sexta-feira, 20 de julho de 2012

Venezuela: dormindo com... o novo aliado... (Editoriais O Globo, Estadao)

Sempre é bom conhecer a pessoa com quem partilhamos nossos melhores momentos.
Grandes emoções no Mercosul...



Editorial O Globlo, 19/07/2012

Hugo Chávez continua popular na Venezuela. Não é para menos. Conta com o apoio de seis canais públicos de TV, uma agência estatal de notícias, três jornais, quatro emissoras de rádio, além de 244 rádios e 36 canais de TV comunitários. Este é apenas um exemplo da falta de liberdade de expressão apontada no último relatório da Human Rights Watch (HRW), importante organização não governamental de direitos humanos. O documento denuncia o aumento do autoritarismo e a atrofia democrática no país de Chávez. Em virtude do relatório anterior, quatro anos atrás, os dirigentes da HRW foram declarados "persona non grata". A Venezuela é uma das dez nações que a ONG não visita por falta de segurança.
É sabido que Chávez, há 13 anos no poder, teve grande habilidade para usar as instituições democráticas de forma a reduzir as liberdades e ampliar os poderes do Executivo. Um paradoxo. Contou, em parte, com a ingenuidade da oposição, que boicotou uma eleição e entregou o Congresso, de bandeja, ao líder bolivariano.
O relatório chama a atenção para o amplo domínio exercido por Chávez sobre o Judiciário. Uma das táticas foi elevar o número de juízes da Suprema Corte de 20 para 32, garantindo sentenças favoráveis ao governo. No fim de 2010, a bancada chavista renovou o mandato de nove integrantes da Corte, mantendo a hegemonia do Palácio Miraflores no tribunal. Para José Miguel Vivanco, diretor da HRW, "a Suprema Corte é hoje uma peça central do chavismo; ela se identifica com alegria e entusiasmo com o governo e, voluntariamente, é usada para convalidar e legitimar a agenda oficial".
Os espaços de oposição estão cada vez menores; opositores sofrem retaliações e até prisão. Foi o que sucedeu à juíza María Lourdes Afiuni, presa em dezembro de 2009, mesmo dia em que concedeu liberdade condicional ao banqueiro Eligio Cedeño, suspeito de evasão de divisas. Acusada pelos governistas de aceitar suborno, a juíza está presa até hoje, sem julgamento.
A mídia e os jornalistas têm sido outro alvo preferencial de Chávez. Redes de TV são cassadas, como a RCTV, e acossadas, como a Globovisión, com quatro processos administrativos. Veículos de comunicação (críticos do governo, claro) são tirados do ar ou de circulação devido a tecnicalidades, jornalistas são perseguidos, assim como os próprios donos de empresas do setor.
A empresa privada, de maneira geral, tem cada vez menos espaço na Venezuela, já que o regime é decididamente estatizante. O país, como esperado, enfrenta problemas em muitas áreas devido ao fracasso das companhias estatizadas.
O assistencialismo maciço sedimenta a popularidade do caudilho. Se sua doença permitir, ele deverá ganhar as eleições de outubro para um terceiro mandato de seis anos. Poucos acreditam que as "autoridades eleitorais" permitam a vitória do opositor Henrique Capriles. Mesmo assim, o Brasil, por meio de seu chanceler, Antonio Patriota, considera a Venezuela chavista uma democracia, a ponto de ser admitida no Mercosul. Chega a ser hilariante.

