terça-feira, 12 de janeiro de 2021

Quão baixo, quão fundo, uma sociedade pode descer, por vezes despencar, literalmente? - Paulo Roberto de Almeida

Quão baixo, quão fundo, uma sociedade pode descer, por vezes despencar, literalmente?

  

Paulo Roberto de Almeida

(www.pralmeida.orghttp://diplomatizzando.blogspot.com)

[Objetivoreflexões sociológicasfinalidadedebate público]

  

Nós, os incluídos, os supostamente iluminados, esclarecidos e informados, gostamos de pontificar, sobre isto e mais aquilo, sobre o sentido da História e sobre os destinos do mundo. Gostamos de dar lições, sobre isto e aquilo, apreciamos que outros apreciem nossa sapiência, nossas certezas, nossas conclusões inteligentes e nossos julgamentos definitivos, como uma espada de Dâmocles, como a guilhotina certeira, alinhada com a Deusa da Razão. 

Estamos certos de atravessar, neste momento, a mais horrível experiência de governança em 130 anos de República, em 200 anos de Estado independente, em 520 anos de povo, no prelúdio da nação. Não ousamos imaginar que pudéssemos ter um governo tão ruim, tão horroroso, tão inepto, tão ignorante, tão calhorda, tão mentiroso, tão sem noção, sem destino, sem projeto, sem sentido, sem nada. 

Pensávamos, até pouco tempo atrás, que já tínhamos visto tudo, experimentado tudo em matéria de mediocridade, arrogância e desfaçatez, com relação aos princípios elementares da adesão aos valores democráticos e de respeito aos princípios de direitos humanos, ou de simples humanidade. 

 

E, no entanto, mirando retrospectivamente, somos obrigados a reconhecer que, num passado não muito remoto, de horrores e de opressão, sob ditaduras expressas, mesmo a noção de governança, de sentido de direção nas políticas públicas, de construção de estruturas e de patrimônio — inclusive cultural — não se perdeu, em meio aos estertores da liberdade, da luta pela livre expressão, do próprio arbítrio e prepotência do Estado, da arrogância dos donos do poder. No negrume do Estado Novo, na repressão da ditadura militar, tínhamos a opressão dos poderosos, e vinha junto todo um programa de construção de um país, de certa ordem na economia, de certo sentido de direção, de algum esforço institucional, ainda que von Oben, pelo alto, aquela organização prussiana, que colocava o Estado no centro de tudo, e que expressava, de alguma forma, certa racionalidade intrínseca ao projeto que autoritariamente nos era oferecido, ou melhor, imposto.

Racionalidade, ordem, sentido de direção, construção institucional ou material, progresso (à maneira de cada etapa), tudo isso é o que menos temos atualmente. Estamos no meio do pântano, levados a esmo por um psicopata perverso, expostos aos risos do mundo por um outro maluco e suas alucinações exteriores, alguns poucos técnicos setoriais que machucam suas biografias ao servirem uma patota de medíocres e incompetentes, civis e militares, mandarins do Estado ou eleitos oportunistas, todos eles prolongando essa agonia de dois anos, e que pode se prolongar por mais dois, preservando, ou até ampliando, as duas grandes tragédias corrigíveis que temos: a não educação e a corrupção política. Temos outras tragédias, sistêmicas ou estruturais, como as desigualdades sociais, a baixa inovação e uma produtividade também medíocre, todas essas coisas que não serão resolvidas agora, sequer encaminhadas, e que podem ainda ser agravadas, no mar de incultura, de estupidez, de calhordice que nos é oferecido atualmente pelo déspota eleito por uma dessas surpresas da História. 

Acho que nunca imaginamos que poderíamos descer tão baixo no horror da mediocridade política, do retrocesso cultural, na promoção da ignorância, com demonstrações públicas da bestialidade do psicopata perverso que nos desgoverna. 

 

E no entanto, no entanto, se deixarmos para trás nossas experiências de ditaduras tecnocráticas, veremos que ainda não somos, não fomos, talvez não sejamos o povo mais infeliz de um planetinha redondo — mas fragmentado — que já conheceu horrores bem mais bárbaros em diversos episódios de um longo itinerário de ódios, guerras, massacres, tiranias assassinas.

