terça-feira, 9 de dezembro de 2025

Ucrânia: tempos decisivos numa guerra que não termina: President Zelenskyy’s Press Conference

Key Takeaways from President Zelenskyy’s Press Conference

President Zelenskyy’s latest press conference was one of the most substantive in months. Here are the major points — across peace negotiations, security guarantees, elections, and Ukraine’s military and political reality.

1. Three Documents That Define Ukraine’s Position on Peace

Zelenskyy confirmed that Ukraine and European partners are finalizing three core documents that will be sent to Washington.

A 20-point framework document — a revised version of the earlier U.S. proposal. Zelenskyy said the original 28-point draft contained “not pro-Ukrainian” items, which Ukraine removed.

A security-guarantees agreement between Ukraine–US and Ukraine–Europe.

A reconstruction plan for the post-ceasefire period.

2. No Territorial Concessions

Zelenskyy was clear: there is no agreement to hand over any part of eastern Ukraine or Crimea.

Ukraine will not accept a deal that trades land for a temporary “peace.”

3. Security Guarantees Close to NATO’s Article 5

Zelenskyy said Ukraine expects clarity from the U.S. in the coming days on security guarantees.

The current draft envisions commitments similar to NATO’s Article 5 — long-term military support, air defense, and sanctions mechanisms if Russia attacks again.

4. Peace Talks? Russia Shows Zero Interest

Ukraine is not in direct talks with Russia.

Zelenskyy stressed that Moscow shows no interest in negotiations — only continued attacks on Ukraine’s energy infrastructure.

5. On Elections During the War

For the first time, Zelenskyy publicly said he is ready to hold elections during wartime — under strict conditions.

He asked the U.S. (and European partners) to guarantee the security of the voting process.

He also called on Ukrainian MPs to prepare the necessary legal framework to make wartime elections legitimate.

If partners can ensure security, Ukraine could hold elections within 60–90 days.

6. On U.S. Military Aid and PURL

Zelenskyy stressed that the U.S. did not threaten to shut down the PURL procurement program.

Ukraine needs: $800 million to keep it running this year, and potentially $15 billion next year if the war continues.

7. On Crimea & NATO

Zelenskyy repeated that Ukraine’s goal remains the restoration of full territorial integrity, including Crimea — but admitted that Ukraine currently lacks the military capacity and external support to do this quickly.

On NATO: Ukraine wants membership, but the U.S. and several other partners still do not see a consensus path forward — something Zelenskyy stated openly.

8. On Domestic Issues — Corruption and Governance

Zelenskyy said energy companies must be fully rebooted to avoid corruption risks like those seen in Energoatom.

He called for stricter background checks by anti-corruption bodies for all non-competitive appointments.

9. On Ukrainian Weapons

Zelenskyy hinted that Ukraine is already using several new missile systems — including “Dovhyi Neptun,” “Palianytsia,” “Flamingo,” and “Sapsan.”

A estratégia dos EUA e a Doutrina Monroe - Rubens Barbosa O Estado de S. Paulo

 Opinião

A estratégia dos EUA e a Doutrina Monroe
A nova estratégia de Washington para as Américas, na prática, afirma que a região pertence à área de influência dos EUA
Por Rubens Barbosa
O Estado de S. Paulo, 09/12/2025

