O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Jornalistas pedem censura a jornais: assim mesmo

Dia de luto no Brasil: jornalistas, obviamente alinhados com partidos celerados e inimigos da liberdade, fazem manifestação contra o que eles chamam de "imprensa golpista", ou seja, aquela que ousa denunciar -- no que não faz mais do que o seu dever -- as falcatruas, roubalheiras e crimes políticos cometidos nas mais altas esferas de nossa república mafiosa.

Permito-me apenas transcrever editorial publicado na página 2, de Opinião, do Jornal da Tarde desta quinta-feira, 23 de setembro de 2010.

Ato pró-censura no auditório do Sindicato “dos Jornalistas”

Manifestação contra imprensa livre se dará em lugar que leva nome de mártir da liberdade na ditadura

É um preocupante sinal dos tempos as centrais sindicais, alguns sindicatos, partidos governistas, movimentos sociais e certos “blogueiros” terem marcado para hoje seu “Ato contra o golpismo midiático”, ou seja, um protesto contra a liberdade de imprensa, no auditório do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de São Paulo. O convite para a manifestação acusa a imprensa de “castrar o voto popular”, “deslegitimizar as instituições” e destruir a democracia por noticiar pagamento de propina em envelopes entregues em gabinetes contíguos ao da ex-chefe da Casa Civil e atual candidata petista à Presidência, Dilma Rousseff, no Palácio do Planalto, onde o presidente da República dá expediente. Mas, como de hábito agem Luiz Inácio da Silva e sua candidata em palanques ou em pronunciamentos públicos de quaisquer naturezas, não se referem explicitamente ao escândalo propriamente dito. Ou seja, o “golpismo midiático” contra que sindicalistas, militantes de movimentos sem existência jurídica e indefinidos “blogueiros” investem é a prerrogativa que no Estado Democrático de Direito todo cidadão tem de ser informado sobre o que acontece, principalmente quando isso implica dispêndio de dinheiro público arrecadado de impostos.

O presidente Lula já demitiu quatro servidores de alto coturno, entre os quais a ex-chefe da Casa Civil Erenice Guerra, que era braço direito de Dilma e por esta foi indicada para o posto. Mas os participantes do movimento, como o presidente, a candidata e as cúpulas do governo e do PT, preferem protestar contra a divulgação do escândalo. Este gerou as demissões e, nesta reta final da campanha pela sucessão presidencial, forçou o presidente e seus áulicos a abandonarem às pressas seu devotado apego ao conceito do Direito Romano da dúvida a favor do réu (in dubio pro reo) , ao qual sempre fizeram questão de recorrer para justificar a impunidade gozada por companheiros pilhados em flagrante delito.

Numa demonstração de que é cada vez menos “dos jornalistas”, o sindicato anfitrião do ato o faz ao arrepio da própria história. Assim como a corte de Lula manipula suas massas de manobra de sempre sem levarem em conta o fato de que o ex-dirigente sindical e seu partido só chegaram aonde chegaram por obra e graça do permanente desafio dos meios de comunicação à censura na ditadura militar. Por ironia do destino, o auditório onde a manifestação a favor da censura será realizado leva o nome do mais notório mártir da liberdade de imprensa no Brasil (o que tem sido omitido no noticiário), o jornalista Vladimir Herzog, morto sob tortura.

Nem tudo está perdido, contudo, pois o Largo de São Francisco continua cumprindo seu papel histórico de dar voz aos que discordam: nele foi lançado ontem o “Manifesto em Defesa da Democracia”, assinado por intelectuais, artistas e homens públicos que não têm medo da verdade. Ao contrário: eles sabem que sem ela a democracia torna-se farsa para, depois, fenecer.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

GRAVE ATENTADO: lingua portuguesa assassinada pela mafia (ci)vil

Estou preocupado com o futuro da última flor do Lácio, esta inculta e bela que corre o risco de virar estropiada e feiosa, na verdade, esquartejada e horrorosa.
Não pela denúncia do crime em si, que esse deixo para nossos céleres juizes, procuradores, adevogados da União (se existem; creio que sim, tem até um da famiglia Inácio), mas pela simplória preocupação com o destino da língua portuguesa, ou brasileira (vocês escolhem), venho transcrever um documento alucinante em sua originalidade sintática.
Nem Saramago, que costuma abusar de nossa paciência com os atentados à correção estilística que perpetra em seus textos pretensiosos e geralmente insossos, seria capaz de tamanha inventividade gramatical.
Deixo vocês com o post de Augusto Nunes...
Paulo Roberto de Almeida

Direto ao Ponto
O e-mail do filho de Erenice comprova que, no Brasil de Lula, bandido de estimação não precisa nem ter cérebro para ficar milionário
Augusto Nunes
Blog na Veja, 14/09/2010 - às 17:08

O e-mail enviado à direção de VEJA por Israel Guerra é uma prova de muitos crimes. O conteúdo, um desfile de desmentidos inconvincentes, fantasias indecorosas e desculpas esfarrapadas, confirma as delinquências divulgadas pela revista. A descoberta de que a forma foi revisada no Planalto acrescenta alguns crimes hediondos aos prontuários do bando que transformou a Casa Civil em gazua e esconderijo.

Claro que todos os envolvidos nas bandalheiras leram a sopa de letras. É certo que Erenice aprovou o texto assinado por seu garoto. Como se apresenta como advogada, deve ter prontamente confiscada a carteirinha da OAB. Israel, que se proclama “bacharelando em direito”, deve ser devolvido ao curso primário. E todos ─ mãe, filho, parentes e agregados ─ merecem o imediato enquadramento por atentados contra a gramática, linchamento da ortografia e tentativa de assassinato da língua portuguesa.

O lado bom da coisa é que o e-mail produzido a muitas mãos já se transformou em documento histórico. Daqui a muitos anos, a leitura do amontoado de cretinices ajudará a compreender como eram as cabeças que governaram o Brasil durante a Era da Mediocridade. Confiram o palavrório, reproduzido sem correções:

No final do mês de dezembro do ano de 2009, o sr. Fábio Baracat, me procurou com o problema de que a empresa ao qual se dizia sócio, e que inclusive, apregoava que estava assumindo o controle total, a MTA Linhas Aéreas, estava quase expirada sua autorização para voar e solicitando ajuda no sentido de trabalhar e resolver tal situação. Informei ao senhor Fábio que, estando cumpridas todas as regras e requisitos de segurança operacional, havia a possibilidade legal prevista na legislação vigente, da concessão de outorga pelo Diretor Presidente da ANAC, pelo expediente AD REFERENDUM, conquanto a empresa também estivesse regular quanto suas obrigações jurídico fiscais. Eu construí a argumentação e o embasamento legal da referida peça e a encaminhei ao representante legal da empresa aqui na cidade de Bsb, que a protocolou no órgão competente. Por razão deste serviço prestado, solicitei a gentileza de meu irmão, que a CAPITAL emitisse nota fiscal contra a pessoa jurídica indicada pelo senhor Fabio Baracat para cobrança do pagamento. Os documentos fiscais e contábeis, encontram-se a disposição para eventuais esclarecimentos.

Cumpre informar que conheci o sr. Fabio em meados de 2008, apresentado a mim pelo meu amigo e compadre Vinicius e que durante certo período, foi de meu círculo de amigos, tendo inclusive, sido apresentado em momento social, a minha mãe, que a época, era Secretária Executiva da Casa Civil, na condição de amigo meu, nada mais do que isto.

Ressalto que não houve a busca por clientes, mas sim, um suposto empresário, que a época se dizia uma amigo, que na verdade era um agenciador de cargas para a mencionada empresa aérea, solicitando a produção de um trabalho, junto a área do direito aeronáutico que eu detenho relativo conhecimento, e este trabalho foi produzido e apresentado de maneira satisfatória ao órgão regulador pelo procurador constituído a época dos fatos. Me foi perguntado, se já havia recebido “empresários” e feito negociatas no escritório Trajano e Silva. Informo que isto nunca ocorreu, já fui lá inúmeras vezes, visto que meu tio trabalha no referido escritório e sou bacharelando em Direito, sendo que constantemente, vou ao escritório para a complementação de minha graduação e que, inclusive, a época em que fiz o trabalho acima mencionado para o senhor Fábio, solicitei a permissão de recebê-lo na sala de reuniões do escritório, visto que não dispunha de espaço razoável para expor o trabalho feito ao referido “empresário” Fábio Baracat.

Por último esclareço, que a época da constituição da CAPITAL, meu irmão me solicitou que esta fosse registrada no meu endereço residencial, em razão da impossibilidade financeira de estabelecer o escritório numa sala comercial, ademais, meu irmão me informou que deu entrada no encerramento da empresa já no início deste ano corrente

Espero ter respondido aos questionamentos.

Atenciosamente,
Israel Guerra


Só Lula, promovido a inimputável pela intelectuália companheira, pode produzir impunemente um desfile tão obsceno de frases sem pé nem cabeça, vírgulas fora de lugar, substantivos na contramão, plurais guilhotinados, adjetivos bêbados, concordâncias desatinadas e outros assombros. Todos os envolvidos na construção desse monumento à estupidez são desprovidos de raciocínio lógico. São todos incapazes de contar uma história infantil com começo, meio e fim.

Se Israel Guerra é mesmo estudante universitário, a faculdade que frequenta precisa ser lacrada antes que recrute outro lote de analfabetos funcionais. Sem o socorro da melhor amiga de Dilma Rousseff, o bacharelando estaria condenado ao desemprego perpétuo. Sem o amparo da Casa Civil, não seria convidado para intermediar sequer a negociação da gorjeta entre o freguês do botequim e o garçom. Só uma cabeça baldia escreve uma coisa dessas. Acomodado no colo da mãe, Israel Guerra se atreve a fingir que pensa. E vai fazendo fortuna como lobista fora-da-lei.

No Brasil de Lula, bandido de estimação já nem precisa ter cérebro para continuar em liberdade e virar milionário.

Paranoia antichinesa substitui (ou se acrescenta a) velhas paranoias: continua sendo uma paranoia...

