segunda-feira, 21 de março de 2022

Desafios do agronegócio brasileiro no contexto da economia global: entrevista para o Instituto Brasileiro de Direito do Agronegócio - Paulo Roberto de Almeida

Meu trabalho mais recente, na verdade, simples notas para entrevista online, mas na qual desenvolverei outros temas oralmente: 

4108. “Desafios do agronegócio brasileiro no contexto da economia global”, Brasília, 18 março 2022, 6 p. Notas para entrevista online ao Instituto Brasileiro de Direito do Agronegócio, organizado pelo Centro de Estudos de São Gotardo (MG), focando as temáticas da política agrícola, comercial e internacional, assim como as conexões entre agricultura e desenvolvimento; via Youtube: www.cesg.edu.br; dia 21/03/2022; 19:30hs. Disponível em formato pdf na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/81728280/4108_Desafios_do_Agronegocio_Brasileiro_em_um_contexto_de_Economia_Global_2022_). Abaixo a transcrição de meu texto em Word: 

Desafios do agronegócio brasileiro no contexto da economia global

 

 

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com; pralmeida@me.com)

Notas para entrevista online ao Instituto Brasileiro de Direito do Agronegócio, organizado pelo Centro de Estudos de São Gotardo (MG), focando as temáticas da política agrícola, comercial e internacional, assim como as conexões entre agricultura e desenvolvimento; via Youtube: www.cesg.edu.br; dia 21/03/2022; 19:30hs.

 

 

1) É fato que o agronegócio brasileiro tem, em muito, se desenvolvido e atinge, hoje, patamar de principal sustentáculo da economia nacional, também, pouco temos dúvidas sobre a capacidade produtiva do país. Infelizmente, porém, às vezes no chocamos com preocupações quanto ao abastecimento de matérias-primas e insumos à produção. Nesse sentido, gostaria de saber, pela sua experiência, como entenderia que a política agrícola brasileira poderia e deveria ser melhor direcionada para mitigarmos esses gargalos?

 

PRA: Depois de quatro séculos sendo um país essencialmente agrícola, mas com base numa agricultura bastante atrasada em seus fundamentos tecnológicos, com pouca interação com os demais setores da economia brasileira e uma ainda mais baixa integração aos mercados mundiais, a agricultura começou a deslanchar a partir dos anos 1970, a partir de um duplo movimento determinado por políticas governamentais: a capacitação do capital humano, sobretudo por parte da Embrapa, mas também nas demais escolas agrícolas, e a conquista do cerrado central, feita tanto pela iniciativa dos novos bandeirantes – em grande medida gaúchos –, como por programas de adaptação daquele bioma à grande agricultura comercial e a uma pecuária extensiva. Não obstante o enorme crescimento da oferta agrícola e dos ganhos de produtividade obtidos desde então, o peso da agricultura também diminuiu na formação do PIB e na incorporação de mão de obra, pois que a indústria também dava um enorme salto a partir dessa época, convertendo esse setor no grande sustentáculo da economia nacional, em termos de emprego, renda e emprego, inclusive no plano do comércio exterior.

A deterioração econômica dos anos 1980 e 90, com a crise da dívida externa e, depois, a aceleração inflacionária subsequente a diversos planos frustrados de estabilização, resultou em profundas mudanças nas políticas macroeconômicas – a partir do Plano Real – e em diversas políticas setoriais, entre elas a agrícola, liberalizando o setor de vários controles e constrangimentos anteriores. A essa altura já tínhamos nos transformado num grande exportador de produtos agrícolas, mas ainda muito relutante no plano das negociações comerciais multilaterais, a despeito de nossa inserção no Grupo de Cairns, dos países exportadores de produtos agrícolas competitivos e não subvencionistas, como Canadá, Austrália e os latino-americanos, ao contrário dos Estados Unidos e da União Europeia (além de diversos outros países, como Japão, Coreia do Sul, Suíça e outros, entre eles a própria Índia e a China). Os ganhos de produtividade e a nova desenvoltura no plano global tornam o Brasil um megaplayer na oferta agrícola mundial, sobretudo depois do término da Rodada Uruguai de negociações comerciais multilaterais, que também aprovou um inédito Acordo Agrícola, que deu início ao desmantelamento gradual das subvenções internas à produção (mas ainda subsistentes) e os subsídios à exportação (progressivamente reduzidos). 

