sábado, 10 de abril de 2010

2062) Brics: delirios monetarios e cambiais?

A leitura da matéria abaixo incita várias dúvidas. Uma delas é saber se os jornalistas são, como parecem, singularmente despreparados -- ou até absolutamente ignorantes -- para tratar de questões monetárias e financeiras. A outra seria indagar se, ao contrário, são as autoridades diplomáticas e econômicas é que são especialmente mal preparadas para tratar dos mesmos problemas.
A questão se coloca em relação a essa inacreditável pretensão dos quatro Brics -- se isso é verdade, o que eu simplesmente não acredito -- de caminharem para "a adoção de uma moeda única para o comércio exterior em substituição ao dólar".
Como é que é? Os Brics vão abandonar o dólar e adotar qual moeda para seu comércio recíproco?: o euro, o SDR do FMI, a libra, o iene japonês?
Moeda única seria por acaso a de um deles?: o yuan, o real,o rublo ou a rúpia?
Ou vão fazer uma salada das quatro?: o yureruru? E vão criar como?
Essas moedas são conversíveis? Participam atualmente do comércio exterior dos países em questão? São adotadas para fins de transações financeiras? São moedas de reserva internacional?
Por vezes eu me pergunto se as pessoas são apenas ignorantes, ingênuas, ou se elas apenas querem agradar certos superiores que vivem dizendo bobagens econômicas...
Quanto a essa coisa de que "a gente não morre no final", só pode ser outra bobagem, ou brincadeira, que o jornalista não soube apreciar em toda a sua inutilidade...
Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 10.04.2010)


Um por todos, todos por um
Adriana Nicacio
IstoÉ, Sábado, 10 de abril de 2010

Quando os presidentes do Brasil, da Rússia, China e Índia desembarcarem em Washington, no dia 22, para a Cúpula do G-20, os demais países, entre eles os EUA e os europeus, terão de ouvir atentamente o que o grupo conhecido por BRICs tem a dizer. E não haverá lugar para improvisos. Ao contrário, tudo estará devidamente elaborado. Na sexta-feira 16, o russo Dmitri Medvedev, o indiano Pratibha Devisingh e o chinês Hu Jintao encontram-se com Lula em Brasília para afinar o discurso que levarão ao G-20 e à reunião de primavera do Fundo Monetário Internacional. Eles vão pedir grandes mudanças na atual ordem econômica, com um peso maior para os emergentes e reformas no FMI e Banco Mundial. No Itamaraty, o que se diz é que “pode até parecer que já vimos esse filme antes e a gente morre no final, mas, dessa vez, o filme pode ser repetido, mas a gente não morre.”

Donos de 15,5% de tudo que se produz mundo afora, os presidentes dos BRICs sabem que têm poder suficiente para fazer valer seus interesses estratégicos enquanto estiverem unidos. Isso explica por que, apesar de a China estar debaixo de intenso bombardeio internacional, principalmente dos EUA, para valorizar sua moeda, o yuan, esse tema não será discutido na reunião em Brasília. Os BRICs estão mais interessados em se fortalecer e pediram estudos aos técnicos de seus bancos centrais sobre a adoção de uma moeda única para o comércio exterior em substituição ao dólar. Nos Estados Unidos, essa decisão começa a incomodar. Tanto é assim que americanos desistiram de brigar com os chineses e abandonaram a ideia de fazer uma representação na OMC.

A exemplo da China, o Brasil também tem tirado proveito da relação com os novos parceiros comerciais. De 2003 a 2009, o fluxo de comércio da China com o Brasil cresceu mais de 600%. Em Brasília, nesta sexta-feira, os presidentes Lula e Jintao vão assinar um documento de 35 páginas e 16 anexos com ações bilaterais de 2010 a 2014. O Brasil receberá o maior investimento chinês em país estrangeiro na siderurgia. A LLX assinará contrato de mais de US$ 4 bilhões com a estatal chinesa Wisco para a construção da siderúrgica no Porto de Açu. A Petrobras ampliará sua presença em solo chinês. E o China Construction Bank (CCB), o segundo banco daquele país em empréstimos, promete se instalar no Brasil nos próximos dois anos. Haverá ainda acordos nas áreas de finanças e aviação. “A China está pronta para intensificar sua cooperação e coordenação com o Brasil”, diz o vice-ministro de Relações Exteriores da China, Li Jinzahang.

