segunda-feira, 24 de agosto de 2015

O Brasil na OCDE: a hora da plenitude - Alberto Pfeifer, Paulo Roberto de Almeida (OESP)

Meu artigo mais recente, sob iniciativa e em colaboração com Alberto Pfeifer, professor no IRel-USP, membro do Gacint:


O Brasil na OCDE: a hora da plenitude”, com Alberto Pfeifer.
 O Estado de S. Paulo (22/08/2015, p. E2; link: ). 
Relação de Originais (parcial) n. 2854; Publicados n. 1190. 

O Brasil na OCDE: a hora da plenitude

Alberto Pfeifer, membro do Grupo de Análise da Conjuntura Internacional (Gacint) da USP;
Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor no Uniceub (Brasília).

O que fazer ante a grave crise brasileira, combinação de recessão econômica e impasse político? Como retomar a confiança dos investidores?  Ante tanta incerteza, existe uma possibilidade virtuosa, com efeitos de curto prazo e a baixo custo, que de modo concomitante: (1) subsidia a validade de manter o grau de investimento, de parte das agências classificadoras de risco; (2) atua como antídoto face à tentação a se lançar mão de medidas econômicas heterodoxas, do tipo nova matriz e pedaladas; (3) alavanca o poder relativo do Brasil no sistema internacional, elevando-o a um padrão de relações e práticas virtuosas; (4) embora com implicações na agenda econômica externa, constitui ato autônomo do Estado brasileiro, ou seja, independe de Mercosul.
Trata-se do ingresso do Brasil como membro pleno da OCDE, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico -- regime internacional de adesão voluntária, por convite, que gabarita e certifica os membros ao redor de boas práticas e boas companhias no que tange a políticas públicas e temas afins.
Após uma aproximação nos anos noventa, a postura em relação ao chamado “clube dos ricos” estagnou a partir do governo Lula, quando o fortalecimento econômico consolidou a convicção quanto à nossa capacidade de trilhar caminhos próprios. Cerzimos uma nova geografia do comércio por meio da diplomacia do Sul-Sul, de alianças com outros emergentes, em contraponto ao mundo desenvolvido e suas instituições do pós-guerra -- cuja expressão mais bem-acabada é justamente a OCDE.
Em 3 de junho passado, os ministros Joaquim Levy e Mauro Vieira assinaram um acordo-marco para graduar o relacionamento Brasil/OCDE, por meio da adesão a um maior número de comitês e a aceitação do acompanhamento mais profundo das políticas governamentais. De fato, a OCDE pode ajudar-nos a emergir do emaranhado intervencionista e do descalabro do gasto público. Para isso é preciso saber o que a OCDE pode e o que não pode fazer pelo Brasil.
Ela pode, pela via do exame periódico das ações governamentais dos 34 membros – incluindo o México, o Chile e a Turquia– contribuir para a sua melhoria e assim conferir um “selo de qualidade” relevante no esforço para manter o grau de investimento. Ela pode prestar assessoria em medidas conjunturais de ajuste – através de seu comitê de política fiscal, ao qual o Brasil ainda não aderiu.  Pode ainda mapear o terreno das reformas estruturais, inclusive nas áreas trabalhista, administrativa e educacional, por meio de estudos comparados e simulações.
A OCDE não pode se substituir às autoridades nacionais na determinação do nível e do ritmo de correção e de reformas, nem a necessidade de mudanças legais, inclusive constitucionais. Contudo, além de ter aderido a diversas convenções da OCDE, na prática o Brasil já reconhece o valor de certos padrões de condutas em termos setoriais similar ao de sociedades inseridas plenamente na globalização produtiva -- um claro avanço em relação ao protecionismo mercantil de anos recentes.  Falta apenas oficializar.
Quanto à inserção externa brasileira, juntar-se à OCDE constitui um acréscimo de inclusão sem prejuízo a qualquer vinculação alternativa. Não será exigido abandono dos BRICS ou de outros grupos. O processo OCDE independe do Mercosul ou de qualquer acordo comercial, mas poderia beneficiar a evolução das negociações com a União Europeia. Mais ainda: ao converter-se no único sócio comum da OCDE e dos BRICS, o Brasil credencia-se a atuar como ponte entre dois modos de abordagem da ordem econômica e política internacional, mantendo sua reputada equidistância e reforçando a postura universalista e conciliatória no sistema global: o ingresso na OCDE cumpriria o duplo objetivo de qualificar a projeção de seu lugar no mundo no longo prazo e auxiliar a gradação econômica no curto prazo.

[O Estado de S. Paulo, 22 de agosto de 2015, caderno de Economia, p. E2]

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários são sempre bem-vindos, desde que se refiram ao objeto mesmo da postagem, de preferência identificados. Propagandas ou mensagens agressivas serão sumariamente eliminadas. Outras questões podem ser encaminhadas através de meu site (www.pralmeida.org). Formule seus comentários em linguagem concisa, objetiva, em um Português aceitável para os padrões da língua coloquial.
A confirmação manual dos comentários é necessária, tendo em vista o grande número de junks e spams recebidos.