A partir dos anos 2000 o agronegócio se tornou não exatamente um sustentáculo da economia brasileira – os serviços representam 70% do total, mas o peso do conjunto do agronegócio na formação do PIB cresceu de forma exemplar, chegando a mais de 27% em 2021, enquanto a indústria reduzia, sim, sua participação no valor e no emprego –, mas ele se tornou o eixo central dos superávits comerciais e um fator absolutamente essencial na manutenção do equilíbrio das transações correntes, compensando praticamente totalmente o déficit crônico nos serviços do balanço de pagamentos. Ocorreu igualmente uma transformação estrutural no próprio setor agrícola, com cadeias de valor organizadas de forma relativamente satisfatória internamente, e a formação de um complexo agrícola-industrial e de serviços que compõe, sim, um eixo central de política econômica, e até de ganhos políticos e eleitorais, que jamais havia sido tão relevante desde quando o Brasil começou a se industrializar de forma consistente 80 anos atrás. Com a diminuição relativa do peso da indústria no PIB e no comércio exterior, o Brasil voltou a ser um país essencialmente agrícola, como até os anos 1950, mas dotado de um peso, complexidade e modernidade produtiva totalmente moderna e amplamente qualificado nos mercados agrícolas internacionais, ainda que prejudicado por várias deficiências de infraestrutura, de logística adequada e carente de uma necessária e proporcional sustentação financeira (capitalização e securitização) para nossa penetração ainda maior nos grandes mercados de insumos e na oferta de produtos processados, de maior sofisticação, aos consumidores (cortes finos, por exemplo). Ou seja, o Brasil tem um brilhante futuro pela frente no agronegócio.

A despeito desses enormes progressos na frente produtiva e na conquista de novos e prometedores mercados na frente do comércio agrícola, o setor do agronegócio, assim como o da agricultura familiar – grande parte da qual também participa das cadeias de valor do setor na oferta interna e também na grande agricultura comercial de exportação – enfrentam grandes problemas, que têm suas fontes no aprovisionamento interno inadequado de insumos (como os fertilizantes e defensivos) e também na baixa abertura econômica do setor às grandes cadeias de valor internacionais, o que está vinculado à política industrial, assim como a agrícola e comercial. Apesar de sermos um grande competidor externo – um killer como se diz, em quase todas as commodities agrícolas e nos vários ramos das proteínas animais –, somos ainda muito protecionistas internamente, em detrimento e no contexto do Mercosul, assim como em diversas interfaces da economia agrícola mundial. Nesse campo, precisamos acompanhar de forma mais próxima ainda as grandes mudanças que se processam nos mercados agrícolas, de consumo e de insumos, o que significa dispor de adidos agrícolas e de economistas e advogados especializados no setor, observar os debates que se processam na OMC (normas fitossanitárias-SPS, regulamentos aplicados ao setor), na OCDE (comércio agrícola), na FAO (segurança alimentar), Codex Alimentarius (ou seja, sanidade, ou safety), nas cadeias varejistas e nas grandes tradings de comercialização. 

 

2) Em um mercado mundialmente integrado, dificilmente conseguimos visualizar um desenvolvimento econômico de nações sem o apoio e a entrada de capital estrangeiro. Nesse sentido, como o senhor visualiza as atuais relações comerciais brasileiras e quais caminhos visualiza para uma fortificação do Brasil enquanto importante player no mercado agrícola internacional?

 

PRA: O Brasil foi, durante algum tempo, um grande exportador manufatureiro, tanto em produtos industrializados leves, quanto no setor automobilístico, por exemplo, mas, infelizmente, perdeu muito de sua competitividade externa nas manufaturas por erros grosseiros nas suas políticas macro e setoriais, o que praticamente deixou o agronegócio como o grande salvador do balanço de pagamentos. Alguns desses erros estão justamente vinculados a uma introversão no mercado interno dificilmente aceitável para qualquer economia moderna, na era da terceira onda de globalização. Mas o agronegócio apresenta igualmente uma introversão que não se justifica sob nenhum pretexto, inclusive chegando a certas medidas ridículas, como poder a limitação de terras brasileiras por estrangeiros, como se estes pudesse fazer outra coisa senão produzir no Brasil e exportar. 

