sábado, 14 de maio de 2011

Como escrever bem (e existem regras para isso) - Paulo Roberto de Almeida

Meus vícios de escrita (e algumas regras para melhorar...)
Paulo Roberto de Almeida

Eu escrevo mal, eu sei. Não tanto coisas absolutamente erradas, ou estúpidas (embora sempre se encontre quem ache isso), mas basicamente construções difíceis, frases muito longas, palavras inventadas (do que não me desculpo, aliás), rebuscamento e prolixidade na expressão de um pensamento (se é que tenho algum), enfim, diversos vícios de linguagem, ou seja, de expressão oral e de escrita, que foram se acumulando ao longo do tempo, e dos quais só posso me desculpar junto a meus (poucos) leitores com promessas (vãs?) de que vou me esforçar para escrever melhor da próxima vez.
A que posso atribuir essas deficiências na expressão escrita (já que falo muito pouco, fora das aulas que ministro regularmente)? Erros de origem, provavelmente, agravados pelo desleixo em corrigi-los, por certo descuido com os aspectos formais da escrita. Mas não é apenas pelo seu estilo capenga e descuidado que meus textos são ruins; é também pelo desenvolvimento deficiente dos argumentos, se ouso agora incriminar também a substância de meus trabalhos.
Como sempre estamos procurando bodes expiatórios para nossas deficiências, aqui vão os meus. Minha primeira infância transcorreu num lar quase sem livros, carente de revistas e jornais, na total ausência de volumes enfileirados em alguma estante ou num canto qualquer da casa. Meus pais nunca terminaram o primário: tiveram de trabalhar desde muito cedo, e por isso não se poderia esperar que, na idade adulta, se convertessem, não em intelectuais, mas em pessoas motivadas pela leitura. O meio de informação habitual era o rádio (a TV só apareceu muito mais tarde), ou o que vinha na ruas e nas conversas com vizinhos e conhecidos de trabalho. Só aprendi a ler, como já disse, na “tardia” idade de sete anos, como era o hábito no primário de antigamente. Desde então, tentei me corrigir, lendo tudo o que estivesse a meu alcance, mas talvez eu me tenha motivado mais pelas ideias, em si, do que por sua expressão formal. Enfim, seja como for, nunca deixei de ler, o que pode ser uma base excelente para a melhoria do estilo e da correção formal e substantiva dos meus textos, mas parece que nunca aproveitei a oportunidade (talvez porque eu tenha me concentrado mais em livros de estudo, com o seu jargão prolixo e especializado, em lugar da boa literatura).
Depois, como me politizei muito cedo, sem nenhum desdouro por quem faz isso também, isso me levou a ler uma faixa determinada da produção nas humanidades: história, política, marxismo, economia e coisas em torno desse universo restrito. Convivi, portanto, com os “escritores” desse ambiente cheio de slogans (ou conceitos) politicamente marcados e por vezes até maniqueístas. Como eu me dirigi também muito cedo para a chamada “escola paulista de sociologia”, adquiri o terrível (temível?) jargão desse pessoal, em especial do mestre Florestan Fernandes, prolixo como poucos, com longas frases cheias de apostos e complementos. Enfim, eu me contaminei com esse tipo de escrita, que “deformou” (não hesito em dizer) completamente meu modo de expressão.
Devo dizer, também, que durante toda a minha educação formal – que eu reduzo apenas ao primário e ao ginasial, ou seja, dos sete aos quinze anos – eu nunca gostei de gramática, ou de Português em geral (como também tropecei muito cedo na matemática). Eu gostava de ler, mas não tinha nenhuma paciência pelas regras gramaticais, pelas normas de linguagem que era preciso decorar, pelo respeito a certas concordâncias ou construções estilisticamente corretas. Para mim, o mais importante era absorver as ideias e retransmiti-las de alguma forma, sem maiores cuidados quanto à forma. Devo ter passado impune por algumas reformas ortográficas e como eu gostava de ler livros antigos, também devo ter confundido formas de escrita e normas cambiantes. Para agravar o meu caso, saí do Brasil com 20 anos e passei quase sete anos completos no exterior, estudando exclusivamente em francês, falando espanhol (ou ensaiando outras línguas), com pouco contato formal com o Português (a não ser pela leitura dos mesmos livros no meu mundinho das ciências sociais e do marxismo).
Pronto, estão aí meus bodes expiatórios, os que explicam, pelo menos parcialmente, algumas das razões de minha horrível expressão escrita (claro, boa em comparação com a miséria educacional dos nossos tempos, mas sempre deficiente com respeito às normas cultas e elegantes da linguagem). Que posso fazer, então? Talvez ler mais literatura de boa qualidade, dedicar mais tempo à revisão dos meus textos, tentar expressar minhas ideias de forma mais clara, usar frases mais curtas, concentrar-me no essencial e deixar o acessório de lado (nessa tentativa ilusória de abarcar um problema por todos os seus lados e aspectos), enfim, tentar melhorar aquilo que é primordial nesse tipo de ofício que é o meu: ser atraente, interessante, conciso (já que ninguém tem mais tempo, hoje em dia, para ler textos longos). Pensando em tudo isso, vou tentar melhorar meu desempenho na expressão escrita recorrendo a algumas regras muito simples, cuja inspiração me veio da leitura de um texto na revista Piauí, “Manual de estilo para cientistas”, de Bernardo Esteves (Questões de Ciência, 11/05/2011; link: http://revistapiaui.estadao.com.br/blogs/questoes-da-ciencia/geral/manual-de-estilo-para-cientistas), mas que remete a um artigo do respeitado biólogo Kaj Sand-Jensen, (http://www.fbl.ku.dk/ksandjensen/presentation.html) da Universidade de Copenhague, autor de um clássico instantâneo da estilística científica: “Como escrever literatura científica consistentemente chata”, publicado em 2007 na revista Oikos (“How to write consistently boring scientific literature”, Volume 116, Issue 5, pages 723–727, May 2007, link: http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.0030-1299.2007.15674.x/full).
Eu recomendaria uma leitura do seu original, mas vou aqui me contentar em retomar suas recomendações ao contrário, ou seja, invertendo o sentido original de suas recomendações – irônicas, por certo – para tentar apresentar algumas ideias positivas, quem sabe até úteis?, aos candidatos a uma boa escrita, a começar por mim mesmo. Portanto, ainda que eu me disponha a pagar copyright – ou talvez, mais apropriadamente, moral rights – ao cientista dinamarquês, eu tenciono converter suas regras da escrita chata em advertências ao projeto de escritor que pretende ser interessante (e lido).
Vejamos o que pode resultar.

