quarta-feira, 24 de novembro de 2021

América Latina na Política Internacional da China - Seminario do LACID, 24 e 25/11/2021

Seria a AL o novo quintal da China, como já foi da Europa no século XIX, e dos Estados Unidos no século XX? Pode ser...

Mas, o lado patético da relação China-AL é que os EUA, dando continuidade a paranoica política da "armadilha de Tucídides" das administrações, sob Biden continuam tentando colocar a China no antigo papel da finada URSS dos tempos da primeira Guerra Fria geopolítica dos anos 1947-1991, numa deformação inacreditável das novas realidades, a serem deformadas pela postura adotada no contexto da chamada nova Guerra Fria Econômica no século XXI. 

Por acaso saiu agora o novo livro de Vargas Llosa, Tiempos Duros (Harsh Times), sobre o primeiro golpe da CIA na região, contra os governos de Arevalo e de Arbenz na Guatemala, realizado em 1954, a pretexto de "ameaça soviética" (na verdade contra os interesses da United Fruit em toda a América Central). No caso do Brasil não precisaram inventar nenhum novo pretexto, pois o governo dos novos bárbaros sempre tentou ser subserviente aos interesses americanos, especialmente ao presidente Trump (caso do 5G, por exemplo), o que foi por enquanto neutralizado por setores mais sensatos da economia e da política.

 Paulo Roberto de Almeida

Seminário importante...

Com o intuito de refletir sobre as relações entre a China e a América Latina no cenário contemporâneo, sobre a atuação chinesa na América Latina e sobre de que maneira essa estratégia se insere nas grandes disputas globais atuais, o Laboratório de Financiamento e Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (LACID)  organizará o seminário “América Latina na Política Internacional da China” nos dias 24 e 25 de novembro.

O evento contará com uma mesa de abertura e quatro mesas-redondas de debates em torno das temáticas apresentadas, confira a programação detalhada:


Inscrições, dia 24: Inscrições | 24/Nov.



dia 25: Inscrições | 25/Nov.


terça-feira, 23 de novembro de 2021

A geopolítica para a energia renovável - Rubens Barbosa (OESP)

A GEOPOLÍTICA PARA A ENERGIA RENOVÁVEL

 

Rubens Barbosa

O Estado de S. Paulo, 23/11/2021

A Declaração de Glasgow sobre o uso da terra e das florestas, firmada por 105 países, inclusive o Brasil, enfatizou a interdependência de todos os tipos de florestas, biodiversidade e uso sustentável da terra para permitir que o mundo consiga atingir os objetivos de desenvolvimento e mudança de clima. Os países reafirmaram o compromisso do uso sustentável da terra e da conservação, proteção, manejo das florestas e reflorestamento. Para tanto, todos reconheceram que será necessária uma ação mais vigorosa entre as áreas interconectadas de produção sustentável e consumo; infraestrutura; desenvolvimento; comércio; finanças e investimento, além de apoio aos pequenos produtores, povos indígenas e as comunidades locais, que dependem da floresta para seu sustento e a tem um papel chave na sua preservação. Os países assumiram um firme compromisso de trabalhar coletivamente para alterar e reverter a destruição das florestas e a degradação da terra até 2030.

A declaração de Glasgow, combinada com a dos líderes do G-20, e com os resultados da COP26, apesar de abaixo do esperado, trará implicações geopolíticas na transição para a contenção do aquecimento global. A transição climática vai gerar mudanças globais significativas que deverão conformar uma nova estrutura de poder internacional e de governança global nas próximas décadas.

Vale ressaltar dois aspectos dessa geopolítica: a corrida em busca de fontes renováveis, que, nessa nova fase, vai consolidar os novos países hegemônicos e a cooperação internacional entre as nações.

A corrida dos países para tornar-se uma superpotência renovável trará como consequência o surgimento de vencedores e perdedores. A mudança para as energias renováveis deverá democratizar os sistemas energéticos, mas também vai colocar um encargo adicional nas nações em desenvolvimento mais pobres que dependem de exportações tradicionais e/ou não tem recursos para investir na transição climática. Por outro lado, as nações mais ricas, exportadoras de petróleo e que possuem capacidade de liderar a transformação climática com tecnologia verde, poderão mais facilmente se beneficiar financeiramente e superar os custos sociais decorrentes da mudança. A China, que controla grande parte da tecnologia e das matérias primas necessárias para a produção de energia renovável, terá vantagens econômicas e geopolíticas na mudança para as fontes de energia renovável, o que deverá acelerar sua consolidação como uma superpotência global. Os desafios que poderão surgir pelos desníveis da produção energética ficaram evidentes na recente crise do gás e o carvão, demonstrando que os países devem invistir mais nas suas próprias capacidades de energia renovável a fim de proteger-se e aumentar sua própria resiliência. Os desafios imediatos que a crise apresenta podem adiar os avanços já conseguidos nas ações climáticas, como se viu na impossibilidade de compromisso para eliminar o consumo de carvão pela Índia e China.