 

Sem remontar muito longe, vamos começar pela destruição do segundo templo do povo judeu, que deu início a uma diáspora que ainda não terminou; vamos continuar por invasões de hordas de bárbaros literais, destruindo impérios e nações dotadas de civilidade; passemos ao empreendimento insano das cruzadas, que não só deram continuidade aos massacres de judeus em seu caminho, como também impuseram à história mundial uma oposição entre cristianismo e islamismo que não precisaria, não deveria ter ocorrido e que prolonga seus péssimos efeitos até a atualidade; e as guerras de religião na Europa, e as conversões forçadas disfarçadas de “catequese” que os europeus “judaico-cristãos” impuseram a maior parte do mundo conquistada e dominada durante cinco séculos?; e o nefando crime da escravidão africana e todos os horrores do tráfico transcontinental durante quatro séculos pelo menos?; os pogroms que continuaram contra o povo judeu, em vários redutos da supostamente humanitária religião cristã; e o novo expansionismo colonialista europeu, que assistiu à primeira criação de campos de concentração por iniciativa da liberal Grã-Bretanha?; o nacionalismo e o racismo ascendentes, que levaram a Europa a uma segunda guerra de trinta anos, arrastando o resto do mundo a uma sanha destruidora jamais vista desde quando exércitos conquistadores simplesmente eliminavam os prisioneiros homens e reduziam as mulheres a servas ou escravas; o fascismo totalitário começou na Itália, mas foi na Alemanha de Goethe e de Wagner que ele foi levado à exacerbação tirânica sob o comando do psicopata Hitler, partindo da Noite dos Cristais para caminhar para os campos de extermínio “científico”; não esquecer tampouco o fascismo expansionista e militarista japonês, que perpetrou barbaridades na China equivalentes ou até piores que os nazistas cometeram na Europa central e oriental; antes e depois disso ainda tivemos  o Gulag soviético com seu cortejo de “eliminados como inimigos do povo e do Partido”, sob as ordens do psicopata do Stalin, logo seguido pelo maoísmo demencial, acumulando mortos aos milhões, no Grande Salto para a frente, ou na Revolução Cultural; vamos falar também dos “killing fields” do Camboja e de massacres balcânicos ou africanos, levando dezenas ou centenas de milhares à morte pelo fuzil ou pelos machetes. 

 

Não, não somos o povo que mais sofreu na Terra, como se pode constatar, depois de relembrar todo esse cortejo de horrores ao longo de dois mil anos de história; mas não precisa ir muito longe: o nazismo hitlerista perpetrou os crimes mais bárbaros de toda a história da humanidade menos de 80 anos atrás, três gerações apenas. Nos anos 90 sérvios e hutus estavam trucidando concidadãos; e no Oriente Médio, na África, em outras paragens, nas favelas do Rio de Janeiro outros crimes bárbaros são cometidos, além do número inaceitável de feminicídios e crimes contra homossexuais e transgêneros. Não, ainda não nos livramos da barbárie, e parece que ainda vai demorar um pouco.  

 

Não querendo ser leniente com a realidade dos retrocessos no Brasil atual, o fato é que atravessamos um mau momento de nossa história, talvez o pior, às vésperas do Bicentenário, que deveria ser um momento de congraçamento, de unidade, de grandes balanços e de projetos para o futuro. Provavelmente, não teremos nada disso: apenas mais divisão, mais política do ódio, mais mediocridade e mais estupidez. Vamos aproveitar, nós, os iluminados, para avaliar nossos próprios erros, nossas desuniões na defesa de picuinhas particularistas, em lugar de consolidar o edifício democrático, a promoção da educação, a luta contra as desigualdades e a promoção dos direitos humanos. 

Num certo sentido, ainda somos um povo de selvagens, com alguns costumes bárbaros — entre os quais eu colocaria a corrupção política, dos políticos e dos donos do dinheiro — e várias outras deficiências culturais. 

Vamos avançando aos trancos e barrancos, como disse uma vez Darcy Ribeiro. Um dia acertamos e deslanchamos para o progresso e o bem-estar da maioria da população. Não sei quando isso virá. O que sei é que se costuma aprender mais com os fracassos do que com os sucessos.

