Recebido de uma dessas listas que, no meio das coisas sérias, também vem um pequeno besteirol. Não concordo com todas as prescrições, mas como tratar sempre de ideias inteligentes às vezes cansa, podemos fazer uma pausa para tratar de ideias pouco inteligentes, ou simplesmente negligentes...
a. É conhecida e aceita universalmente a Lei Natural da Seleção dos Mais Fortes.
b. Assim, numa corrida, chegam sempre em primeiro os mais fortes e mais aptos. Isso vale para tudo. De espermatozoides a neurônios, passando por qualquer outra coisa que necessite disputar uma posição.
c. É sabido e universalmente aceito que o álcool destrói os neurônios.
d. Dessa forma são portanto destruídos os neurônios mais fracos e incapazes de se defenderem do ataque do álcool.
e. Desse embate sobram somente os neurônios mais fortes e capazes.
f. Conclusão: Quem bebe só tem os melhores e mais capacitados neurônios, portanto são as pessoas mais capazes.
E vamos beber nossa dose de hoje que eu acho que tem alguns neurônios capengas precisando ser eliminados...
PS: Já dei minha contribuição hoje, bebendo uma cerveja no almoço, e duas taças de vinho na janta. Aliás, vou tomar mais uma antes de dormir. Sempre ajuda a não sonhar com gente que não merece...
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
Construindo a heranca maldita: bye-bye superavit primario - Mansueto Almeida
Este artigo, que transcrevo abaixo, deve ser lido em conjunção com o editorial do Estadão, sobre o mesmo assunto e de teor similar, relativamente à grande deterioração do equilíbrio fiscal no Brasil, na verdade um enorme desmantelamento do conceito de transparência contábil que vem sendo ativamente promovida pelo governo (ver o post anterior neste link).
Trata-se de atitude altamente irresponsável, da qual poucos brasileiros se deram conta -- já que o governo faz tudo para maquiar as suas contas, justamente -- mas que será em algum momento paga por todos eles, quer dizer, por nós mesmos.
O governo está, deliberadamente, construindo a sua "herança maldita", para aproveitar o conceito que ele usou, com suprema desonestidade, em relação ao governo anterior, que tinha feito todo o possível para deixar a casa em ordem, para a tribo de irresponsáveis que veio depois.
Paulo Roberto de Almeida
Trata-se de atitude altamente irresponsável, da qual poucos brasileiros se deram conta -- já que o governo faz tudo para maquiar as suas contas, justamente -- mas que será em algum momento paga por todos eles, quer dizer, por nós mesmos.
O governo está, deliberadamente, construindo a sua "herança maldita", para aproveitar o conceito que ele usou, com suprema desonestidade, em relação ao governo anterior, que tinha feito todo o possível para deixar a casa em ordem, para a tribo de irresponsáveis que veio depois.
Paulo Roberto de Almeida
Superávit primário: descanse em paz
| Mansueto Almeida |
| Valor Econômico, 28/10/2010 |
Aproveitou-se a capitalização da Petrobras para, mais uma vez, modificar o resultado do primário Um dos conceitos mais importantes para indicar o esforço fiscal do governo brasileiro desde 1999 é o conceito de superávit primário. O superávit primário nada mais é do que o total da receita do governo menos os gastos não financeiros, o que exclui, portanto, o pagamento de juros. O tamanho do superávit primário sinalizaria o esforço que o governo faz para pagar sua dívida, o principal e os juros que incidem sobre o estoque da dívida.Dado que não é o tamanho da dívida em si, mas sua relação com o PIB que importa para questão de solvência, o superávit primário é normalmente divulgado como proporção do PIB. Dependendo das variáveis como taxa de juros, estoque da dívida e crescimento do PIB, o governo fixa uma meta de superávit primário que seja compatível com a trajetória desejada da redução da Dívida Líquida do Setor Público (DLSP) ao longo do tempo. Como o conceito de superávit primário tornou-se cada vez mais importante na economia brasileira, qualquer modificação na meta desse indicador é seguida de calorosas discussões. Assim, ao que parece, há uma grande transparência no cálculo dessa medida e na sua avaliação. Infelizmente, esse não é mais o caso. Há cerca de quatro anos se começou um lento e doloroso processo de "tortura no cálculo do superávit fiscal", que a meu ver culminou com a sua morte recente. Ele de fato ainda existe, mas é na verdade uma "espécie de zumbi" que ainda insiste em assombrar aqueles que detestam o termo "responsabilidade fiscal" ou a tão famosa frase dos livros de economia de que "não há almoço grátis". Os exemplos abaixo mostram os estágios que levaram à morte do superávit primário. A primeira "estocada" no conceito de superávit primário veio com a permissão ainda na gestão do então ministro Antônio Palocci, em 2005, para que parcela do investimento público no Projeto Piloto de Investimentos (PPI) pudesse ser descontada da meta do primário. No seu início, o PPI representava apenas R$ 3,2 bilhões e, assim, descontar esse montante do primário foi um simples arranhão não muito sério. Mas essa regra foi substituída por outra muito mais audaciosa na gestão atual, que permite que R$ 32 bilhões do Programa de Aceleração Econômica (PAC) possam ser integralmente descontados do cálculo do superávit primário na nova Lei de Diretrizes Orçamentárias, a LDO (ver art. 30 do substitutivo ao projeto de lei nº 4 de 2010). Em 2008, houve uma segunda estocada no conceito do primário na proposta da LDO de 2009 que se repetiu nos anos seguintes. Pela nova regra, não apenas gastos do PAC, mas também os gastos autorizados no ano anterior e não executados (restos a pagar) poderiam ser abatidos integralmente do cálculo do superávit primário. Para se ter um ideia do que isso significa, de cerca de R$ 30 bilhões que o governo federal investiu até setembro deste