A natureza global das questões de mudança de clima demanda ampla cooperação dos EUA, Europa, Rússia e China, além dos demais países desenvolvidos e em desenvolvimento em torno desta agenda. Será um desafio para o multilateralismo porque requererá a priorização de ações coletivas sobre necessidades domésticas imediatas e uma dinâmica geopolítica mais ampla para produzir soluções conjuntas em vista de desafios comuns. O futuro da cooperação internacional tem de ver com as possibilidades dessa cooperação na transição climática e na perspectiva de resultados concretos. Apesar dos compromissos assumidos pelos EUA e pela China em comunicado ao final do encontro de Glasgow para cooperação nas ações de mudança do clima, a ausência do presidente chinês Xi Jinping da COP26 sugere a existência de limitações significativas para as oportunidades de cooperação dos países ocidentais com a China na mudança de clima. Mesmo quando a China se prepara para assumir um papel de relevo na mudança de clima e quer ser vista como um país líder nessas questões, ela continua cautelosa, evitando engajar-se em compromissos proativos com os EUA e a Europa, especialmente quando isso pode ser visto como uma concessão ao que considera como objetivos centrais ocidentais. A dificuldade de cooperação deriva, entre outros fatores, da crescente tensão entre países desenvolvidos e em desenvolvimento no tocante ao financiamento necessário para apoiar as economias mais frágeis para adotar políticas mais radicais. O G-20 reafirmou o compromisso de recursos muito inferiores aos US$100 bilhões prometidos em 2015.

No contexto geopolítico, o Brasil poderia e deve ter um lugar de realce, recuperando sua credibilidade e se afirmando como uma superpotência renovável. A matriz energética é limpa e as emissões de CO2 e de metano derivam basicamente dos ilícitos na Amazônia e do setor pecuário. O mercado de carbono poderá trazer grandes recursos ao Brasil. A meta de 2030 de redução do desmatamento poderá ser alcançada com a mudança da política ambiental e com a repressão e a fiscalização dos ilícitos na Amazônia. Os compromissos assumidos na COP26 pelo governo brasileiro devem ser cumpridos, com a apresentação de resultados concretos.

Rubens Barbosa, presidente do IRICE e membro da Academia Paulista de Letras.


segunda-feira, 22 de novembro de 2021

O antiamericano que não foi: os Estados Unidos na obra de Oliveira Lima - Nathalia Henrich (EdPUC-RS)


O antiamericano que não foi: os Estados Unidos na obra de Oliveira Lima

 Nathalia Henrich

Porto Alegre: Editora da PUC do RS, 2021, 456 p.; https://editora.pucrs.br/livro/1504/

(em breve) 

Intelectual prolífico e figura rodeada por polêmicas, o diplomata-historiador Manoel de Oliveira Lima (1867-1928) é ainda pouco estudado, a despeito da sua relevância no Brasil do seu tempo e do prestígio conquistado no exterior. Entre os vários rótulos que lhe foram atribuídos, o de antiamericano, frequentemente utilizado como sinônimo de anti-imperialista, é um dos mais duradouros e vem pautando a maioria das análises sobre sua obra. A contextualização de suas ideias, bem como a reconstituição do debate entre seus contemporâneos, aliadas à ampliação das fontes analisadas oferecem, no entanto, um panorama mais complexo que refuta essa categorização. Através de minuciosa pesquisa bibliográfica e documental em arquivos e bibliotecas brasileiras e estrangeiras, a autora mergulhou na vida e na obra de Oliveira Lima para responder à pergunta: afinal, Oliveira Lima foi realmente antiamericano?


France: Diplomates, un corps en voie de disparition - Jean-Dominique Merchet (L'Opinion)

Diplomates, un corps en voie de disparition

Par Jean-Dominique Merchet

L’Opinion, 22/11/21 

https://www.lopinion.fr/international/diplomates-un-corps-en-voie-de-disparition


Voulue par Emmanuel Macron, la réforme de la haute fonction publique va aboutir à la suppression du corps diplomatique. Au risque d’une perte d’influence de la France dans le monde

« Les réceptions de l’ambassadeur »... Une célèbre publicité pour des confiseries chocolatées a, dans le grand public, fait beaucoup de mal à l’image du métier de diplomate, perçu comme une sympathique activité mondaine. C’est dire si la suppression annoncée du corps diplomatique français ne suscite guère d'émois au-delà du Quai d’Orsay. Il y va pourtant de l’influence de la France dans le monde, « alors que les grandes heures de notre diplomatie sont quasiment déjà derrière nous ». « Que sera une diplomatie sans diplomates ? » se demandaient récemment 150 d’entre eux, en activité, dans Le Monde.

