60: ser um colosso em termos de crescimento econômico e esquecer a formação de sua gente. Essa estratégia tem destino certo: a falta de pessoas qualificadas faz com que o processo emperre e o crescimento acabe. Temo, inclusive, que seja tarde demais para evitar parte desse enredo: várias indústrias, especialmente as ligadas à engenharia, já têm seu crescimento cerceado pela impossibilidade de encontrar gente qualificada. O problema será muito pior nos próximos vinte anos, à medida que a demanda por pessoas qualificadas for aumentando e as escolas continuarem formando incompetentes.
Há três diferenças importantes entre o momento atual do Brasil e aquele da época do milagre econômico.
A primeira é que o atraso educacional brasileiro em relação aos países desenvolvidos aumentou consideravelmente. Há trinta anos, o ensino superior era um nível para poucos, mesmo nos países mais ricos. Levantamento feito em 2000 mostrou que a porcentagem de adultos com diploma universitário no Brasil era bastante parecida com a de outros países – 1 ou 2 pontos porcentuais abaixo de Chile e Argentina e 3 a 4 pontos abaixo de Itália e França, por exemplo. Quando se olha para a taxa de matrícula atual do ensino universitário, porém, nota-se que o Brasil tem uma diferença de 20 pontos porcentuais para nossos vizinhos latino-americanos e de 40 ou mais pontos para os países desenvolvidos. A maioria dos brasileiros não se dá conta de quão ruim é a educação nacional. Uma pesquisa de 2009 sobre alfabetização, feita pelo Instituto Paulo Montenegro, mostrou que apenas 25% da população adulta brasileira é plenamente alfabetizada. Deixe-me repetir: só um quarto dos brasileiros conseguiria ler e entender um texto como este. Nenhum país jamais se tornou potência com uma população de semianalfabetos. É improvável que o Brasil seja o primeiro, mesmo com todos os recursos naturais de que dispomos.
Segunda diferença: nos anos 60/70, pouquíssimo se falava sobre educação. Hoje, a questão está em pauta. O diacho é que a maior parte do discurso ainda é pré-científica (ou anticientífica) e continua insistindo em teses furadas e demagógicas: que o Brasil investe pouco e que o principal problema é o salário do professor.
A terceira e última é que naquela época éramos uma ditadura inserida no polo pró-americano em um contexto de Guerra Fria, e hoje somos uma democracia altiva em um mundo multipolar. Se então nossos males nos eram impostos por um regime autocrático, hoje temos liberdade e responsabilidade por nossos destinos. Os problemas e os erros são todos nossos, e as soluções também terão de ser.

2080) Editorial do Globo sobre o Iran e o problema nuclear

Nunca é tarde para transcrever certas manifestações de princípio, que tem a ver com o núcleo mesmo da política externa brasileira, num momento de definições relevantes.
Veremos como se dá a evolução deste processo.

Brasil à deriva no apoio ao Irã
EDITORIAL
O Globo, 09/04/2010

O presidente Barack Obama recepcionará líderes de 47 países na próxima semana, em Washington, para uma reunião sobre segurança nuclear, com três trunfos na mão: a revisão da política nuclear americana, há pouco anunciada, pela qual os Estados Unidos se comprometem a não usar armas atômicas contra países que não as possuam, exceto estados sem lei, como Irã e Coreia do Norte; a assinatura com a Rússia ontem, em Praga, de um pacto para redução em um terço dos arsenais nucleares, apontando para uma nova era de cooperação entre os grandes ex-inimigos da Guerra Fria (a Rússia é a sucessora legal da União Soviética); e, finalmente, a concordância da China em conversar sobre as novas sanções que os EUA e o Ocidente desejam aplicar ao Irã, pela falta de transparência de seu programa nuclear, considerado uma ameaça em escala mundial.

A revisão da política americana feita pelo governo Obama reflete preocupação, não com outras potências nucleares, como Rússia e China, mas com a proliferação: se estados sem lei, no sentido de não confiáveis, como Irã e Coreia do Norte, obtiverem armas atômicas, ainda que rudimentares, muito mais provável se torna a hipótese de que elas caiam em poder de redes terroristas, como a al-Qaeda. Estaria criado o pesadelo do terror nuclear.