1. Concentre-se no foco do problema
Vá direto ao assunto desde a primeira frase, eventualmente precedida de algum exemplo histórico (como é meu hábito) e literário que pretende realçar o problema a ser tratado. Diga logo de cara algo assim: “Este texto pretende abordar este problema e visa demonstrar esta coisa; meu método, ou meus procedimentos serão os seguintes: blá, blá curto”. Desenvolva a seguir seu argumento principal, mantendo o foco na questão que você de propôs tratar, fazendo eventualmente alguma alusão a questões paralelas que possam ter relevância para o problema central. Tire suas conclusões, dizendo claramente que é aquilo que você descobriu e faça algumas considerações finais sobre a importância desse tratamento para o estado da arte naquele campo (e sua contribuição para ele). Estaria bem assim, ou estou sendo muito elementar? Acho melhor ser simples e direto.

2. Tente ser original e demonstrar sua contribuição para o avanço da “arte”
Pessoas sem ideias se contentam em resumir contribuições alheias, no que não vai nenhuma grande tragédia. Se este for o caso, diga claramente: Fulano disse isto, Sicrano disse aquilo, e eu resumo o que disse Beltrano a respeito ou sobre os dois; mas tente, se possível, expressar uma opinião própria sobre a questão, ainda que seja a de dizer que você pretende apenas oferecer uma síntese que resumo o estado da arte dos outros. Se não tiver nenhuma ideia interessante ou inteligente para expressar sobre a questão, tente, pelo menos, formular algumas perguntas para pesquisa ulterior, mais ou menos neste sentido: seria útil pesquisar tal questão em sua aplicação ao caso brasileiro, ou então dizer que dados concretos sobre tais e tais manifestações do problema precisariam ser pesquisados com vistas a refletir sobre aqueles ensinamentos nesta ou naquela situação nova. Gostou?

3. Escreva contribuições concisas e objetivas, com frases legíveis e compreensivas
Tente seguir o estilo americano: frases curtas, muitos pontos, perguntas claras, afirmações diretas, sem rebuscamentos de linguagem, com eliminação de tudo que não seja absolutamente necessário para a compreensão do “seu” problema. Mesmo que tenha vontade de escrever um tratado erudito sobre o assunto, comece por expor o conjunto de forma breve, se possível com outlines prévios, enxugando tudo o que for secundário. Depois que terminar seu “mini-artigo”, você poderá se lançar na obra prima da sua carreira acadêmica, em algo que fique nos anos como o magnum opus daquela área; mas comece modestamente por favor, pois o efeito pode ser maior. Não é para ser curto e grosso, apenas conciso e objetivo. Pode até ter frases de efeito, mas apropriadas ao caso.