Ce lundi 22 novembre, la réforme de la haute fonction publique sera discutée avec les syndicats lors d’un Comité technique ministériel (CTM) des Affaires étrangères. Le ministre Jean-Yves Le Drian y prendra la parole, dans une situation difficile pour lui. Il a dû en effet avaler son chapeau comme il le reconnaît dans un courrier adressé le 9 novembre à tout le personnel : « Ce n'était pas ma vision. » Mais Emmanuel Macron a tranché et le « malaise » est évident au sein du corps diplomatique, selon l’universitaire Christian Lequesne, auteur d’une Ethnographie du Quai d’Orsay (CNRS Editions).

« Traditionnellement, les diplomates vivent en symbiose avec leur ministre et ils ont donc fait confiance à Le Drian pour préserver leur corps », relève un diplomate. C’est raté, même si le ministre ne manquera pas de rappeler lors du CTM que sa « vigilance ne faiblira pas ». « Il a tout fait pour éviter cette réforme, qui jettera une ombre sur son bilan », pointe un ambassadeur. Jean-Yves Le Drian préfère se réjouir « d’avoir obtenu la fin de l’hémorragie des ressources humaines et des moyens » budgétaires d’un ministère qui a beaucoup souffert depuis plusieurs décennies.

Continuité. Comme les préfets, les diplomates sont les victimes collatérales de la décision du président de la République, le 8 avril dernier, de réformer la haute fonction publique. L’annonce la plus spectaculaire était la suppression de l’ENA, promise durant la crise des Gilets jaunes, au profit d’un nouvel INSP (Institut national du service public), qui verra le jour le 1er janvier 2022. L’ensemble de la réforme est piloté par Amélie de Montchalin, ministre de la Transformation et de la Fonction publiques. L’un des axes principaux est de fusionner toutes les catégories (dites A+ en langage administratif) au sein d’un nouveau corps des Administrateurs de l’Etat, soit 12 000 hauts fonctionnaires toutes administrations confondues.

« Il ne faut pas confondre le corps et le métier », plaide-t-on dans l’entourage de la ministre Amélie de Montchalin

Qu’en est-il pour le Quai d’Orsay ? Sur ces 13 600 agents, seuls 1800 sont des « diplomates ». Ils se répartissent en trois grades : secrétaire des affaires étrangères (900), conseiller des affaires étrangères (800) et ministre plénipotentiaire (100), selon les chiffres fournis par le Quai. Seules les deux dernières catégories, les plus élevées en grade (A+), sont directement concernées par une « mise en extinction », soit moins d’un millier de personnes. Elles devraient donc être fondues au sein du corps des Administrateurs de l’Etat, comme le seront la préfectorale ou les différentes Inspections générales.

« Les diplomates sont attachés à leur spécificité. Ils sont des bureaucrates qui ne veulent pas être reconnus comme tels », note l’universitaire Christian Lesquesne. « Il ne faut pas confondre le corps et le métier », plaide-t-on dans l’entourage de la ministre Amélie de Montchalin. « On ne sera pas nommé sous-préfet dans le Larzac alors qu’on parle swahili ! », même s’il y aura deux périodes obligatoires de mobilité (vers une autre administration) durant la carrière. Au ministère de la Fonction publique, on sent un certain agacement face aux « fake news » diffusées par des « diplomates à la retraite, consultants ou chroniqueurs »... La réforme voulue par le président Macron entend se placer dans la continuité de la création de l’ENA par le général De Gaulle en 1945, qui mettait fin au recrutement des hauts fonctionnaires ministère par ministère.

Les Affaires étrangères conservaient néanmoins une certaine spécificité, avec le « concours du Cadre d’Orient », qui sera préservé dans la réforme en cours. Préparé aux Langues O’, il s’adresse à des spécialistes de langues et civilisations étrangères, comme le chinois, l’arabe ou le russe. La réussite à ce concours (externe ou interne) garantit une carrière au Quai d’Orsay. Les places sont rares : en 2020, 18 pour le niveau de « secrétaire » et sept pour celui de « conseiller ». Seuls ces derniers (A+) ont la perspective de devenir ambassadeurs. L’autre voie d’accès au corps diplomatique était l’ENA, mais à condition d’avoir un bon classement de sortie, avec seulement cinq postes offerts cette année. « Lorsque j’en suis sorti à la fin des années 70, c'était 12 ou 13 places par an », témoigne un retraité.