Daí a busca de consenso para a imposição de sanções destinadas a interromper o desenvolvimento do programa nuclear iraniano, uma vez que Teerã rejeita submetê-lo à Agência Internacional de Energia Atômica (em relação à Coreia do Norte, há um trabalho permanente que envolve os EUA, China, Grã-Bretanha, França e Alemanha).

Nesse contexto, quanto mais cresce a compreensão de que é preciso evitar que o Irã - governado por uma ditadura militar e teocrática com objetivos expansionistas - desenvolva armas nucleares, mais delicada se torna a posição do Brasil. O governo Lula adota uma política externa de protagonismo terceiro-mundista que, para seus artífices, o "Itamaraty do B", é a melhor forma de defender os interesses do país. Ela se pauta, estranhamente, pelo apoio a ditaduras - como as de Cuba, Venezuela e Irã - colocando o Brasil em rota de colisão com os EUA e o mundo. O argumento do presidente Lula é que "o Brasil conversa com todos". O do chanceler Celso Amorim é que não se deve pressionar o Irã porque isso poderá levar a maior radicalização de sua liderança. Imagine-se este argumento aplicado a Hitler.

Os EUA aceleram as gestões para que o Conselho de Segurança da ONU aprove o quanto antes novas sanções ao Irã. A China, o maior aliado iraniano, aceita conversar sobre a hipótese, embora não se possa dizer que vá concordar com ela. Sobra o Brasil, que, claro, também aceita conversar, mas insiste em dar o benefício da dúvida ao Irã. Se não houver uma evolução da posição brasileira, o presidente Lula chegará a Teerã em maio, retribuindo visita de Ahmadinejad a Brasília, em novembro, num um dilema infernal: se o Brasil votar na ONU a favor das sanções, desembarcará como persona non grata. Se recorrer à abstenção, desagradará tanto a Ahmadinejad quanto ao Primeiro Mundo. E se, num ato delirante, votar contra as sanções, a diplomacia brasileira terá ficado refém de Teerã.

2079) Elogio da Burguesia - Paulo R. Almeida

Meu mais recente trabalho publicado (sim, um elogio à burguesia, da qual, por sinal, eu não me considero membro):

959. “Elogio da burguesia (com uma deixa para a aristocracia também)
Via Política (10.04.2010); Relação de Originais n. 2127.
Link: http://www.viapolitica.com.br/diplomatizando_view.php?id_diplomatizando=131.

2078) Premio Nacional de Desenvolvimento Regional

Premio Nacional de Desenvolvimento Regional
Homenagem a Celso Furtado
http://www.mi.gov.br/desenvolvimentoregional/premio/index.asp

Apresentação
O Ministério da Integração Nacional (MI), com base nos objetivos e estratégias da Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR), lança o Prêmio Nacional de Desenvolvimento Regional. Em sua primeira edição, o Prêmio homenageia o economista Celso Furtado, pela sua contribuição ao estudo dos problemas de desenvolvimento econômico e regional no Brasil e em comemoração dos 50 anos do lançamento do clássico “Formação Econômica do Brasil”.

Objetivo Geral
Promover a reflexão sobre os aspectos teóricos e práticos do desenvolvimento regional no Brasil, envolvendo o poder público e a sociedade civil organizada na discussão e na identificação de medidas concretas para a redução das desigualdades de nível de vida entre as regiões brasileiras e a promoção da eqüidade no acesso a oportunidades de desenvolvimento.

Objetivos Específicos
Estimular o debate e a produção acadêmica sobre o desenvolvimento regional no Brasil, de modo a contribuir para a compreensão do tema e a busca de novas alternativas de intervenção no território em múltiplas escalas;

Identificar e dar visibilidade a boas práticas regionais em execução no País, no que se refere aos sistemas de gestão do desenvolvimento regional e aos bens e serviços produzidos no contexto das novas formas de organização da produção com impactos em nível macrorregional e sub-regional;

Identificar projetos inovadores a serem implementados no território, que sejam voltados para a dinamização econômica e inclusão produtiva e que tenham grande potencial de transformação da realidade socioeconômica em escala macrorregional e sub-regional; e

Ampliar a base de discussão e implementação da Política Nacional de Desenvolvimento Regional.