O governo Trump divulgou, na semana passada, sua Estratégia de Segurança Nacional, em que define a visão de médio e longo prazo dos EUA, as prioridades internas e externas e o relacionamento de Washington com as regiões globais. O pragmatismo e o realismo da política externa dos EUA têm como único objetivo, como ressaltado no documento, proteger os interesses nacionais fundamentais e colocar os EUA em primeiro lugar.
Embora assinalando que “dar atenção constante à periferia é um erro”, a estratégia norte-americana, quando discute o que os EUA querem do mundo e o que esperam receber do mundo, coloca, pela primeira vez, seus interesses no Hemisfério Ocidental antes da China, da Europa, do Oriente Médio e da África e marca uma ruptura histórica com a ordem mundial depois de 1945.
Dada a relevância para o Brasil, o presente artigo trata apenas dos trechos do documento que se referem às Américas:
“Os EUA devem ser preeminentes no Hemisfério Ocidental como condição para nossa segurança e prosperidade — uma condição que nos permita afirmar nossa presença com confiança onde e quando precisarmos na região. Queremos garantir que o Hemisfério Ocidental permaneça razoavelmente estável e bem governado o suficiente para prevenir e desencorajar a migração em massa para os EUA; queremos um hemisfério cujos governos cooperem conosco contra narcoterroristas, cartéis e outras organizações criminosas transnacionais; queremos um hemisfério que permaneça livre de incursões estrangeiras hostis ou da apropriação de ativos-chave, e que apoie cadeias de suprimentos críticas; e queremos garantir nosso acesso contínuo a locais estratégicos importantes. Em outras palavras, vamos afirmar e fazer cumprir um ‘Corolário Trump’ à Doutrina Monroe”.
“Após anos de negligência, os EUA reafirmarão e farão cumprir a Doutrina Monroe para restaurar a preeminência americana no Hemisfério Ocidental e proteger nossa pátria e nosso acesso a regiões-chave em toda a região. Negaremos a concorrentes de fora do hemisfério a capacidade de posicionar forças ou outras capacidades ameaçadoras ou de possuir ou controlar ativos estrategicamente vitais, em nosso hemisfério. Este ‘Corolário Trump’ à Doutrina Monroe é uma restauração sensata e eficaz do poder e das prioridades americanas, consistente com os interesses de segurança dos EUA. Nossos objetivos para o Hemisfério Ocidental podem ser resumidos em ‘atração e expansão’. Buscaremos apoio dos aliados já estabelecidos no hemisfério para controlar a migração, deter o fluxo de drogas e fortalecer a estabilidade e a segurança em terra e no mar. Expandiremos, cultivando e fortalecendo novas parcerias, ao mesmo tempo em que reforçamos a posição de nossa nação como o parceiro preferencial em termos econômicos e de segurança no hemisfério. A política americana deve concentrar-se em angariar aliados regionais que nos ajudariam a deter a imigração ilegal e desestabilizadora, neutralizar cartéis, impulsionar a produção em áreas próximas aos EUA e desenvolver empresas privadas locais, entre outras áreas. Recompensaremos e incentivaremos os governos, partidos políticos e movimentos da região que estejam amplamente alinhados com nossos princípios e estratégia. Mas não devemos ignorar governos com perspectivas diferentes, com os quais, ainda assim, compartilhamos interesses, e que desejam trabalhar conosco”.
“A escolha que todos os países devem enfrentar é se querem viver em um mundo liderado pelos EUA, com países soberanos e economias livres, ou em um mundo paralelo no qual são influenciados por países do outro lado do mundo”.
Com esses objetivos, em resumo, os EUA pretendem reconsiderar sua presença militar no Hemisfério Ocidental, aumentar a presença da Guarda Costeira e da Marinha para garantir a segurança da fronteira e derrotar os cartéis, incluindo, quando necessário, o uso de força letal. A diplomacia comercial visará fortalecer a economia e as indústrias americanas, utilizando tarifas e acordos comerciais recíprocos como ferramentas para fortalecer as cadeias de suprimentos críticas no hemisfério. O Conselho de Segurança Nacional, inclusive, da Comunidade de Inteligência, iniciará um processo para identificar recursos estratégicos no Hemisfério Ocidental.
A preocupação com a China está presente quando o documento acentua que qualquer tipo de ajuda dos EUA deve estar condicionada à redução gradual da influência externa adversária – instalações militares, portos, infraestrutura e mesmo aquisição de ativos estratégicos, entre outros. A redução da influência chinesa no Hemisfério Ocidental foi obtida com a demonstração dos custos ocultos – em espionagem, segurança cibernética, dívida – embutidos na assistência externa de “baixo custo”.
A nova estratégia de Washington para as Américas, na prática, afirma que a região pertence à área de influência dos EUA (“quintal”, segundo o secretário da Guerra). O Corolário Trump da Doutrina Monroe cria grandes desafios para a política externa do PT, levando em conta a dependência comercial da China e o forte viés antiamericano expresso pelos governos Lula e Dilma ao longo dos 20 anos em que o partido ocupou o poder.

Presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice) e ex-embaixador do Brasil em Londres (1994-99) e em Washington (1999-2004), Rubens Barbosa escreve mensalmente na seção Espaço Aberto.

A “doutrina Trump” e o Brasil - Paulo Roberto de Almeida

A “doutrina Trump” e o Brasil

Paulo Roberto de Almeida

A nova National Security Strategy de Trump para os Estados Unidos é o exato contrário do que afirma seu titulo e o oposto do que pretende o seu conteúdo.