ano (pelo conceito de GND-4), R$ 19 bilhões (63%) correspondem a restos a pagar do ano passado. Assim, essa medida permite que dezenas de bilhões de reais adicionais, além dos gastos do PAC no ano, possam ser descontados do cálculo do primário. Em 2009, apesar de machucado, o conceito de superávit primário ainda era forte o suficiente para atrair a atenção indesejada dos analistas econômicos e financeiros. Assim, optou-se pelo uso de um novo artifício para o seu enfraquecimento. O Tesouro Nacional passou a emprestar recursos para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) que, em seguida, comprava créditos que o Tesouro Nacional tinha a receber de estatais, aumentando, assim, a receita e o resultado primário. Essas operações foram feitas com a Eletrobrás e alcançaram R$ 3,5 bilhões, em 2009, e mais R$ 1,4 bilhão em setembro deste ano. Essas operações podem voltar a se repetir com a mesma ou qualquer outra estatal. Mas a meta de superávit primário continuava a atrair discussões inconvenientes como a necessidade de controle dos gastos correntes para aumentar o investimento público, sem recorrer a aumentos sucessivos de carga tributária. Assim, surgiu a capitalização da Petrobras, uma empresa entre as maiores e mais inovadoras do mundo que, apesar do seu sucesso já comprovado, precisa de uma relação paternalista e tutorial com o seu acionista majoritário, a União, e com o BNDES. Assim, aproveitou-se a capitalização da Petrobras para, mais uma vez, "modificar o resultado do primário", só que desta vez no valor de R$ 31,9 bilhões. A operação original autorizada e discutida no Congresso Nacional era que o Tesouro Nacional faria cessão onerosa equivalente em até 5 bilhões de barris de petróleo que, ao preço fixado em setembro, seria equivalente a R$ 74,8 bilhões. Essa operação significa que a União venderia o seu direito futuro de 5 bilhões de barris de petróleo para a Petrobras em troca de uma participação maior na empresa. Na prática, o que aconteceu foi que o Tesouro Nacional vendeu a cessão onerosa de exploração de petróleo para Petrobras, BNDES e Fundo Soberano, conseguindo uma receita de R$ 74,8 bilhões, e capitalizou a Petrobras em R$ 42,9 bilhões, ficando com um saldo de R$ 31,9 bilhões que se transformou em "superávit primário". Esse "saldo" poderá ser utilizado para qualquer coisa. Ou seja, esse novo "superávit primário" pode tanto ajudar o alcance da meta de 3,30% do PIB deste ano e, portanto, cobrir gastos que já foram efetuados, ou um eventual excesso em relação à meta atual pode ser carregado para o próximo ano para que seja abatido integralmente da meta do primário de 2011, como permitido pelo Art. 3º da LDO. O superávit primário morreu e talvez fosse melhor passarmos a ter metas para a poupança pública, que é um conceito que exclui os gastos de investimento. Mas se você ainda acredita na relevância do conceito de superávit primário depois deste artigo, por favor, poderia me enviar o endereço do Papai Noel? Mansueto Almeida é técnico de planejamento e pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). |
Um gaucho com e pelas baleias: Jose Truda Palazzo Jr
Tenho orgulho de ser amigo (mais que amigo) do "Junior", hoje menos Junior e mais Senior, um senhor defensor das baleias e da natureza em geral, sem aqueles trejeitos e manias dos ecologistas, com sólida base científica, uma consciência exemplar do que significa ser ambientalista no Brasil e no mundo, atualmente, integrando plenamente a agenda da defesa do meio ambiente com a agenda do desenvolvimento.
Aprecio, também, e muito, seu caráter iconoclástico, sem medo de ninguém, quem quer que seja a autoridade de plantão. Afinal de contas, princípios são princípios, e valores não se vendem na bacia das almas em troca de vantagens políticas passageiras ou conveniências momentâneas.
Pessoas assim nos fazem confiar, um pouco que seja, em que o Brasil tem jeito...
Paulo Roberto de Almeida
Em maio de 1978, com apenas 15 anos, o gaúcho José Truda Palazzo Jr. iniciou sua dedicação à causa baleeira internacional, graças ao ecologista Augusto Carneiro, parceiro e apoiador de Lutzenberger, que o “atacou” em sua primeira visita à Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural – AGAPAN, apontando-lhe o dedo, vaticinando: “esse jovem vai trabalhar com as baleias”. Carneiro lhe entregou então um monte de abaixo-assinados contra a caça às baleias no Brasil, e isso, mais os ensinamentos que lhe passou nessas décadas de amizade e parceria, construíram sua militância.
De passar abaixo-assinados contra a matança das baleias na Paraíba, que acabou em 1985, a se envolver nas lutas pelos parques e reservas, como Itapuã, Taim e Ilha dos Lobos, foi uma caminhada que culminou com a criação do Parque Nacional de Fernando de Noronha em 1988, e sua posterior declaração como Patrimônio Mundial em 2001. Em sua trajetória, nunca deixou de questionar e criticar a omissão das autoridades, sempre fazendo pressão política pelos resultados, pela criação e manutenção das normas legais pró-conservação, contribuindo para que fossem criadas ainda outras áreas de proteção.
Em 1984, Truda era Conselheiro da AGAPAN, e a Comissão Internacional da Baleia (CIB) realizaria sua reunião anual em Buenos Aires. Seu pai, que era o grande incentivador e financiador de suas “maluquices” (apesar de economista sem vínculo com a área ambiental, ele havia estudado com Balduíno Rambo, Pio Buck e os últimos grandes naturalistas jesuítas do RS e tinha um grande amor pela Natureza), lhe pagou a viagem de ônibus, e lá foi ele como observador credenciado – a primeira participação de uma ONG brasileira na história da CIB. O Brasil era baleeiro, a delegação do governo fugia das ONGs, e estas estavam lá fazendo pressão e denunciando a matança feita por japoneses em águas brasileiras.