O Brasil sempre foi um país extremamente protecionista, desde quando recuperamos a liberdade tarifária em 1844, e assim continuou durante o resto do Império e na República, quando uma Lei do Similar Nacional vigorou até os anos 1990. Desde essa época, nos governos Collor e FHC fizemos alguns progressos no caminho de maior abertura econômica e liberalização comercial, mas ainda insuficientes quando vistos em escala comparativa internacional, e mesmo na perspectiva do Mercosul, que se esperava fosse uma plataforma para a projeção externa do Brasil e dos seus sócios, assim como para a maior inserção do bloco na economia global. Mas, desde a era Lula, o Mercosul estagnou, foi transformado em palanque político e até retrocedeu, dadas as discordâncias entre os seus dois principais países com respeito aos acordos de livre comércio – com a União Europeia, por exemplo – ou às grandes iniciativas de liberalização ampliada, como o TPP e o RCEP. Olhando visualmente um mapa mundial das cadeias de valor – que se situam quase todas no Atlântico Norte e na Ásia Pacífico – vemos que o Brasil e o Mercosul participam muito pouco nesses eixos de produção integrada e de intercâmbios globais, e são eles que trazem crescimento econômico, prosperidade e desenvolvimento social. 

Olhando, por exemplo, a recente crise no abastecimento de fertilizantes, registramos vários apelos à conquista da autossuficiência no setor, o que além de impossível, no curto e médio prazo, seria ineficiente no plano puramente econômico. A solução está mais na busca de diversificação de provedores, quando na própria organização interna da produção agrícola, que pode tornar-se menos dependente desses insumos ao se adotar outras técnicas de gestão dos terrenos e dos modos de plantio. Os dois grandes choques do petróleo provocaram uma das revoluções tecnológicas mais relevantes do último meio século, que foi a redução do conteúdo em petróleo nos processos industriais. A agricultura, mediante pesquisas e adoção de outras técnicas, também deveria ser capaz de reduzir sua dependência do NPK; a grande agricultura comercial prefere importar, mas a pequena pode substituir esses compostos.

 

3) A União Europeia é um bloco econômico de relevante força internacional e, em muito, impacta as transações comerciais ao redor do mundo. Nesse sentido, como o senhor visualiza o impacto de restrições efetuadas – a exemplo, produtos brasileiros que utilizam fertilizantes ou agroquímicos – na economia brasileira? O senhor visualiza alguma saída para mitigação desses impactos ou utilização desses de forma favorável ao desenvolvimento econômico nacional?

 

PRA: A UE, segundo maior parceiro comercial do Brasil, possui uma tradição fortemente protecionista na área agrícola, introduzindo critérios nem sempre transparentes na regulação de sua política comercial. Um exemplo é o princípio da precaução, que costuma ser invocado sem qualquer embasamento científico, ou justamente por causa de evidências suficientes quanto à incorporação de hormônio, de agroquímicos ou até de OGMs nos alimentos, para justificar restrições abusivas às compras externas. O caso mais flagrante é justamente o da identificação componentes que já fizeram parte do arsenal produtivo ou defensivo, mas que passaram a ser substituídos por outros, com efeitos pouco conclusivos sobre a saúde humana. Esta é uma batalha que precisa ser vencida pela ciência, nos foros multilaterais apropriados, mas também pela via da elevação constante dos padrões internos de produção, no sentido de evitar a maior barreira ao comércio livre, bem mais do que as tarifas. Mas isso tem a ver também com a questão ambiental, como parece evidente a todos. 