Ela representa, simplesmente, a inauguração de uma International Insecurity Proposal, que vai tornar o mundo mais instável, mais inseguro e mais imprevisível, pois que pretende impor a sua desordem autocentrada  baseada não no Direito e na Ética, mas na força e na ambição nacional, sem qualquer condição de trazer Paz e Segurança para a prosperidade comum da humanidade, como foi a intenção dos EUA de 1944-45.

Será breve, como todos os projetos inexequíveis apresentados por personalidades megalomaníacas, como são o próprio Trump e seu amigo criminoso de guerra Putin, talvez o seu mestre e manipulador.

Uma nova administração americana resultante das eleições de 2028 trará uma inevitável revisão a essa estratégia do caos proposta por um notório desequilibrado demencial.


A diplomacia brasileira, mais até do que a sua politica externa — que parece comprometida com alianças infelizes, traçadas no início do século— precisa serenamente se preparar para o pós-Trump, sabendo que a capacidade do Brasil de influenciar ou de agir nos grandes (des)equilíbrios geopoliticos mundiais é muito limitada, cabendo-nos a tarefa de pensar e de atuar nas circunstâncias “orteguianas” que são as da nossa geografia e escopo: a América do Sul. Os diplomatas são extremamente bem preparados e capazes de traçar cenários, projetos e propostas que sejam compativeis com nossa própria capacidade de projeção, sabendo que nem todos os paises da região terão um comprometimento regional que corresponda a nossos interesses nacionais e regionais: uma zona de paz e de prosperidade conjunta, visando à integração econômica e à estabilidade política com base no Direito Internacional e numa ordem moral democrática e defensora dos direitos humanos.

Quase 70 anos atrás, confrontado aos desafios do momento, o presidente Juscelino Kubitschek, assessorado por diplomatas experientes, propôs uma Operação Pan-Americana, a primeira iniciativa multilateral brasileira, que pretendia fundar um amplo programa de cooperação nas Américas, da qual resultou o Banco Interamericano de Desenvolvimento.

Talvez seja o caso, agora, quando a Doutrina Monroe — unilateral, mas que o Brasil e outros países da região se empenharam em multilateralizar — se transforma num monstruoso “corolário” unilateral, impositivo e baseado no poder da força, que ameaça abrir uma nova era de caos, de instabilidade e de guerras, de a diplomacia brasileira propor uma nova iniciativa regional sul-americana em tom moderado e cooperativo, sem os desafios existentes anteriormente do chavismo e do kirchnerismo, e sem pretensões a uma liderança indesejada e inexequível, mas suficientemente propositiva para iniciar um processo de consultas com outros países dispostos a superar ou contornar os problemas do momento.

O Brasil tem capacidade econômica e politica de apresentar ideias aos demais países vizinhos e iniciar um processo de consultas formais com vistas a metas modestas e possíveis.

Cabe trabalhar nesse sentido.

Paulo Roberto Almeida

Brasília, 9/12/2025

New Strategic Security Trumpian doctrine and the South Atlantic - Zeno Leoni (King’s College)

 Zeno Leoni, assistant profesor of International Security at King’s College, London

To somebody who wrote his PhD thesis on the rebalancing to the Asia-Pacific, and has an interest in the international order, the most intriguing part of the US National Security Strategy 2025 is about the "Trump Corollary to the Monroe Doctrine" and the renewed emphasis of the US towards the Western Hemisphere 🌎 

But what got my attention the most is the phrase “readjustment of our global military presence”. The term READJUSTMENT sounds like Obama's “rebalancing” language. Yet, does it mean the same?👇 

1️⃣Trump’s statements and the recent military posture toward Venezuela are not sufficient to conclude that a structural rebalancing - as with the Obama administration, which communicated clearly the percentage of such rebalancing - is already underway. But the fact that this is now embedded in the NSS deserves attention.

2️⃣There are real strategic reasons for a shift, and we highlighted these in a paper published in The Washington Quarterly - https://lnkd.in/er8-GCnt 

We argued that the Wider South Atlantic (from the Caribbean to West Africa and down to Brazil, Argentina, and South Africa) represents a region that provides resources and connectivity that underpin the socio-economic functioning of the international order. Its importance is often underestimated compared to the at times exaggerated prioritization of Indo-Pacific.

3️⃣Yet Trump’s motivations seem different. The current rationale appears tied to migration, drug trafficking, and focusing “more at home” - ultimately, there is a lot of internal propaganda towards the MAGA movement. These are not problems typically addressed through traditional large-scale military deployments, though. 