Em 1987, com a proibição definitiva da caça à baleia no Brasil, cria-se um vácuo: o Itamaraty não sabia o que fazer na CIB, e Truda, já trabalhando com a Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza, foi se aproximando e alimentando os diplomatas com informações conservacionistas, o que, acredita, ajudou a moldar uma nova posição do país. Em 1991, Truda foi trabalhar com Lutzenberger na Secretaria Especial do Meio Ambiente, atual Ministério do Meio Ambiente, e passou a integrar a delegação oficial do Brasil na CIB, onde foi Vice-chefe da Delegação Plenária e posterior Chefe da Delegação Científica, até 2009, quando saiu devido às suas fortes críticas à política ambiental do governo. Hoje voltou a ser observador não-governamental na CIB, ajudando na coordenação política das ONGs latinas que atuam na conservação das baleias.
Aprecio, também, e muito, seu caráter iconoclástico, sem medo de ninguém, quem quer que seja a autoridade de plantão. Afinal de contas, princípios são princípios, e valores não se vendem na bacia das almas em troca de vantagens políticas passageiras ou conveniências momentâneas.
Pessoas assim nos fazem confiar, um pouco que seja, em que o Brasil tem jeito...
Paulo Roberto de Almeida
Um gaúcho pelas baleias
Correio do Povo (Porto Alegre) 23/10/2010, p. 2Em maio de 1978, com apenas 15 anos, o gaúcho José Truda Palazzo Jr. iniciou sua dedicação à causa baleeira internacional, graças ao ecologista Augusto Carneiro, parceiro e apoiador de Lutzenberger, que o “atacou” em sua primeira visita à Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural – AGAPAN, apontando-lhe o dedo, vaticinando: “esse jovem vai trabalhar com as baleias”. Carneiro lhe entregou então um monte de abaixo-assinados contra a caça às baleias no Brasil, e isso, mais os ensinamentos que lhe passou nessas décadas de amizade e parceria, construíram sua militância.
De passar abaixo-assinados contra a matança das baleias na Paraíba, que acabou em 1985, a se envolver nas lutas pelos parques e reservas, como Itapuã, Taim e Ilha dos Lobos, foi uma caminhada que culminou com a criação do Parque Nacional de Fernando de Noronha em 1988, e sua posterior declaração como Patrimônio Mundial em 2001. Em sua trajetória, nunca deixou de questionar e criticar a omissão das autoridades, sempre fazendo pressão política pelos resultados, pela criação e manutenção das normas legais pró-conservação, contribuindo para que fossem criadas ainda outras áreas de proteção.
Em 1984, Truda era Conselheiro da AGAPAN, e a Comissão Internacional da Baleia (CIB) realizaria sua reunião anual em Buenos Aires. Seu pai, que era o grande incentivador e financiador de suas “maluquices” (apesar de economista sem vínculo com a área ambiental, ele havia estudado com Balduíno Rambo, Pio Buck e os últimos grandes naturalistas jesuítas do RS e tinha um grande amor pela Natureza), lhe pagou a viagem de ônibus, e lá foi ele como observador credenciado – a primeira participação de uma ONG brasileira na história da CIB. O Brasil era baleeiro, a delegação do governo fugia das ONGs, e estas estavam lá fazendo pressão e denunciando a matança feita por japoneses em águas brasileiras.
Em 1987, com a proibição definitiva da caça à baleia no Brasil, cria-se um vácuo: o Itamaraty não sabia o que fazer na CIB, e Truda, já trabalhando com a Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza, foi se aproximando e alimentando os diplomatas com informações conservacionistas, o que, acredita, ajudou a moldar uma nova posição do país. Em 1991, Truda foi trabalhar com Lutzenberger na Secretaria Especial do Meio Ambiente, atual Ministério do Meio Ambiente, e passou a integrar a delegação oficial do Brasil na CIB, onde foi Vice-chefe da Delegação Plenária e posterior Chefe da Delegação Científica, até 2009, quando saiu devido às suas fortes críticas à política ambiental do governo. Hoje voltou a ser observador não-governamental na CIB, ajudando na coordenação política das ONGs latinas que atuam na conservação das baleias.
Uma transicao organizada, ou improvisada?: passando o bastao...
Em 2002, o presidente FHC fez aprovar uma lei sobre a transição entre mandatos presidenciais no Brasil. Prevendo sua própria saída, ele quis facilitar ao máximo a vida do seu sucessor, fosse ele quem fosse (seria Serra ou Lula), prevendo cargos em comissão e gastos com escritório de transição, o que foi rigorosamente cumprido.
No dia seguinte ao segundo turno, o presidente eleito, Lula, foi comunicado de que poderia dispor de amplos espaços pagos pela Presidência da República e que poderia nomear um número x de funcionários -- não tenho esses dados de cabeça, mas basta consultar a lei no site da PR -- com honorários equivalentes aos de altos funcionários do governo até os de mais baixo escalão, ou seja, um serviço completo, de cama, mesa e banho. E a simpatia do governo "sainte", com todas as facilidades de informação.
Lembro-me que todos os ministérios prepararam relatórios de gestão, específicos para a transição, com todas as informações disponíveis sobre os assuntos correntes e os "entrantes", ou seja aqueles "congelados" temporariamente (aguardando, por cortesia, a decisão do presidente "entrante") e aqueles que seria preciso tomar providências logo nos primeiros dias de janeiro (sim, o Brasil fez essa bobagem monumental de marcar posse no dia 1ro de janeiro, e nenhum debiloide na presidência se lembrou, até hoje, de propor uma emenda constitucional, deslocando essa posse alguns dias depois, o que é um incômodo tremendo para todo mundo).
