quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Eleicoes 2014: a mistificacao e a mentira como taticas companheiras

Nunca antes na história das campanhas eleitorais brasileiras, alguém tinha mentido tão descaradamente, enganado tão despudoradamente os brasileiros mais simples, fraudado de maneira tão escandalosa o processo político com esse tipo de terrorismo eleitoral.
Pode até ser que a candidata da máfia vença dessa maneira, o que será certamente desastroso para o Brasil e todos os brasileiros, menos a máfia que nos governa e seus associados.
Em todo caso, cabe o registro, para a história, que além de roubar e trapacear, os mafiosos também fraudam o processo eleitoral.
Paulo Roberto de Almeida 

Agora, a demonização da autonomia do BC
Por Cristiano Romero
Valor Eeconômico, 17 de setembro de 2014

Ao demonizar a autonomia do Banco Central (BC), a presidente Dilma Rousseff repete o que seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, fez com as privatizações na eleição de 2006. Naquele ano, Lula, incomodado com a necessidade de disputar o segundo turno, uma vez que esperava vencer já no primeiro, sacou da cartola o tema das privatizações ao perceber que ele ainda exercia (e exerce) um enorme fascínio no imaginário da esquerda brasileira.

Lula obrigou o então candidato da oposição - Geraldo Alckmin, do PSDB - a se posicionar. O tucano mordeu a isca, saindo em defesa das estatais, em vez de mostrar os avanços que a desestatização, promovida principalmente na gestão de Fernando Henrique Cardoso, trouxera ao país.

Como Lula precisava fazer um aceno à esquerda - mal saíra do desgaste do escândalo do mensalão e já enfrentava outro, o dos aloprados -, a interdição das privatizações significou uma mudança de assunto. Ademais, atraiu votos, inclusive, do adversário, afinal, Alckmin terminou o segundo turno menos votado que no primeiro.

Dilma quer Aécio e Marina vistos como candidatos do capital

Não se tenha dúvida: a estratégia de Lula não se resumiu a um mero recurso de campanha. A demonização virou compromisso político. No segundo mandato, o então presidente vetou qualquer possibilidade de privatização. A mais notória foi a dos aeroportos, que Dilma Rousseff, como ministra da Casa Civil, planejava fazer desde 2008, mas só pôs em prática no próprio mandato. Agora, no tema "autonomia do Banco Central", é Dilma quem recorre ao expediente ardiloso da interdição do debate por meio não de ideias, mas de preconceitos e mistificações.

Não mereceria comentário propaganda da campanha de reeleição da presidente, segundo a qual, conceder autonomia ao BC teria como consequência retirar comida da mesa dos brasileiros. Mas, questionada no último domingo sobre essa peça de marketing político de quinta categoria, Dilma não só a justificou, como foi além: se não tiver mandato para assegurar o máximo emprego, o BC autônomo "tira, sim, a comida" e a perspectiva dos brasileiros. Disse, ainda, que conceder independência à instituição seria como criar o "quarto poder" e entregá-lo aos bancos. "O quarto poder não pode ser dos bancos."

Por trás dessas imagens, estão, novamente, tolices caras à esquerda que não se atualiza e perpetua o atraso brasileiro, tais como: "banco não produz nada"; "banqueiros são malvados porque são donos do capital"; "capital é algo intrinsecamente ruim"; "bancos centrais independentes existem para defender interesses dos bancos"; "os juros são altos por culpa dos rentistas e dos bancos"; "lucrar é desonesto, coisa de quem tem parte com o demônio". Não se deve subestimar o poder desses símbolos: no Brasil, até formadores de opinião bem cotados - e populistas como alguns políticos - ajudam a disseminar asneiras desse tipo.

O proselitismo de Dilma tem como objetivo transformar seus dois principais adversários - Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB) - em defensores dos bancos. Marina se tornou "a candidata do Itaú " por causa da participação de Neca Setúbal em sua campanha. Neca é vítima de um preconceito típico da confusão que se pretende promover no debate que deveria ser de ideias: sua trajetória como educadora é solenemente ignorada porque, afinal, ela é "herdeira do Itaú", descendente, portanto, do que há de pior na economia e na sociedade brasileiras - um banco, um capitalista ou coisa que o valha.

Em entrevista, há uma semana, a presidente Dilma declarou: "Eu asseguro uma coisa: esse povo da autonomia do Banco Central quer o modelo anterior, quer fazer um baita ajuste, um baita superávit, aumentar os juros pra danar, reduzir emprego e salário, porque, para eles, emprego e salário não garantem produtividade. Eu sou contra isso". O tema da autonomia do BC, em sua visão, vai muito além da discussão em torno do modelo de autoridade monetária que uma democracia como a brasileira precisa ter. O ideário encerra, pelo jeito, um conjunto mais amplo de perversões.

As palavras de Dilma assustam. Depois de perder fôlego na corrida presidencial com a entrada de Marina Silva, no páreo, nos últimos dias a presidente recuperou parcela do prestígio popular perdido e voltou a ser competitiva para a disputa do segundo turno. Ao contrário de 2010, ela é, hoje, uma candidata contra o PIB e o sistema financeiro. Vestiu esse figurino sem constrangimento e pode vencer a eleição de outubro com compromissos populistas dos quais passou longe quatro anos atrás.

O risco dessa estratégia é visível. Toda vez que Dilma sobe nas pesquisas, a bolsa de valores cai, o real se desvaloriza e o juro de longo prazo, que reflete melhor a expectativa da saúde das contas públicas, sobe. Ao fugir do debate real das questões econômicas, Dilma pavimenta o caminho do próprio desastre porque, se já será difícil para qualquer um promover, nos próximos anos, o ajuste necessário para corrigir os desequilíbrios criados pela política econômica desde 2011, para ela será ainda pior, uma vez que está em pé de guerra com os mercados e já não possui a mais pálida credibilidade.

O Brasil ainda não está em crise. Não há risco imediato de insolvência fiscal ou externa. O que há é uma crise de expectativa, provocada por uma política econômica que, nos últimos quatro anos, desorganizou as finanças públicas, vilipendiou a autonomia do BC, tolerou inflação alta, procurou determinar os principais preços da economia, provocando forte queda na confiança de consumidores e empresários e, consequentemente, do PIB. A necessidade de ajuste é premente porque, a continuar a situação atual, uma crise logo vai avizinhar-se.

Sob Dilma, o custo de corrigir o rumo será sempre maior porque os agentes não confiam mais no governo. É bem provável que, reeleita, a presidente baixe a guarda e entregue pelo menos uma parte do ajuste esperado, possivelmente na área fiscal. Mas sua retórica está esticando a corda de tal maneira que, detentora de novo mandato, ela enfrentará duas dificuldades: convencer os agentes econômicos a esquecerem a eloquência da campanha; e justificar a seu eleitorado - pelo menos, à parcela que acredita na face mais demagógica de seu discurso - o não cumprimento das promessas feitas.

Cristiano Romero é editor-executivo do jornal Valor Econômico

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários são sempre bem-vindos, desde que se refiram ao objeto mesmo da postagem, de preferência identificados. Propagandas ou mensagens agressivas serão sumariamente eliminadas. Outras questões podem ser encaminhadas através de meu site (www.pralmeida.org). Formule seus comentários em linguagem concisa, objetiva, em um Português aceitável para os padrões da língua coloquial.
A confirmação manual dos comentários é necessária, tendo em vista o grande número de junks e spams recebidos.