Paranóias brasileiras e sua geografia cambiante: pequena digressão sobre uma doença tupiniquim
Paulo Roberto de Almeida

No início dos anos 1960, mais exatamente a partir de 1961, um pequeno panfleto nacionalista começou a fazer muito sucesso no Brasil: Um dia na vida do Brasilino (versões eletrônicas ainda podem ser encontrada nos sites de algumas dessas seitas velhuscas que esqueceram de morrer com a implosão do socialismo; um resumo também pode ser lido neste link: http://www.culturabrasil.pro.br/brasilino.htm).
O nome já diz tudo: Brasilino era um cidadão comum, urbano, vivendo num universo dominado por empresas estrangeiras (ainda não se dizia multinacionais), sobretudo americanas. Ao acordar, Brasilino já estava pagando royalties ao imperialismo: acendia a luz que lhe era fornecida pela Light and Power, tomava banho com sabonete Lux ou Palmolive, escovava os dentes com Kolynos, se barbeava com Williams e Gillette, comia aveia Quaker e tomava Ovomaltine. Ao se deslocar para o trabalho, usava um carro alemão ou americano, com gasolina fornecida pela Esso, fumando o seu “Souza Cruz”, na verdade pertentente à American Tobacco. Já no escritório, se quiser telefonar, só pode ser por meio da American Telegraph and Telephone. Alguma indisposição depois do almoço (também preparado com diversos produtos estrangeiros), e lá vai um Alka-Seltzer. Assim Brasilino passava o dia, consumindo, invariavelmente, o tempo todo, produtos estrangeiros e, claro, pagando royalties e dividendos, o tempo todo, ao imperialismo.
O sentido da panfleto era, portanto, muito claro: éramos explorados, espoliados, dominados pelo capital estrangeiro. Se dizia que mais de 70% de nossa indústria era estrangeira, 100% dos fabricantes de automóveis, 70% disso, 80% daquilo. O mais terrível era a dominação americana nos filmes, na TV, corrompendo nossa bela cultura nacional, afastando nossos sambas em favor do desgraçado rock-and-roll. Enfim, o panfleto era um festival de bobagens, com erros grosseiros, mais até factuais do que de equívocos econômicos, o que não o impediu de ser, como referido, um enorme sucesso de público e de opinião. Ele contribuiu, e muito, para sedimentar na cabeça dos brasileiros – inclusive de distintos membros das elites, como militares, diplomatas e empresários – a noção de que o capital estrangeiro estava ali para nos explorar, para sugar nossas riquezas, para espoliar nossos fabulosos recursos naturais. Se não fosse o capital estrangeiro, e a remessa de lucros, o Brasil e os brasileiros seriam naturalmente muito ricos, pois todo o dinheiro remetido ao exterior sob a forma de lucros, dividendos e royalties aos investidores internacionais ficaria necessariamente no Brasil. Simples assim.
O fantasma nessa época era o imperialismo americano, que aliás se encarregou de mostrar que era mesmo poderoso, ao tramar o golpe que resultou na derrubada de um governo “democrático” em 1964. Depois vieram os tempos dos acordos MEC-Usaid, da aliança da Time-Life com a Rede Globo, dos empréstimos extorsivos feitos pelos banqueiros de New York e, obviamente, nossa indústria continuou dominada pelo capital estrangeiro. Não importa se os militares foram mais nacionalistas do que o mais acirrado dos comunistas, fortalecendo a golpes de decretos o capital nacional, proibindo o capital estrangeiro em vários setores da economia nacional, inaugurando estatais como quem cria coelhos. A mentalidade paranóica contra o capital estrangeiro continuou, ainda que atenuada depois de tantos anos de “sobrevivência miraculosa” do capital nacional, de nacionalização quase completa da programação da Globo e do predomínio absoluto da maravilhosas musicas nacionais em nossas rádios.
Passados tantos anos, quando a gente já estava quase se acostumando à decadência progressiva do imperialismo americano, já cansados dessa história que o capital estrangeiro vem ao Brasil para nos explorar, eis que surge novo perigo, desta vez amarelo: o necolonialismo chinês. Ele vem com toda força, comprando terras, minas, indústrias, destruindo empregos, fechando fábricas, saqueando, literalmente, nossos fabulosos recursos naturais. Contra ele se levantam grandes sumidades do pensamento econômico nacional: o economista Delfim Neto, que já serviu a vários generais presidentes e que agora serve a um presidente que pretende reeditar o tempo dos generais; o empresário siderúrgico neoprotecionista e presidente da Fiesp, que pretende não apenas fechar o país às importações mas simplesmente banir as empresas chinesas do território nacional; vários outros já agitaram a tese do espectro sino-imperial, uma reedição atualizada do velho imperialismo espoliador de antigos tempos. Mais um pouco, serão os próprios autores da tese dos “aliados estratégicos” que vão agitar novamente a mais surrada das bandeiras patrioteiras e pedir uma moratória na invasão chinesa em nome da defesa da soberania nacional. Todos se levantam contra o novo fantasma, e acham que ele não se contentará em ser o primeiro parceiro comercial e “sócio industrial” obrigatório, mas vai querer também se apossar de nossos campos, nossas minas e consumir toda a nossa comida. Não duvidem, senhores: o perigo agora é muito maior, pois eles são mais de um bilhão!
Cada vez que eu ouço, ou leio, essas teses delirantes, mais me convenço de que o Brasil e os brasileiros são paranóicos de nascença: estamos sempre sendo atacados por algum imperialista malévolo, por algum espoliador disfarçado de comerciante, por algum neocolonialista travestido de investidor. Mais me convenço de que somos uma nação de mentalidade atrasada, de medos inexplicáveis, de temores não justificados pela marcha normal dos negócios capitalistas. Os chineses são capitalistas? Sim, até mais do que os brasileiros. Quem quer que tenha ido à China – ou se não puderem leiam os relatórios de uma fonte insuspeita: o think tank americano Freedom House, sobre as liberdades econômicas no mundo – sabe que a liberdade empresarial é muito maior na China do que no Brasil, que a carga tributária e os embaraços burocráticos são muito menores lá do que no Brasil, que a competição é feroz – como deveria ocorrer em qualquer país capitalista normal – e que negócios são negócios, não empreendimentos filantrópicos.
A limitação de compra de terras a proprietários estrangeiros além de ser paranóica, estrito e lato senso, é propriamente anti-chinesa; as tentativas de impedir empresas chinesas – estatais ou não – de adquirir mineradoras, fábricas, empresas de transporte ou de eletricidade no Brasil são risíveis, se não fossem patéticas. Tudo isso, como nos tempos de Brasilino, quando se pensava expulsar as empresas estrangeiras do país, não vai servir em nada a causa do desenvolvimento nacional, vai apenas atrasar e atrapalhar nosso próprio processo de modernização produtiva. Empresários que sempre mamaram nas tetas do Estado, rentistas disfarçados e protecionistas sem vergonha, todos esses paranóicos voluntários ou inconscientes causam um enorme mal ao Brasil, apelando para o tradicional refúgio dos canalhas: o patriotismo, ou a “defesa do interesse nacional”, como os ideólogos de plantão adoram proclamar.
O Brasil não tem absolutamente nada a ganhar enveredando por esse caminho de retração e de fechamento. Os empresários brasileiros precisam aprender a fazer negócios na China e com os chineses, aqui e em qualquer outro lugar. Nunca foram tão grandes as oportunidades para o crescimento econômico, sabendo explorar as vantagens do comércio e dos mercados internacionais, no Brasil, na China, na América Latina, em quaisquer outros continentes. A nova paranóia anti-chinesa é uma atitude totalmente contraproducente, do ponto de vista dos próprios interesses brasileiros, além de completamente ridícula para quem se pretende pronto para enfrentar o mundo como ele é.

(Shanghai, 23.09.2010)

================

La invasión económica de China en Brasil y América Latina amenaza transformar al continente en una especie de satélite del dragón rojo, con potenciales transformaciones culturales, psicológicas y políticas
Destaque Internacional - Informes de Conyuntura
Año XII - No. 308 - Madrid - San José de Costa Rica
Santiago de Chile, 20 de septiembre de 2010
Responsable: Javier González

1. En lo que va de 2010, China se ha dedicado a "comprar" América Latina ante el desinterés aparente de los Estados Unidos y de las demás potencias occidentales. Esas potencias parecen bostezar delante del neocolonialismo impulsado por un enigmático "capitalcomunismo" chino, cuya esencia es difícil de definir pero cuya influencia con certeza se expande como una sui generis metástasis por las Américas.

2. La Venezuela de Chávez recibió de China, en el primer semestre de 2010, líneas de crédito de 20 mil millones de dólares. Ecuador, después de modestos 56 millones de inversiones directas de China en 2009, firmó este año contratos por 5 mil millones en el área de petróleo y energía hidroeléctrica. Perú, durante el primer semestre, recibió inversiones en minería por 1.400 millones de dólares, y China se transformó en el segundo socio comercial del país.

3. El caso del gigantesco Brasil es especialmente notorio en materia de invasión económica de China, que pasó a ser en 2010 la principal socia comercial de ese país, desplazando a los Estados Unidos. A comienzos de año, Petrobrás firmó un acuerdo para abastecer a China durante 10 años con 200 mil barriles de petróleo diarios. Las compras de alimentos y minerales superaron los 20 mil millones en el primer semestre. Los chinos compran todas las tierras y minas que encuentran a la venta y que la legislación les permite comprar.

Hace pocos días, el periódico The Guardian publicó un reportaje especial preguntando si, en vez de "socia comercial", China no podría ser más apropiadamente denominada "saqueadora" del Brasil. En amplio reportaje, el periódico inglés muestra que los chinos están financiando la construcción del superpuerto de Açu, en São João da Barra, al norte del Estado de Rio de Janeiro, para exportar a China toda clase de productos alimenticios y de minerales. El referido superpuerto será una gigantesca "autopista marítima hacia China", y se ha llegado al punto de que un gran empresario financia cursos gratuitos de mandarín para la población de esa ciudad brasileña. A través de esa "autopista marítima", cada año serán transportados a China "miles de toneladas de mineral de hierro, granos y millones de barriles de petróleo", para "aliviar la aparentemente insaciable sed de China por recursos naturales", comenta el periódico inglés.

3. No en vano, el presidente de la Federación de Industrias del Estado de São Paulo, Benjamin Steinbruch, hizo un llamado al actual gobierno brasileño para poner frenos legales a la invasión económica china. El mencionado empresario aclara que la competencia de los chinos es totalmente "desleal", y que no se trata de una acción de la iniciativa privada china sino de una invasión del propio Estado chino.

El nuevo gobierno brasileño que surja de las próximas elecciones nacionales tendrá delante de sí la disyuntiva de cambiar su conducta externa con relación a China o de transformarse en una especie de satélite económico, junto con otras naciones latinoamericanas. Mas aún. La invasión económica de China en Brasil y América Latina no solamente amenaza transformar al continente en una especie de satélite del dragón rojo, sino que podrá provocar gigantescas transformaciones culturales, psicológicas y políticas.

4. En ese contexto, suenan superficiales e inclusive irresponsables las declaraciones recientes efectuadas en Pekín por el secretario de Estado adjunto de los Estados Unidos para el Hemisferio Occidental, Arturo Valenzuela, en el sentido de que ve con "buenos ojos" las inversiones chinas en América Latina, y que éstas no serían "ni una preocupación ni una amenaza".

5. En sentido diferente, son de destacar las declaraciones de varios cancilleres de la Asociación de Naciones del Sudeste Asiático (Asean) manifestando malestar ante la arrogancia regional china, especialmente por sus pretensiones hegemónicas en el Mar de la China meridional. Por su parte, en Japón, se destaca la amplia victoria electoral obtenida por el actual primer ministro pro occidental Naoto Kan, en las elecciones internas del gobernante Partido Democrático (PD), sobre su rival pro chino Ichiro Ozawa. Japón, Corea del Sur y otras naciones del Sudeste Asiático están en condiciones de constituirse en un importante y decisivo contrapeso para las pretensiones hegemónicas de China.

