Entre as marcas fortes destes 12 anos de administração petista, inclui-se a partidarização da política externa. Assim, tão logo Lula assumiu, a nova diplomacia brasileira começou a trabalhar contra as negociações com os americanos em torno da Alca, Aliança de Livre Comércio das Américas, sob aplausos do nacional-populismo já reinstalado no continente — Venezuela e Argentina, seus representantes mais proeminentes. De fato soterrou-se aquele projeto de integração Norte-Sul, e a diplomacia companheira fez o país mergulhar em outra direção, na política Sul-Sul, equivocada, como sabido.
A patética participação da candidata-presidente Dilma Rousseff na 69º Assembleia Geral da ONU mostrou outra faceta preocupante da “petização” da diplomacia brasileira: seu uso eleitoreiro, apenas para afeito da campanha da reeleição de Dilma. Neste caso, dizer que o Barão do Rio Branco enrubesce na tumba não é um bordão surrado.
Antes de representar o Brasil no discurso de abertura da assembleia, Dilma participou da Cúpula do Clima, com um providencial vestido vermelho, em óbvia obediência aos marqueteiros da campanha. Da tribuna da ONU, Dilma continuou no script eleitoreiro, ao fazer um discurso de prestação de contas de seu governo e dos oito demais anos de PT no Planalto, sem qualquer interesse para os representantes dos países.
Teve o mesmo objetivo a desastrada crítica, feita de forma mais clara em entrevistas, à ação militar da coalizão liderada pelos americanos contra o Estado Islâmico, grupo sectário tão radical e violento que foi desligado da al-Qaeda. Inspirada no antiamericanismo, agora com fins eleitoreiros, Dilma fez a inaceitável defesa dos jihadistas assassinos do EI, com base no conhecido discurso já usado sobre a guerra no Iraque — correto em si —, de que é necessário “dialogar”, em vez de sacar armas.
Fez uma inacreditável confusão. O EI não é um Estado, mas um bando armado, fanático, já conhecido por degolar jornalistas e, agora, um turista, filmar as atrocidades e colocá-las na internet como peça de propaganda. Esqueceu-se a diplomacia companheira que da coalização participam países árabes, o que aumenta a legitimidade da operação.
Da desastrosa passagem por Nova York sobram danos para o Brasil. Além do descrédito semeado por Dilma, há um novo distanciamento em relação aos Estados Unidos, cuja economia se recupera e pode compensar as perdas nas exportações nacionais causadas pela debacle Argentina. Outro dano é o virtual fim do projeto de obtenção do assento no Conselho de Segurança, elevando o status político brasileiro ao peso que o país já tem na economia mundial. Não se pode mesmo dar poder de veto no CS a quem protege sectários.
É uma imagem emblemática a cena do assessor especial da presidência Marco Aurélio Garcia, liderança petista, aboletado na bancada brasileira na assembleia geral. Simbolizava a tutela da política externa pelo partido.
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