4. Explore implicações do seu problema e especule inteligentemente a respeito
Todo e qualquer problema humano está sempre relacionado a muitos outros, para frente, para trás, para os lados, em direção ao futuro, vindo de um passado mais ou menos próximo ou distante. Ou seja, você não está sozinho, e sua questão genial apresenta efeitos em cadeia ou impactos em outras áreas; portanto, explora essas possíveis interações e interdependências, visualize consequências desse problema para outras áreas, e até se permita digressões sobre os resultados de uma determinada ação naquele terreno (pode até ser a famosa lei das consequências involuntárias, mas sempre existo algo mais).

5. Mostre exemplos, casos análogos, dados concretos sobre o “seu” problema
Nada melhor para ilustrar uma digressão científica especialmente chata – e existem alguns filósofos franceses e sábios alemães que se especializam na chatice – do que mostrar exemplos concretos, casos reais, ações efetivamente perpetradas pelos agentes envolvidos no seu caso. Ser abstrato é vedado aos comuns dos mortais, e apenas autorizado a membros da academia e outras vacas sagradas. Como você tem de convencer pares, professores, curiosos em geral, que todos, em geral, sabem menos do que você naquela área específica (a menos que você esteja enganando todo mundo), você precisa ser o mais convincente possível. Nada melhor, portanto, do que trazer exemplos à colação (é assim que se diz nas teses jurídicas especialmente chatas?) para tornar sua demonstração perfeitamente clara e empiricamente verificável.

6. Exponha claramente o itinerário metodológico e demonstrativo do seu trabalho
Todo trabalho acadêmico apresenta uma estrutura muito simples, até repetitiva: geralmente ele tem uma pequena introdução, na qual se expõe o objeto a ser tratado, seguida da metodologia, ou das técnicas a serem seguidas no tratamento do problema; o argumento principal vai ser desenvolvimento no núcleo central do trabalho, em quantas partes forem necessárias para demonstrar, discutir, esquartejar um assunto determinado; finalmente se chegam às conclusões a serem tiradas do tratamento precedente; o resto é complemento (notas, bibliografia, anexos, etc.). O importante é que seu raciocínio seja muito claro quanto a essas diferentes etapas do trabalho de construção de uma explicação para o problema selecionado. Por isso, uma regra elementar deve ser seguida: antes de começar a escrever, pare e pense no seu problema. Quem não tem ideias claras, não pode, ou não consegue se expressar claramente, ou seguir um itinerário linearmente rigoroso de pensamento. Quando seu trabalho estiver suficientemente pensado, voilà, zut!, ele já está pronto: só falta escrever, mas isso é o de menos quando se sabe onde se quer chegar...

7. Seja claro nas expressões, use uma linguagem a menos sofisticada possível
Não existe nada entre o céu e a terra, neste vasto universo que ainda não é o nosso, que não possa ser explicado em termos simples, inteligíveis, compreensíveis a um leigo no assunto. Pense que você vai ter de explicar aquele problema para uma criança de dez anos, ou um adolescente de quinze, que seja (no limite para a sua mãe, que não é do ramo, digamos assim). Portanto, escolha expressões comuns, e se tiver de empregar termos técnicos, ofereça uma explicação mais palatável se eles forem suficientemente obscuros, talvez entre parênteses. Coloque de lado aqueles filósofos franceses que se especializaram em enganar os trouxas com frases incompreensíveis (e elas são mesmo). Essa coisa de jargão sofisticado geralmente é para iludir os incautos, portanto não abuse de sua permissão para falar difícil. Claro, não precisa descer ao nível rasteiro de certo personagem que se vangloriava de nunca ter tido diplomas na vida, e que falava deliberadamente errado para encantar o povão; mas não tente fazer de seu trabalho um exemplo do barroco linguístico.

8. Evite adjetivos, exploração de emoções, subjetivismos dramáticos
A vida e o mundo já são suficientemente complicados como eles são, mas um trabalho acadêmico não é uma novela mexicana, nem um dramalhão daqueles antigos. Adjetivos de qualidade – estupendo, magnífico, único, etc. – devem ser evitados absolutamente (e lá vou eu com um...). De forma geral, adjetivos e qualificativos devem ser banidos do trabalho, embora ele possa ter evidências quanto ao impacto significativo de certos fenômenos sobre a ação humana. Mas como diria um personagem famoso, todos os seus gestos devem ser friamente calculados, ou seja: evite grandes explosões terminológicas, quando você pode expressar a mesma ideia em tom mais comedido e, sobretudo, mais objetivo e contido. Eu, por exemplo, costumo chamar muita gente de idiota – e existem, efetivamente, muitos idiotas no mundo – mas o que é aceitável num post rápido em blog de divertimento não cabe num paper supostamente sério. Em outros termos, não deixe transparecer sua emoção no tratamento de uma questão, ainda que ela o coloque em sérios dilemas morais e em angústias existenciais. Fique frio...