Então, estamos servidos: estamos em meio a um dos maiores, senão o pior dos fracassos de nossa trajetória como povo, como nação e como sociedade. Aproveitemos para melhorar, já que, como dizia Mario de Andrade, o progresso também é uma fatalidade.

 

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 3841: 12 de janeiro de 2021


segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

A EA no Itamaraty, a Era dos Absurdos, censura o passado até o século 18 - livro sobre Alexandre de Gusmão

 Excesso de zelo do presidente da Funag, Roberto Goidanich, resultou numa censura absurda: a de um prefácio falando do século XVIII, apenas porque era assinada pelo embaixador Ricupero. Ou seja, os mentecaptos no comando do Itamaraty não seguem sequer as recomendações de Machado de Assis, que dizia que na avaliação de uma obra, deve-se concentrar na obra e esquecer o autor.

Diga-se, também, por precisão, que não foi o chanceler acidental quem fez a censura, pois ele sequer chegou a tomar conhecimento de que prefácio tinha sido vetado pelo presidente da Funag, um capacho do capacho. Obviamente, o chanceler acidental teria vetado igual, mas o zeloso guardão da pureza ideológica atuou preventivamente, para seu chefe censório não tivesse de exercer o veto (e sob risco de ser demitido, provavelmente). Dois paspalhos!

O subtítulo da matéria, aliás, está completamente errada: Ricupero não é desafeto de EA; é o contrário. Ricupero está onde sempre esteve, defendendo uma política externa compatível com os interesses do Brasil. Quem virou casaca e se aliou aos entreguistas, os que alienaram a soberania do Brasil a uma potência estrangeira, foram os aloprados bolsolavistas e o chanceler capacho, o que faz com que ele se volta contra todos os que criticam a diplomacia subserviente, servil, alinhada ao Império. 

Paulo Roberto de Almeida


LIVRO VETADO PELO ITAMARATY CHEGA ÀS LIVRARIAS EM FEVEREIRO

Escrita por diplomata, obra traz prefácio de Rubens Ricupero, desafeto de Ernesto Araújo

Época | 9/1/2021, 10h

O livro sobre a vida do diplomata Alexandre Gusmão que teve a publicação vetada pelo Itamaraty chegará às livrarias em fevereiro, pela editora Record.

Alexandre de Gusmão: O estadista que desenhou o mapa do Brasil foi escrito pelo embaixador Synesio Sampaio Goes Filho.

O livro tinha previsão de ser lançado pela Fundação Alexandre Gusmão, braço de estudos do Itamaraty.

No entanto, em 2019 a publicação foi vetada, após Goes Filho incluir um prefácio escrito por Rubens Ricupero, ex-embaixador do Brasil em Washington, crítico da atual política externa brasileira e desafeto de Ernesto Araújo.

Após a negativa, o autor teve de procurar um selo comercial.

O livro conta a história de Alexandre Gusmão, diplomata do século XVIII, que foi secretário de D. João V e é considerado um dos patronos da diplomacia brasileira.

Gusmão atuou em negociações como a do Tratado de Madri, que definiu os domínios da América do Sul entre portugueses e espanhóis.

https://epoca.globo.com/guilherme-amado/livro-vetado-pelo-itamaraty-chega-as-livrarias-em-fevereiro-24828394

O problema da dívida pública - Luque, Silber, Luna e Zagha (Valor)

O problema da dívida pública

Estratégia econômica do governo não é clara, o que afeta também as taxas longas. Por Luque, Silber, Luna e Zagha.

Valor, 11/01/2021

O relatório anual do FMI sobre a economia brasileira surpreendeu ao apoiar as políticas expansionistas do governo brasileiro, equivalentes a 18% do PIB. Resposta à pandemia, elas permitiram uma contração do PIB em2020 menor do que prevista e foram importantes na redução na incidência da pobreza. Mesmo com aumento da dívida pública em relação ao PIB em 2020, o FMI recomenda, se necessário, manter políticas expansionistas em 2021, incluindo reduções adicionais da taxa de juros.