6. Contra el sistema totalitario chino poco o casi nada se habla, ni siquiera se chista. Hecha la salvedad de honrosas excepciones, se trata de un conformismo psicológico de naturaleza casi hipnótica, se diría que suicida. Ese conformismo parece haber tomado cuenta de muchas mentalidades gubernamentales, diplomáticas y empresariales. Tampoco se chista cuando grandes empresas radicadas en China son obligadas a abrir sus secretos industriales y enigmáticamente aceptan esas pesadas condiciones, aún sabiendo que China copiará los productos, los fabricará y distribuirá en Occidente como productos "genéricos", a precios muchos más bajos. Casi no se habla de los "derechos humanos" violados por un Estado totalitario y que reduce a un trabajo semiesclavo, para decir lo menos, a millones de chinos dedicados a producir artículos con bajos costos que inundan América Latina.

7. Paradójicamente, lo que nunca se permitió al "imperialismo" estadounidense se está permitiendo al "neoimperialismo" chino. La frase atribuida a Lenin, de que "los mismos burgueses van entregar la cuerda con la que los vamos a ahorcar", parece adquirir, en el caso de China, una enorme actualidad, sea cual sea la ideología que esté actualmente por detrás del misterio chino.

¿Quién podrá garantizar que la influencia económica china en América Latina no redunde en exigencias en el corto y mediano plazo, que nos conduzcan a formas de neoesclavitud psicológica, cultural y hasta política?

Negar la influencia internacional del dragón chino sería irreal; pero, por otro lado, sería ingenuo no sospechar que la metástasis china pueda tener componentes publicitarios similares a los usados por la antigua Unión Sovietica para impresionar a los occidentales. Buena parte de los supuestos "logros" soviéticos en los campos militar, económico y tecnológico eran simples mentiras transformadas en verdades a través de trucos publicitarios. ¿En qué medida y en qué porcentajes se mezclan las verdades y las mentiras en el caso de China? Cabe a los especialistas y a los formadores de opinión estudiar objetivamente ese problema.

Link del artículo del periódico The Guardian sobre el "saqueo" que China estaría haciendo en el Brasil:
http://www.guardian.co.uk/world/2010/sep/15/brazil-port-china-drive
(artigo reproduzido abaixo

=============

Brazil's huge new port highlights China's drive into South America
Investments guarantee Chinese access to soy, oil and other badly needed resources
Tom Phillips in Sao Joao da Barra
The Guardian, Wednesday 15 September 2010

Brazil Super Port The 'super port' in Sao Joao da Barra is the largest port investment in Brazil and will have capacity for the largest ships in the world. Photograph: Douglas Engle/Australfoto

Blades slicing through the morning heat, the helicopter rose from the tarmac and swept into a cobalt sky, high above Rio's Guanabara Bay.

It powered north-east over deserted beaches, dense Atlantic rainforest and fishing boats that bobbed lazily in the ocean below. Then finally, 80 minutes on, the destination came into view: a gigantic concrete pier that juts nearly two miles out into the South Atlantic and boasts an unusual nickname: the Highway to China.

Dotted with orange-clad construction workers and propped up by dozens of 38-tonne pillars, this vast concrete structure is part of the Superporto do Acu, a £1.6bn port and industrial complex that is being erected on the Rio coastline, on an area equivalent to 12,000 football pitches.

Reputedly the largest industrial port complex of its type in the world, Açu is also one of the most visible symbols of China's rapidly accelerating drive into Brazil and South America as it looks to guarantee access to much-needed natural resources and bolster its support base in the developing world.

When Acu opens for business in 2012, its 10-berth pier will play host to a globetrotting armada of cargo ships, among them the 380-metre long Chinamax – the largest vessel of its type, capable of ferrying 400,000 tonnes of cargo.

Millions of tonnes of iron ore, grain, soy and millions of barrels of oil are expected to pass along the "Highway" each year on their way east, where they will alleviate China's seemingly unquenchable thirst for natural resources.

"This project marks a new phase in relations between Brazil and China," Rio's economic development secretary, Julio Bueno, said during the recent visit of about 100 Chinese businessmen to the port complex, which is being built by the Brazilian logistics company LLX and should receive billions of dollars of Chinese investment.

This new phase of engagement with Brazil and South America, is part of China's "going out strategy" – an economic and, some say, diplomatic push for Chinese companies, many of them state-run, to invest abroad, snapping up access to minerals, energy and food by pouring the country's colossal foreign reserves into overseas companies and projects.

China is expected to overtake Japan as the world's second largest economy this year and may already be the world's greatest energy consumer. Now it is set to become Brazil's top foreign investor, with its companies plowing $20bn into the country in the first six months of 2010, compared with $83m in 2009. A recent study by Deloitte predicted that Chinese investments in Brazil could hit an average of about $40bn a year between now and 2014, with companies throwing money at sectors ranging from telecommunications, infrastructure and farming, to oil, biofuels, natural gas, mining and steel manufacturing.

"Relations with Brazil in all areas have entered a new era," Qiu Xiaoqi, China's ambassador in Brazil, recently told the state news agency Xinhua.

The surge in China's South American spending is not just a Brazilian phenomenon. Ecuador has already signed around $5bn of bilateral deals with China this year, including $1.7bn to help build a hydro-electric dam and $1bn investments for oil exploration and infrastructure projects. That compared with Chinese investment of just $56m in 2009.

Chinese companies have sunk $1.4bn into mining operations in Peru this year, while in April Hugo Chávez announced that the Chinese, already major sponsors of Venezuelan oil exploration, had agreed to open a $20bn credit-line for the "Bolivarian revolution".

Michael Klare, author of Rising Powers, Shrinking Planet, a book about the growing tussle for global resources, described today's China as "the shopaholic of planet Earth".

"The Chinese authorities understand that to sustain the country's continued growth, they will have to ensure that its industries are provided with adequate supplies of energy, minerals, and other basic raw materials," he said. But the "going out" strategy went far beyond business transactions, he added.

"They seek to fashion a multipolar world in which no single power – read the United States – plays an overwhelmingly dominant role. To this end, they seek to bolster ties with rising regional powers like Brazil and South Africa."

In Sao Joao da Barra, the city nearest to Acu and one of Rio state's poorest regions, the Chinese presence is being felt even before Brazil's Highway to China is complete.

Keen to impress, LLX staff at the Açu port lay on hot water and Mandarin interpreters for visiting Chinese dignitaries. Sao Joao da Barra's town hall, meanwhile, has started offering free Mandarin lessons to locals interested in working with the wave of Chinese guests that is anticipated.

"You should see a 10-year-old boy saying, 'I understand … the Chinese are coming and when the Chinese industries come I want to work for them and if I speak Mandarin I'll have a competitive advantage on the others'," beamed Eike Batista, the billionaire entrepreneur behind the superport and one of the most vocal cheerleaders for Chinese advances into Brazil. "[It is] wonderful."

Leonardo Gadelha, LLX's CFO, said during a recent tour of the port: "This is part of a Chinese strategy of going to the market more and more. They are already a very considerable presence in Africa and we are now going through this moment in Brazil."

The Highway to China lay "in the middle" of this blossoming relationship with China, he said, adding: "We are betting that … this will continue growing."

Not all Brazilians, or indeed western governments, share such enthusiasm.

"There are many in Washington who worry about China's growing presence in Africa and Latin America and claim that this poses a threat to America's long-term strategic interests," said Klare, noting, however, that the US' "fixation" with Afghanistan and the war on terror meant there had been virtually no reaction.

In Brazil meanwhile China's arrival has prompted cries of neo-colonialism. "The Chinese have bought Africa and now they are trying to buy Brazil," the prominent economist Antônio Delfim Netto complained in a recent interview with the Estado de Sao Paulo newspaper, warning that it was a "grave mistake" to allow a foreign state to buy "land, minerals [and] natural resources" from another sovereign power.

Batista, Brazil's richest man, rejected such criticism, saying: "The association between Brazil and China is a two-way highway." Chinese companies such as Wuhan Iron and Steel had committed to helping build a $5bn steel mill at the port complex, rather than always shipping out primary resources to process at home, he pointed out. "You want to get three tonnes of raw iron ore, [so] produce one tonne of steel in Brazil," he said. "That philosophy is sinking in and is great for both sides."

Neither would Chinese companies be allowed to flood the complex with hordes of foreign workers as had happened in Africa, said Gadelha, the CFO.

"If it was up to them they would bring lots of Chinese workers as they are used to doing," he admitted. "[But] Brazil's legislation is very strict in this sense."

Batista suggested that rather than complaining about China's courtship of Brazil, western powers should urge their own companies to pay more attention to the region themselves.

"In the last 15 years or so the [American and European] CEOs have stopped coming here and that is why they are a little bit behind," he said. "We are pushing European companies and saying: 'You're not really understanding what is happening in Brazil'."

"Don't put Brazil in the same bag as our neighbours," he added. "We are not Central America. We are not Venezuela. We are not Argentina."

This article was amended on 17 September 2010. The original refferred to the 380-metre wide ChinaMax. This has been corrected.

Beijing's deals
Brazil In November 2009 Brazilian energy giant Petrobras signed a $10bn loan deal with China's Development Bank. As part of the deal Petrobras will guarantee the supply of 200,000 barrels of oil per day to China over the next 10 years. Chinese companies and state banks pumped around $20bn into Brazil in the first half of this year.

Venezuela Hugo Chávez, pictured, unveiled a $20bn credit line from China's Development Bank to fund the "Bolivarian revolution" in April.

Ecuador The country has already signed around $5bn of bilateral deals with China this year, including $1.7bn to help build a hydro-electric dam and $1bn investments for oil exploration and infrastructure projects. In 2009 direct Chinese investment in the country was just $56m.

Peru Chinese companies invested $1.4bn in mining operations in Peru during the first four months of this year, making China the country's second largest trade partner.

Política externa e o debate eleitoral - Mundorama

Os autores acreditam que a oposição ao governo atual "insinua" ligações do PT com as FARC. Não se pode insinuar o que é um FATO. Pode-se apenas afirmar, informar, constatar. Como já disse alguém, fatos são teimosos: eles não deixam de existir apenas porque não se gosta deles. Eles continuam teimosamente lá.
Eles também exibem certa ingenuidade, ao afirmar que "as ações do Brasil no cenário internacional interessam ao mundo, como no caso do Irã."
Interessam ao mundo? Ou seja: o mundo veio pedir ao guia genial dos povos que, por favor, tentasse intermediar o problema nuclear iraniano já que os líderes das principais potências nucleares e a Alemanha foram incapazes de trazer o Irã à mesa de negociações? Não se sabe se é ingenuidade ou falta de informação.
Talvez contaminação pelo "novo olhar da diplomacia brasileira"...
Em todo caso, cabe a leitura, embora se deva descontar a ingenuidade em muitas passagens, como nesta aqui, por exemplo:
"As eleições diretas para o parlamento do Mercosul devem ser outro fator estrutural que dará impulso a essa tendência nas próximas eleições..."!!! Se algum eleitor souber que existem (onde estão?) candidatos para o Parlamento do Mercosul, deve certamente ser um estudante de Mestrado especializado em Mercosul...
Em algum momento a realidade encontrará o artigo, apenas não se sabe quando...
Paulo Roberto de Almeida

Política externa e o debate eleitoral
Leandro Freitas Couto & Taís Sandrim Julião
Boletim Mundorama, 21 Setembro 2010

Política externa não dá voto. Essa é uma afirmação que, com certo pesar, afirmam parte expressiva dos especialistas em Relações Internacionais. Não por acaso. Como aponta Almeida (1992), tradicionalmente os partidos políticos brasileiros – atores-chave na estrutura eleitoral – não tem inserido a política externa como uma de suas prioridades no conjunto de suas propostas de políticas públicas.