9. Tente quantificar fenômenos, use números, mas não abuse da estatística
Tudo, com a provável exceção do amor (e talvez do ódio), pode ser quantificado, medido, colocado em gráficos e comparado a outras situações (anteriores, de outros agentes em outros lugares). Os economistas são pródigos em usar e abusar de estatísticas e os economistas teóricos gostam de encontrar uma equação que traduza a realidade dos indicadores a uma fórmula de sua modelagem que sirva para prever ou antecipar processos similares, podendo, portanto, ser objeto de políticas públicas, na área macroeconômica ou setorial. Se pudessem, eles resumiriam toda a complexidade do mundo numa fórmula mágica, do tipo: E = mc2. Nos assuntos humanos – e isso inclui a economia também – fórmulas e números são úteis, mas apresentam limites efetivos para sua utilização contínua, pela simples razão que os homens estão sempre ajustando sua conduta para obter a maximização de seus fatores e ativos em face dos constrangimentos do real – que são as ações dos governos (geralmente em seu detrimento, caro leitor) e as de outros agentes da sociedade. Por isso, faça recurso dos indicadores quantitativos e tente medir, ou mensurar, os problemas que são objeto de sua análise, mas não confie demais nos procedimentos estatísticos como indicativos de tendências futuras. Nada é imóvel neste nosso mundinho tumultuado...

10. Demonstre conhecimento das fontes, mas não abuse das referências
Eu já li muita monografia de aluno que, mesmo para fatos históricos indiscutíveis – uma guerra, uma revolução, enfim, coisas objetivas –, se esmeram em juntar uma pletora de citações e de referências bibliográficas para dizer, finalmente, o óbvio: “nossa civilização tem bases greco-romanas” (bem, não precisa citar nenhum grande historiador para saber disso, pois não?). Não é preciso carregar um paper, um trabalho mais alentado ou até uma tese doutoral com centenas de remissões anódinas, ou seja, tratando daqueles casos que já pertencem ao estado da arte do problema tratado. Fatos são fatos, por mais que se desgoste deles, e eles não vão deixar de existir porque algum autor tem uma opinião mais negativa sobre esses mesmos fatos (a dominação perversa do capitalismo financeiro monopolista, por exemplo). Todos nós estamos cansados de ver o capitalismo condenado ao desaparecimento como resultado das últimas dez crises ocorridas em seu itinerário tumultuado, não é mesmo? Bem, sendo mais objetivo, a regra aqui, e a última desta série desorganizada, é muito simples: erudição não precisa ser medida em toneladas de bibliografia; ela pode ser medida com comentários inteligentes à obra de um autor consagrado, o que normalmente exige mais inspiração do que transpiração. Portanto, seja comedido no “ajuntamento” (esse é o termo) de sua bibliografia de referência e tente trabalhar com os autores essenciais ao problema que você escolheu. Se algum outro autor não tem nada de relevante a dizer sobre o problema selecionado, ignore-o solenemente. Mas, em sentido contrário, não tente a sorte pescando na internet coisas que depois você não vai citar devidamente e dar o crédito a quem merece: os instrumentos de busca que os professores utilizam estão cada vez mais sofisticados, e seria muito triste alguém perder uma bela carreira por acusações de plágio ou falsificação de trabalhos alheios.

Seja feliz em seu trabalho, melhore a sua escrita (o que eu mesmo vou tratar de fazer) e avance alguns degraus na ladeira do conhecimento: você vai se sentir muito melhor olhando o mundo do alto de sua capacitação intelectual. Escreva claro, escreva bem, trate dos problemas como eles devem ser tratados: objetivamente, concisamente, reflexivamente.

Paulo Roberto de Almeida
(Brasília, 14 de maio de 2011)

Um peso, duas medidas: Chavez e as FARC (y otras cositas mas...)

