Continuação do post anterior e conclusão
A luta armada no Brasil: depoimento de um quase combatente (9, final)
Paulo Roberto de Almeida
(...)
Uma última análise subjetiva da questão da luta armada
Infelizmente, a questão da
luta armada no Brasil ainda não faz parte da História, ou pelo menos resiste a
recolher-se à sua dimensão histórica objetiva, sendo ainda objeto de embates
políticos e de tentativas de reescrita da história. A razão é a mesma já
apontada anteriormente: os derrotados vingativos chegaram ao poder e pretendem
se vingar de seus supostos algozes, se preciso for deformando a história e
manipulando os acordos políticos já realizados durante a transição quase
consensual da democratização.
De certa forma, elas já
detém o monopólio da historiografia, como pode ser constatado por inúmeros
exemplos da literatura didática e mesmo de livros que passam por sérios
tratando do período. Os escribas universitários, não apenas os declaradamente
de esquerda ou simplesmente progressistas, já internalizaram uma versão da
história política brasileira, dos anos 1960 em diante, que transforma o período
em uma oposição de preto e branco, uma interpretação maniqueísta que transforma
os militares em servos da burguesia e do imperialismo, e os “resistentes” como
bravos e impolutos defensores da democracia e lutadores desprendidos em prol
das liberdades. A contrafação da história real é evidente, mas ela vem sendo
servida durante muito tempo, inclusive no curso do próprio período militar, para
não se impor como verdade para grande parte do povo brasileiro, jovens que
nunca viveram aquele período que tendem naturalmente a acreditar nessa versão
da luta dos bons contra os maus.
A “Comissão da Verdade”
não constitui senão mais uma tentativa de impor essa versão à sociedade atual,
pelos remanescentes dos derrotados de outrora. Faz parte, como outras
iniciativas – como a “indústria” das indenizações –, das farsas montadas para
alterar a história e obter ganhos políticos, quando não materiais, aos que
ainda tentam fazer do Brasil outra coisa que não uma grande democracia de
mercado. A chamada “relação de forças” pode dar aos derrotados vingativos
algumas compensações temporárias, e é por isso que o trabalho didático de
esclarecimento se revela importante pelo simples dever de respeitar a verdade
dos fatos e defender a integridade intelectual dos que estão efetivamente
comprometidos com a causa da democracia e das liberdades no Brasil. Como
protagonista menor, e totalmente sem importância, da voragem de insanidade
temporária que se abateu sobre o Brasil, entre meados dos anos 1960 e meados da
década seguinte, meu dever era o de testemunhar. É o que fiz agora.
Paulo Roberto de Almeida - Hartford, 8 março de 2013
Excelente!! Obrigada pelo seu testemunho. Li tudo com a "fome" que anos de ignorância me provocou, e que tenho tentado reparar, buscando conhecer melhor nosso passado político e internacional, o que tem me ajudado a compreender o cenário atual.
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