Com efeito, um dos maiores fatores que podem impactar negativamente a interação do Brasil com os europeus na área comercial agrícola é a desastrosa política ambiental do atual governo, que representa um contrassenso inacreditável na promoção do agronegócio responsável, que não tem nada a ver com a devastação amazônica, mas que pode vir a pagar um preço inaceitável se medidas restritivas – não apenas dos europeus, diga-se de passagem – forem adotadas em vista da incapacidade demonstrada até aqui para limitar e reduzir o ritmo do desmatamento e, sobretudo, a ação ilegal de grileiros, garimpeiros e invasores de terras indígenas (ao contrário, o governo Bolsonaro tem feito tudo para estimular a depredação do meio ambiente e a ofensiva contra reservas naturais e territórios indígenas). Esse elemento está na origem da paralização completa do processo de ratificação do acordo UE-Mercosul, que não deve ser retomado até que um novo governo inverta completamente o curso atual; mesmo assim deverá demorar certo tempo para que se configure na prática, não somente no discurso, a inversão da política ambiental suicidaria do governo Bolsonaro. É estranho que o próprio agronegócio brasileiro não tenho tomado iniciativas mais fortes para coibir os crimes que vêm sendo cometidos não apenas contra o meio ambiente e os indígenas, mas também contra o setor mais dinâmico da economia brasileira.

 

4) Quais seriam os novos mercados que o senhor entende deve o Brasil explorar para o desenvolvimento de relações agrícolas mercadológicas?

 

PRA: Estados Unidos e União Europeia são grandes mercados de consumo, mas são também os mais protegidos e também aqueles nos quais o fator elasticidade-renda não tornará a nossa oferta agrícola mais competitiva, uma vez que esses mercados já estão saturados nessa área. Os grandes mercados para o nosso agronegócio estão nos emergentes dinâmicos e nos países em desenvolvimento, de maneira geral, nos quais o crescimento da renda, nos próximos anos, vai requerer um consumo elevado de alimentos, com maior ênfase na proteína animal e nos lácteos. Daí o motivo do agronegócio brasileiro avançar rapidamente no seu próprio upgrade no tipo de produção, não apenas produtos brutos, mas oferta processada e devidamente apoiada em campanhas de marketing quanto à qualidade dos nossos produtos.

Por acaso, os dois grandes mercados nos quais o crescimento da oferta brasileira poderia ser o maior estão justamente nos dois sócios maiores do Brics, China e Índia, mas que são, também, grandes protecionistas e subvencionistas na área agrícola. Temos de ser duros com esses dois gigantes quanto somos como os dois grandes mercados avançados do Atlântico Norte. Por outro lado, a China – diferente da Índia, que tem enormes problemas sociais com respeito à propriedade da terra e tecnologia agrícola, assim como a África – tem avançado enormemente numa espécie de revolução agrícola, que combina capitalização, ciência e tecnologia, uma vez que ela possui pouco espaço naqueles fatores que representam nossa pujança: terra, água e sol. 

Mas, esses mercados não podem ser vistos apenas como absorvedores da oferta alimentar brasileira, pois as barreiras comerciais continuarão a existir no futuro indefinido. O Brasil possui tecnologia e conhecimento suficientes para participar do próprio processe de revolução agrícola em curso nesses países, ou seja, exportando serviços, know-how e diversos outros fatores produtivos, pois que um dos objetivos do agronegócio brasileiro deve ser o da sua internacionalização, tanto na área de grãos, quanto na pecuária. A África apresenta outros tipos de problemas que podem se situar, cronologicamente, no início do processo de modernização agrícola brasileiro, embora alguns desses problemas estejam mais vinculados à propriedade da terra e às relações contratuais do que à tecnologia propriamente produtivo no contexto da agricultura tropical, na qual o Brasil é um verdadeiro campeão.

 

5) Muito se diz sobre o Brasil ser um exportador de insumos e de matérias-primas com baixo valor agregado. Em sua experiência, o senhor vê isso como uma realidade? Se sim, como podemos direcionar nossa política agrícola interna para agregação de valor aos produtos? Se não, como podemos direcionar nossa política para sanar o déficit informacional?