Nem tudo está dito: quando do anúncio de um acordo militar entre a Colômbia e os EUA, para o uso de bases militares colombianas por pessoal militar americana engajado em cooperação técnica, certo chanceler brasileiro ficou quase tão histérico quanto os venezuelanos (porque supostamente as bases seriam uma preparação de uma proxy war dos EUA contra o coronel Chávez); o Brasil exigiu que o assunto fosse examinado e que tudo estivesse transparente em reuniões sul-americanas, preferencialmente para sabotar e impedir tal acordo.
Quando da invasão do território equatoriano por forças colombianas que mataram esse líder guerrilheiro das FARC e capturaram o material de que se fala abaixo, o mesmo chanceler ficou ainda mais histérico, e lutou para obter uma condenação da Colômbia na OEA e em outras instâncias latino-americanas. Foi de uma parcialidade exemplar, pois logo depois se anunciou a captura de mísseis manuais venezuelanos em poder das FARC e o mesmo chanceler histérico duvidou que a notícia fosse verdadeira. Jamais uma nota sequer se referiu, por exemplo, ao envio de tanques e aglomeração de tropas venezuelanas nas fronteiras da Colômbia (quando os problemas com o Equador se processavam a centenas de quilômetros dali, na fronteira com o Equador).
Agora, depois de todo este ativismo, talvez se devesse esperar por alguma nota com pedido de esclarecimentos de quem deve explicações.
Seria apenas uma demonstração de equilíbrio, já que histerias parece que passaram de moda...
Paulo Roberto de Almeida

Autoridades da Venezuela pediram às Farc para matarem opositores de Chávez, diz instituto
Fernando Duarte, correspondente
Agências internacionais, 10/05/2011

LONDRES e CARACAS - Um dossiê de 240 páginas publicado nesta terça-feira pelo Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), de Londres, contradiz as afirmações do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, de que as ligações de seu governo com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) teriam sido obra de ações individuais isoladas. Com base em arquivos eletrônicos de Raul Reyes, então o número 2 na hierarquia das Farc, não só Chávez ofereceu financiamento às operações do grupo paramilitar como autoridades venezuelanas ainda pediram apoio para o treinamento de milícias pró-governo e para matar adversários políticos do presidente. Chávez, porém, não estaria ciente dos pedidos de assassinatos. Nesta terça-feira Chávez era esperado no Brasil, mas o presidente cancelou a viagem .

De acordo com o documento do IISS, Chávez via nas Farc um aliado nas divergências com a Colômbia, sobretudo por manter ocupada a cooperação militar entre Bogotá e Washington. Em 2007, teria prometido US$ 300 milhões ao grupo. Ainda que o dossiê seja bastante claro na afirmação de que a chegada das Farc à Venezuela não tenha ocorrido na presidência de Chávez, sua ascensão ao poder, em 1999, fortaleceu os laços e abriu novas portas para a guerrilha, como a possibilidade de obter armas de parceiros comerciais da Venezuela, incluindo a China, por meio de acordos triangulares usando as exportações venezuelanas de petróleo.

As alegações não param em Caracas: ainda de acordo com o material analisado pelo IISS, as Farc teriam contribuído financeiramente para a eleição de Rafael Correa à presidência do Equador em 2006, no que representou para a guerrilha o auge dos esforços de infiltração na política e território equatorianos. Embora algumas das informações ligando Chávez e Correa às Farc já tivessem sido divulgadas anteriormente, boa parte da documentação está caindo pela primeira vez em domínio público - ainda que oficialmente, o governo colombiano tenha se recusado a confirmar a entrega de informações ao instituto britânico.

Os documentos foram encontrados em arquivos de computador de Reyes, morto em uma operação em 2008 que resultou num rompimento de relações diplomáticas entre Quito e Bogotá por dois anos. O dossiê também mostrou a relação entre o governo Chávez e os guerrilheiros, embora muitas vezes cooperativa, também teve momentos difíceis e de jogo duplo.

Segundo o ISS, Chávez se colocou ao lado do governo colombiano na luta contra as Farc em algumas ocasiões, especialmente quando havia ganhos políticos envolvidos. Em novembro de 2002, o livro reporta que antes de uma reunião entre o então presidente Álvaro Uribe e Chávez, as Farc pediram ao Exército venezuelano permissão para transportar uniformes pelo território da Venezuela. Os militares permitiram, mas depois cercaram o comboio e prenderam oito membros do grupo e os entregaram à Colômbia, permitindo que Chávez informasse Uribe da operação pessoalmente.

Traições como estas, assim como promessas de grandes quantias de dinheiro, geraram uma considerável tensão entre os guerrilheiros e o líder venezuelano.