É igualmente importante destacar que, do ponto de vista eleitoral e da trajetória institucional dos partidos, o Brasil apresenta um perfil bastante instável. Isso de deve, em grande medida, as características da própria democracia vivida pelo país. Questões sobre representação e sufrágio, tão caras ao princípio democrático e relacionadas à estrutura partidária, foram, por vezes, abandonadas ou relegadas a segundo plano, tendo por base, curiosamente, o desejo de fortalecer a democracia no país. São exemplos a plataforma populista de Vargas e o golpe militar de 1964; este, inclusive, dado em nome dos valores e das instituições democráticas. Nesse sentido, vislumbramos uma trajetória em que a relativa indiferença dos partidos sobre a política externa do país é apenas uma dimensão de um problema mais amplo e de ordem mais estrutural, no qual a própria existência e a representatividade dos partidos foram colocadas em xeque.

É preciso ponderar, entretanto, que essas particularidades da organização política brasileira não impediram que o debate político trouxesse para a esfera doméstica temas, problemas e oportunidades para o Brasil relacionadas ao cenário da política internacional. Não é inédito na história do país, e muito menos um fenômeno contemporâneo, o interesse de articular as esferas nacional e internacional para usos políticos domésticos.

A construção de legitimidade de governos já teve na política externa e na inserção internacional do país seu principal lastro. A título de exemplo, podemos mencionar o governo Médici que, em um contexto de frustração das expectativas democráticas, buscou arrefecer as tensões domésticas ao propagandear os lemas de “Brasil Potência” e frases de efeito como “Ninguém segura este país!”, em referência direta ao aumento do peso relativo do Brasil fundamentado em estatísticas de crescimento econômico que consagraram a idéia de “Milagre Econômico”. Ainda que não atrelado a um discurso partidário e ao debate eleitoral – não ocorriam eleições regulares e, portanto, tradução em termos de voto – havia sim a relação direta a um discurso em termos de plataforma política, no caso a do regime militar.

A promulgação de uma nova constituição em 1988 foi fundamental para construir um novo sentido para o debate democrático no país, sobretudo em um contexto de retorno da estrutura pluripartidária e da realização de eleições regulares. A reestruturação da cena partidária e eleitoral representa, assim, o ponto de partida de um processo de amadurecimento político do país; processo esse que, somado a outras questões, aponta na direção de que a política externa tende a preencher um espaço cada vez mais significativo nas agendas dos partidos políticos e, por conseqüência, repercutir nas campanhas eleitorais em um ambiente mais “democratizado”.

Nesse sentido, a experiência eleitoral de 2010 se coloca como um marco, particularmente no âmbito da disputa presidencial. A quantidade de informações relacionadas à política externa que está sendo veiculada no âmbito do debate eleitoral desse ano, especialmente pelas três principais candidaturas que tentam chegar ao Palácio do Planalto, pode ser um indicativo da superação da máxima de que política externa não dá voto. A nosso ver, isso se dá tanto por fatores estruturais quanto por fatores conjunturais.

Do ponto de vista estrutural, não há dúvidas de que as mudanças ocorridas nos últimos anos nas comunicações e tecnologias de informação fazem chegar até nós, com mais velocidade, uma realidade internacional que cada vez afeta mais o cenário doméstico. Embora a capacidade de análise estruturada dessa informação por parte da maioria da população seja baixa, há certa compreensão, ainda que parcial, de que o que se passa no mundo afeta o Brasil, vide a recente crise internacional, e de que as ações do Brasil no cenário internacional interessam ao mundo, como no caso do Irã.

Como a percepção da população com relação às interações do Brasil com o mundo se dá de forma difusa, e as informações são trabalhadas de modo episódico, essa mudança estrutural ainda não é definidora de uma tendência a respeito do nível de importância da política externa para a definição de uma corrida eleitoral no país. Todavia, fatores conjunturais se somam a essa mudança estrutural e, certamente, influenciam de forma direta a pauta do debate do eleitoral de modo que questões externas tenham cada vez mais espaço.

Em primeiro lugar, a implementação, nos últimos anos, de uma política externa ativa, de cunho universalista e autonomista, ao lado da projeção internacional do próprio presidente Lula, conferiu ao país um novo posicionamento no cenário global. Obviamente, essa projeção conta com aspectos positivos e negativos, custos e benefícios que são explorados pelas correntes políticas internas que disputam o poder. Nessa linha, elementos de política externa vêm sendo apresentados com certa constância nos programas eleitorais dos principais candidatos.

Outro fator conjuntural interessante a ser destacado diz respeito à projeção internacional de empresas brasileiras, que vem alcançando o status de verdadeiras marcas globais. Nessa direção, o caso da Petrobras é emblemático, sobretudo porque figura no imaginário coletivo nacional como um dos símbolos mais consistentes dos interesses e das ambições brasileiras em sua ação internacional.

Interessante mencionar a visibilidade conferida pela grande mídia às discussões sobre as mudanças climáticas e seus efeitos ao redor do globo e no Brasil, trazendo esse tema, com forte relação com a política externa, para a pauta eleitoral. Certamente, contribui com isso o fato de que um dos três principais candidatos tem no discurso ambiental seu principal mote, o que também força às demais candidaturas a se posicionarem sobre o tema. Assim, esse elemento possui uma dupla dimensão: é tanto conjuntural – sobretudo aos olhares da mídia – quanto estrutural – a ponto de se configurar como o eixo do programa de governo.

A hipótese inicial é de que há uma análise qualitativa por detrás das principais campanhas de que esses temas podem atrair votos para cada uma das chapas, a ponto de serem explorados nos programas dos candidatos. Além disso, ocorre a construção de discursos diferenciados para o grande público, com imagens e discursos simples e diretos, e um debate orientado por intelectuais ligados às principais correntes políticas e ideológicas do país, que mira o voto mais qualificado, multiplicador enquanto formador de opinião. Nota-se que, enquanto a principal candidatura de oposição usa a política externa para atacar o governo, inclusive insinuando ligações entre o Partido dos Trabalhadores e as FARC, para a parcela da esquerda que critica o governo por conta da continuidade de políticas econômicas ortodoxas, a política externa é apontada justamente como um dos mais importantes avanços dos dois mandatos de Lula da Silva

Oportunidades abertas por mudanças estruturais são aproveitadas por elementos conjunturais que as reforçam. As eleições diretas para o parlamento do Mercosul devem ser outro fator estrutural que dará impulso a essa tendência nas próximas eleições, e os movimentos internacionais do Brasil formarão o contexto que poderá consolidar essa tendência de crescente importância da política externa no debate eleitoral. Nessa linha, passará a ser um elemento que ajudará, cada vez mais, na definição do voto do eleitor. Da condição de mito, esse tende a ser um horizonte de reflexão promissor para os especialistas de Relações Internacionais, pois, como buscou argumentar esse artigo, a relação entre política externa e eleições não poderá mais ser subestimada.

Referências:
ALMEIDA, Paulo Roberto. Os Partidos Políticos nas Relações Internacionais do Brasil, 1930-90. Contexto Internacional, Rio de Janeiro, vol. 14, nº 2, jul/dez 1992, pp.161-208.

Leandro Freitas Couto é Doutorando em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília – UnB, Professor de Política Externa Brasileira do Instituto de Ensino Superior de Brasília – IESB, e Analista de Planejamento e Orçamento do Ministério do Planejamento (leandro.couto@gmail.com).

Taís Sandrim Julião é Mestre em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília – UnB e Professora de Relações Internacionais do Instituto de Educação Superior de Brasília – IESB (tais.sandrim@gmail.com).

Ate onde vai o discurso (e a pratica) do "odio aos inimigos politicos"

Felizmente não é no Brasil. Pelo menos ainda não.
Mas numa terra cujo líder é muito admirado pelos seus êmulos tupiniquins...
Se dependesse deles, talvez o Brasil ficasse um pouco mais parecido com o vizinho, e infeliz, país...
Paulo Roberto de Almeida

Los extremos del odio
Editorial de Teodoro Petkoff
Tal Cual, 20.09.2010

El 3 de enero ingresó al Hospital Universitario de Maracaibo un policía llamado Junior Galué, con dos balazos en la cabeza y en estado crítico. Fue atendido por el médico Frank de Armas, veinte años de graduado y en sus tiempos presidente de la FCU de la Universidad del Zulia. Cuando se disponía a intervenir al agente Galué, recibió del Director del Hospital Universitario, Dr. Dámaso Domínguez, esta inverosímil orden: “Mándalo para una clínica privada porque ése es de la policía de la Alcaldía de Manuel Rosales”. De Armas, estupefacto, advirtió que el herido estaba agonizando. Dámaso Domínguez retrucó: “Si usted no acata mi orden, mañana está despedido”. De Armas desobedeció la vileza y la crueldad de su superior y operó al agente a quien, por cierto, le salvó la vida. Al día siguiente Frank de Armas fue despedido; denunció la aberrante conducta de Domínguez ante la Fiscalía y la Defensoría del Pueblo y nueve meses después sigue esperando respuesta. Se nos ha dicho que el doctor Dámaso Domínguez es un médico muy reputado. No hay razones especiales para dudar de que además de buen profesional sea un ciudadano normal, buen padre y tal vez apreciado por sus amigos. Como todo maracucho, no tiene nada de raro que sea una persona cordial y abierta. ¿Qué es lo que ha hecho que pueda actuar como un monstruo, capaz de ordenar que no se atienda a un paciente porque es de “los otros” y despedir al médico porque atendió a ese paciente que agonizaba? Hay allí un cerebro envenenado por un discurso de odio, que destila desprecio e insultos contra sus adversarios; que insiste en considerarlos como “enemigos”, amenazando con “pulverizarlos”, “aniquilarlos”. “demolerlos”. Un discurso que ha transformado a personas normales en fanáticos que han delegado su facultad de razonar con su cabeza en la del Líder Máximo “quien nunca se equivoca”. Once años de ese discurso canalla nos han enfermado como sociedad y cada extremo de ella no es sino la imagen especular del otro. Afortunadamente los extremos son minoritarios y el buen sentido común está venciéndolos. Pero ése es, hasta ahora, el más penoso e infeccioso legado de Hugo Chávez

Nova geografia do comercio internacional: finalmente um acordo...