 

PRA: Sim, isso é verdade: o Brasil é um produtor primário, e assim tem sido nos últimos 500 anos. No terreno das vantagens comparativas de David Ricardo –cuja teoria ainda é plenamente válida, independentemente da passagem do tempo – não há nada de errado em explorar plenamente essas vantagens competitivas relativas, não só na agricultura e na pecuária, mas também na mineração, nos recursos florestais e pesqueiros, por exemplo. O upgrade na oferta, ou seja, agregar valor às commodities e oferecer produtos processados e até mais sofisticados, não depende só da vontade do agronegócio, mas de todo um complexo de fatores, de políticas governamentais e da iniciativa privada, assim como da existência de condições mercadológicas externas ao domínio brasileiro. A agregação de valor à oferta agrícola brasileira deve ser um processo concomitante à internacionalização do próprio agronegócio brasileiro, ainda excessivamente introvertido e, portanto, protecionista. Esse processo deveria começar pelo Mercosul, que requer amplo exercício de reformas.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4108: 18 março 2022, 6 p.


Quantos anos mais terá a atual Carta de San Francisco (1945)? - Paulo Roberto de Almeida

Quantos anos mais terá a atual Carta de San Francisco (1945), na verdade desenhada em Dumbarton Oaks (1944)?

  

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

  

Em vez de teorias fantasiosas sobre um alegado Direito Internacional onusiano, eu prefiro analisar criticamente a concretude do direito da força, sem qualquer ilusão.

 

Muitos cultores acadêmicos do sistema das Nações Unidas apreciam, teórica e abstratamente, o que lhes parece ser uma expressão do Direito Internacional, quando o “grand machin” (apud De Gaulle) é apenas um ajuste de forças entre os vitoriosos de 1945. 

 

A “grande geringonça” precisa mudar. Vai demorar certo tempo até que a verdadeira pressão dos “povos das Nações Unidas” — como está no preâmbulo da Carta, mas todo o resto está reservado unicamente aos Estados nacionais membros da geringonça — consiga eliminar essa excrescência do “direito de veto”, que só defende o poder arbitrário dos poderosos, a vontade exclusiva das grandes potências, mas isso será obtido algum dia.

 

Mas não aguardem para esta geração, agora dominada pelos dois novos donos do poder mundial, um mais velho de um século, o outro tinindo de novo na sua irresistível ascensão econômica. Os dois impérios da antiga Guerra Fria geopolítica de 1947 a 1991 deram lugar aos dois impérios atuais da nova Guerra Fria Econômica. 

Por enquanto a China está ganhando a competição, mas não enterrem o Tio Sam: ele ainda não deu tudo o que pode nos dar, além do iPhone e do Facebook: ele tem muito mais coisas na sua cartola que o novo Império do Meio ainda precisa copiar.

 

Resumo: o mundo dá muitas voltas e não convém fazer manuais de Relações Internacionais com validade superior a 20 anos. Como diria Heráclito, tudo flui, e é por isso que eu nunca acreditei na bobagem da tese do “congelamento do poder mundial”.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4113: 21 março 2022, 1 p.


 

Por que Putin vai fracassar? - Paulo Roberto de Almeida

Por que Putin vai fracassar?

Paulo Roberto de Almeida 

O tirano de Moscou está ativamente empenhado em destruir os fundamentos materiais do Estado ucraniano. 

Ele não vai conseguir, contudo, destruir a espinha dorsal e a fortaleza moral da Nação ucraniana. 

Putin já foi derrotado, a despeito de todos os seus mísseis e tanques.

Aliás, desde o início, Putin já tinha sido vencido pela resistência nacional do povo ucraniano, pela solidariedade ativa de praticamente todos os europeus e pelo repúdio praticamente universal de todos os povos amantes da paz, dos direitos humanos e das liberdades democráticas.

Expresso, por fim, minha mais profunda tristeza, como diplomata, como simples brasileiro, como cidadão do mundo, pelo fato de o Brasil não estar entre as nações do mundo que se solidarizaram e vieram em ajuda à Nação ucraniana.

Ela sobreviverá, ainda mais forte, seu Estado será recomposto, na família europeia, mas o Brasil do atual desgoverno não terá estado entre as nações que vieram em socorro de um povo agredido pelo mais bárbaro dos déspotas remanescentes.