Farc estudavam treinar membros do partido comunista para ações terroristas
Em uma das descrições mais reveladores da ação das Farc na Venezuela, o instituto explica como a principal agência de inteligência do país, o Serviço de Inteligência Bolivariano, conseguiu alistar as Farc no treinamento de forças de segurança e na realização de ataques terroristas, incluindo bombardeios, em Caracas entre 2002 e 2003.

O grupo também treinou várias organizações pró-Chávez, como as Forças de Liberação Bolivarianas - um grupo paramilitar que atua na fronteira com a Colômbia -, estudou fornecer técnicas de terrorismo urbano para membros do Partido Comunista Venezuelano.

O relatório ainda cita pedidos do governo Chávez para que a guerrilha matasse ao menos dois de seus opositores. As Farc discutiram um desses pedidos em 2006, quando o assessor de segurança Alí Rodríguez Araque pediu para que matar Henry López Sisco, que dirigia a agência de inteligência venezuelana na época. Sisco deixou o país em novembro do mesmo ano.

No mês passado, o presidente venezuelano admitiu pela primeira vez que alguns de seus aliados políticos colaboraram com os guerrilheiros colombianos, mas insistiu que eles o fizeram "pelas nossas costas".

O estudo do ISS, porém, contradiz a afirmação ao apontar um longo histórico de colaboração do próprio Chávez e de seus principais confidentes.

"(A Venezuela viu as Farc) como um aliado que manteria o poder militar americano e colombiano na região controlados pela contra insurgência, ajudando a reduzir as ameaças contra a Venezuela", diz o relatório.

Em outro trecho, o documento relata um encontro secreto em setembro de 2007 entre Chávez e Reyes, quando o presidente prometeu emprestar uma grande quantia às Farc para a compra de armas.

O porta-voz do presidente não respondeu aos pedidos de entrevista. O governo venezuelano afirma que os arquivos de Reyes são fabricações. Em 2008, a Interpol rejeitou a possibilidade de que os documentos tenham sido alterados.

"Pequenos Principes" do Haiti (nao querendo zombar de uma desgraca...)

Não sei por que, mas esta matéria me fez lembrar de um autor, um livro: se estivéssemos em época de concurso de misses, poderíamos dizer:

"Você sempre será responsável por aquilo que cativas..."

Pois é, fomos ser bonzinhos no Haiti (na verdade fazendo o trabalho que americanos e franceses não queriam fazer) e de olho numa cadeira no CSNU (por megalomania obsessiva dos dois maiores caciques da nossa diplomacia) e deu nisso.
Agora aguente-se o prejuízo que virá (não só com gente, mas com drogas, crimes, etc...).
Paulo Roberto de Almeida

Entrada ilegal de haitianos no Brasil preocupa autoridades
Nádia Pontes
Deutsche Welle Brasil, 13/05/2011

No meio da Floresta Amazônica, longe da vigilância oficial, a rota ilegal do tráfico de drogas passou a ser a porta de entrada de haitianos no Brasil. Os imigrantes pagam de 2 a 5 mil dólares para cruzar as fronteiras com a ajuda dos chamados “coiotes”.

“Esses são relatos dos próprios haitianos que entram no país. Eles contratam pessoas que conhecem a rota do tráfico, muitas vezes traficantes. E quando chegam ao território brasileiro, eles pedem o refúgio”, revelou à Deutsche Welle o procurador da República do estado do Acre.

Desde o devastador terremoto no Haiti, em janeiro de 2010, a Justiça brasileira recebeu 1.377 pedidos de refúgio de cidadãos haitianos. Mas nenhum foi concedido. “A política brasileira de refúgio é direcionada àqueles que efetivamente são obrigados a sair de seu país de origem devido a fundados temores de perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opinião política”, esclareceu a nota enviada pelo Ministério da Justiça à Deutsche Welle. Segundo a lei nacional, portanto, os haitianos não se enquadram na condição de refugiado.

Rota da esperança
Depois da catástrofe que abalou o território haitiano, seguida pela epidemia de cólera e a degradação da já precária condição de subsistência naquele país, vários imigrantes passaram a ver no Brasil uma chance de melhoria de vida. A maneira de entrada no território, no entanto, despertou a preocupação das autoridades.

Segundo o procurador Ricardo Gralha Massia, a via ilegal virou uma alternativa porque os haitianos passaram a ser barrados pela Polícia Federal. “Todos os dias chegam haitianos na fronteira do Brasil. Na semana passada, eram mais de 30 tentando entrar no país em Apari, que é o município no Peru que faz fronteira com Assis Brasil, no estado do Acre.”