Récompense. « Serons-nous le seul pays à se priver d’un corps diplomatique ? » se demande Pierre Sellal, ancien secrétaire général du Quai d’Orsay. « A Bruxelles, nous sommes parvenus à créer un corps distinct de celui des fonctionnaires de la Commission pour le Service européen pour l’action extérieure (SAEA) et nous faisons maintenant le contraire à Paris », regrette l’ancien ambassadeur, qui voit dans cette réforme « la négation ostentatoire d’un métier ». Cette réforme est un « acte d’automutilation » s’insurge Olivier da Silva, diplomate engagé à la CFDT. « Nous craignons la disparition de la filière du corps diplomatique. C’est risqué car notre métier, comme tant d’autres, ne se pratique pas par intermittence. » Même ton chez Sylvie Bermann, ancienne ambassadrice à Pékin, Londres et Moscou : « Nous exerçons un vrai métier qui s’apprend au fil des postes. » Un métier de représentation, mais surtout de négociations et d’animation d'équipes interministérielles dans les ambassades, où les grandes administrations sont représentées.

Tous les professionnels insistent sur l’importance de la reconnaissance par les pairs étrangers : « Lorsque j'étais à Londres, le Foreign Office avait fait un travail interne pour déterminer quel était le meilleur corps diplomatique étranger. Il nous avait désignés et l’on aurait sans doute dit la même chose d’eux. Le contre-exemple, c’est le Département d’Etat américain. Il n’attire pas les meilleurs, faute de proposer les postes les plus importants aux diplomates de métier », constate Sylvie Bermann. Aux Etats-Unis, des postes prestigieux, comme celui d’ambassadeur en France, sont systématiquement attribués comme récompense à des personnalités qui ont financé la campagne du président élu.

« Les politiques veulent toujours pouvoir nommer des gens sans s’embarrasser des règles administratives »

La tentation existe en France, comme ailleurs. Un ambassadeur étranger à Paris nous le dit : « Les politiques veulent toujours pouvoir nommer des gens sans s’embarrasser des règles administratives. »

En 2018, Emmanuel Macron avait ainsi voulu nommer l'écrivain Philippe Besson consul général à Los Angeles, pour le remercier de son soutien et de son livre Un personnage de roman (Julliard). Un recours du syndicat CFDT du Quai d’Orsay devant le Conseil d’Etat a fait échec ce projet. En France, le président de la République peut cependant nommer qui il souhaite à un poste d’ambassadeur – sauf les fonctionnaires pas assez hauts dans la hiérarchie. Certains journalistes l’ont été.

La « Carrière », comme on dit au Quai, s’inscrit dans la durée : « Si vous voulez convaincre un jeune de partir comme numéro 2 au Vanuatu, il faut qu’il ait la perspective de terminer ambassadeur à Pékin », explique Pierre Sellal, alors qu’une jeune ambassadrice ajoute : « Avec les gens venant d’ailleurs, on aura plus de candidats pour Rome ou Bruxelles que pour Kaboul...


André Heráclio do Rego, diplomata e historiador lança dois livros de e sobre o historiador diplomata Manuel de Oliveira Lima: CCBB, Brasília, dia 2/12, 19s

 Meu amigo e colega de carreira André Heráclio do Rêgo tem a satisfação de convidar-nos para o lançamento presencial, no CCBB Brasília, no próximo dia 2 de dezembro, às 19 horas, de dois livros que ele organizou em torno da obra do grande diplomata e historiador Manuel de Oliveira Lima. 

Um dos livros é Oliveira Lima e a longa história da Independência, que ele organizou com a colaboração de Lucia Maria Bastos P. Neves e Lucia Maria Paschoal Guimarães, e que conta com um capítulo meu: “Um “imenso Portugal”? A hipótese de um império luso-brasileiro no contexto internacional do início do século XIX”. 

A segunda obra, O descobrimento do Brasil e outros ensaios, reúne diversos ensaios sobre a visão de Oliveira Lima sobre a História do Brasil e traz à luz textos pouco conhecidos, alguns deles somente agora republicados. O evento insere-se no contexto das comemorações do Bicentenário da Independência. 



Eleições 2022: entrevista de Lula ao El País (21/11/2021)

 Como fiz com o discurso de Bolsonaro na AGNU deste ano, pretendo comentar esta entrevista de Lula ao jornal espanhol El País, apontando suas muitas mentiras, distorções e bravatas.

No momento apenas registro a matéria na minha série de materiais sobre as eleições presidenciais de 2022.