O reconhecimento pelo FMI de que políticas expansionistas podem ter um papel positivo é o resultado de um aprendizado de 20 anos. Em reação à sua atuação contraproducente na crise Asiática em 1997, da Rússia em 1998 e Argentina em 2001, o FMI iniciou avaliações independentes das análises feitas pelos economistas do FMI e das convicções que os orientavam, nem sempre com resultados concretos. A Grécia em 2014 e a Argentina em 2016-2019 são exemplos da distância entre questionamentos e prescrições do FMI.

O relatório sobre o Brasil reduziu essa distância. Nem tudo agrada. O relatório ignora o papel da depreciação do Real na recuperação da indústria, superestima os benefícios da conta financeira aberta e recomenda flexibilidade da taxa de câmbio. Atribui a depreciação do Real apenas à incerteza criada pelo aumento da dívida pública, sem levar em conta a redução do diferencial entre juros domésticos e internacionais e consequente redução das possibilidades de arbitragem. Também não discute limitações do teto de gastos para estabilizar a dívida. 

Ainda assim, a contribuição do relatório é importante ao desmitificar o tamanho da dívida pública, ao recomendar possíveis reduções adicionais da taxa de juros e ao ressaltar que é improvável queem2021 haja o retorno à normalidade. O desemprego continua crescendo e uma parte importante da população está fora da força de trabalho. As necessidades de auxílio emergencial e de apoio às empresas vão continuarem2021.

Esse grau de realismo não afetou discussões internas. Muitos de nossos melhores economistas e analistas adotam uma narrativa independente da realidade, ao afirmar que o tamanho da dívida pública é a chave para atingir o crescimento. O mecanismo não é explicitado, mas deve ser algo assim: o aumento da dívida vai criar dúvidas sobre a capacidade do governo de honrá-la, logo os compradores de títulos públicos irão exigir taxas de juros mais altas. Juros mais altos reduzirão o investimento e o consumo privado e, portanto, o crescimento no curto e no longo prazo. Reforçando esse mecanismo, dúvidas sobre a capacidade do governo de honrar sua dívida farão com que o capital financeiro saia do país pondo pressão sobre o Real e inflação, o que irá também exigir aumentos da taxa de juros. Prova desses mecanismos estarem em jogo são a (1) depreciação do Real, (2) o aumento da inflação, (3) a curva de rendimentos mais empinada, e (4) o encurtamento do perfil da dívida pública. O controle do tamanho da dívida reverteria esses mecanismos.

A realidade é provavelmente outra. Respeito a (1), a taxa de juros “mais alta do planeta” dos anos 2000-2018 criou oportunidades de arbitragem para o capital financeiro doméstico e internacional. A taxa mais baixa reduziu estas oportunidades e depreciou o Real. Consequentemente, aumentou o preço de alimentos e dos bens transacionáveis internacionalmente, o que se repercutiu no IPCA. O mercado acredita que esse choque é transitório: as expectativas de inflação continuam ancoradas e os valores esperados em 2021 e além não subiram.

Não há uma estratégia para controlar o teto dos gastos, nem para um crescimento sustentável.

Com relação à (3), a incerteza da política monetária futura tem um papel. Apesar de taxas de juros internacionais historicamente baixas e expectativas de que assim continuarão por vários anos, o BCB não se comprometeu a uma política de taxas de juros baixas. O Relatório Focus demeados de dezembro mostra que a expectativa do mercado é que a SELIC voltara a níveis historicamente altos já subindo em 2021 e 4.5% em 2022 e 6% em 2023. Uma consequência é um Real se apreciando a partir de 2021. A expectativa de que o BCB vai retornar a uma política “dura” faz com taxas de juros a 2-4-6-10 anos subam e empinem a curva de rendimentos. Finalmente, a estratégia econômica do governo não é clara o que afeta também afeta taxas longas.

É racional e não é um problema o BCB ter aumentado a proporção de dívida a curto prazo (4). Como nos lembrou numa coluna recente um antigo diretor do BCB, a denominação da dívida pública em reais fez com que, mesmo nos tempos de hiperinflação quando o encurtamento da dívida chegou ao overnight, não houve problema sem rolá-la.

Qual então é o problema da dívida pública? A resposta é: não temos uma estratégia viável lidando com seu aumento.