Havia até um conjunto de informações confidenciais, sobre assuntos sensíveis, que foram passados em confiança aos apparatchiks de alto coturno do partido que conquistava o poder. FHC não precisou passar o código secreto da arma nuclear a Lula, mas deve ter-lhe repassado diversos assuntos sensíveis que estavam na ordem do dia. Todos os ministérios colocaram suas agendas à disposição da equipe de transição.
Lembro-me perfeitamente de que os representantes do partido no poder, designados pelo presidente eleito, se instalaram, com todos os seus assessores livremente designados, nas dependências do Centro Cultural do Banco do Brasil em Brasília, e de lá passaram a ensaiar grandes vôos para o que seria a grande ruptura com o neoliberalismo e a superação da "herança maldita" (como tiveram a descortesia de chamar a situação que receberam, em grande medida deteriorada, em termos de inflação e taxa de câmbio, justamente devido às loucuras econômicas passadas do PT e seus "economistas").
Lembro-me, também, que os petistas todo dia anunciavam grandes planos para revolucionar isto e mais aquilo, mas, no fundo, uma grande confusão reinava sobre o que seria o governo, em janeiro de 2003, e quais seriam as suas políticas.
Retrospectivamente, podemos dizer que a cenografia do CCBB foi apenas para fins de comunicação e de imagem, pois nada daquilo foi realmente aproveitado. O que valia mesmo era a vontade do presidente e a do seu grão-vizir, o Richelieu do regime, aquele que depois foi expurgado no escândalo do Mensalão, como o chefe da quadrilha dos 40 ladrões.
Enfin, passons...
O que eu quero dizer é que não estou vendo nenhuma movimentação em torno dessa fase de transição. Ou seja, o presidente, ou presidenta, eleito no dia 31 de outubro, não terá, no dia 1ro de novembro, ao que parece, nenhuma facilidade com equipe de transição.
Não é que eu queira lembrar aos burocratas do Planalto, em especial aos da Casa Civil, que eles têm uma obrigação, em face da lei, mas caberia chamar a atenção para esse aspecto simplesmente elementar: qualquer novo mandatário tem o direito de preparar seu governo, designando uma equipe de transição, preparando projetos para os primeiros dias de governo, até a mensagem ao Congresso que se abre em fevereiro. Os ministros designados ou a designar precisam saber o que vão encontrar pela frente, e quanto mais cedo souberem disso, melhor.
Talvez os atuais donos do poder sonham com uma não-transição, ou seja, a continuidade, o que me parece uma tremenda descortesia com a própria candidata oficial. Ela tem o direito de compor a sua equipe. O mesmo se aplica, a fortiori, se for o candidato da oposição, que certamente não espera encontrar uma terra arrasada à sua espera no cerrado central.
Enfim, estou apenas lembrando o óbvio, e o que diz a lei.
Não custa, por uma vez, ter um comportamento civilizado...
Paulo Roberto de Almeida
(28.10.2010)
No dia seguinte ao segundo turno, o presidente eleito, Lula, foi comunicado de que poderia dispor de amplos espaços pagos pela Presidência da República e que poderia nomear um número x de funcionários -- não tenho esses dados de cabeça, mas basta consultar a lei no site da PR -- com honorários equivalentes aos de altos funcionários do governo até os de mais baixo escalão, ou seja, um serviço completo, de cama, mesa e banho. E a simpatia do governo "sainte", com todas as facilidades de informação.
Lembro-me que todos os ministérios prepararam relatórios de gestão, específicos para a transição, com todas as informações disponíveis sobre os assuntos correntes e os "entrantes", ou seja aqueles "congelados" temporariamente (aguardando, por cortesia, a decisão do presidente "entrante") e aqueles que seria preciso tomar providências logo nos primeiros dias de janeiro (sim, o Brasil fez essa bobagem monumental de marcar posse no dia 1ro de janeiro, e nenhum debiloide na presidência se lembrou, até hoje, de propor uma emenda constitucional, deslocando essa posse alguns dias depois, o que é um incômodo tremendo para todo mundo).
Havia até um conjunto de informações confidenciais, sobre assuntos sensíveis, que foram passados em confiança aos apparatchiks de alto coturno do partido que conquistava o poder. FHC não precisou passar o código secreto da arma nuclear a Lula, mas deve ter-lhe repassado diversos assuntos sensíveis que estavam na ordem do dia. Todos os ministérios colocaram suas agendas à disposição da equipe de transição.
Lembro-me perfeitamente de que os representantes do partido no poder, designados pelo presidente eleito, se instalaram, com todos os seus assessores livremente designados, nas dependências do Centro Cultural do Banco do Brasil em Brasília, e de lá passaram a ensaiar grandes vôos para o que seria a grande ruptura com o neoliberalismo e a superação da "herança maldita" (como tiveram a descortesia de chamar a situação que receberam, em grande medida deteriorada, em termos de inflação e taxa de câmbio, justamente devido às loucuras econômicas passadas do PT e seus "economistas").
Lembro-me, também, que os petistas todo dia anunciavam grandes planos para revolucionar isto e mais aquilo, mas, no fundo, uma grande confusão reinava sobre o que seria o governo, em janeiro de 2003, e quais seriam as suas políticas.
Retrospectivamente, podemos dizer que a cenografia do CCBB foi apenas para fins de comunicação e de imagem, pois nada daquilo foi realmente aproveitado. O que valia mesmo era a vontade do presidente e a do seu grão-vizir, o Richelieu do regime, aquele que depois foi expurgado no escândalo do Mensalão, como o chefe da quadrilha dos 40 ladrões.