O modesto acordo Sul-Sul
Editorial - O Estado de S.Paulo
21 de setembro de 2010

O Brasil e mais dez países poderão concluir em dezembro a primeira Rodada Sul-Sul, uma negociação comercial lançada em São Paulo em 2004. O ponto principal do acordo será uma vantagem tarifária - ou margem de preferência - de 20% para a maior parte dos produtos comercializados entre os participantes. O governo brasileiro propõe a assinatura do compromisso em Foz do Iguaçu, durante a próxima conferência de cúpula do Mercosul. Até lá, os diplomatas terão de torcer para ninguém mais desistir. No começo da negociação os envolvidos eram 40 países. O número foi minguando e dos 11 atuais 4 são do Mercosul.

O resultado econômico será provavelmente modesto, mas o governo brasileiro poderá apresentar o acordo como um feito diplomático importante: pela primeira vez países emergentes da América, da Ásia e da África terão formalizado uma troca de vantagens dentro do Sistema Geral de Preferências Comerciais.

Será também o primeiro acordo brasileiro com vários parceiros de fora da América do Sul. A negociação entre Mercosul e União Europeia foi retomada recentemente, depois de quase seis anos de abandono, e sua conclusão é incerta. O projeto da Área de Livre Comércio das Américas envolveria 34 países do hemisfério, mas foi implodido em 2003. A mais ambiciosa iniciativa multilateral, a Rodada Doha, lançada em 2001, está paralisada há mais de um ano e ninguém sabe quando se poderá retomá-la para valer.

Fora da vizinhança, o Mercosul tem acordos de livre comércio com Israel e com o Egito, Além disso, acertou algumas facilidades com o México, mas em escala muito limitada. A primeira Rodada Sul-Sul foi lançada em São Paulo, há seis anos, durante evento da Unctad, a Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento. Realizada pela primeira vez em 1964, em Genebra, essa conferência, concebida como um fórum de países do Terceiro Mundo, se converteu em órgão permanente.

A ideia de uma Rodada Sul-Sul ajustou-se perfeitamente às novas bandeiras da diplomacia brasileira, adotadas a partir de 2003. Mas três quartos dos países mobilizados inicialmente abandonaram o projeto. A China, embora considerada uma potência emergente, seria um parceiro incômodo, por causa de suas condições especiais de competitividade. O grupo remanescente inclui, além dos quatro membros do Mercosul, a Coreia, por muitos considerada um país industrializado, a Índia, a Indonésia, a Malásia, o Egito, o Marrocos e a pequena Cuba, a menor e mais fraca dessas economias.

O Mercosul já tem um acordo de livre comércio com o Egito, assinado este ano. A Coreia já negociou um acordo desse tipo com os Estados Unidos, ainda não aprovado pelo Congresso americano, e suas conversações com a União Europeia estão avançadas. Dentre as economias envolvidas na Rodada Sul-Sul, a mais desenvolvida é a coreana, com elevado nível de industrialização, respeitável estoque de capital humano e alto padrão de competitividade.

A rodada encolheu não só em número de participantes. Também as propostas se tornaram mais modestas. O Mercosul defendeu inicialmente uma redução de tarifas de 40%. Mas a margem de preferência acabou ficando em 20% - apreciável, de toda forma. Além disso, os negociadores foram cautelosos na seleção dos produtos com tarifas sujeitas à redução. O Brasil não terá facilidades maiores para exportar produtos do agronegócio. Sua competitividade nessa área é reconhecida. Mas, em contrapartida, não concederá facilidades para o ingresso de produtos têxteis, eletrônicos, veículos e bens de capital.

A conclusão dessa rodada provavelmente criará oportunidades comerciais. Mesmo com esse acordo, no entanto, o balanço do governo Lula, no campo da diplomacia comercial, será muito pobre. Parte desse resultado será atribuível às suas escolhas. Decisões políticas erradas privaram o Brasil, por exemplo, de uma presença maior no mercado americano e de acordos vantajosos com parceiros do mundo rico. Nossos concorrentes se beneficiaram desse equívoco.

Republica Mafiosa do Brasil (34): por favor, dirija-se ao balcao ao lado...

A frase, "balcão ao lado", é típica das burocracias públicas, e até das privadas, quando se tem de tratar com um grande público e os assuntos são variados, demandando, portanto, alguma especialização dos atendentes, o que nada mais é do que uma manifestação corriqueira da chamada "divisão do trabalho", tão bem explicitada, para os economistas, na obra seminal de Adam Smith, "The Wealth of Nations" (o título é mais longo, mas é conhecida assim).
O problema começa, no governo de que dispomos, que não tratava exatamente de um balcão, e não era bem ao lado, mas sim uma central de negócios em botecos obscuros de corrupção, agora chamada de "consultoria para o sucesso do negócio".
Um governo mafioso sempre atua assim, como sabemos por experiência, por história, por relatos da imprensa.
É o que nos convida a fazer, ou o chamamento que faz aos seus colegas jornalistas, o editorialista de economia do Estadão, Rolf Kuntz, no "Observatório da Imprensa".

ELEIÇÕES & ECONOMIA
Cobertura resvala nos grandes temas
Por Rolf Kuntz
Observatório da Imprensa, 21/9/2010

O caso Erenice Guerra é uma grande história, mas pode ser também a porta de entrada para uma história maior. Afinal, por que um empresário precisa de intermediário para pedir empréstimo ao BNDES, o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social? Ou para pleitear um contrato com uma empresa controlada pela União? Os parentes da recém-demitida ministra-chefe da Casa Civil não recorreram a anúncios classificados para vender seus serviços. Mas foram procurados para facilitar os negócios. Quantos escritórios prestarão serviços semelhantes, aberta ou veladamente?

Nenhuma fonte oficial vai confirmar a necessidade de intermediários. Empresários favorecidos pelo tráfico de influência, com ou sem propina, também não vão contar suas histórias publicamente. Mas uma pauta mais ampla sobre como funciona esse jogo no Brasil pode ser compensadora, embora trabalhosa. Assuntos como esse não são estritamente econômicos ou políticos, mas os jornais muito raramente mobilizam pessoal das duas áreas para trabalhar em conjunto. Quando ocorre essa cooperação, o resultado é geralmente bom.

Fundo Soberano ou Fundo Eleitoral?

Leiam primeiro a notícia abaixo:

Fundo Soberano ganha aval para fazer aplicação em moeda estrangeira

O Ministério da Fazenda anunciou ontem que o Fundo Soberano do Brasil (FSB), que dispõe atualmente de R$ 17,92 bilhões (posição de agosto), poderá efetuar aplicação em moeda estrangeira. A decisão é do Conselho Deliberativo do Fundo, formado pelos ministros da Fazenda, Guido Mantega; do Planejamento, Paulo Bernardo; e pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.

Pelo deliberação do Conselho, não haverá limite para as operações em moeda estrangeira. As aplicações financeiras do FSB não terão impacto sobre o Orçamento, já que se tratam de gestão de recursos do Tesouro Nacional, não constituindo despesa pública.


Comento (PRA):
"Não terão impacto sobre o Orçamento", vírgula. Já tiveram.
Não sei se as pessoas sabem, e se os parlamentares, que aprovaram o Fundo sabem, ou se sabem preferiram ignorar, o tal Fundo Soberano JÁ TEVE impacto sobre o orçamento e já constituiu uma despesa pública, apenas que agora de livre movimentação pelo Executivo, ou seja, subtraindo-se ao controle das despesas públicas que todo parlamento digno desse nome exerce, constitucionalmente, em prol da boa gestão das contas públicas.
Como o Brasil não exibe NENHUM dos requerimentos para possuir um Fundo Soberano -- que seria um excedente fiscal e um excedente de transações correntes -- esse Fundo, que só é soberano no nome, pois é Dependente do Tesouro (e portanto dos nossos ativos financeiros, carreados para o governo via impostos), utiliza-se de recursos transferidos do orçamento ordinário (e portanto submetido às aplicações previamente aprovadas pelo parlamento, com p minúsculo) para gastos discricionários do poder executivo (idem quanto às minúsculas), inclusive para fins eleitorais, como o pré-sal e a malfadada capitalização da Petrobras e a criação da Petro-sal.
Inacreditável como as pessoas em geral, e os parlamentares em particular, não se dão conta dos abusos que se cometem no Brasil contra os seus recursos, os seus ativos financeiros próprios. Aliás, se cometem ILEGALIDADES, pois que o Fundo Soberano, tal como aprovado pelo parlamento (idem) NÃO PODERIA receber recursos retirados do orçamento.
Ocorre que no mesmo dia de sua promulgação pelo Congresso, o governo emitiu uma Medida Provisória -- que eu, sem ser especialista em direito, reputo INCONSTITUCIONAL -- autorizando o tal Fundo a receber esses recursos, na prática, portanto, fazendo o contrário do que tinha sido aprovado pelos parlamentares.
Inacreditável, assim, que os parlamentares, o Congresso como um todo, ou simplesmente a oposição política, não tenha ingressado com uma ação de inconstitucionalidade junto ao STF para liquidar com a MP celerada.
Inacreditável também que ninguém proteste contra o uso político desses recursos, que, REPITO, sairam dos nossos bolsos e constituem, SIM, despesas públicas, que agravam a dívida bruta da União.
Nunca antes neste país se viram tantos atentados à legalidade constitucional, na total passividade da classe política, na total complacência dos economistas e cidadãos.
Não com a minha tolerância, claro...
Paulo Roberto de Almeida

Cuba comunista: Brasil pronto a ajudar, diz Celso Amorim

A nota abaixo figura num newsletter da liderança do PT na Câmara dos Deputados (21.09.2010). Transcrevo a tal qual.
Apenas achei curioso que se maifesta, expressamente, a vontade de cooperar com o "desenvolvimento econômico da ilha comunista" (sic, como se escreve, neste caso, três vezes). Curiosa essa cooperação.
Seria para manter a economia da ilha no sistema comunista?
Seria para manter uma das últimas ditaduras totalitárias do mundo?
Isso não tem nada a ver com política externa, pois se trata apenas de "desenvolvimento econômico", ao que parece, embora também pertença ao domínio dos atos de política externa, pois um país pratica diplomacia ao oferecer cooperação a outros.
Sempre existe a escolha de fazer ou não fazer. Geralmente os Estados cooperam com outros Estados que costumam partilhar interesses, valores, princípios, objetivos prioritários.
Não sei existe tal coisa entre o Brasil e a tal de "ilha comunista", como voluntariamente descrita pelos petistas.
Creio que é uma questão de escolha. Alguns diriam até que é uma questão de caráter...
Paulo Roberto de Almeida

Brasil está pronto para ajudar Cuba, diz Celso Amorim

O chanceler brasileiro, Celso Amorim, afirmou ontem que o Brasil está pronto para ajudar Cuba a desenvolver pequenos e médios negócios a fim de contribuir com o desenvolvimento econômico da ilha comunista. A cooperação na área de negócios foi um dos temas discutidos por Amorim com o presidente cubano, Raúl Castro, em Havana, no sábado (18).

Amorim disse que o Brasil tem uma vasta experiência na promoção do empreendedorismo para desenvolver a economia formal. Cuba, acrescentou, precisará desse conhecimento para ajudar seu setor privado a absorver 500 mil funcionários públicos que o governo estuda demitir até março, como parte de uma estratégia para tornar sua economia mais eficiente.