Categorias
Produção do Conhecimento Acadêmico
Concorrerão teses e dissertações acadêmicas, em nível de Mestrado, Doutorado e Pós-Doutorado, na área de desenvolvimento regional, como forma de contribuir para a compreensão da questão regional brasileira e a identificação de medidas de intervenção adequadas ao estágio atual das disparidades regionais no Brasil.

Práticas Exitosas de Produção e Gestão Institucional
Concorrerão relatos de experiências em andamento, com resultados positivos concretos, implementadas por instituições públicas, privadas ou da sociedade civil, capazes de gerar mudanças estruturais e transformações do território onde está instalado e de seu entorno.

Projetos Inovadores para Implantação no Território
Concorrerão propostas inovadoras de atuação no território, de natureza social, econômica, cultural ou ambiental, com comprovado potencial de transformação da realidade socioeconômica em escala sub-regional ou macrorregional por meio da dinamização econômica e inclusão produtiva.

Premiação
Em cada categoria, serão premiadas as propostas selecionadas em:
1º lugar: Diploma de Reconhecimento de Mérito e a quantia de R$ 46.500,00 (quarenta e seis mil e quinhentos reais)
2º lugar: Diploma de Reconhecimento de Mérito e a quantia de R$ 23.250,00 (vinte e três mil duzentos e cinquenta reais)

Veja também:
• Regulamento
• Anexo I - Instruções para Inscrição
• Inscrições
• Celso Furtado
• Informações
• Notícias

2077) Origem das crises financeiras: excesso de credito e moeda

Para os que acreditam, a despeito de tantas evidências em contrário, que são os "mercados livres" que produzem as crises, vale a leitura deste post de Fred Foldavary, em seu blog The Foldvarium.
Ele simplesmente demantela essa ideia, com base em trabalhos empiricamente fundamentados em dados relativos à expansão do crédito e da moeda nas fases imediatamente anteriores, jogando a responsabilidade, portanto, nas costas de governos irresponsáveis que permitiram o acúmulo de desequilíbrios e o excesso de investimentos "especulativos".
Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 13.04.2010)