O setor financeiro tem vocalizado sobre a necessidade de controlar gastos, subir a taxa de juros, e combater o Real depreciado, sem levar em conta o empobrecimento da economia real. Quando a dívida pública mal chegava a 60% do PIB e os juros absorviam8-9% do PIB o grau de alarme era muito menor do que uma dívida agora 100% com um custo de juros bem menor.

Dito isso, é pragmático pôr a dívida pública numa trajetória onde ela se estabiliza no médio/ longo prazo. Aumentos no curto prazo podem trazer benefícios, mas uma trajetória que levasse a aumentos persistentes da relação dívida/PIB nos poria em terra incógnita com consequências que não podemos antecipar. Podemos aceitar aumentos da dívida no curto prazo e, pari-passu, implementar uma estratégia estabilizando-a no médio e longo prazo. Esse é o sinal que dever ser passado para os agentes econômicos: estabilidade ou redução no médio e longo prazo.

Isso pode ser atingido através de um crescimento mais rápido, juros mais baixos, impostos mais altos, ou gastos primários mais baixos em relação ao PIB. Dessas possibilidades o governo se foca unicamente no controle de gastos primários, com o teto dos gastos. Para um dos mais respeitados ex-diretores do BCB furá-lo não é uma questão de se, mas de quando. Não há uma estratégia para controlar o teto dos gastos, e tampouco há uma para pôr a economia numa trajetória de crescimento sustentável. Lembremo-nos que vários estudos empíricos mostraram é raro reduções na relação dívida/PIB serem alcançadas através de superávits primários.

Lidar com o problema da dívida pública exige aceitar seus aumentos no curto prazo ao mesmo tempo implementar uma estratégia que a estabilize no médio/ longo prazo. Essa estratégia devera necessariamente incluir o crescimento, compromissos com a taxa de juros presente e futura, compromissos com a evolução da taxa de câmbio, resistindo à tentação de um dólar barato, gastos primários, e aumentos de impostos sobre as rendas mais altas e riqueza.

Sem esses elementos, nosso futuro econômico continuará decepcionante.

Carlos Luque é professor da FEA- USP e presidente da Fipe.

Simão Silber é professor da FEA-USP

Francisco Vidal Luna é professor da FEA aposentado

Roberto Zagha foi professor Assistente na FEA-USP nos anos 1970 e no Banco Mundial a partir de 1980, onde encerrou a carreira em 2012 como Secretário da Comissão sobre o Crescimento e o Desenvolvimento, e diretor para a Índia.


Ah, esse globalismo opressor... - Paulo Roberto de Almeida

Ah, esse globalismo opressor...

Paulo Roberto de Almeida

O chanceler acidental remete a um livro sobre o glorioso triunfo do império americano (do bem, evidentemente) e da sua absoluta necessidade para a preservação da civilização judaico-cristã.

Ele diz que “o comunismo soviético fracassou no projeto” de destruir a América, e no final pergunta, de forma aparentemente aflitiva:

“Estaria o globalismo conseguindo?”

Esse cara tem uma obsessão, e uma paúra, com o tal de globalismo que só pode ser trauma de infância — mas o termo ainda não estava na moda — ou então é fixação doentia no catch-word preferido dos atuais conspiradores da extrema-direita (mas isso por necessidade de manutenção do cargo).

O Trump já fez boa parte do serviço, ao colocar em cheque metade das instituições multilaterais que seus antecessores criaram desde Bretton Woods. 

O Bolsovirus não tem capacidade, nem poder, para destruir qualquer uma: ele só deixa de pagar as dotações do Brasil, com a aquiescência canalha do chanceler acidental, para maior vergonha dos diplomatas.

Este último vai continuar lutando contra o globalismo depois que for defenestrado do Itamaraty, ou era tudo figuração, para se legitimar aos olhos dos amadores ineptos que mandam nele?

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 11/01/2021

Meu projeto de obra sobre o "pensamento diplomático brasileiro" no período militar (1964-1985) - Paulo Roberto de Almeida

 Um colega acadêmico descarregou um trabalho meu, na verdade um projeto de livro do qual eu NÃO pretendia participar, uma obra que daria continuidade à obra Pensamento Diplomático Brasileiro (1750-1964), da qual fui um dos proponentes e animadores.