A iniciativa do chanceler brasileiro foi elogiada pelo deputado Nilson Mourão (PT-AC). “É uma manifestação politicamente correta e solidária do Brasil para com Cuba. No momento em que economia cubana vive momentos difíceis, o Brasil pode e deve colaborar com suas experiências para que Cuba enfrente suas dificuldades econômicas”, disse.

Mais de 5 milhões de pessoas, ou 85% da força de trabalho cubana, trabalham para o governo, muitos dos quais em funções improdutivas. A transferência de meio milhão de trabalhadores para o setor privado é vista como a mais importante decisão política de Cuba desde que Raúl assumiu as tarefas diárias de seu irmão enfermo Fidel, em 2006, tornando-se oficialmente presidente em 2008.

Democracia e fascismo: as simple as that

Em geral, sou contra maniqueísmos e dicotomias simplistas, como a que transparece, aparentemente, no título deste blog.
Em determinados momentos da vida pública, porém, escolhas devem ser feitas.
Não entre aquelas que vão nos conduzir a uma democracia perfeita, nem em favor de um fascismo ao estilo italiano dos anos 1920 ou nazista dos anos 1930.
O mundo não é assim tão preto e branco como acreditam alguns.
Acontece, porém, que certas manifestações de pensamento (eu até diria de ignorância, na outra ponta), nos aproximam ou nos distanciam desses dois pólos fundamentais do mundo contemporâneo: de um lado as democracias, falhas como soem ser, do outro, os fascismos, terríveis em sua vocação destruidora e totalitária, como ocorreram de fato, com tantas desgraças e milhões de mortos em vários países.
Atualmente, na região, e no próprio Brasil, existem essas duas tendências, não como reproduções miméticas de experiências precedentes, mas como elementos potenciais da construção de uma sociedade mais democrática, de um lado, e mais corporativa, mais autoritária, enfim mais fascista, do outro.
Me parece inacreditável, assim, que personalidades aparentemente mas enganosamente "progressistas" apoiem um líder de tendências fascistas como certo coronel do Caribe.
Inacreditável pela sua cegueira, ou talvez por uma vontade deliberada de mistificar o processo político em favor desses regimes deliberadamente e manifestamente celerados, ou talvez uma simples demonstração de auto-engano (o que também é cegueira auto-infligida e idiotice assumida).
Transcrevo abaixo, em primeiro lugar, a "convocação" contra o que esses movimentos sociais chamam de "golpismo midiático", que na verdade é a simples liberdade de expressão e de manifestação do pensamento. Partidos e grupos comprometidos com as ditaduras e o autoritarismo atuam assim.
Transcrevo depois, e novamente, o manifesto pela democracia, assinado por personalidades da vida pública. Vocês podem julgar quanto ao conteúdo de cada uma das peças...
Paulo Roberto de Almeida

Convocação a manifestação "contra a baixaria nas eleições e contra o golpismo midiático"
Centrais sindicais e movimentos sociais preparam a realização de um manifesto público contra a baixaria nas eleições e contra o golpismo midiático. O ato, que deverá ocorrer nesta quinta-feira (23), a partir das 19h, no auditório do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, tem como objetivo chamar a atenção da população brasileira para a partidarização de grande parte da mídia brasileira, que tenta favorecer o candidato do PSDB, José Serra.
No texto convocatório do ato, as centrais e os movimentos sociais denunciam o “jogo combinado de alguns veículos de comunicação”, afinados com os interesses da oposição, que estampam manchetes que mais parecem peças de campanha do que informação. “Como num jogo combinado, as manchetes da velha mídia viram peças de campanha nos programas de TV do candidato das forças conservadoras. Essa manipulação grosseira objetiva castrar o voto popular e tem como objetivo secundário deslegitimar as instituições democráticas a duras penas construídas no Brasil”, diz o texto.

Na reta final da eleição, a campanha presidencial no Brasil enveredou por um caminho perigoso. Não se discutem mais os reais problemas do Brasil nem os programas dos candidatos para desenvolver o país e para garantir maior justiça social. Incitada pela velha mídia, o que se nota é uma onda de baixarias, de denúncias sem provas, que insiste na ‘presunção da culpa’, numa afronta à Constituição que fixa a ‘presunção da inocência’.
Os boatos que circulam nas redações e nos bastidores das campanhas são preocupantes e indicam que o jogo sujo vai ganhar ainda mais peso. Conduzida pela velha mídia, que nos últimos anos se transformou em autêntico partido político conservador, essa ofensiva antidemocrática precisa ser barrada. No comando da ofensiva estão grupos de comunicação que - pelo apoio ao golpe de 64 e à ditadura militar - já mostraram seu desapreço pela democracia.


=======

Agora transcrevo o manifesto em defesa da democracia, do estado de direito, da liberdade de imprensa e dos direitos individuais.
Ele emana de um movimento apartidário e seus signatários são simples personalidades públicas, não "sindicatos e movimentos sociais", ou partidos, como no caso anterior.
Já o tinha transcrito aqui, em post anterior, e já tinha dito que não o assinaria, por razões que me são próprias.
O que não quer dizer que não apoie, essencialmente, seus objetivos.
Paulo Roberto de Almeida

MANIFESTO EM DEFESA DA DEMOCRACIA

Em uma democracia, nenhum dos Poderes é soberano.

Soberana é a Constituição, pois é ela quem dá corpo e alma à soberania do povo.

Acima dos políticos estão as instituições, pilares do regime democrático. Hoje, no Brasil, os inconformados com a democracia representativa se organizam no governo para solapar o regime democrático.

É intolerável assistir ao uso de órgãos do Estado como extensão de um partido político, máquina de violação de sigilos e de agressão a direitos individuais.

É inaceitável que a militância partidária tenha convertido os órgãos da administração direta, empresas estatais e fundos de pensão em centros de produção de dossiês contra adversários políticos.

É lamentável que o Presidente esconda no governo que vemos o governo que não vemos, no qual as relações de compadrio e da fisiologia, quando não escandalosamente familiares, arbitram os altos interesses do país, negando-se a qualquer controle.

É inconcebível que uma das mais importantes democracias do mundo seja assombrada por uma forma de autoritarismo hipócrita, que, na certeza da impunidade, já não se preocupa mais nem mesmo em fingir honestidade.

É constrangedor que o Presidente da República não entenda que o seu cargo deve ser exercido em sua plenitude nas vinte e quatro horas do dia. Não há “depois do expediente” para um Chefe de Estado. É constrangedor também que ele não tenha a compostura de separar o homem de Estado do homem de partido, pondo-se a aviltar os seus adversários políticos com linguagem inaceitável, incompatível com o decoro do cargo, numa manifestação escancarada de abuso de poder político e de uso da máquina oficial em favor de uma candidatura. Ele não vê no “outro” um adversário que deve ser vencido segundo regras da Democracia , mas um inimigo que tem de ser eliminado.

É aviltante que o governo estimule e financie a ação de grupos que pedem abertamente restrições à liberdade de imprensa, propondo mecanismos autoritários de submissão de jornalistas e empresas de comunicação às determinações de um partido político e de seus interesses.

É repugnante que essa mesma máquina oficial de publicidade tenha sido mobilizada para reescrever a História, procurando desmerecer o trabalho de brasileiros e brasileiras que construíram as bases da estabilidade econômica e política, com o fim da inflação, a democratização do crédito, a expansão da telefonia e outras transformações que tantos benefícios trouxeram ao nosso povo.

É um insulto à República que o Poder Legislativo seja tratado como mera extensão do Executivo, explicitando o intento de encabrestar o Senado. É um escárnio que o mesmo Presidente lamente publicamente o fato de ter de se submeter às decisões do Poder Judiciário.

Cumpre-nos, pois, combater essa visão regressiva do processo político, que supõe que o poder conquistado nas urnas ou a popularidade de um líder lhe conferem licença para rasgar a Constituição e as leis. Propomos uma firme mobilização em favor de sua preservação, repudiando a ação daqueles que hoje usam de subterfúgios para solapá-las. É preciso brecar essa marcha para o autoritarismo.

Brasileiros erguem sua voz em defesa da Constituição, das instituições e da legalidade.

Não precisamos de soberanos com pretensões paternas, mas de democratas convictos.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

A globalizacao e as desigualdades: corrigindo velhos mitos

Estou revisando alguns dos meus escritos para um livro sobre a globalização e a antiglobalização, e fui naturalmente levado a verificar alguns links a matérias de imprensa, especificamente vinculadas a estudos do economista catalão da Columbia University, Xavier Sala-i-Martin, citado nas duas matérias do New York Times que transcrevo abaixo.
Paulo Roberto de Almeida

Economic Scene; The rich get rich and poor get poorer. Right? Let's take another look.
By Virginia Postrel
The New York Times, August 15, 2002

TO critics of economic liberalization and international trade, it is an article of faith that the rich are getting richer and the poor poorer.
''Inequality is soaring through the globalization period -- within countries and across countries,'' Noam Chomsky told a conference last fall, summarizing this common view.
Antiglobalization activists are not just making up this idea. They have taken it from seemingly authoritative sources, notably the 1999 United Nations Human Development Report.
That widely cited report stated: ''Gaps in income between the poorest and richest countries have continued to widen. In 1960 the 20 percent of the world's people in the richest countries had 30 times the income of the poorest 20 percent -- in 1997, 74 times as much.'' It added that ''gaps are widening both between and within countries.''
Fortunately, this scary portrait is highly misleading.
''When I started looking at the numbers, I saw a lot of mistakes,'' says Xavier Sala-i-Martin, an economist at Columbia. Some were departures from standard economic procedures, like not correcting for price levels from country to country.
''Some agencies didn't adjust for the fact that Ethiopia is cheaper than the U.S.,'' he said. ''Some of them were hiding numbers that we know exist.'' For instance, the report included data from only 19 of the 29 industrialized countries then in the Organization for Economic Cooperation and Development.
But the biggest problem was not so technical. It was hidden in plain sight. The United Nations report and others looked at gaps in income of the richest and poorest countries -- not rich and poor individuals.
That means the formerly poor citizens of giant countries could become a lot richer and still barely show up in the data.
''Treating countries like China and Grenada as two data points with equal weight does not seem reasonable because there are about 12,000 Chinese citizens for each person living in Grenada,'' writes Professor Sala-i-Martin in ''The World Distribution of Income (Estimated from Individual Country Distributions).'' That is one of two related working papers for the National Bureau of Economic Research. (The papers are available on Professor Sala-i-Martin's Web site at www.columbia.edu/xs23/home.html.)
Counting by countries misses the biggest economic advance in history, completely distorting the record of the globalization period.
Over the last three decades, and especially since the 1980's, the world's two largest countries, China and India, have raced ahead economically. So have other Asian countries with relatively large populations.
The result is that 2.5 billion people have seen their standards of living rise toward those of the billion people in the already developed countries -- decreasing global poverty and increasing global equality. From the point of view of individuals, economic liberalization has been a huge success.
''You have to look at people,'' says Professor Sala-i-Martin. ''Because if you look at countries, we do have lots and lots of little countries that are doing very poorly, namely Africa -- 35 African countries.'' But all Africa has only about half as many people as China.
In his paper, ''The Disturbing 'Rise' of Global Income Inequality,'' he estimates the worldwide distribution of income by individuals rather than countries. The results are striking.
In 1970, global income distribution peaked at about $1,000 in today's dollars, a common measure of poverty ($2 a day in 1985 dollars). In 1998, by contrast, the largest number of people earned about $8,000 -- a standard of living equivalent to Portugal's.
''That's what I call a new world middle class,'' says Professor Sala-i-Martin. It is mostly made up of the top 40 percent of Chinese and Indians, and the effect of their economic rise is big.
What about the argument that income gaps are widening within these rapidly advancing countries? With a few exceptions, it is true, but still misleading.
The rich did get richer faster than the poor did. But for the most part the poor did not get poorer. They got richer, too. In exchange for significantly rising living standards, a little more internal inequality is not such a bad thing.
''One would like to think that it is unambiguously good that more than a third of the poorest citizens see their incomes grow and converge to the levels enjoyed by the richest people in the world,'' writes Professor Sala-i-Martin. ''And if our indexes say that inequality rises, then rising inequality must be good, and we should not worry about it!''
There is, however, one large country where the poor really are getting poorer while the rich grow richer: Nigeria, the most populous country in Africa.
Nigeria's economy has actually shrunk over the last three decades, and the absolute poverty rate -- the percentage of the population living on less than $1 a day in 1985 dollars -- skyrocketed to 46 percent in 1998 from 9 percent in 1970.
While most Nigerians were falling further into destitution, the political and economic elite grew richer. The problem is not too much liberalization but too little, a politicized economy with widespread corruption.
''The rich guys are doing well, therefore reforms will not come,'' says a pessimistic Professor Sala-i-Martin. He has begun studying Nigeria, trying to come up with ways around the political problem.
That country is typical of Africa, which is growing ever poorer. Fully 95 percent of the world's ''one-dollar poor'' live in Africa, and in many countries they make up the vast majority of the population. That poverty, not the rising wealth of Asian countries, is the global economy's real problem.
''The welfare implications of finding how to turn around the growth performance of Africa are so staggering,'' he writes, ''that this has probably become the most important question in economics.''
Photo: While Nigeria is one country where the poor are getting poorer while the rich grow richer, data suggesting this is the case in much of the world may be misleading. (Associated Press)

