Mais exatamente foi escrita antes do primeiro turno das eleições de outubro daquele ano, e eu me encontrava fora do país desde o começo do ano, sendo assim puramente especulativa, pois eu não estava vivendo em nenhum clima eleitoral (sobretudo na China, que não é exatamente um modelo de democracia eletiva, ou eleitoral).
Em todo caso, sem reler agora o que escrevi, permito-me postar novamente, para checar depois.
Paulo Roberto de Almeida
Paulo Roberto de Almeida
Postado no blog Diplomatizzando
Em 2014 o Brasil
chega a novas eleições exausto de tanto discurso, de tantas palavras, tantas
promessas. Nunca falaram tanto, em doses tão concentradas, em tão poucos anos,
dentro e fora do governo.
As promessas de
continuar avançando, de fazer mais e melhor, de distribuir mais justiça, mais
igualdade, mais segurança redundaram no que se esperava: mais do mesmo, sem ao
menos o conforto de uma mudança de linguagem, de hábitos, de comportamentos
políticos, de práticas administrativas. A justiça continuou tão lenta quanto
sempre foi, com alguns escândalos, novos e velhos, emergindo aqui e ali. O
Executivo continuou inchado, inclusive porque era preciso contemplar a base congressual
com novos cargos e novos aportes financeiros. O Congresso, bem o Congresso não
precisou mudar em nada: apenas aprofundou suas práticas e costumes, o que
significa que continuou afundando nas práticas delituosas e nos costumes
imorais, com alguns novos personagens mas os mesmos hábitos de sempre, agora um
pouco mais indecentes, já que novamente sancionados pelo eleitorado.
O discurso
político, venha de onde vier, continuará permeado de mentiras e de demagogia,
tanto mais extensas quanto o eleitorado foi, continua sendo e promete
permanecer leniente com aqueles que o iludem. A mistificação política terá sido
elevada à condição de instrumento vital da governança, e toda atividade
governativa será precedida de um estudo de marketing político. Os administradores
de imagem ganharão precedência sobre os ministros setoriais, que terão de
adaptar suas propostas e programas ao governo “participativo” (que de
participativo possui apenas a propaganda governamental, assegurando que o povo
está sendo consultado para esta ou aquela medida).
Em 2014, teremos
aperfeiçoado novos métodos de extrair recursos sem dor dos
cidadãos-contribuintes. A Receita, escaldada por excesso de transparência,
conseguirá determinar os meios de alcançar a renda dos agentes econômicos antes
mesmo de qualquer fluxo de ativos e de qualquer iniciativa declaratória dos
produtores primários. Apenas por esse meio será possível atender a todos os
compromissos governamentais – com os pobres, de um lado, com os ricos, de
outro, estes bem mais exigentes como sempre ocorre – sem ter de negociar a
criação de novos impostos com o Congresso.
A imprensa não se
terá dobrado, mas terá sido domada, ou contornada: os meios de comunicação do
governo serão suficientes para levar sua mensagem aos eleitores-complacentes; o
restante se contentará com a internet, num processo entrópico e semicircular.
Muita energia será gasta com debates vazios, o que parece o ideal para uma
sociedade de baixa educação política. As escolas continuarão ruins, e as
universidades públicas também vão aprofundar seu processo de mediocrização e de
decadência. Nada mais será como antes, e tudo será bem pior do que antes. Não
importa quem entrou, não importa quem estará entrando novamente. Tudo é uma
questão de lógica elementar, dada a tendência.
Bem, tudo pode ser
uma ficção, ou não...
Shanghai, 2.10.2010
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentários são sempre bem-vindos, desde que se refiram ao objeto mesmo da postagem, de preferência identificados. Propagandas ou mensagens agressivas serão sumariamente eliminadas. Outras questões podem ser encaminhadas através de meu site (www.pralmeida.org). Formule seus comentários em linguagem concisa, objetiva, em um Português aceitável para os padrões da língua coloquial.
A confirmação manual dos comentários é necessária, tendo em vista o grande número de junks e spams recebidos.