A rota da fuga passa pela República Dominicana, Panamá, Equador, Colômbia, Peru e Bolívia. A entrada ilegal em território brasileiro acontece por Tabatinga, no estado do Amazonas, e em Assis Brasil, no Acre. O próximo passo, então, é entrar com o pedido de refúgio. Com o protocolo em mãos, o solicitante obtém o visto provisório por 90 dias, prorrogável até que o caso seja analisado pelo Conare, o Comitê Nacional para Refugiados.

A Justiça brasileira, no entanto, ainda continua analisando os mais de mil casos em andamento, ou seja: esses haitianos prosseguem com uma situação jurídica indefinida. “A resposta do Conare precisa ser mais rápida. O adequado para uma política clara de imigração seria estimular os haitianos a formularem o pedido de ingresso na Embaixada do Brasil. Seria a porta de entrada para o visto de permanência para fins de trabalho, de forma regular”, critica Massia.

Condição legal
O governo brasileiro concedeu residência permanente a 197 haitianos que chegaram ao país desde o ano passado. Depois de duas audiências públicas convocadas na última semana pela Procuradoria da República no Acre para destravar a questão, o Ministério da Justiça informou que os pedidos de refúgio deverão ser convertidos em visto de permanência, e que foram encaminhados ao Conselho Nacional de Imigração, do Ministério do Trabalho.

Professores universitários, dentistas, profissionais especializados formam a lista de haitianos que aguardam a decisão da Justiça para viverem legalmente em solo brasileiro. “As questões humanitárias e a motivação que trazem esses haitianos ao Brasil devem ser levadas em consideração. Há uma postura do Brasil de não deportá-los”, comenta o procurador.

Com o benefício do visto de residência permanente, o imigrante pode solicitar o registro na Polícia Federal e a carteira de identidade para estrangeiros, que garante todos os direitos civis no Brasil. “É possível que nem todos os pedidos que estão sendo analisados sejam liberados. Pessoas com pendências na Justiça não vão obter a residência no Brasil. Enquanto isso, eles estão sendo mantidos no país apoiados pelos governos estaduais e municipais, e as pastorais dos imigrantes, entre outras entidades civis”, esclarece a Ministério brasileiro da Justiça.

A bobagem da semana: jogador portugues de futebol

Não por ser português, e eu não cultivo piadas de português, porque simplesmente acho que nossa população 10 vezes maior dá direito a dez vezes mais o número de idiotas, imbecis, alienados e outros estúpidos involuntários do que jamais existiu em Portugal.
Mas eu tenho horror, mais do que isso, de comentários de jogadores e técnicos de futebol em geral (de alguns comentaristas da mídia também): cada vez que alguns deles começa a falar no rádio que "desta vez não deu, mas da próxima vão fazer um futebol mais ofensivo", ou que "o time não conseguiu engrenar, porque não estava no seu dia", eu juro que desligo logo o rádio, ou mudo de estação, pois acho que não existe coisa pior no mundo -- depois de demagogia de político, claro -- do que comentaristas de futebol, jogadores, técnicos ou radialistas. Horror!
Mas este jogador português, Futre de nome de família, até que não é burro: ele quer salvar o seu time, o futebol português e, de quebra, o país que está quebrado, importando jogadores de futebol da China.
Até que ele teve uma ideia genial: os jogadores brasileiros estão muito bem cotados no mercado, são caros, e até um tanto arrogantes: basta serem contratados por algum timinho europeu que logo começam ir torrar o dinheiro em boates, com meninas de programa (espertas...), carrões vistosos, e outras loucuras mais.
Pensando beM: jogadores chineses de futebol podem não ser nenhuma maravilha, mas devem ser baratos, e se eles atraírem algumas centenas de milhares de turistas chineses para a copa europeia, isso vai ser a salvacão de muito país quebrado.
Quanto a sua sugestão de que sua biografia converta-se numa nova Bíblia, tenho minhas dúvidas, mas até pode ser: todo mundo já conhece a Bíblia, e ele pode ter boas histórias para contar...
Paulo Roberto de Almeida

Portugueses fazem piada da crise após fala de jogador
Josélia Aguiar
Folha de S.Paulo, 12.05.2011