Editorial O Estado de S. Paulo, 19/07/2012

Em dezembro de 2009, a juíza venezuelana María Lourdes Afiuni concedeu liberdade condicional a um opositor do regime do caudilho Hugo Chávez, o banqueiro Eligio Cedeño, acusado de evasão de divisas e à espera de julgamento durante quase três anos. No mesmo dia, Chávez chamou a juíza de "bandida", acusou-a de ter aceito suborno do réu e exigiu que fosse condenada a 30 anos de prisão. Ainda no mesmo dia, a sua prisão preventiva foi decretada e cumprida. María Lourdes foi colocada na mesma cadeia onde cumpriam pena criminosos que ela havia condenado e que passaram a ameaçá-la de morte seguidas vezes. Depois de 14 meses do seu encarceramento, protestos internacionais, aos quais se juntou até o linguista Noam Chomsky, o porta-bandeira de Chávez nos meios acadêmicos nos Estados Unidos, obrigaram o autocrata a colocá-la em prisão domiciliar, onde permanece até agora, sem saber quando será julgada.
O caso de María Lourdes é exemplar. Até então, os juízes venezuelanos que ainda procuravam conservar a independência diante do Estado bolivariano sofriam pressões, eram ameaçados de ter suas carreiras travadas ou mesmo de perder o emprego. Depois do que se fez com a juíza - um nítido divisor de águas na crônica da demolição da ordem democrática no país -, muitos de seus colegas passaram a temer também a perda da liberdade. Ao longo do processo de asfixia das instituições, Chávez alternou o chicote e o afago para sujeitar o Judiciário à sua vontade incontrastável. A contar do primeiro mandato, o protoditador de Caracas aumentou de 20 para 32 o número de integrantes das 6 instâncias que compõem a Suprema Corte venezuelana, preencheu os cargos com gente de sua confiança e, por meio do Congresso em que detém a maioria, renovou o mandato prestes a terminar de 9 deles.
O resultado é que todos os membros do tribunal, responsável por decisões nas esferas constitucional, político-administrativa, eleitoral, penal, social e civil, rejeitam deslavadamente o princípio da separação dos poderes, comprometem-se com o avanço da agenda oficial e defendem a punição dos "inimigos" do Estado. Era o que diziam, a seu tempo, os juízes da Rússia de Stalin, da Alemanha de Hitler, da Itália de Mussolini - e de tantos outros regimes totalitários que infestaram o mundo no século passado. Esses ditadores, em vez de fechar o Judiciário, o povoaram de aliados não menos ferozes do que eles. Com isso, criaram a sua própria e hedionda "legalidade", acoplando-a ao controle absoluto dos meios de comunicação, das instâncias administrativas e da estrutura das Forças Armadas.
O esmagamento do Judiciário para assegurar a supremacia do Executivo é o aspecto mais crucial do drama venezuelano, exposto no recém-divulgado relatório sobre o país pela ONG americana Human Rights Watch. O documento Apertando o cerco: concentração e abuso de poder na Venezuela de Chávez tem 133 páginas e é o segundo produzido pela organização sobre o país. O anterior, de quatro anos atrás, fazia um balanço sobre uma década de chavismo - o que custou aos seus autores, José Miguel Vivanco e Daniel Wilkinson, a detenção, seguida de expulsão sumária do país. A pouco menos de três meses do pleito em que o caudilho desponta uma vez mais como favorito, o relatório é justificadamente mais pessimista que o anterior. A Venezuela de Chávez se parece cada vez mais com o Peru de Alberto Fujimori, entre 1990 e 2000, como sistema que conserva um semblante de aparato institucional democrático para servir, porém, à autocracia.
Ao mesmo tempo, o venezuelano garroteia a mídia de massa, mas, entre uma violência e outra - sempre respaldadas pelas togas serviçais - deixa circular um punhado de diários críticos ao regime, cujas tiragens, somadas, não chegam a 300 mil exemplares. O governo conta com seis canais nacionais de TV, 4 estações de rádio, 3 jornais e 280 rádios comunitárias. "As ações do governo enviam uma clara mensagem", resume o documento. "O presidente e seus seguidores estão prontos a punir quem desafiar ou obstruir os seus objetivos políticos."

Venezuela: economia esquizofrênica! E agora no Mercosul tambem???!!!