 

El País, Madri – 21.11.2021

Lula: “Tengo que volver para recuperar el prestigio de Brasil”

El expresidente brasileño Luiz Inácio Lula da Silva, de gira por Europa, reivindica que su país puede estar de vuelta en la escena internacional a partir de las elecciones del próximo año

Pepa Bueno y Lucía Abellán

 

Entra como un ciclón en la sala donde hacemos la entrevista. A lo largo de la conversación, el expresidente brasileño Luiz Inácio Lula da Silva repite varias veces su edad, 76 años, —una edad a la que un hombre no puede odiar, nos dirá—, pero asegura encontrarse con la energía de alguien mucho más joven. Y de hecho, viene de una jornada agotadora en Madrid y de una agotadora gira por Europa que le ha llevado a Bruselas y a París. Pese a todo ese ajetreo, responde desde la primera pregunta con la pasión de quien quiere proclamar al mundo que Brasil puede estar de vuelta en la escena internacional a partir de las elecciones que se celebran el año próximo. Ese es el mensaje que quiere transmitir en su visita europea: Brasil no es Bolsonaro.

 

Pregunta. Le hemos visto en su gira europea muy enérgico, con muchas ganas de política.

Respuesta. Eso es lo que siento. Cuando yo dejé la presidencia en 2010, Brasil estaba en una situación de crecimiento económico y de respetabilidad. Hoy está en quiebra. Tenemos más desempleo e inflación. Y el hambre que había acabado en Brasil en 2014 volvió con mucha fuerza. Brasil era un protagonista internacional. Y todo se desmanteló. ¿En nombre de qué? En nombre de apagar la imagen de Lula, de apagar la imagen del Partido de los Trabajadores (PT). Por lo tanto, yo tengo mucha disposición para hacer política. Mi causa es la lucha contra la inequidad en Brasil y en el mundo. No puedo admitir que el mundo produzca más alimentos de los que la humanidad puede comer y que tengamos 800 millones de personas con hambre en el mundo. Ni que en Brasil, que es el tercer productor de alimentos del mundo, la gente esté pasando hambre. Quiero aprovechar, mientras Dios me dé vida, mientras tenga energía, fuerza en mi garganta y en mis piernas, para luchar por un mundo más humano en el que todos tengan lo elemental. Eso me da ganas de pelear, me hace ser joven. Parece que tengo 76 años, pero tengo la energía de los 30 años. El mundo no puede seguir así. Por eso tengo ganas de hacer política.

P. ¿Y por qué se resiste a confirmar que va a ser candidato en las elecciones de Brasil?

RYo puedo ser candidato. Trabajo para ser candidato. Pero no depende de una voluntad personal, no depende de mí. Yo tengo que construir con otra gente y con otros partidos un programa para Brasil. Tengo que hacer una alianza, porque lo importante no es solamente ganar las elecciones, es poder gobernar. Tengo una responsabilidad doble. Porque todas las encuestas demuestran que mi Gobierno está considerado el mejor que hubo en Brasil. Ha sido el mejor momento de inclusión social, de universidades, de aumentos de empleo y sueldo. Los pobres y más humildes también conquistaron la ciudadanía. Si yo vuelvo a la presidencia, no puedo hacer menos de lo que hice. Por eso tengo miedo. No puedo volver para hacer cualquier cosa, sino para que Brasil pueda recuperarse. No puedo fracasar. Tengo que volver para recuperar el prestigio internacional de Brasil y que el pueblo pueda comer tres veces al día.

P. ¿Cuál sería la versión 2021 del programa Hambre Cero con el que sacó de la pobreza a millones de brasileños?

R. Me parece que hoy tendríamos que perfeccionar ese programa. Nosotros hicimos un conjunto de políticas públicas y en 2018, Brasil llegó a ser la sexta economía mundial. Hoy es la decimotercera. Caminamos hacia atrás. Se destruyó la empresa de ingeniería, las empresas de agua y gas, la industria naval. Dejamos de ser un sueño para los inversores extranjeros y empezamos a ser una pesadilla. Los empresarios españoles saben de qué hablo porque España es el segundo inversor de Brasil. Y son siempre bienvenidos. Brasil puede ser mejor, no es el Gobierno actual. El Gobierno actual, de hecho, no representa el alma del pueblo brasileño.

Lula da Silva posa tras la entrevista en el hotel Wellington, en la madrileña calle Velázquez.Luis Sevillano

P. Usted hace un retrato demoledor del Brasil que deja Bolsonaro. Pero los brasileños lo votaron. ¿Por qué cree que lo hicieron?