Virginia Postrel is the author of ''The Future and Its Enemies'' and is writing a book on the increasing importance of aesthetics in the economy and society. E-mail: vpostrel@dynamist.com.

====================

OP-ED COLUMNIST
Good News About Poverty
By DAVID BROOKS
The New York Times, November 27, 2004

I hate to be the bearer of good news, because only pessimists are regarded as intellectually serious, but we're in the 11th month of the most prosperous year in human history. Last week, the World Bank released a report showing that global growth "accelerated sharply" this year to a rate of about 4 percent.

Best of all, the poorer nations are leading the way. Some rich countries, like the U.S. and Japan, are doing well, but the developing world is leading this economic surge. Developing countries are seeing their economies expand by 6.1 percent this year - an unprecedented rate - and, even if you take China, India and Russia out of the equation, developing world growth is still around 5 percent. As even the cautious folks at the World Bank note, all developing regions are growing faster this decade than they did in the 1980's and 90's.

This is having a wonderful effect on world poverty, because when regions grow, that growth is shared up and down the income ladder. In its report, the World Bank notes that economic growth is producing a "spectacular" decline in poverty in East and South Asia. In 1990, there were roughly 472 million people in the East Asia and Pacific region living on less than $1 a day. By 2001, there were 271 million living in extreme poverty, and by 2015, at current projections, there will only be 19 million people living under those conditions.

Less dramatic declines in extreme poverty have been noted around the developing world, with the vital exception of sub-Saharan Africa. It now seems quite possible that we will meet the United Nations' Millennium Development Goals, which were set a few years ago: the number of people living in extreme poverty will be cut in half by the year 2015. As Martin Wolf of The Financial Times wrote in his recent book, "Why Globalization Works": "Never before have so many people - or so large a proportion of the world's population - enjoyed such large rises in their standard of living."

As other research confirms, these rapid improvements at the bottom of the income ladder are contributing to and correlating with declines in illiteracy, child labor rates and fertility rates. The growth in the world's poorer regions also supports the argument that we are seeing a drop in global inequality.

Economists have been arguing furiously about whether inequality is increasing or decreasing. But it now seems likely that while inequality has grown within particular nations, it is shrinking among individuals worldwide. The Catalan economist Xavier Sala-i-Martin looked at eight measures of global inequality and found they told the same story: after remaining constant during the 70's, inequality among individuals has since declined.

What explains all this good news? The short answer is this thing we call globalization. Over the past decades, many nations have undertaken structural reforms to lower trade barriers, shore up property rights and free economic activity. International trade is surging. The poor nations that opened themselves up to trade, investment and those evil multinational corporations saw the sharpest poverty declines. Write this on your forehead: Free trade reduces world suffering.

Of course, all the news is not good. Plagued by bad governments and AIDS, sub-Saharan Africa has not joined in the benefits of globalization. Big budget deficits in the U.S. and elsewhere threaten stable growth. High oil prices are a problem. Trade produces losers as well as winners, especially among less-skilled workers in the developed world.

But especially around Thanksgiving, it's worth appreciating some of the things that have gone right, and not just sweeping reports like the one from the World Bank under the rug.

It's worth reminding ourselves that the key task ahead is spreading the benefits of globalization to Africa and the Middle East. It's worth noting this perhaps not too surprising phenomenon: As free trade improves the lives of people in poor countries, it is viewed with suspicion by more people in rich countries.

Just once, I'd like to see someone like Bono or Bruce Springsteen stand up at a concert and speak the truth to his fan base: that the world is complicated and there are no free lunches. But if you really want to reduce world poverty, you should be cheering on those guys in pinstripe suits at the free-trade negotiations and those investors jetting around the world. Thanks, in part, to them, we are making progress against poverty. Thanks, in part, to them, more people around the world have something to be thankful for.

Obtusos do nacionalismo pedagogico: enraivecei com a internacionalizacao da educacao

Desde muito tempo, venho observando que trogloditas universitários, entre eles eminentes professores e até reitores, aliás, a própria associação de reitores brasileiros -- nessa entidade obscurantista-corporatista que se chama Andifes -- vêm conduzindo um combate que eu chamo de retaguarda contra o que eles chamam de "mercantilização da educação brasileira".
Trata-se de uma bobagem monumental, pois em razão, justamente, da incapacidade das universidades públicas -- em geral federais, mas algumas estaduais também -- em oferecer aumento de vagas, produtividade "professoral" e outros progressos do gênero, o espaço vem sendo ocupado, praticamente de modo natural, pelas chamadas "indústrias universitárias", ou seja, faculdades privadas que hoje são responsáveis por cerca de 85% das vagas no ciclo superior.
Enquanto isso, os trogloditas do ensino público ficam combatendo fantasmas, ou moinhos de vento, que para eles seria a suposta "mercantilização do ensino", representada pela "ameaça" -- oh Deus, que perigo! -- de incorporação dos estudos universitários, ou do ensino em geral, nos serviços a serem liberalizados no âmbito do GATS, o acordo geral sobre comércio de serviços, administrado pela OMC. Os cavernosos do ensino público de terceiro ciclo -- que não merece, obviamente, o qualificativo de superior -- querem que o Brasil não ofereça abertura nesse setor, preservando-se a reserva de mercado nacional em matéria de ensino. Eles acham, os obscurantistas que a entrada de universidades estrangeiras iria degradar o nosso ensino, e "mercantilizá-lo" ainda mais.
Eles se esquecem de duas coisas singelas.
Primeiro: o setor já está devidamente mercantilizado e promete continuar assim.
Segundo: o setor já está aberto à competição e entrada de estrangeiros, e é bom que seja assim.
Em outros termos: o Brasil não precisa fazer nada, basta não ser burro, e deixar entrar qualquer ofertante estrangeiro que venha explorar (é o termo) o nosso mercado educacional, em qualquer nível que seja, desde as creches, maternais e kinder-garden, até o pós-doutoramento, se possível.
Enfim, sou absolutamente contrário a qualquer tipo de nacionalismo educacional, que é a coisa mais estúpida que posso encontrar no cenário nacional. Bizarro que muitos desses reitores estudaram ou fizeram estágios em universidades estrangeiras, e no entanto são idiotas ao ponto de pretender limitar o acesso das mesmas universidades -- ou de tabajaras estrangeiras, que seja -- ao mercado brasileiro de ensino.
Seria ótimo se Harvard ou Yale viessem se instalar no Brasil.
Elas não virão, por certo, mas virão outros cursos e associações.
Que eles sejam bem-vindos, aqui prosperem e ofereçam uma concorrência saudável às instituições tabajaras brasileiras e até às públicas (que de públicas só tem o nome, pois são reservadas a uma elite restrita de estudantes de camadas médias e altas).

Por isso mesmo, sem pretender fazer qualquer propaganda de curso, transcrevo aqui anúncio com que me deparei em minha caixa de entrada. Certamente recebi porque já estive em contato, no passado com essa universidade, e acredito que seja um dos bons cursos MBA que podem representar elevação dos padrões no Brasil.
Quanto aos reitores obscurantistas que se opõem a esse tipo de concorrência, cabe lembrar a eles que as estrangeiras só poderão prosperar no Brasil -- se as "benditas" autoridades do MEC autorizarem, claro -- se oferecerem cursos de melhor qualidade e mais baratos do que as tais tabajaras, e mesmo algumas oficiais...

The University of Pittsburgh, Katz Graduate School of Business is proud to bring the Executive MBA Worldwide Program to executives in Brazil.

For the last eleven years in São Paulo, EMBA participants have benefited from the unique international experience of EMBA Worldwide.

Real world, research-based business education
International network
Worldwide recognition
World-renowned professors
Three Global Executive Forums (São Paulo, Pittsburgh and Prague)

Admission Information: 5511 xxxxxxxx or xxxxxxxxx@katz.pitt.edu
Register for our next Information Session
www.business.pitt.edu/katz/emba/sao-paulo/information-session.html

América Latina en la historia contemporánea: uma obra monumental

Uma coleção para a qual fui convidado a colaborar, pelo historiador argentino Carlos Malamud. Meu trabalho foi este aqui:

2112. “España y Brasil: reconocimiento y relaciones en el siglo XIX”, Brasília, 16 fevereiro 2010, 20 p. Ensayo para la obra América Latina en la historia contemporânea, sobre la firma de los tratados de reconocimiento y amistad entre España y las repúblicas latinoamericanas en el siglo XIX, bajo invitación de Carlos Malamud, del Instituto Elcano de Madrid. Inserido, bajo el título "Tratado de Reconocimiento de la independencia del Imperio de Brasil por la Reina Isabel II, del volumen "Tratados de Reconocimiento y Amistad", de la Serie Recorridos de la colección "América en la Historia Contemporánea".
Paulo Roberto de Almeida

Fundación Mapfre y Santillana presentan la “América Latina en la historia contemporánea
Infolatam, 20 septiembre 2010

Presentación de "América Latina en la historia contemporánea", patrocinada por Fundación Mapfre y Santillana

Las claves:
* El proyecto se mantendrá por más de tres años para alcanzar un total de 95 libros, con el trabajo de 425 historiadores de América Latina, España, Portugal, Francia, Estados Unidos y otros países.