Minha solidariedade pessoal à nação ucraniana passa à frente de meu desprezo pelo atual desgoverno da nação brasileira.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 21/03/2022

Impactos da Guerra na Ucrânia, com Rubens Ricupero - Canal Livre da BandNews TV

 Eis o link: https://www.youtube.com/watch?v=iMMblv8LI4c

domingo, 20 de março de 2022

La Russie est-elle une grande puissance ? Puissance économique vs. puissance militaire - Hervé Thery (Diploweb)

 Um estudo fundamentado sobre a capacidade militar da Rússia. Um trecho conclusivo: 

"Le résultat classe la Russie dans le groupe de pays les plus « belliqueux » (qui ont une puissance militaire supérieure à ce que l’on pourrait attendre au vu de leur PIB) qui la rapproche de l’Égypte, du Pakistan, de l’Algérie et du Congo."

La Russie est-elle une grande puissance ? Puissance économique vs. puissance militaire

Par Hervé THERY, le 20 mars 2022  Imprimer l'article  lecture optimisée  Télécharger l'article au format PDF

Hervé Théry, Directeur de recherche émérite au CNRS-Creda, Professeur à l’Universidade de São Paulo (USP-PPGH). Co-directeur de revue Confins (http://journals.openedition.org/confins/ ) Membre du Conseil scientifique du Diploweb.com.

https://www.diploweb.com/La-Russie-est-elle-une-grande-puissance-Puissance-economique-vs-puissance-militaire.html?utm_source=sendinblue&utm_campaign=NL-365-21032022&utm_medium=email

La Russie est-elle un pays « belliqueux » ? Quels paramètres permettent de l’établir par comparaison avec d’autres pays ? En croissant des données variées, H. Théry produit quatre planisphères qui apportent une réponse documentée. Il va sans dire que l’histoire et l’actualité apportent des éléments complémentaires.

NOUS AVONS beaucoup entendu dire, depuis le début de la guerre en Ukraine, que la Russie n’est pas si redoutable qu’elle le paraît. D’une part parce que son armée est peut-être « une puissance militaire fantasmée à l’épreuve », selon la formule employée dans une tribune publiée dans Le Monde par Isabelle Facon, directrice adjointe à la Fondation pour la recherche stratégique [1]. D’autre part parce qu’elle n’est pas une grande puissance économique, en donnant pour preuve que son produit intérieur brut (PIB) est à peu près du même ordre de grandeur que celui de l’Espagne. Cela nous a paru mériter vérification, mais aussi de chercher d’autres indices qui mesurent aussi objectivement que possible la puissance militaire, puis de comparer les deux approches, et l’écart entre les deux. Cet article est construit autour de trois planisphères.

Pour le PIB, l’une des sources les plus sérieuses se trouve dans les bases de données de la Banque mondiale : elle nous a permis de construire la figure 1, qui indique à la fois le volume global du PIB (par la taille des cercles), sa composition entre PIB agricole, industriel et des services (par la couleur des secteurs) et enfin le PIB par tête (par la couleur de fond attribuée aux pays), le tout pour 2019, avant les perturbations introduites par la pandémie de COVID.

La Russie est-elle une grande puissance ? Puissance économique vs. puissance militaire
Figure 1 Le PIB des pays du monde en 2019
Cliquer sur la vignette pour agrandir la carte. Conception et réalisation Théry.


De fait, sur cette carte la Russie apparaît en position moyenne, tant par le volume global de son PIB que par sa composition, et pour le PIB par tête elle figure dans un groupe intermédiaire entre les pays riches d’Amérique du Nord et d’Europe occidentale (plus l’Arabie saoudite, l’Australie et la Nouvelle-Zélande) et les pays réellement pauvres d’Afrique et d’Asie (plus la Bolivie, le Venezuela et quelques pays d’Amérique centrale).