Vejam bem o que Chávez anunciou: 
"...a criação de um fundo de 'várias centenas de milhões de dólares' para ajudar empresários locais a exportar aos sócios do bloco."
Ou seja, como seus empresários, por razões de ambiente deletério de negócios, não conseguem ser competitivos, Chávez, na sua inefável candura e generosidade, se propõe ajudá-los para que eles se tornem competitivos à golpes de petrodólares chavistas.
O grande economista, por acaso presidente dessa vaca petrolífera que atende pelo nome de Venezuela (com perdão da expressão, mas o "vaca" deve ser tomado no sentido metafórico, claro; mas se trata exatamente disso: a Venezuela, ou melhor Chávez, pois nada naquele país acontece sem que Chávez ordene, ordenha a sua vaca petrolífera, literalmente assim, embora o úbere esteja secando por falta de cuidados), mas como eu dizia, esse grande economista, inventor do "socialismo do século XXI", do qual só ele detém o copyright, decidiu que os empresários do seu país (sim, dele, e os empresários são os que sobraram, claro), por generosidade dele, e só dele, poderão dispor de um fundo de "centenas de milhões de dólares" para exportar ao Mercosul.
Não precisa de orçamento, aprovação do Congresso, nada: Chávez decide, Chávez faz, Chávez a tudo vela, tudo ouve, tudo sabe...
Nosso "economista do século XIX" certamente não ouviu falar que tal tipo de medida é estritamente proibida desde 1947 pelo Gatt (não sei se ele ouviu falar), e portanto não pode existir nem no Mercosul, nem em qualquer outro lugar. Enfim, ele pode consultar o texto do Gatt, livremente disponível, ou algum de seus conselheiros lembrá-lo disso, ou será que lá ninguém sabe dessas coisas?
Acho que os líderes do Mercosul terão de lembrá-lo desse pequeno detalhe, a não ser que pretendam, em detrimento de seus próprios empresários, admitirem comércio desleal no bloco, além de serem coniventes com uma transgressão às regras do livre comércio, algo próximo de ser cúmplices de um crime, se me permitem a expressão. Será que eles vão fazer isso, ou só estavam esperando que alguém os lembrasse disso, assim como já se anunciou que Chávez (sim, Chávez) não havia ratificado nenhum dos instrumentos mais relevantes do Mercosul, aliás sequer o seu próprio protocolo de acesso.
Alguém precisa lembrar essas coisas elementares (de nada).
Paulo Roberto de Almeida 
PS.: Se o ingresso no Mercosul é uma "benção", o que seria uma desgraça, para ele e para nós?

Folha de S. Paulo, 19/07/2012

Venezuelano anuncia que quer comprar novos caças da Rússia

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, chamou de "bênção" a entrada de seu país no Mercosul e anunciou a criação de um fundo de "várias centenas de milhões de dólares" para ajudar empresários locais a exportar aos sócios do bloco.
"Compreendo a preocupação de alguns setores", disse Chávez, anteontem, na TV.
O venezuelano se referia a associações de empresários que temem que a adesão ao Mercosul prejudique o já combalido setor industrial.
Ele disse que o fundo estratégico ajudará "com créditos e facilidades as empresas que tenham perfil exportador".
A Venezuela tem saldo comercial negativo com todos os sócios do Mercosul.
Chávez repetiu que deve ir ao Rio no dia 31 para a cerimônia de entrada da Venezuela no Mercosul.

NOVOS SUKHOI
Ontem, Chávez disse ter comunicado à Rússia que quer comprar caças Sukhoi-35, uma versão mais avançada dos 24 caças Sukhoi-30, os mais poderosos do continente, que o país já possui. A Venezuela disse em junho que Moscou pôs à disposição crédito de US$ 4 bilhões.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Brasil: uma economia (ainda nao) em frangalhos - Rolf Kuntz