Madrid - Los presidentes del Instituto de Cultura de la Fundación Mapfre, Alberto Manzano, y de editorial Santillana, Emiliano Martínez, presentaron ayer en Madrid la colección de libros “América Latina en la historia contemporánea”. Patrocinada por la Fundación Mapfre y la editorial Santillana , este proyecto se mantendrá por más de tres años para alcanzar un total de 95 libros, con el trabajo de 425 historiadores de América Latina, España, Portugal, Francia, Estados Unidos y otros países.

Los presidentes del Instituto de Cultura de la Fundación Mapfre, Alberto Manzano, y de editorial Santillana, Emiliano Martínez, presentaron los primeros cuatro libros de la colección. Los libros son coordinados y escritos por historiadores de cada país, y en algunos casos serán acompañados por un libro fotográfico de una parte de la historia, así como una exposición itinerante de fotografías en esos países.

El historiador y colaborador de Infolatam, Carlos Malamud, explicó en la presentación que se trata de una contribución con motivo de las conmemoraciones de los Bicentenarios de Independencia, desde una historia que no es eurocéntrica. “Es un diálogo entre las principales corrientes de la historiografía, en una colección que huye del eurocentrismo”, comentó.

Abundó que incluso, la colección trata de enfocarse en una historia que no la tradicional de muchos países “ensimismada, que se mira el ombligo” y que hacerlo así permitiría “conocer qué es lo que tiene en común la historia en la región”.

Para el historiador español Carlos Martínez Shaw, lo interesante del proyecto “es conocer la historia del papel que jugó América Latina, sus contribuciones en el mundo, la universalización de la región”.

Recalcó que la globalización no se entendería sin las relaciones y contactos que todos los países han tenido en la historia, y que en el caso de América Latina parten con España y Portugal, y con posteriores actores como Francia, Estados Unidos, Reino Unido, Alemania y otros.

El coordinador de los libros sobre España en esta colección, el historiador Jordi Canal, aseveró que para explicar lo de este país “se huye de las ideas y la ideología del presente, y no trata de explicar el pasado a través del presente”.
Presentación Historia América Latina

Presentación Historia América Latina
Casi cien volúmenes elaborados por 400 especialistas forman la colección “América Latina en la Historia Contemporánea”, una visión integradora que ofrece una “relectura” del pasado reciente de España “en relación con América y a través de la historia americana”.

“No es una historia desde nuestra visión, sino desde su visión”, ha explicado durante la presentación el presidente del Instituto de Cultura de la Fundación Mapfre, Alberto Manzano.

La serie dedicada a España dispondrá de cinco volúmenes y un sexto dedicado a la fotografía, y en ella participan 27 autores, casi todos ellos profesores en universidades españolas, tal y como ha señalado Jordi Canal, profesor de la Escuela de Altos Estudios en Ciencias Sociales de París y uno de los responsables del proyecto.

El primer volumen, ubicado en el periodo 1808-1830, está coordinado en concreto por Manuel Chust, catedrático de Historia Contemporánea de la Universitat Jaume I de Castellón. Los siguientes tomos dedicados a España corresponden a los periodos 1830-1880, el segundo; 1880-1930, el tercero; 1930-1960, el cuarto, y 1960-2000, el quinto y último.

Los 95 tomos de la colección tienen una estructura similar, que intenta trascender los círculos académicos y llegar al mayor número de lectores con “una síntesis ágil”, de “alta divulgación”, dijo a su vez el presidente del Grupo Santillana, Emiliano Martínez.

Se trata de exponer la historia de los distintos países “de una manera elegante y accesible para el no experto”, pero con todo el rigor académico”, ha agregado el presidente del Grupo Santillana, Emiliano Martínez.

Esta historia contemporánea latinoamericana incluye una decena de exposiciones de fotografía que se irán celebrando en algunas de las principales capitales de América Latina, así como en Estados Unidos, España y Portugal. La primera de las exposiciones ya tuvo lugar en marzo pasado en el Museo Nacional de Bellas Artes de Santiago de Chile.

Campanha presidencial: demagogia sem limites

Parece que em período eleitoral, políticos que costumam atuar com três ou quatro neurônios, acabam só com um ou dois, o restante sendo amputado pela demagogia eleitoral.
Inacreditável que algum político responsável prometa, não só dobrar o Bolsa-Família, como dar "décimo-terceiro" aos seus beneficiários.
Isso é apenas demagogia ou é começo de loucura, também?
Em todo caso, vale o bordão: nunca antes, neste país, se falou tanta bobagem e tanta mentira concentrada numa única campanha...
Paulo Roberto de Almeida

Serra promete décimo terceiro para beneficiários do Bolsa Família em debate em Recife

RECIFE - Depois de prometer aumentar o salário mínimo e o valor das aposentadorias, o candidato do PSDB, José Serra, disse que, caso eleito, dará décimo terceiro salário para todos os beneficiários do Bolsa Família. Ele fez a afirmação durante debate entre os presidenciáveis realizado na noite desta segunda-feira na TV Jornal do Commercio.

- Os assalariados têm, os aposentados têm, então os beneficiários do Bolsa Família também devem ter - afirmou o tucano, no que foi rebatido por Plínio de Arrruda Sampaio, do PSOL, que criticou a necessidade da existência de um programa social como esse no país:

- O Bolsa Família existe porque falta emprego e porque falta trabalho, salário. Bolsa Família deveria ser uma ação emergencial, por exemplo, para quem está sob a lona esperando por um pedaço de terra, pela reforma agrária - afirmou Plínio.

Ele disse ainda que o dinheiro do Bolsa Família é tão pequeno que deveria se chamar Bolsa Biscoito.

(Leia também: presidenciáveis criticam ausência de Dilma no debate) (Leia também: Serra critica Dilma e diz que ela vai brigar com Lula, caso se eleja)

Milton Friedman e Augusto Pinochet - NADA A VER

Pela enésima vez, alguém me traz a questão dos eventuais "vínculos" entre Friedman e Pinochet. Sempre leio escrito, em algum pasquim ordinário, que o mais famoso economista da Universidade de Chicago teria sido um apoiador intelectual, um dos suportes econômicos e políticos da ditadura de Pinochet, um dos mais bárbaros ditadores militares já conhecidos na história da América Latina, e certamente na história do Chile.
Pinochet foi, sim, o responsável por uma repressão sangrenta, e disso não deve caber a menor dúvida. Tudo isso num quadro de exacerbação das lutas políticas no Chile como raramente se viu na história daquele país. Já passou e a esquerda chilena também aprendeu, embora a um preço terrível.

Voltemos porém a Friedman: os boatos sobre suas ligações ou apoio à ditadura de Pinochet são a coisa mais sórdida que já vi na história das mistificações políticas fabricadas por certos comentaristas políticos sem nenhum caráter.
Friedman não tem nada a ver com a ditadura, nunca endossou ditaduras, jamais seria a favor de um ditador assassino como Pinochet, ou seja, ele não tem nada a ver, absolutamente, com o processo político chileno.
Todas essas alegações são divulgadas por pessoas de má fé, que nnao tem nada de mais inteligente a dizer sobre sua contribuição econômica -- que elas são incapazes de apreciar, e sequer de compreender -- e ficam se referindo, de modo fantástico, errado, mentiroso, a essa suposta ligação dele com a ditadura chilena.

A história é muito simples.
Depois de várias tentativas da equipe de Pinochet, a inflação nao baixava, justamente, pois que ditadores trogloditas como Pinochet acreditavam que podiam comandar a economia como se comandam soldados, com ordens executivas e controles disciplinares.
Nada deu certo nos primeiros meses e anos da ditadura.
Alguns ex-alunos da universidade de Chicago chamaram Friedman para dar algumas palestras no Chile, na Universidade Católica, se bem me lembro, e ele foi. Deu suas palestras, como faria para qualquer auditório, em qualquer país, sempre recomendando suas receitas habituais: liberdade de preços, de iniciativa, afastamento da mão pesada do Estado dos negócios econômicos etc.
Não sei exatamente quem sugeriu ao general recebê-lo, dado o prestígio do monetarista (um título do qual ele não se envergonhava, certamente). O general o chamou, ele aceitou conversar, e esteve apenas uma única vez com Pinochet, recomendando exatamente as mesmas coisas que proferiu em suas palestras: liberdade econômica, abertura ao comércio e aos investimentos estrangeiros, enfim tudo muito simples e democrático, como ele sempre fez com qualquer auditório, para qualquer intelocutor, inclusive para o presidente Reagan (que seguiu seu conselho de desmantelar os controles ainda existentes na economia americana). Apenas isso, nada mais: uma conversa entre um economista sem qualquer poder, a não ser o das ideias, e um general, troglodita, que aparentemente não confiava nada em acadêmicos e professores em geral.
Friedman saiu do gabinete de Pinochet certo de que o general não tinha sido convencido por suas ideias, por suas palavras.
De fato demorou um bocado, até que o Chile conseguiu, finalmente, encontrar o caminho da estabilidade e do crescimento. Foi preciso uma crise séria no final dos anos 70 ou inicio dos 80, atingindo o sistema bancário, para que a economia chilena realmente enveredasse pelo caminho da liberalização mais completa.
Desde então ela se mantém, mais ou menos, segundo as linhas traçadas por Milton Friedman.
Enfim, espero ter ficado claro que Friedman não teve nada a ver com a ditadura chilena, nem com as barbaridades pinochetistas. Ele tampouco pode ser creditado pelo sucesso do "modelo" chileno. Ele se limitou a proferir palestras.
Quem tomou as decisões, baseadas ou não em suas ideias -- e presumo que muitas o foram -- foram os próprios chilenos, administradores, políticos, economistas do governo, acadêmicos, em suma, grande parte dos chilenos achou que valia pena enveredar por outro caminho que não o do dirigismo econômico, o do protecionismo comercial, enfim, o cepalianismo e o prebischianismo tradicionais na América Latina.

Nenhum "denegridor" de Friedman, ou de Pinochet, poderá recusar o fato de que o Chile foi o país que mais cresceu na AL, desde o início dos naos 1990.
Nenhum "economista" anti-monetarista, anti-Friedman poderá negar o fato de que o Chile é um país liberal, ou neoliberal, se quiserem, que ele é aberto, tem baixa proteção, tem mais acordos de livre-comércio do que qualquer outro país, de que eles recusam o dirigismo econômico e as soluções "socialistas".
Tudo isso não é matéria de opinião. São fatos.

Quem quiser contestar as ideias econômicas de Milton Friedman é livre para fazê-lo. Preferivelmente de modo inteligente.
Quem quiser apenas denegrir Friedman, com acusações mentirosas, é gentilmente "desconvidado" a se expressar neste blog.

Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 22.09.2010)