R. Vivimos un momento de anomalía en la política mundial. El votante brasileño votó a Bolsonaro por las mismas razones que el votante americano votó a Trump. Ha sido un momento de desajuste emocional de una parte de la humanidad. Como con Vox aquí. Ha ocurrido en todo el mundo. La mentira prevalece sobre la verdad. Bolsonaro es mentiroso, no comprende la economía, no entiende los problemas sociales. Si yo no estuviera vinculado al movimiento sindical, a la sociedad más pobre de Brasil, si el PT no hubiese sido un partido organizado, me hubiesen destruido. He sido arrestado. Pero estoy aquí, con la cabeza erguida, con la misma disposición, porque, como soy católico, como creo en Dios, me parece que lo que pasó conmigo fue un test que Dios estaba haciendo, y tuve que probarle que yo estaba listo para enfrentar la adversidad.

P. ¿No tiene entonces sensación de venganza ni resquemor después de las experiencias que ha vivido?

R. Nadie puede querer gobernar para vengarse. Mi obligación es intentar resolver los problemas del pueblo brasileño. Quiero contarles una cosa. Yo comí pan por primera vez cuando tenía siete años. Mi madre salió de Pernambuco, caminamos, fuimos en camión durante 13 días, cruzamos 2.000 kilómetros hasta São Paulo para intentar vencer el hambre y logré vencer el hambre. La única razón por la cual puedo ser candidato y agradezco a Dios estar vivo y con salud es porque tengo la conciencia de que yo puedo ayudar al pueblo pobre de Brasil. Puedo ayudar a que trabaje, coma y vaya a la universidad. Ya lo hicimos.

He aprendido que un poco de dinero en la mano de muchos hace milagros. Cuando le das 10 euros a un pobre y le das 1.000 a un rico, los 1.000 irán a una cuenta bancaria, a especular. El pobre va a comer, va a comprar zapatos, ropa, un cuaderno, y la economía empieza a funcionar. Ese ha sido el milagro brasileño.

P. ¿Cree que la derrota de Trump marca una fase descendente de los fenómenos populistas en el mundo o aún tienen recorrido?

R. El populismo y el radicalismo de derechas o fascismo no están en fase descendente. Están cada vez más agresivos y crecen en varios sitios.

P. Esta semana el Barómetro de las Américas ofrecía un dato preocupante: uno de cada cuatro ciudadanos americanos considera que la democracia no es el mejor sistema de gobierno posible. ¿En qué está fallando la democracia a esos ciudadanos que dudan del sistema y que optan por este tipo de formaciones trumpistas?

R. Los demócratas necesitan aprender que la democracia es una cosa seria. El pueblo no quiere una democracia para gritar que está desempleado, quiere trabajo. No quiere democracia para gritar que está con hambre, quiere comer. Al pueblo no le gusta la democracia para decir que no hay posibilidades de estudiar, lo que necesita es estudiar. Y la democracia necesita garantizar esos derechos. En realidad, la democracia ha fallado en muchos lugares. En Estados Unidos, desde 1980, cuando se decidió aplicar el Consenso de Washington, los trabajadores empezaron a perder derechos. Luego Trump ganó las elecciones porque muchos electores ya no creían en el discurso de los demócratas. Necesitamos cumplir aquello a lo que nos comprometimos con el pueblo.

P. Con un Brasil en crecimiento anémico, la inflación al alza, una deuda pública del 80%, ¿cómo se puede redistribuir riqueza ahora, en el mundo pospandemia?

R. Cuando la Unión Europea crea, de manera muy valiente, un fondo de 750.000 millones de euros, cuando en EE UU el presidente Biden aprueba planes de billones de dólares significa que nosotros tenemos una oportunidad para resolver los problemas del país. Si es necesario, el Estado tiene que ser el inductor de ese movimiento, tiene que poner el dinero para que la economía crezca. En la crisis de 2008 lo hicimos. El problema es que a los pobres no se les toma en serio en la gran mayoría de los países. Se los trata como si no valieran nada.

P. ¿Y para poder hacerlo se aliaría con el centro derecha?

R. Vemos alianzas entre partidos en España, en Alemania… Lo ideal sería que mi partido ganara las elecciones y tuviera mayoría. Pero si no es posible hay que negociar y conseguir gobernar. La política es así. Negociamos con la gente que ha sido elegida.

P. ¿Cómo cree que puede interferir la desinformación en la campaña electoral?

R. Estamos preocupados porque existe una industria, a veces financiada desde fuera de Brasil, contando mentiras al pueblo brasileño. Pero no es fácil mentir contra mí. Si yo decido ser candidato, intentaré hacer una campaña para que el pueblo brasileño no acepte mentiras, que sepa quién dice la verdad.

P. Todas las encuestas lo sitúan en cabeza y sin embargo eso no le ha librado del odio, ni a usted ni a su partido. ¿Teme por su seguridad?