4️⃣Amidst this uncertainty, however, China not only is still central to the NSS 2025 for obvious reasons; it is also so because the new Monroe Doctrine implies the need for limiting extra-regional influence (especially of China and Russia). This raises a bit of an academic puzzle: how does one reconcile a Western Hemisphere and a rebalancing if the goal is still that of  containing an Indo-Pacific power? Furthermore, this shows that the Wider South Atlantic is becoming more contested, though still more stable than many other regions. But also that in a world order centred on the seas, prioritizing based on geography could, in the long term be a sterile exercise - as evidence by Ariel Gonzalez Levaggi's work on the oceans and by a forthcoming research from Mauro Bonavita.

5️⃣It seems obvious that the pivot to Asia will remain intact, while the new hemispheric focus will draw resources from a larger defence budget and a more systematic form of offshore balancing in Europe and the Middle East (patrolling choke-points, influencing events indirectly).

6️⃣Last but not least, the Biden administration, as the map below shows, was already reconsidering the importance of the South Atlantic, partly to increase leverage on the Global South after decades in which “trans-Atlantic” mainly meant North Atlantic.

The National Security Strategy of the Trump Administration is here - Roderich Kiesewetter

A Germany’s expert and MP made clear his opposition to the Geopolitics of Chaos offered by Donald Trump Roderich Kiesewetter

December 8, 2025


German foreign policy and security expert and member of the German parliament Roderich Kiesewetter issued another stark warning, this time regarding the latest US National Security Strategy (NSS) document. This is his statement:


The National Security Strategy of the Trump Administration is here

Anyone who reads the document must understand: The United States has not only bid farewell to its role as the "world policeman," but the upheavals run much deeper.

The United States is no longer interested in Europe. Even more: This administration no longer views Europe - and specifically the EU - as a partner, but rather, in large part, as strategic ballast, as an economic adversary, and as a civilization in decline.

For Trump, it’s "States over Institutions." The EU as a force for order is seen as a hostile construct that stands in the way of U.S. interests. In the economic worldview of this administration, we are not an ally, but a competitor that must be made to pay up.

Trump thinks transactionally and with a deal-making mentality that contradicts Europe’s institutionalized and rules-based approach.

The (military) music is playing exclusively in the Indo-Pacific. The resources we need for protection (air defense, reconnaissance) are heading to Guam and Taiwan to contain China. Nothing will be left for us unless we build it ourselves.

The talk of Europe’s “civilizational decline” in the NSS is a slap in the face. They no longer entrust us with the future. Anyone who writes about partners in this way won’t defend them when it really counts.

What does that mean? The era of the “security guarantee” is over. Washington now treats us more like an annoying client state that’s supposed to pay tribute, or like an economic rival that must be kept in check.

I say this as a committed transatlanticist: Precisely because the United States sees us this way, we must finally stop being supplicants. We should stop blindly hoping and instead build up our own capabilities with maximum efficiency and develop smart power that makes us more independent and resilient.

Because the United States is pulling back, we must support Ukraine more strongly. If Ukraine falls, Russia will be at our border - and Washington won’t come to save us. Integrating Ukraine now as part of European defense and supporting it in such a way that it can push Russia back is part of this necessary efficiency. It will only cost us half of what a Russian success would.“

Doutrina Trump e a nova desordem global Editorial, O Estado de S. Paulo

Doutrina Trump e a nova desordem global

Editorial, O Estado de S. Paulo (09/12/2025)

Casa Branca rompe oficialmente com a ordem de 1945 e transforma aliados em alvos e o Hemisfério Ocidental em zona de influência, ao mesmo tempo que acomoda autocracias como Rússia e China

As Estratégias de Segurança Nacional dos Estados Unidos costumavam ser documentos programáticos. A de Donald Trump, divulgada na semana passada, é a codificação de uma ruptura doutrinária. Pela primeira vez desde 1945, Washington abdica explicitamente da gramática que sustentou a ordem liberal – alianças, previsibilidade, contenção e distinção moral entre democracias e autocracias. A administração Trump oferece, em seu lugar, um amálgama de identitarismo, interesses imediatos e transações personalistas. Trata-se de uma visão de mundo tão improvisada quanto radical. E, ainda assim, suficientemente articulada para reconfigurar o sistema internacional.

O abandono da ordem pós-1945 é explícito. O documento não fala em “mundo livre” nem em liderança democrática, mas em soberania absoluta, competição civilizacional e “realismo flexível”. Regras importam menos do que preferências; compromissos, menos do que barganhas. A política externa americana deixa de ser fiadora da ordem liberal e assume a lógica das esferas de influência – inclusive reconhecendo, de modo tácito, a da Rússia. A distinção entre aliados e autocratas dissolve-se na medida em que ambos são avaliados segundo um critério único: a utilidade imediata para os EUA.