Enfin, passons...
O que eu quero dizer é que não estou vendo nenhuma movimentação em torno dessa fase de transição. Ou seja, o presidente, ou presidenta, eleito no dia 31 de outubro, não terá, no dia 1ro de novembro, ao que parece, nenhuma facilidade com equipe de transição.
Não é que eu queira lembrar aos burocratas do Planalto, em especial aos da Casa Civil, que eles têm uma obrigação, em face da lei, mas caberia chamar a atenção para esse aspecto simplesmente elementar: qualquer novo mandatário tem o direito de preparar seu governo, designando uma equipe de transição, preparando projetos para os primeiros dias de governo, até a mensagem ao Congresso que se abre em fevereiro. Os ministros designados ou a designar precisam saber o que vão encontrar pela frente, e quanto mais cedo souberem disso, melhor.
Talvez os atuais donos do poder sonham com uma não-transição, ou seja, a continuidade, o que me parece uma tremenda descortesia com a própria candidata oficial. Ela tem o direito de compor a sua equipe. O mesmo se aplica, a fortiori, se for o candidato da oposição, que certamente não espera encontrar uma terra arrasada à sua espera no cerrado central.
Enfim, estou apenas lembrando o óbvio, e o que diz a lei.
Não custa, por uma vez, ter um comportamento civilizado...
Paulo Roberto de Almeida
(28.10.2010)
iPad: por enquanto estou aposentando a ideia....
Alguém tem críticas contundentes contra o Kindle?
Paulo Roberto de Almeida
O tablete da Apple já vendeu mais de 4,5 milhões de unidades e é considerado o gadget do momento. A princípio, muito desse sucesso veio simplesmente da emoção de ter o novo aparelho. Mas logo começaram a surgir algumas críticas de usuários. A empresa de Steve Jobs está ciente desses defeitos e trabalha para corrigi-los.
Aqui uma complicação dos principais problemas apontados no iPad:
1- Complicações com Adobe Flash
Uma das queixas mais frequentes é a impossibilidade de reproduzir conteúdo Adobe Flash. Não deixa de ser um paradoxo ter a mão um dispositivo que lhe oferece grande experiência de navegar pela rede, mas que ao mesmo tempo lhe impede de ver alguns sites de maneira completa. Há alguns meses, Steve Jobs disse que o Flash pertence à era PC e não dos computadores portáteis, e que não é aberto como HTML5, CSS y JavaScript. Além disso, seria inseguro, instável e gasta mais bateria. O certo é que, mesmo com todos esses argumentos de Jobs, os fãs seguem decepcionados pela falta dessa ferramenta.
2- Nada de multitarefas
O iPad não conta com o sistema de multitarefas, ou seja, você não pode mudar de uma aplicação para outra sem suspender a tarefa em curso - mesmo que seja algo simples, como escrever um e-mail ou sair do Messenger para postar algo no Facebook. Há a expectativa de que novas versões do iPad corrijam esse defeito.
3- Nada de WebCam de 5 megapixels
Ao contrário de concorrentes como o Galaxy Tab da Samsung, o RIM com PlayBook e o Dell com o Streak, que integram WebCam de 5 megapixels, a Apple decidiu deixar esse recurso fora da jogada.
4- Nada de portas USB
Essa é inexplicável. O aparelho não conta com portas de conexão USB e nem para cartões de memória SD. Isso quer dizer que ele não pode conectar câmeras ou qualquer outro dispositivo periférico. Ah, claro, você pode investir mais 29 dólares (lá fora) e comprar o adaptar Camera Connection Kit.
5- Livros eletrônicos?
Assim que o iPad foi lançado, a expectativa era de que o iBooks, a loja de livros da Apple, acabaria com o mercado da Amazon. Mas não foi o que aconteceu. Um dos principais fatores para isso é a dificuldade de leitura em ambientes abertos - é complicado encontrar um ângulo em que o reflexo da luz na tela não interfira na leitura.
6- Restrição a aplicativos
A Apple decidiu que sua plataforma de aplicativos fosse fechada, ou seja, se alguém quiser baixar um aplicativo de qualquer site, precisa passar antes pela app store para obter a autorização.
7- Baixa qualidade do vídeo
O iPad não reproduz vídeos HD de 720p, já que a resolução é baixa - 1024x768. E não dispõe de saída de vídeo.
8- Pouca memória RAM
O iPad tem 256 MB de RAM, o que pode ser um problema ao abrir várias janelas da rede.
9- Aplicativos caros
Ainda que existam milhares de apps gratuitos, 80% - desenhados especialmente para o iPad - são pagos. E custam mais, em média, do que os aplicativos para iPhone.
10- Assinaturas não disponíveis
Segundo alguns desenvolvedores, a Apple ainda não tem um sistema de assinatura. Por enquanto, os usuários devem realizar seus próprios sistemas de "subscription" ou utilizar um servidor local. No entanto, a Apple já está trabalhando para oferecer o sistema de assinaturas. Tudo indica que este elemento estaria disponível em janeiro, com um novo iPad com estas características corrigidas.
Paulo Roberto de Almeida
Os 10 pecados do iPad
Redação Yahoo! Brasil
Qua, 27 Out - 21h39O tablete da Apple já vendeu mais de 4,5 milhões de unidades e é considerado o gadget do momento. A princípio, muito desse sucesso veio simplesmente da emoção de ter o novo aparelho. Mas logo começaram a surgir algumas críticas de usuários. A empresa de Steve Jobs está ciente desses defeitos e trabalha para corrigi-los.