R. Soy un hombre católico. Soy un hombre que cree que solo ha llegado donde ha llegado porque estaba la mano de Dios encima. Confieso que no quiero morir. Quiero vivir bien, estar siempre feliz, despertarme todos los días riendo. Obviamente sé que tengo que cuidarme. Hace 30 años que no como en un restaurante, no he ido nunca a un centro comercial, no entro en bares. Mi vida es mi casa y mi trabajo. Siempre voy con mucho cuidado para protegerme.

P. ¿Qué ha aprendido el ser humano Lula de la experiencia dramática que ha vivido, de los procesos judiciales y la cárcel?

R. Tomé la decisión de ir a prisión cuando muchos me decían que debía salir de Brasil. Yo no quise. Tenía tanta conciencia de mi inocencia, tanta seguridad de que el juez Moro y los procuradores habían formado una cuadrilla político-económica para destruirme, que decidí ir a la policía para probar mi inocencia. Y creo que lo conseguí. Fui a la cárcel, leí mucho, reflexioné y pensé: “No puedo salir de aquí con rabia. Tengo que salir más maduro, más consciente, más preparado”. Yo decía la verdad y ellos estaban mintiendo.

P. El juez Sérgio Moro, que lo encarceló y de quien después el Tribunal Supremo dijo que no había sido imparcial con usted, concurrirá también a las elecciones de 2022. ¿Qué impresión le provoca competir con él?

R. No estoy preocupado. Él es el que tiene que estar preocupado. Sin la protección de la toga de juez y sin la protección del Código Penal, será candidato como yo, como ciudadano. Y en ese caso, es mucho más fácil.

P. Hablemos de Latinoamérica y, en concreto, de países que experimentan deterioros democráticos. En el caso de Nicaragua, que ha tenido unas elecciones recientes no reconocidas por la comunidad internacional, ¿cuál es su diagnóstico?

R. Cuando goberné intentaron convencerme de que fuera a un tercer mandato y yo dije que no porque soy favorable a la alternancia en el poder. Dije en una entrevista que todo político que empieza a creer que es imprescindible o insustituible empieza a transformarse en un pequeño dictador. Yo he estado en contra de Daniel Ortega. El Frente Sandinista tiene mucha gente para ser candidato. También estuve en contra de Evo Morales, que ya había hecho dos mandatos extraordinarios. Y lo mismo con Chávez. Puedo estar en contra, pero no interferir en las decisiones de un pueblo. ¿Por qué Angela Merkel puede estar 16 años en el poder y Ortega no? ¿Por qué Margaret Thatcher puede estar 12 años en el poder y Chávez no? ¿Por qué Felipe González puede quedarse 14 años en el poder?

P. Pero ni Merkel ni González encarcelaban a sus opositores.

R. No puedo juzgar lo que ha pasado en Nicaragua. Si Ortega detiene a los líderes de la oposición para que no se presenten en las elecciones, igual que hicieron contra mí, está completamente equivocado. En Venezuela espero que si gana Maduro [en las elecciones regionales y locales que se celebran hoy] acepte el resultado, y si pierde también.

P. Otro caso de limitación de derechos en América Latina ha sido la prohibición de manifestaciones esta misma semana en Cuba.

R. Estas cosas no pasan solo en Cuba, sino en el mundo entero. La policía pega a mucha gente, es violenta. Es curioso porque nos quejamos de que una decisión evitó las protestas en Cuba, pero no nos quejamos de que los cubanos tenían la vacuna y no tenían jeringas, y los americanos no permitían la entrada de jeringas. Yo creo que los demás tienen el derecho de protestar, igual que en Brasil. Pero necesitamos dejar de condenar a Cuba y condenar un poco más el bloqueo de Estados Unidos.

P. Pero, presidente Lula, se pueden hacer las dos cosas: condenar el bloqueo y pedir libertad en la calle para los opositores.

R. ¿Quién decide la libertad de Cuba sino el pueblo cubano? No se va a resolver el problema de la democracia en Cuba instigando a los opositores a crear problemas para el Gobierno. Se conquistará cuando termine el bloqueo.

P. Vemos en todo el mundo, particularmente en América Latina, la vitalidad del movimiento feminista. ¿Qué prioridad le daría usted, si volviera a gobernar Brasil, a la igualdad de género?

R. El PT tiene igualdad de género en la dirección del partido y en los candidatos parlamentarios. Las mujeres ocupan un espacio extraordinario en el trabajo, en la política, pero esa conquista no se vio acompañada de la participación de los hombres en el trabajo doméstico. Y van a conquistar cada vez más espacio porque son mayoría. Quizás el mundo será más justo si las mujeres ejercen el poder. Pero aún prevalece el machismo en muchos lugares. Es cuestión de tiempo.

 

 

Os EUA estão ficando latino-americanizados? - David Brooks (NYT)

 Não me digam!