Credit Booms Gone Wrong
Fred Foldvary
Sunday, April 04, 2010

Recent research by economists Moritz Schularick and Alan M. Taylor have confirmed the theory that economic booms are fueled by an excessive growth of credit. They have written a paper titled “Credit Booms Gone Bust: Monetary Policy, Leverage Cycles and Financial Crises, 1870–2008" (http://www.nber.org/papers/w15512), published by the National Bureau of Economic Research.
A major cause of the Great Depression was a credit boom, as analyzed by Barry Eichengreen and Kris Mitchener in their paper, “The Great Depression as a credit boom gone wrong” (BIS Working Paper No. 137, http://www.bis.org/publ/work137.pdf). Eichengreen and Mitchener cite Henry George’s Progress and Poverty as providing an early theory of booms and busts based on land speculation. They also credit the Austrian school of economic thought, which in the works of Friedrich Hayek and Ludwig von Mises, had developed a theory of the business cycle in which credit booms play a central role. Henry George’s theory of the business cycle is complementary to the Austrian theory, as George identified the rise in land values as the key role in causing depressions.
An expansion of money and credit reduces interest rates and induces a greater production and purchase of long-duration capital goods and land. The most important investment and speculation affected is real estate. Much of investment consists of buildings and the durable goods that go into buildings as well as the infrastructure that services real estate. Much of the gains from an economic expansion go to higher land rent and land value, so speculators jump in to profit from leveraged speculation. This creates an unsustainable rise in land value that makes real estate too expensive for actual uses, so as interest rates and real estate costs rise, investment slows down and then declines. The subsequent fall in land values and investment reduces total output, generates unemployment, and then crashes the financial system.
We can ask whether this theory is consistent with historical evidence. One strand of evidence is the history of the real estate cycle, which has been investigated by the works of Homer Hoyt, Fred Harrison, and my own writings. Another strand is the history of credit booms, as shown by Schularick and Taylor, who assembled a large data set on money and credit for 12 developed economies 1870 to 2008. They show how credit expansions have been related to money expansions, and how financial innovations have greatly increased credit. Because economic booms are fueled by credit expansion, Schularick and Taylor note that credit booms can be used to forecast the coming downturn.
Followers of Henry George have focused on the real estate aspect of the boom and bust, while the Austrian school has focused on credit, interest rates, and capital goods. A complete explanation requires a synthesis of the theories of both schools, but these recent works on credit booms have not recognized the geo-Austrian synthesis. In order to eliminate the boom-bust cycle, both the real side (real estate) and the financial side (money and credit) need to be confronted.
Current Austrian-school economists such as Larry White and George Selgin have investigated the theory and history of free banking, the truly free-market policy of abolishing the central bank as well as restrictions on banking such as limiting branches and controlling interest rates. In pure free banking, there would be a base of real money such as gold or a fixed amount of government currency. Banks would issue their own private notes convertible into base money at a fixed rate. The convertibility and the competitive banking structure would provide a flexible supply of money along with price stability. The banks would associate to provide one another with loans when a bank faces a temporary need for more base money, or a lender of last resort.
Both the members of the Austrian school and the economists who have studied credit booms have not understood the need to prevent the land-value bubble by taxing most of the value of land. That would stop land speculation and eliminate the demand for credit by land buyers.
But the credit-bubble theorists have not understood that financial regulation and rules for central banks cannot solve the financial side of credit bubbles. Credit booms always go wrong. As the Austrians have pointed out, there is no scientific way to know the correct amount of money or the optimal rates of interest. Only the market can discover the rate of interest that balances savings and borrowing, and only the market can balance money supply with money demand.
Thus the remedy for the boom-bust cycle is both land value taxation and free banking. Land speculation would not be as bad without a credit boom, but will still take place as land values capture economic gains and land speculators suck credit away from productive uses. But also, a credit boom with land-value taxation will still result in excessive construction and the waste of resources in fixed capital goods, reducing the circulating capital need to generate output and employment, as Mason Gaffney has written about. Economic bliss requires both the public collection of rent and a free market in money.

2076) Cupula de Washington sobre material nuclear

De certa forma se trata da materialização, por Obama, de antiga proposta feita por George Bush, tão desprezado, sobre controle total de todo o material nuclear (combustível, equipamentos, etc), que tinha sido formulada em 2004 de maneira unilateral.
O que Obama propõe é basicamente o mesmo, apenas com esse envelope de conferência plurilateral para melhor implementar seus objetivos.

La cumbre de Washington pretende eliminar los riesgos de ataque nuclear
Líderes de 47 países se reúnen hoy para poner bajo control el material atómico

ANTONIO CAÑO - Washington -
El Pais, 12/04/2010

La ciudad de Washington acoge hoy la mayor cumbre de su historia y Barack Obama emprende uno de los objetivos más ambiciosos de su presidencia: eliminar el riesgo de un ataque nuclear. Líderes o altos representantes de 47 países se reúnen durante dos días para detener el tráfico de material atómico y poner bajo control todo el uranio enriquecido y plutonio que existe en el mundo.