Para facilitar o comércio entre as potências emergentes, o governo Lula pressionou os bancos privados brasileiros a fechar um acordo para facilitar o comércio entre o BRICs. “Quando a gente vai vender ou comprar de um país emergente, o nosso banco não aceita a carta de crédito do banco de lá. Um banco europeu sempre tem que intermediar. Isso torna o comércio mais caro”, explica o embaixador Roberto Jaguaribe, responsável pela organização da cúpula. O BNDES, em parceria com seu similar na China, firmará acordos para auxiliar a Índia no fortalecimento de seu banco de desenvolvimento. E o governo brasileiro insistirá em parcerias com a Índia que incluem a venda de aviões e a produção de um radar para monitoramento do território indiano. Unidos e fortes, Lula, Medvedev, Devisingh e Jintao chegarão a Washington pedindo mais poder de voz e veto nos organismos multilaterais e a substituição definitiva do G-8 pelo G-20.

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Acrescento uma nota final:
Se os Brics (que não sei se tem mandato do G20 para isso), pretendem que o G8 seja enterrado definitivamente e substituido pelo G20, eles certamente já tem todas as propostas que devem concretizar essa medida. Ou seja, o G20 precisa fazer tudo aquilo que o G8 faz, na verdade G7, pois a Russia nao conta em matéria financeira.
Isso se traduz, antes de mais nada, em ser emprestador de última instância, em alguns casos até de primeira.
Salvar a Grécia seria uma tarefa do G20, por exemplo?
Resolver o problema do Haiti, ou dos piratas da Somália, seria um encargo do G20?
Se eles conseguirem responder positivamente a tudo isso, creio que se justifica a medida...
Paulo Roberto de Almeida

4 comentários:

  1. Professor, a ação não seria mais na seara política, no curto prazo, que em seu aspecto econômico?

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  2. O melhor é: "Donos de 15,5% de tudo que se produz mundo afora, os presidentes dos BRICs"! O professor sabia que seus livros estavam sendo creditados na conta do Lula?

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  3. Glaucia,
    De fato, os jornalistas escrevem cada vez mais mal. As Faculdades de Comunicações não conseguem, simplesmente, corrigir o analfabetismo funcional que vem do berço -- aquela coisa de que minha mãe nasceu analfabeta, você sabe -- e que não conseguiram consertar depois, nem no secundário, nem ao longo da graduação, e assim ficamos, com demonstrações diárias de ignorância enciclopédica...

    Em todo caso, sem creditá-lo aos presidentes, pode-se dizer que mais da metade da soma desses PIBs pertence exclusivamente à China, que é maior do que os outros três.
    Meus livros devem fazer, mais ou menos, 0,000000000000000001% do PIB de Brasília, e a raiz quadrada disso para o Brasil...

    Quanto ao Anônimo que me escreveu antes, eu apenas tenho uma, ou duas, afirmações:
    1) Não comprendo por que ser anônimo nessa matéria, portanto não vou responder;
    2) Mas, se o tema é econômico, por que a ação deveria ser política?
    Paulo Roberto de Almeida

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  4. Eu levanto essa tese em várias discussões, que o governo e a acadêmia não comunicam a sociedade o peso que uma liderança teria, no caso mais extremo, teriamos que nos acostumar com a horrivel imagem de caixões voltando ao Brasil com bandeiras. Por que invariavelmente protagonismo mundial exige músculos. Mesmo que seja em missões de paz.

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