Não pretendia participar pois pressenti que seria uma obra deformada, em 2016 provavelmente, e agora certamente. Mas, como insistiram comigo, uma vez que eu havia praticamente estimulado a obra acima referida, acabei preparando uma projeto, mas explicitando que NÃO iria colaborar com ela, pois já imaginava os problemas que teria uma obra sobre a diplomacia do regime militar feita principalmente por diplomatas (sempre subservientes ao poder e aos poderosos).

O trabalho está disponível no seguinte link: 

https://www.academia.edu/38056037/Pensamento_Diplomatico_Brasileiro_o_periodo_autoritario_1964_1985_2016_

Abaixo transcrevo apenas o sumário e depois o esquema da obra (que obviamente NUNCA seria feita, e obviamente não segundo minhas sugestões). Algum desses dias eu faço essa obra, ao meu estilo.

Paulo Roberto de Almeida

Pensamento Diplomatico Brasileiro: o periodo autoritario (1964-1985) (2016)

2016, Pensamento Diplomatico Brasileiro: o periodo autoritario (1964-1985)
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Brasília, 14 de julho de 2016. 
(texto preliminar; sujeito a revisão substantiva) 
"A melhor tradição do Itamaraty é saber renovar-se." 
Antônio F. Azeredo da Silveira 

Os objetivos desde documento preliminar de planejamento são os de apresentar algumas reflexões em torno do conceito e da temática indicados no título e de formular, tentativamente, propostas de organização e um esquema para a possível composição de um segundo conjunto de textos vinculados sequencialmente à obra Pensamento Diplomático Brasileiro, formuladores e agentes da política externa, 1750-1964 (Brasília: Funag, 2013, 3 vols.; ISBN: 978-85-7631-462-2), organizada pelo ex-presidente da Funag (2012-2014), embaixador José Vicente Pimentel, da qual fui um dos primeiros propositores e um dos colaboradores, ao lado de diversos outros colegas de carreira e de representantes da academia. 
Trata-se da continuidade desse projeto exitoso, que parece ter encontrado vasto e positivo acolhimento por parte da comunidade brasileira trabalhando ou se exercendo academicamente na área, que justamente parece estar reivindicando o seu prosseguimento no período ulterior àquele da primeira obra, desta vez cobrindo as duas décadas do regime militar brasileiro. 
Este texto está dividido nas seguintes partes: uma primeira, de reflexões sobre a noção de "pensamento diplomático brasileiro", tal como suscetível de cobrir um amplo espectro de formulações e ações diplomáticas brasileiras, disseminadas por diferentes orientações de política externa, com atores diversos ao longo de um período bastante complexo-certamente excepcional-da história do Brasil; uma segunda, que busca capturar os elementos essenciais do período em questão (1964-1985), evidenciando alguns dos traços distintivos de sua política externa e da participação do estamento diplomático em sua formulação e execução; e uma terceira, que propõe um esquema preliminar sobre o que se poderia chamar de "índice de matérias" do que seria esse novo volume de um projeto que teve um início auspicioso, e que se espera possa apresentar continuidade adequada, antecipando, inclusive, uma possível continuidade (um terceiro volume) para o período subsequente, eventualmente chegando à atualidade. Segue-se uma bibliografia e uma cronologia.


Pensamento Diplomático Brasileiro: o período autoritário (1964-1985)

Esquema tentativo

 

1. Prefácio (apresentação da obra, conexões com PDB-1 e características deste PDB-2)

2. Introdução conceitual: existiu um “pensamento diplomático” específico à era militar?

 

Parte I: A diplomacia e a política externa antes da era militar

3. O Brasil, a América Latina e o mundo no início dos anos 1960: contextualizações

4. O desenvolvimento econômico brasileiro e suas principais conexões internacionais 

5. A Política Externa Independente e a diplomacia profissional antes do golpe militar

 

Parte II: A ruptura que deveria ser breve (1964-67)

6. O golpe militar no contexto da Guerra Fria: uma decorrência da revolução cubana?

7. Impacto inicial sobre a política externa e a diplomacia: principais mudanças

8. O alinhamento da primeira fase e o debate no Congresso e na sociedade

9. A diplomacia brasileira e o início do debate sobre a ordem econômica mundial

10. Os chanceleres Vasco Leitão da Cunha e Juracy Magalhães: perfis biográficos

 