Pour la puissance militaire nous avons eu recours un indice élaboré par GlobalFirePower,

Son Power Index ou « indice de puissance [militaire] » tente, selon ses auteurs [2] « de déterminer la capacité des forces armées d’un État donné en recourant à l’analyse de plus de 50 indicateurs relatifs à la défense nationale. L’indice de puissance militaire maximum est de 0,00, un score théorique impossible à atteindre dans le cadre de la formule actuelle. Ainsi, plus la valeur de l’indice est faible et plus la puissance militaire potentielle est élevée. Quelques précisions concernant le calcul de l’indice de puissance militaire :

. L’indice ne repose pas uniquement sur le nombre total d’armes disponibles d’un pays donné, l’accent est également mis sur la diversité de la force de frappe disponible ;

. Si les stocks d’armes nucléaires ne sont pas pris en compte, les puissances nucléaires reconnues ou soupçonnées reçoivent toutefois un « bonus » ;

. Le développement économique des États est intégré à l’analyse ;

. Les facteurs géographiques, la fiabilité logistique, les ressources naturelles et l’industrie locale sont déterminants ;

. La main-d’œuvre totale disponible est un facteur clé car influençant de nombreux autres indicateurs :

. Les États sans littoral ne sont pas pénalisés par l’absence d’une marine militaire, en revanche les forces navales existantes sont pénalisées en cas de manque de diversité des moyens disponibles ;

. Les États membres d’une alliance militaire (par exemple l’OTAN) reçoivent un bonus en raison du partage théorique des ressources ;

. La stabilité financière des États est prise en compte ;

. L’influence diplomatique n’est pas intégrée à l’analyse. [3]

À noter que la méthodologie relative au calcul du Power Index est quasiment revue chaque année afin de prendre en considération les différentes avancées/évolutions technologiques en matière de défense nationale. Aussi, il convient d’appréhender avec précaution toute comparaison de cet indicateur d’une année à l’autre ou durant une période donnée ».

La figure 2 associe une carte produite à partir de cet indice (en inversant la gamme de couleurs pour faire ressortir les pays où l’index est le plus faible, et donc la puissance militaire la plus forte), et une carte avec un autre indicateur tiré lui aussi des bases de données de la Banque mondiale, le pourcentage des dépenses militaires dans le PIB en 2019.

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Figure 2 Indice de puissance militaire et % des dépenses militaires dans le PIB en 2019
Cliquer sur la vignette pour agrandir les deux cartes. Conception et réalisation Hervé Théry


Dans les deux cas, la Russie figure simultanément dans le groupe de tête des pays du monde, alors que d’autres sont dans des catégories différentes sur les deux cartes. La Chine est déjà parmi les principales puissances militaires bien que consacrant une moindre part de son PIB aux dépenses militaires, alors que d’autres pays, bien que dépensant beaucoup dans ce domaine, n’obtiennent pas en échange une puissance militaire notable. C’est le cas de pays où les dépenses militaires se dissipent dans des guerres civiles, comme en Libye ou en Colombie, ou des conflits régionaux, comme celui où est engagée l’Arabie saoudite.

Pour mettre en rapport puissance économique (mesurée par le PIB par tête) et la puissance militaire (mesurée par le Power Index) on a adopté la méthode statistique des résidus de régression linéaire qui est la base de la figure 3. Elle repose sur le principe de l’écart à la relation linéaire entre les deux variables (les pays y sont proches de la moyenne mondiale), en distinguant par le jeu des gradation de couleurs les pays où la puissance économique est supérieure à la puissance militaire (en bleu clair ou foncé sur la carte) et ceux où c’est l’inverse (en jaune, orange et rouge sur la carte).

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Figure 3 Puissance économique {vs.} puissance militaire
Cliquer sur la vignette pour agrandir la carte. Conception et réalisation Hervé Théry


Le résultat classe la Russie dans le groupe de pays les plus « belliqueux » (qui ont une puissance militaire supérieure à ce que l’on pourrait attendre au vu de leur PIB) qui la rapproche de l’Égypte, du Pakistan, de l’Algérie et du Congo. À l’inverse, le groupe des pays les plus « pacifiques » (qui ont une puissance militaire inférieure à ce que l’on pourrait attendre au vu de leur PIB) associe l’Irlande, la Belgique, les Pays-Bas, le Mexique, le Canada, l’Allemagne et le Japon. On pourrait s’étonner d’y trouver aussi les États-Unis, mais leur PIB est tellement au-dessus de ceux de tous les autres pays du monde qu’ils peuvent être à la fois la principale puissance économique et la principale puissance militaire de la planète.