Esse revisionismo é mascarado por um discurso de retração. Trump promete não impor valores e evitar aventuras externas, mas o documento advoga abertamente por intervir no debate interno europeu, apoiar movimentos nacionalistas e remodelar o equilíbrio político do continente. É uma doutrina anti-intervencionista que intervém, e se diz pacifista enquanto militariza o Caribe. Nada disso sinaliza coerência, mas sinaliza poder. A Europa, em particular, aparece não como parceira estratégica, mas como alvo ideológico. Governos eleitos são descritos como elites ilegítimas, a imigração é tratada como ameaça civilizacional, e a União Europeia, como entrave à liberdade. O efeito imediato é a erosão da confiança transatlântica; o efeito de longo prazo é o enfraquecimento da Otan e o incentivo ao irredentismo russo.

No Hemisfério Ocidental, a ruptura é ainda mais profunda. O chamado “Corolário Trump” à Doutrina Monroe (“América para os americanos”, de 1823) transforma a região em prioridade militar dos EUA, com operações letais contra cartéis, presença naval ampliada e vigilância sobre minerais estratégicos e cadeias críticas. Países “alinhados” são recompensados; governos divergentes, tolerados, desde que cooperem em migração, crime organizado e contenção de potências extrarregionais. Para o Brasil, isso implica maior pressão sobre 5G, terras raras, portos e parcerias com a China. Trata-se, em essência, da restauração de uma esfera de influência cuja legitimidade o próprio Direito Internacional já havia repudiado.

O pano de fundo é a normalização das autocracias. O documento ignora violações russas, poupa ditaduras do Golfo Pérsico, suaviza críticas à Índia e reenquadra a China de rival geopolítica a mera concorrente econômica. Democracias são admoestadas; autocratas, bajulados. A bússola moral que guiou a política externa americana desde Truman (1945-1953) é substituída pelo pragmatismo de curto prazo – e, paradoxalmente, por uma retórica civilizacional que ecoa movimentos antiliberais em todo o Ocidente.

Nenhuma dessas escolhas torna os EUA mais seguros. Ao contrário: a estratégia incentiva as aventuras de Moscou, fragiliza a coesão europeia, aprofunda a competição sino-americana e transforma o continente americano em palco de tensões que poderiam ser geridas diplomaticamente. Mais grave: desmoraliza a noção de que a força norte-americana é inseparável das normas que ela própria ajudou a criar.

Resta uma dúvida: até que ponto essa doutrina sobreviverá ao próprio Trump? A incoerência interna, o caráter volátil do presidente e a resistência de instituições americanas talvez limitem sua implementação. Mas a simples existência dessa estratégia – articulada, oficial e ideologicamente carregada – já prenuncia uma era pós-liberal. Uma era em que a ordem construída em 1945 deixa de ser horizonte e passa a ser, para Washington, apenas uma lembrança incômoda.


Brazilian Foreign Policy beyond Itamaraty’s Insulation and Presidential Diplomacy, by Andrea Ribeiro Hoffmann (in Birle-Zilla book)

 Sample from a larger book:

Peter Birle and Claudia Zilla (eds.)
Trends in Latin American International Relations: Shifting Alliances in the New World (Dis)Order
London: Routledge, 2025
Brazilian Foreign Policy beyond Itamaraty’s Insulation and
Presidential Diplomacy: Intermestic Processes under the
Bolsonaro and the Third Lula Administrations 234
ANDREA RIBEIRO HOFFMANN, p. 234-249
From Introduction (Birle, Zilla):
Domestic autocratic tendencies often lead to drastic changes in foreign policy, as Andrea Ribeiro Hoffmann shows in Chapter 14 with the example of Brazilian foreign policy under President Jair Bolsonaro between 2019 and 2022. While Brazil has traditionally been a proponent of a rules-based world order and is involved in numerous multilateral institutions, Bolsonaro radically changed Brazil’s international orientation. His government withdrew from several Latin American regional organisations, bilateral relations with neighbouring countries governed by progressives suffered significant set-backs, and “international cultural Marxism” was identified as a threat to the country’s national sovereignty. The administration of Luiz Inácio Lula da Silva returned to active and constructive cooperation at the regional and global level from 2023, but the damage left by the ultra-right populist Bolsonaro government cannot be repaired overnight.
(...)

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