Um festival de piadas assola Portugal em crise, e seu autor involuntário não é um comediante, mas um ex-jogador de futebol.
Paulo Futre, 45, sugeriu numa entrevista há um mês que a solução não só para o time português do Sporting, mas para o país de maneira geral, seria contratar "o melhor jogador chinês".
"Vai (sic) vir charters de chineses", explicou, a uma plateia atônita diante desta e de outras declarações absurdas. "Temos de atrair o mercado asiático. É onde está o dinheiro".
Os chineses, fãs do tal jogador -que ainda seria escolhido-, chegariam aos bandos, ocupariam hotéis, restaurantes e museus, segundo o raciocínio de Futre.
Portugal vive uma séria crise econômica. Enfrenta forte deficit público e acaba de pedir empréstimo à Comissão Europeia e ao FMI.
As declarações tresloucadas de Futre originaram paródias na mídia tradicional e nas redes sociais. Camisetas com suas frases são vestidas nas ruas.
Atento ao fenômeno midiático, o Licor Beirão contratou Futre como garoto-propaganda. Na campanha publicitária, Futre promete "um wok [panela tradicional chinesa] para cada português".
A biografia de Futre, que sairia apenas no final do ano, foi concluída a tempo de ser lançada no próximo final de semana, na Feira do Livro de Lisboa. "Espero que o livro se torne uma Bíblia", disse Futre à Folha.
Ele, que encerrou a carreira em 1998, jogou pela seleção portuguesa e times como Sporting, Porto e Benfica. Também atuou na Espanha, França, Itália e Japão.

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PS.: Agradeço a meu amigo Rolemberg Estevão de Souza o envio desta matéria, que me tinha passado despercebida, a despeito de sua importância fundamental para os rumos do futebol português e mundial... (PRA)

A frase da semana - G. K. Chesterton

A dead thing can go with the stream...
Only a living thing can go against it.

G. K. Chesterton

(Acho que combina com o meu natural contrarianista... PRA)

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Violencia escolar: de quem a culpa?: da "mercantilizacao", ora essa...

Eu tenha certa alergia à burrice, como todo mundo sabe.
Mas tenho mais horror ainda à estupidez voluntária e à desonestidade intelectual.
Somados à pedagogia ambiente, isso pode dar uma mistura explosiva (e imbecilizante).

Acabo de ver uma reportagem num canal de notícias (reputado sério, mas nada impede que ele tenha jornalistas idiotas, também) sobre a "violência na escola".

Um dos professores, provavelmente indelevelmente marcado pela pedagogia freireana -- do supremo idiota educacional Paulo Freire; não confundir com o mestre Gilberto Freyre -- disse que a culpa era da "mercantilização do ensino"...
Uma pedagoga, entrevistada expressamente sobre isso na mesma matéria, confirmou que havia uma tendência à "privatização do ensino", o que poderia explicar esse aumento da violência. Ou seja, os alunos são mal-educados e violentos, não porque os pais não os educam em casa, mas porque a escola pública é ruim, e cada vez a classe média recorre ao ensino pago.
Conclusão lógica: o pequeno delinquente é resultado da nossa sociedade capitalista.

Confesso que não tenho mais paciência para aguentar esse desfilar de imbecilidades, de professores, pedagogas e jornalistas.

Depois entrevistaram a cavalgadura da "professora" que escreveu um livro que considera normal falar e escrever errado, já que o povo fala assim.
Deve ser o efeito de outra cavalgadura que se orgulhava (deve se orgulhar ainda) de não ler livro nenhum. (E para quê?: ele está ganhando dinheiro a rodo dos capitalistas -- todos com cursos universitários, se entende -- para falar meia dúzia de bobagens e três piadas.)

Estou estarrecido, e quase desistindo de escrever e de publicar.
As cavalgaduras ocuparam todos os espaços públicos...

Preciso de um exílio temporário em algumaa ilha do conhecimento.
Vou para algum quilombo de resistência intelectual, para começar o trabalho de reconquista do terreno contra os idiotas que estão soltos por aí...

Paulo Roberto de Almeida

Maquiavel redivivo (e visitando Brasilia): dia 18 de maio, as 19hs (livro Paulo R. Almeida)

Já anunciei aqui o lançamento deste livro que foi publicado enquanto eu passeava pela China:
O Moderno Príncipe: Maquiavel revisitado
(veja sumário e alguns textos neste link)

Em todo caso, gostaria de convidar os interessados num debate sobre "Maquiavel e a Política Contemporânea", com os cientistas políticos Paulo Kramer e Murillo Aragão, seguido de um coquetel de lançamento do livro,

na Casa Thomas Jefferson da Asa Sul de Brasília
(SEP Sul EQ 706/906, Conjunto B; tel.: 3442-5501; www.thomas.org.br)
na quarta-feira, dia 18 de maio, as 19hs.

O convite da Casa Thomas Jefferson figura aqui,

e o mesmo convite, em formato-texto, está aqui.

Paulo Roberto de Almeida

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