Copyright 18 mars 2022-Thery-pour la version en FR/Diploweb.com 


Crônica dos Eventos Correntes sobre as Coisas do Brasil: de um caderno de notas iniciado em 2018 - Paulo Roberto de Almeida

Crônica dos Eventos Correntes sobre as Coisas do Brasil

Paulo Roberto de Almeida 

Sempre tive cadernos de notas, grandes, médios e pequenos, mesmo já na era do computador, quando as notas eletrônicas facilitaram muito o trabalho de registro, reflexão e redação de trabalhos. Pois foi armado de uma dezena de cadernos de notas acumulados ao longo dos anos e de uma máquina de escrever elétrica – que me custou, na Suíça, o equivalente a um carro usado no Brasil – que eu elaborei, em longas noites de inverno em Belgrado, minha tese de doutorado, terminada no início de 1984. Meu primeiro computador só foi adquirido em 1987, mas não deixei de continuar usando cadernos de notas, grandes e pequenos.

Pois ao começar a preparar hoje minhas notas de leitura para mais um evento de caráter acadêmico, retomei, por acaso, um caderno que eu tinha começado em meados de 2018, já prenunciando a tempestade que se avizinhava a partir das eleições de outubro daquele ano.

Eis a primeira página desse caderno iniciado em 7/06/2018, que já expressava seu objetivo basicamente de registro da nova fase na qual o Brasil adentrava, que eu já suspeitava que seria "memorável", no sentido negativo da palavra. Não esperava que fosse tão negativa.


Transcrevo abaixo o que eu havia escrito, num pequeno caderno de bolso, poucos dias antes: 

"Minha ordem de prioridades para os próximos meses - Paulo Roberto de Almeida - Brasília, 2/06/2018

1) Colaborar na obra, gigantesca, de tentar endireitar o Brasil [no sentido da correção dos seus males] ;

2) Preservar a racionalidade, acima de qualquer outra coisa;

3) Preservar o Itamaraty de todos os desvios prejudiciais à sua missão institucional.

    Para fazer tudo isso, na modéstia de meios e possibilidades de que disponho e que se me oferecem, as prioridades corretas, ou reais, seriam estas: 

1) Preservar o Itamaraty;

2) Manter a racionalidade sobre todas as coisas;

3) Ajudar a endireitar o Brasil.

    Tudo isso é muito difícil, obviamente, com a escassez de recurso com que contamos e a irracionalidade reinante. Mas vale a pena tentar! [Bsb, 2/06/2018)" (p. 3) 

Aqui embaixo, a foto dessa página: 


Pois bem, não consegui preservar o Itamaraty, tanto porque fui exonerado de meu posto de diretor do IPRI logo ao início do desgoverno, e objeto de retaliações do desequilibrado chanceler acidental, mas acredito que consegui preservar a minha racionalidade (a julgar por todas as demais notas nesse mesmo caderno), embora não tenha logrado ajudar a corrigir os grandes problemas do Brasil, por insuficiência de meios, como eu também escrevi nessa nota. 

Mas talvez eu tenha ajudado outros, especialmente os mais jovens, no esclarecimento quanto à natureza dos problemas do Brasil, o que já representa algo de positivo. 

Darei continuidade ao caderno – que é uma brochura da AFD, Agence Française de Développement, gentilmente oferecida pela Embaixada da França em Brasília – com um novo projeto que vai me ocupar nos próximos meses.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 20 de março de 2022

'Oriente está virando novo eixo do mundo', diz o historiador britânico Peter Frankopan - Shin Suzuki (BBC News Brasil)

 Transcrito a partir da primeira postagem a que tive acesso, na página do Facebook de Carmen Lícia Palazzo: 

'Oriente está virando novo eixo do mundo', diz historiador

  • Shin Suzuki
  • Da BBC News Brasil em São Paulo, 19 março 2022

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...