Aqui uma complicação dos principais problemas apontados no iPad:
1- Complicações com Adobe Flash
Uma das queixas mais frequentes é a impossibilidade de reproduzir conteúdo Adobe Flash. Não deixa de ser um paradoxo ter a mão um dispositivo que lhe oferece grande experiência de navegar pela rede, mas que ao mesmo tempo lhe impede de ver alguns sites de maneira completa. Há alguns meses, Steve Jobs disse que o Flash pertence à era PC e não dos computadores portáteis, e que não é aberto como HTML5, CSS y JavaScript. Além disso, seria inseguro, instável e gasta mais bateria. O certo é que, mesmo com todos esses argumentos de Jobs, os fãs seguem decepcionados pela falta dessa ferramenta.
2- Nada de multitarefas
O iPad não conta com o sistema de multitarefas, ou seja, você não pode mudar de uma aplicação para outra sem suspender a tarefa em curso - mesmo que seja algo simples, como escrever um e-mail ou sair do Messenger para postar algo no Facebook. Há a expectativa de que novas versões do iPad corrijam esse defeito.
3- Nada de WebCam de 5 megapixels
Ao contrário de concorrentes como o Galaxy Tab da Samsung, o RIM com PlayBook e o Dell com o Streak, que integram WebCam de 5 megapixels, a Apple decidiu deixar esse recurso fora da jogada.
4- Nada de portas USB
Essa é inexplicável. O aparelho não conta com portas de conexão USB e nem para cartões de memória SD. Isso quer dizer que ele não pode conectar câmeras ou qualquer outro dispositivo periférico. Ah, claro, você pode investir mais 29 dólares (lá fora) e comprar o adaptar Camera Connection Kit.
5- Livros eletrônicos?
Assim que o iPad foi lançado, a expectativa era de que o iBooks, a loja de livros da Apple, acabaria com o mercado da Amazon. Mas não foi o que aconteceu. Um dos principais fatores para isso é a dificuldade de leitura em ambientes abertos - é complicado encontrar um ângulo em que o reflexo da luz na tela não interfira na leitura.
6- Restrição a aplicativos
A Apple decidiu que sua plataforma de aplicativos fosse fechada, ou seja, se alguém quiser baixar um aplicativo de qualquer site, precisa passar antes pela app store para obter a autorização.
7- Baixa qualidade do vídeo
O iPad não reproduz vídeos HD de 720p, já que a resolução é baixa - 1024x768. E não dispõe de saída de vídeo.
8- Pouca memória RAM
O iPad tem 256 MB de RAM, o que pode ser um problema ao abrir várias janelas da rede.
9- Aplicativos caros
Ainda que existam milhares de apps gratuitos, 80% - desenhados especialmente para o iPad - são pagos. E custam mais, em média, do que os aplicativos para iPhone.
10- Assinaturas não disponíveis
Segundo alguns desenvolvedores, a Apple ainda não tem um sistema de assinatura. Por enquanto, os usuários devem realizar seus próprios sistemas de "subscription" ou utilizar um servidor local. No entanto, a Apple já está trabalhando para oferecer o sistema de assinaturas. Tudo indica que este elemento estaria disponível em janeiro, com um novo iPad com estas características corrigidas.
Construindo a heranca maldita: as contas ficticias do Tesouro (editorial do Estadao)
Depois não digam que o governo não foi avisado de que estava adentrando em terreno perigoso.
Depois não digam que alguém foi pego de surpresa.
Há muito tempo, pessoas que seguem as contas públicas, sabem que o governo vem manipulando a contabilidade, maquiando despesas e apresentando superavits fictícios.
O governo está, irresponsavelmente, construindo uma bomba-relógio fiscal, que vai estourar no colo do próximo presidente, qualquer que seja ele.
Paulo Roberto de Almeida
A mágica foi prevista desde quando o governo anunciou as manobras para envolver o Fundo Soberano e pelo menos um banco federal na capitalização da Petrobrás.
A União cedeu à empresa reservas de petróleo avaliadas oficialmente em R$ 74,8 bilhões e recebeu esse montante como pagamento. Ao mesmo tempo, contribuiu com dinheiro para o aumento de capital. Mas só gastou R$ 42,9 bilhões, porque o resto foi desembolsado por intermédio da BNDESPar e do Fundo.
A diferença, R$ 31,9 bilhões, foi contabilizada como receita do Tesouro. Somadas entradas e saídas, sobraram os R$ 26,1 bilhões apresentados como superávit. Mas pelo menos uma parte do distinto público já sabia do truque e não se deixou impressionar pela mágica.
Mas o ilusionismo é mais complexo. Para reforçar o BNDES, o Tesouro emitiu papéis no valor de R$ 25 bilhões. Endividou-se, mas essa operação não afetou a dívida líquida, porque o dinheiro foi passado ao banco, formalmente, como empréstimo. Logo, foi gerado um crédito equivalente. Mas a dívida bruta cresceu e esse é o indicador mais importante para os financiadores do Tesouro.
O governo contabilizou os R$ 31,9 bilhões como "receita de concessão", num procedimento classificado como normal pelo secretário do Tesouro, Arno Augustin. Segundo ele, "não houve manobra fiscal". Esse não é o ponto de vista de especialistas do setor privado e do Banco Central (BC). Em sua próxima reunião, em dezembro, o Copom fará, como sempre, uma avaliação das condições da economia e levará em conta os efeitos da política fiscal. São passos necessários para a decisão sobre os juros. O Comitê não deverá levar em conta a receita contabilizada como decorrente da capitalização da Petrobrás, informou o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton.