Parte III: A radicalização política e a recuperação diplomática (1967-1971)

11. A política externa a partir de 1967: recuperação do desenvolvimentismo

12. A busca da autonomia nuclear, Tlatelolco e a recusa do TNP

13. A política comercial externa e os subsídios à exportação: a agenda do GATT

14. Capacitação científica e tecnológica e os parceiros da cooperação bilateral

15. O milagre brasileiro e a atração de capitais: IED e empréstimos externos

16. A questão nuclear na primeira fase do regime: Sérgio Correa da Costa

17. A diplomacia regional da primeira era militar: um continente em chamas?

18. A diplomacia do Prata e seus principais arquitetos diplomatas

 

Parte IV: A diplomacia brasileira e seus principais desafios (1971-74)

19. A ideologia da segurança nacional e o desafio guerrilheiro: o problema cubano

20. Direitos humanos e repressão política: os contenciosos internacionais

21. Intervenções clandestinas no entorno regional: contrariando a Constituição?

22. A economia política internacional do Brasil: comércio, finanças, investimentos

23. O primeiro choque do petróleo e a aposta no modelo de desenvolvimento

24. A diplomacia multilateral no início dos anos 1970: o fim de Bretton Woods

25. O chanceler Gibson Barbosa, a diplomacia africana e os grandes temas do Prata

26. O tratado de Itaipu Binacional, com o Paraguai, e as relações com a Argentina

 

Parte V: A diplomacia do pragmatismo responsável (1974-79)

27. Características gerais da mais dinâmica diplomacia do período militar

28. A diplomacia do presidente Geisel e do chanceler Silveira: perfis biográficos

29. Contexto internacional e regional da política externa brasileira na era Geisel

30. Os grandes projetos de desenvolvimento e sua interface externa

31. O estabelecimento de relações diplomáticas com a República Popular da China

32. O Acordo Nuclear com a República Federal da Alemanha e reações americanas

33. O reconhecimento da independência de Angola e suas implicações diplomáticas

34. A política comercial externa na era dos choques do petróleo

35. A controversa declaração de voto na ONU sobre o sionismo

36. Exportações de armamentos e cooperação com “estados vilões”

37. Memorando de Consultas Políticas com os EUA: uma relação especial?

38. Os direitos humanos e a denúncia do Tratado de Assistência Militar com os EUA

39. O Tratado de Cooperação Amazônica (1978) e seu significado regional

40. O esgotamento do modelo econômico e o caminho da abertura política

 

Parte VI: A diplomacia da transição numa era de crises econômicas (1979-1985)

41. O acordo tripartite Itaipu-Corpus (1979) e a diplomacia do equilíbrio hidrográfico

42. O segundo choque do petróleo e seus reflexos diplomáticos: a fragilidade brasileira

43. A crise da dívida externa e a diplomacia da dívida: a dependência brasileira

44. A América Latina começa a diversificar seus modelos de políticas econômicas

45. O despertar da China, o declínio soviético e seus reflexos na política mundial

46. O multilateralismo econômico: do fim de Bretton Woods às crises do GATT

47. O conflito das Malvinas e o fim da solidariedade hemisférica: como o Brasil reagiu

48. O protecionismo comercial brasileiro e as relações com o FMI

49. Transições democráticas e a mudança de padrões diplomáticos ao final do regime

50. Saraiva Guerreiro e seus principais assessores diplomáticos: breves perfis

 

Parte VII: Balanço da diplomacia e da política externa na era militar

51. Mudanças nos contextos internacional e regional dos anos 1960 aos 80

52. Alterações do ambiente econômico externo num período de duas décadas

53. A situação da América Latina em perspectiva internacional comparada

54. O declínio do dirigismo econômico, o neoliberalismo e a ascensão da Ásia

55. A diplomacia profissional brasileira, seu papel e status político na era militar

56. O que mudou, o que ficou? Continuidades e rupturas da política externa

 

57. Conclusões tentativas: o que foi o “pensamento diplomático” da era militar?

58. Fontes e bibliografia

59. Cronologia do período; chanceleres e secretários-gerais do Itamaraty

60. Notas sobre os autores e colaboradores

 