Depois de um século e meio de avanços espetaculares à frente dos atrasados hermanos hemisféricos south of Rio Grande, os EUA estariam, incrivelmente, ficando mais “latino-americanos”, na desigualdade social, na corrupção política, na violência policial e na deterioração geral das condições de vida?

Até onde vai esse declínio?

Paulo Roberto de Almeida


Joe Biden Is Succeeding [???]

David Brooks

The New York Times, 20.11.2021


Joe Biden came to the White House at a pivotal moment in American history. We had become a country dividing into two nations, one highly educated and affluent and the other left behind. The economic gaps further inflamed cultural and social gaps, creating an atmosphere of intense polarization, cultural hostility, alienation, bitterness and resentment.

As president, Biden had mostly economic levers to try to bridge this cold civil war. He championed three gigantic pieces of legislation to create a more equal, more just and more united society: the Covid stimulus bill, the infrastructure bill and what became Build Back Better, to invest in human infrastructure.

All of these bills were written to funnel money to the parts of the country that were less educated, less affluent, left behind. Adam Hersh, a visiting economist at the Economic Policy Institute, projects that more than 80 percent of the new jobs created by the infrastructure plan will not require a college degree.

These gigantic proposals were bold endeavors. Some thought them too bold. Economist Larry Summers thought the stimulus package, for example, was too big. It could overstimulate the economy and lead to inflation.

Larry is one of the most intelligent people I’ve ever known and someone I really admire. If I were an economist, I might have agreed with him. But I’m a journalist with a sociological bent. For over a decade I have been covering a country that was economically, socially and morally coming apart. I figured one way to reverse that was to turbocharge the economy and create white-hot labor markets that would lift wages at the bottom. If inflation was a byproduct, so be it. The trade-off is worth it to prevent a national rupture.

The Biden $1.9 trillion stimulus package passed and has been tremendously successful. It heated the overall economy. The Conference Board projects that real G.D.P. growth will be about 5 percent this quarter. The unemployment rate is falling. Retail sales are surging. About two-thirds of Americans feel their household’s financial situation is good.

But the best part is that the benefits are flowing to those down the educational and income ladder. In just the first month of payments, the expanded Child Tax Credit piece of the stimulus bill kept three million American children out of poverty. Pay for hourly workers in the leisure and hospitality sector jumped 13 percent in August compared with the previous year. By June, there were more nonfarm job openings than there had been at any time in American history. Workers have tremendous power these days.

The infrastructure bill Biden just signed will boost American productivity for years to come. As Ellen Zentner of Morgan Stanley told The Economist recently, it’s a rule of thumb that an extra $100 billion in annual infrastructure spending could increase growth by roughly a tenth of a percentage point — which is significant in an economy the size of ours. Federal infrastructure spending will be almost as large a share of annual GDP as the average level during Franklin Roosevelt’s New Deal.

But Summers was right. The stimulus — along with all the supply chain and labor shortage disruptions that are inevitable when coming out of a pandemic — has boosted inflation. In addition, Americans are exhausted by a pandemic that seems to never end.

And they are taking it out on Democrats. A recent ABC News/Washington Post poll revealed that voters now prefer Republican congressional candidates in their own districts by 51 percent to 41 percent. That’s the largest G.O.P. lead since this poll started asking the question, 40 years ago.

If presidencies were judged by short-term popularity, the Biden effort would look pretty bad. But that’s a terrible measure. First-term presidents almost always see their party get hammered in the midterm after their inauguration. That’s especially true if the president achieved big things. Michigan State political scientist Matt Grossmann looked at House popular vote trends since 1953. Often when presidents succeeded in passing major legislation — Republicans as well as Democrats — voters swung against the president’s party. Look, just to take a recent example, at how Obamacare preceded a Democratic shellacking in 2010. People distrust change. Success mobilizes opposition. It’s often only in retrospect that these policies become popular and even sacred.

Presidents are judged by history, not the distraction and exhaustion of the moment. Did the person in the Oval Office address the core problem of the moment? The Biden administration passes that test. Sure, there have been failures — the shameful Afghanistan withdrawal, failing to renounce the excesses of the cultural left. But this administration will be judged by whether it reduced inequality, spread opportunity, created the material basis for greater national unity.

It is doing that.

My fear is not that Democrats lose the midterms — it will have totally been worth it. My fear is that Democrats in Congress will make fantastic policies like the expanded Child Tax Credit temporary to make budget numbers look good. If they do that the coming Republican majorities will simply let these policies expire.

If that happens then all this will have been in vain. The Democrats will have squandered what has truly been a set of historic accomplishments. Voters may judge Democrats harshly next November, but if they act with strength history will judge them well.


Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...