Essa divergência é mais importante do que talvez possa parecer à primeira vista. Não se trata de um preciosismo contábil. Trata-se de saber se a informação divulgada pelo Tesouro é um bom indicador das condições da economia brasileira. De fato, não é, assim como não seria, se o governo descontasse o valor aplicado nas obras do PAC ou destinado a qualquer outra finalidade. Não se pode tratar a meta de superávit primário como se fosse apenas um requisito burocrático.
Acima de tudo, é preciso avaliar a situação das contas públicas pela evolução da despesa. O gasto federal continua crescendo mais que o valor da produção. Neste ano, o investimento custeado pelo Tesouro aumentou, mas esse item continua sendo pouco relevante no conjunto dos desembolsos. O Orçamento federal continua sendo inflado principalmente pelos gastos de custeio e, de modo especial, por despesas pouco produtivas.
A folha de pessoal, até agora, foi 9,3% maior que a de janeiro-setembro de 2009. Aumentou menos que o PIB nominal. Mas não se pode esquecer o inchaço dos salários e encargos nos últimos sete anos. Além disso, outros itens de custeio consumiram 21,6% mais do que no ano passado - uma diferença reconhecida como indesejável até pelo secretário do Tesouro.
Durante anos, o governo se valeu do aumento da receita para gastar muito e ainda assim conseguir superávit primário. Em 2010, nem o notável aumento da arrecadação tem bastado para acomodar a gastança. Este é o problema número um e é um erro tentar disfarçá-lo.
=============
Acrescento, para que se torne bem evidente, o comentário que já incorporei neste post, e agradeço a meu correspondente e amigo de blog Paulo Araújo:
Caro Paulo R. Almeida.
Mansueto Almeida escreveu em seu blog posts alertando criticamente para idêntica questão tratada no editorial
http://mansueto.wordpress.com/
O artigo de hoje de Mansueto Almeida
Superávit primário: descanse em paz. Valor Econômico - 28/10/2010
Esta é a última frase. Uma conclusão fundamentada no que ele expôs de modo cristalino no artigo:
“O superávit primário morreu e talvez fosse melhor passarmos a ter metas para a poupança pública, que é um conceito que exclui os gastos de investimento. Mas se você ainda acredita na relevância do conceito de superávit primário depois deste artigo, por favor, poderia me enviar o endereço do Papai Noel?”
Artigo de Mansueto Almeida
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/10/28/superavit-primario-descanse-em-paz-mansueto-almeida
Depois não digam que alguém foi pego de surpresa.
Há muito tempo, pessoas que seguem as contas públicas, sabem que o governo vem manipulando a contabilidade, maquiando despesas e apresentando superavits fictícios.
O governo está, irresponsavelmente, construindo uma bomba-relógio fiscal, que vai estourar no colo do próximo presidente, qualquer que seja ele.
Paulo Roberto de Almeida
A mágica do Tesouro
Editorial - O Estado de S.Paulo
28 de outubro de 2010
O governo continua inventando expedientes para ocultar a deterioração das contas públicas. Desta vez, aproveitou a capitalização da Petrobrás para inflar a receita do Tesouro Nacional e produzir um superávit primário de R$ 26,1 bilhões em setembro. Seria o maior resultado primário de todos os tempos, se fosse real. Mas esse número - mais um prodígio nunca antes visto na história deste país - é uma ficção. Sem recorrer a ela, o Ministério da Fazenda estaria exibindo, na melhor hipótese, um déficit de R$ 5,8 bilhões. Esse é um claro sinal do descontrole do gasto. Com a economia crescendo em ritmo igual ou superior a 7% ao ano, a administração federal deveria exibir uma excelente saúde financeira.A mágica foi prevista desde quando o governo anunciou as manobras para envolver o Fundo Soberano e pelo menos um banco federal na capitalização da Petrobrás.
A União cedeu à empresa reservas de petróleo avaliadas oficialmente em R$ 74,8 bilhões e recebeu esse montante como pagamento. Ao mesmo tempo, contribuiu com dinheiro para o aumento de capital. Mas só gastou R$ 42,9 bilhões, porque o resto foi desembolsado por intermédio da BNDESPar e do Fundo.
A diferença, R$ 31,9 bilhões, foi contabilizada como receita do Tesouro. Somadas entradas e saídas, sobraram os R$ 26,1 bilhões apresentados como superávit. Mas pelo menos uma parte do distinto público já sabia do truque e não se deixou impressionar pela mágica.
Mas o ilusionismo é mais complexo. Para reforçar o BNDES, o Tesouro emitiu papéis no valor de R$ 25 bilhões. Endividou-se, mas essa operação não afetou a dívida líquida, porque o dinheiro foi passado ao banco, formalmente, como empréstimo. Logo, foi gerado um crédito equivalente. Mas a dívida bruta cresceu e esse é o indicador mais importante para os financiadores do Tesouro.
O governo contabilizou os R$ 31,9 bilhões como "receita de concessão", num procedimento classificado como normal pelo secretário do Tesouro, Arno Augustin. Segundo ele, "não houve manobra fiscal". Esse não é o ponto de vista de especialistas do setor privado e do Banco Central (BC). Em sua próxima reunião, em dezembro, o Copom fará, como sempre, uma avaliação das condições da economia e levará em conta os efeitos da política fiscal. São passos necessários para a decisão sobre os juros. O Comitê não deverá levar em conta a receita contabilizada como decorrente da capitalização da Petrobrás, informou o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton.
Essa divergência é mais importante do que talvez possa parecer à primeira vista. Não se trata de um preciosismo contábil. Trata-se de saber se a informação divulgada pelo Tesouro é um bom indicador das condições da economia brasileira. De fato, não é, assim como não seria, se o governo descontasse o valor aplicado nas obras do PAC ou destinado a qualquer outra finalidade. Não se pode tratar a meta de superávit primário como se fosse apenas um requisito burocrático.