3012. “Pensamento Diplomático Brasileiro: o período autoritário (1964-1985)”, Brasília, 13 julho 2016, 43 p. Proposta de trabalho para a Funag, no seguimento do primeiro projeto, que cobriu o período 1750-1964. Entregue ao presidente da Funag, sem intenção de participar. Partes servindo de subsídio para redação de um capítulo sobre as relações internacionais do Brasil durante o regime militar brasileiro, para obra coletiva sob a direção de Jorge Ferreira e Lucilia de Almeida Neves Delgado Brasil Republicano (Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2003, 4 vols., várias edições e reimpressões). Projeto em curso. Utilizado para compor trabalho para a II Jornada de Pensamento Político Brasileiro (IESP-UERJ), em 2017 (n. 3112).


De volta ao tema extremamente chato das teorias conspiratórias sobre o tal de globalismo - Paulo Roberto de Almeida

 De volta ao tema extremamente chato das teorias conspiratórias sobre o tal de globalismo, que certos alucinados estão seguros de sua realidade (possuem até nomes e endereços)

Paulo Roberto de Almeida

Idiotas conspiratórios não se conformam que a gente desmonte suas crendices estapafúrdias: assim foi com o Rasputin da Virgínia, que não se conteve que eu tenha desmentido suas bobagens numa live, e também foi assim com o chanceler antiglobalista; mandou me exonerar depois que eu me referi às olavices debiloides. Não suportou que eu tivesse falado assim de seu guru, patrono e guia espiritual.

Os dois me odeiam. 

Ufa! Ainda bem! 

Os descerebrados que os seguem vivem excitados comigo: usam os mesmos expletivos do guru esquizofrênico achando que me intimidam!

Eu me divirto com todos eles: sempre constatando como podem existir os adeptos da servidão voluntária.

Que ignorantes possam defender a tal teoria conspiratória do globalismo é compreensível, até aceitável. Afinal de contas, idiotas do criacionismo, da terra plana existem em todas as sociedades.

Agora, que um diplomata seja, não só antimultilateralista, mas sobretudo antiglobalista, aí já é mais grave: é uma deformação conceitual que se aproxima da debilidade mental.

Como sempre, assino embaixo do que afirmo.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 11/01/2021

domingo, 10 de janeiro de 2021

Mini-reflexão sobre a volatilidade mental de certos profissionais da mídia - Paulo Roberto de Almeida

Mini-reflexão sobre a volatilidade mental de certos profissionais da mídia (ou da flexibilidade da coluna dorsal)

Paulo Roberto de Almeida


Raramente, ou quase nunca, eu me dirijo a pessoas nominalmente identificadas. Quase sempre estou debatendo ideias, políticas, propostas e situações objetivas. Abro, claro, uma exceção para o Bolsovirus, o ser mais desprezível, o dirigente mais inepto a ter sido jamais alçado à direção do país desde Tomé de Souza (1549). 

Mas, desde quase dois anos tenho notado uma transformação notável (para pior) em certos jornalistas que eu julgava isentos, ou seja, com postura de jornalistas. Vou abrir uma nova exceção.

Sempre achei o Guilherme Fiuza um cara inteligente: detectou cedo a corrupção e a sordidez do lulopetismo. Mas, desde o início do Bolsoregime perdeu todas as suas qualidades e passou a exibir uma Bolsofilia digna de qualquer bolsominion ignorante. Uma bela Metamorfose kafkiana. 

Ele não é o único, claro: poderia citar outros bastante evidentes em certas rádios ou canais de TV.

Alguns já eram esperados: tem gente que adere a qualquer regime, mesmo tendo de operar meia volta na circunferência política. 

Mandarins do Estado também, diga-se de passagem: mas estes vermes da burocracia pública esperam promoção na carreira, chefias, aumento de salário, etc. 

Esses jornalistas vira-casacas esperam o quê do governo? Um emprego, verbas disfarçadas de “projetos”, contratos para um cargo na burocracia? 

Certas metamorfoses são tão brutais que por vezes me obrigam a sair do usual costumeiro — que é debater ideias, não posturas pessoais — para descer na arena. Não que eu goste, mas a adesão a seres asquerosos me impacta profundamente.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 10/01/2021


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