Los expertos afirman que sólo se requieren 25 kilos de uranio enriquecido para fabricar un artefacto nuclear. Hay actualmente alrededor de 1.600.000 kilos de ese producto diseminados en más de 40 países. Algunos cálculos más alarmantes apuntan a que, considerando el uranio del que no se tiene oficialmente noticia, se dispone de suficiente material nuclear sobre el planeta como para fabricar más de 100.000 bombas atómicas.
Gran parte de ese material está guardado en instalaciones militares en algunas de las cinco mayores potencias nucleares -Rusia, Estados Unidos, Francia, China y el Reino Unido, por este orden, según el número de cabezas nucleares con el que cuentan-. Pero otra parte está repartida en países inmersos en conflictos regionales -Israel, Pakistán e India- o en otros que enriquecen uranio únicamente para su uso como energía. Incluso en los países en los que no existe ninguna sospecha sobre el uso de ese material por parte de sus gobiernos, siempre queda el riesgo de un robo en sus instalaciones civiles, a veces no suficientemente protegidas.
"El peligro de una guerra nuclear ha decrecido, pero el peligro de un ataque nuclear ha aumentado considerablemente", dijo Obama hace un año en Praga, punto de salida de su odisea por un mundo sin armas nucleares.
Esa meta está lejana aún, pero mientras tanto hay que dar los pasos para al menos atenuar el riesgo al que se enfrenta la humanidad. La firma reciente de un nuevo tratado entre Rusia y EE UU para destruir una tercera parte de sus arsenales nucleares es uno de esos pasos. La conferencia que hoy se inaugura aquí, oficialmente denominada Cumbre sobre Seguridad Nuclear, es otro no menos importante.
Los participantes se comprometerán con un plan de trabajo para poner en condiciones seguras y bajo control internacional todo el material nuclear existente en un plazo de cuatro años. Algunos países harán concesiones unilaterales para reducir el volumen total de ese material. Chile anunciará que sus últimos 28 kilos de uranio enriquecido han sido ya trasladados a depósitos seguros en EE UU. Canadá y Ucrania se comprometerán a cambiar sus plantas con reactores de uranio altamente enriquecido (el que se requiere para las bombas atómicas) a otras de uranio de bajo enriquecimiento. Rusia y EE UU, probablemente, detallarán planes sobre qué hacer con el plutonio sobrante de las armas eliminadas.
Todo eso no garantiza que dentro de cuatro años el peligro de un ataque nuclear por parte de un grupo terrorista o un gobierno haya desaparecido. En primer lugar, están ausentes de la cumbre algunos de los países de los que se sospecha que están desarrollando programas nucleares, como Irán, Corea del Norte y Siria. El primer ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, canceló su participación en esta conferencia, dejando en el aire la duda sobre si se siente personalmente involucrado en sus objetivos.
Uno de los ausentes, Corea del Norte, ya ha hecho ensayos de misiles que han provocado una gran inquietud entre sus vecinos asiáticos. El resto de los países que no participan están implicados en la explosiva crisis de Oriente Próximo, donde parece evidente el desarrollo de una carrera nuclear.
La amenaza no se reduce a los Estados. Organizaciones terroristas como Al Qaeda han dejado clara su intención de utilizar todos los medios a su alcance para destruir a sus enemigos. A su alcance podría estar parte del material nuclear que existe en el mundo. Las antiguas repúblicas soviéticas, por ejemplo, conservaron tras su independencia las reservas nucleares instaladas en su territorio. Un acuerdo con EE UU en 1991 consiguió eliminar o poner bajo control gran parte de ese material. Pero aún queda una porción, quizá más de 10%, en condiciones que los expertos consideran incontroladas.
También en los países occidentales es necesario reforzar las medidas de seguridad, muy abandonadas en los últimos años. El Reino Unido ha pedido al Organismo Internacional de Energía Atómica una inspección de sus instalaciones por si fuera necesaria alguna mejora. Obama ha solicitado al Congreso 3.100 millones de dólares para ayudar a los países que necesiten recursos para mejorar su seguridad nuclear.
"La parte más difícil de construir una bomba atómica es obtener el material necesario", ha advertido el secretario norteamericano de Energía, el premio Nobel de física Steven Chu, "por eso es esencial mantenerlo bajo estricta custodia".
Seguridad nuclear
- La Cumbre sobre Seguridad Nuclear reúne a representantes de 47 países. Entre ellos no figuran Irán, Corea del Norte y Siria.
- Los expertos calculan que hay 1.600.000 kilos de uranio enriquecido diseminados en instalaciones de más de 40 países, en muchos casos desprovistas de los sistemas de seguridad deseables.
- Barack Obama ha pedido 3.100 millones de dólares al Congreso de EE UU para mejorar la seguridad en países con escasos recursos.

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