Acima de tudo, é preciso avaliar a situação das contas públicas pela evolução da despesa. O gasto federal continua crescendo mais que o valor da produção. Neste ano, o investimento custeado pelo Tesouro aumentou, mas esse item continua sendo pouco relevante no conjunto dos desembolsos. O Orçamento federal continua sendo inflado principalmente pelos gastos de custeio e, de modo especial, por despesas pouco produtivas.
A folha de pessoal, até agora, foi 9,3% maior que a de janeiro-setembro de 2009. Aumentou menos que o PIB nominal. Mas não se pode esquecer o inchaço dos salários e encargos nos últimos sete anos. Além disso, outros itens de custeio consumiram 21,6% mais do que no ano passado - uma diferença reconhecida como indesejável até pelo secretário do Tesouro.
Durante anos, o governo se valeu do aumento da receita para gastar muito e ainda assim conseguir superávit primário. Em 2010, nem o notável aumento da arrecadação tem bastado para acomodar a gastança. Este é o problema número um e é um erro tentar disfarçá-lo.
=============
Acrescento, para que se torne bem evidente, o comentário que já incorporei neste post, e agradeço a meu correspondente e amigo de blog Paulo Araújo:
Caro Paulo R. Almeida.
Mansueto Almeida escreveu em seu blog posts alertando criticamente para idêntica questão tratada no editorial
http://mansueto.wordpress.com/
O artigo de hoje de Mansueto Almeida
Superávit primário: descanse em paz. Valor Econômico - 28/10/2010
Esta é a última frase. Uma conclusão fundamentada no que ele expôs de modo cristalino no artigo:
“O superávit primário morreu e talvez fosse melhor passarmos a ter metas para a poupança pública, que é um conceito que exclui os gastos de investimento. Mas se você ainda acredita na relevância do conceito de superávit primário depois deste artigo, por favor, poderia me enviar o endereço do Papai Noel?”
Artigo de Mansueto Almeida
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/10/28/superavit-primario-descanse-em-paz-mansueto-almeida
Kirchner: os mercados sao crueis e vingativos...
Claro que é bobagem esse título, colocado assim apenas para chocar.
Na verdade, os mercados apenas refletem o risco percebido por milhares de investidores.
Alguns malucos acreditam na teoria conspiratória da história, e acham que por trás dos mercados se encontra um bando de especuladores de Wall Street tramando contra os países "periféricos" ou "dependentes".
Bobagem total: os mercados são formados por milhares, centenas de milhares de poupadores e investidores que expressam suas crenças, apreensões e até irracionalidades atravése de operações de compra e venda de títulos, ações, papéis, whatever.
Claramente os mercados estão dizendo que o ex-presidente -- que Perón o guarde consigo, onde estiver -- era um risco tremendo para a saúde da economia.
Eu sei disso: uma vez fiquei parado na Argentina sem gasolina, por causa dessa mania maluca do finado presidente de enfrentar os mercados, decretando congelamentos, retenciones, e outras bobagens maiores ainda...
Descanse em paz. Os mercados podem funcionar mais tranquilamente.
Paulo Roberto de Almeida
Ações da Argentina sobem após morte de ex-presidente
Folha de S. Paulo, 28.10.2010
Os valores das ações e dos principais títulos do governo argentino subiram após o anúncio da morte do ex-presidente Néstor Kirchner. Suas possíveis pretensões de concorrer às eleições presidenciais em 2011 eram consideradas um dado negativo pelo mercado financeiro. O ex-presidente era famoso por entrar em confronto com mercados e investidores. Analistas financeiros avaliam que, com sua morte, a Argentina passou a significar menos risco político. A Bolsa de Valores de Buenos Aires não funcionou ontem por causa de um feriado na Argentina. Mas os investidores começaram a comprar ativos atrelados à dívida argentina e ações do país que eram negociados no mercado financeiro internacional logo após o anúncio da morte.
Na verdade, os mercados apenas refletem o risco percebido por milhares de investidores.
Alguns malucos acreditam na teoria conspiratória da história, e acham que por trás dos mercados se encontra um bando de especuladores de Wall Street tramando contra os países "periféricos" ou "dependentes".
Bobagem total: os mercados são formados por milhares, centenas de milhares de poupadores e investidores que expressam suas crenças, apreensões e até irracionalidades atravése de operações de compra e venda de títulos, ações, papéis, whatever.
Claramente os mercados estão dizendo que o ex-presidente -- que Perón o guarde consigo, onde estiver -- era um risco tremendo para a saúde da economia.
Eu sei disso: uma vez fiquei parado na Argentina sem gasolina, por causa dessa mania maluca do finado presidente de enfrentar os mercados, decretando congelamentos, retenciones, e outras bobagens maiores ainda...
Descanse em paz. Os mercados podem funcionar mais tranquilamente.
Paulo Roberto de Almeida
Ações da Argentina sobem após morte de ex-presidente
Folha de S. Paulo, 28.10.2010
Os valores das ações e dos principais títulos do governo argentino subiram após o anúncio da morte do ex-presidente Néstor Kirchner. Suas possíveis pretensões de concorrer às eleições presidenciais em 2011 eram consideradas um dado negativo pelo mercado financeiro. O ex-presidente era famoso por entrar em confronto com mercados e investidores. Analistas financeiros avaliam que, com sua morte, a Argentina passou a significar menos risco político. A Bolsa de Valores de Buenos Aires não funcionou ontem por causa de um feriado na Argentina. Mas os investidores começaram a comprar ativos atrelados à dívida argentina e ações do país que eram negociados no mercado financeiro internacional logo após o anúncio da morte.
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