Sem fôlego para correr
Rolf Kuntz
O Estado de S. Paulo, 18/07/2012

Ninguém se iluda: o Fundo Monetário Internacional (FMI) é muito menos otimista em relação ao Brasil e a outros emergentes do que parece indicar, à primeira vista, seu novo estudo sobre as perspectivas globais. O relatório destaca a desaceleração das economias brasileira, indiana e chinesa e atribui esse efeito, em parte, à crise internacional e às políticas de ajuste. Mas o recado importante vem depois. Emergentes cresceram acima da tendência histórica na última década, em parte graças à expansão do crédito e ao desenvolvimento financeiro. Mas seu crescimento potencial pode ser menor que o esperado. Nesse caso, seu desempenho será mais fraco no médio prazo. O documento ressalta, ainda, os perigos para a estabilidade financeira, num ambiente de baixo crescimento global e muita aversão ao risco. É uma herança deixada por vários anos de rápido aumento do crédito.
O alerta sobre o risco financeiro parece valer para todos os grandes emergentes, incluída a China, onde houve sinais de formação de uma bolha de crédito nos últimos anos. Mas a observação sobre o crescimento potencial parece aplicar-se principalmente ao Brasil, país com uma taxa de poupança em torno de 16% do Produto Interno Bruto (PIB), investimento inferior a 20% e baixo padrão educacional. A última novidade sobre as aventuras do país mal-educado surgiu nesta segunda-feira: 38% dos estudantes do ensino superior têm dificuldades graves de leitura e de escrita, segundo pesquisa realizada pelo Instituto Paulo Montenegro em parceria com a ONG Ação Educativa. Desde 2001 as duas entidades têm produzido um Indicador de Analfabetismo Funcional.
A referência ao crescimento potencial é muito mais relevante, no caso do Brasil, do que as projeções de expansão econômica de 2,5% neste ano e 4,6% no próximo. A estimativa do FMI para 2012 é igual à do Banco Central e superior à mediana das previsões coletadas pelo próprio BC na última pesquisa Focus, 1,9%. Essas projeções caíram por 10 semanas consecutivas, até agora, e têm acompanhado a piora de vários indicadores produzidos pelo governo e por entidades do setor privado.
O governo promete resultados melhores neste semestre e um crescimento superior a 4% em 2013. Mas qual será o desempenho econômico possível nos anos seguintes? A resposta depende do alcance da política econômica, por enquanto voltada principalmente para objetivos limitados.
A Fundação Getúlio Vargas divulgou em fevereiro, na revista Conjuntura Econômica, um artigo sobre o produto potencial da economia brasileira. O cálculo pode ser complicado e inseguro, mas ninguém pode simplesmente menosprezar o problema. Nenhuma política voluntarista será sustentável por muito tempo, nem isenta de custos muito altos. Isso é comprovado amplamente pela experiência brasileira. Mais cedo ou mais tarde - frequentemente mais cedo - acaba-se batendo num limite. A consequência pode ser inflação ou crise no balanço de pagamentos ou uma combinação devastadora dos dois efeitos.
A análise resumida no artigo da Conjuntura Econômica indicou um crescimento potencial na faixa de 3,5% a 4% ao ano. Pode-se avançar com maior velocidade durante algum tempo, mas algum desajuste logo tornará necessária uma freada. Em anos recentes, períodos de rápida expansão foram interrompidos por fortes pressões inflacionárias e pela ação corretiva do BC. Fases de intenso crescimento da demanda interna resultaram também na deterioração do saldo comercial. As compras de produtos estrangeiros tendem a crescer em fase de prosperidade econômica, mas, no caso brasileiro, o descompasso entre importações e exportações tem sido muito sensível. Isso ocorreu antes da crise de 2008 e voltou a ocorrer nos últimos dois anos.
Desta vez, a causa principal do descompasso ficou mais evidente: a indústria brasileira tem sido incapaz de competir tanto no exterior quanto no mercado interno. A valorização do dólar, mais de 20% desde o último trimestre do ano passado, foi insuficiente para mudar o quadro. O problema ultrapassa amplamente a questão cambial. Também vai muito além das carências de produtividade, qualidade e inovação das empresas. As principais ineficiências estão fora dos muros das fábricas e das cercas das fazendas. Se esse é o quadro, é um erro insistir numa terapia de estímulos ao consumo e benefícios fiscais de alcance limitado.
Crescimento potencial e capacidade competitiva são denominações do mesmo problema. Além dos economistas do FMI, muitos outros analistas já perceberam os entraves da economia brasileira. Daí o falatório, recorrente nos últimos tempos, sobre a redução das expectativas, no exterior, em relação ao B dos Brics. Mas isso é conversa de quem ainda se preocupa com o PIB. A presidente Dilma Rousseff parece haver superado essa fase.

Argentina: uma economia em frangalhos - Alexandre Schwartsman


O milagre argentino
Alexandre Schwartsman
Folha de S. Paulo, 18/07/2012

Antes, o governo argentino tentava impedir a entrada de dólares; agora, tenta impedir a fuga de capitais
A ARGENTINA, para quem não se lembra, é um país ao sul do Brasil, em cuja seleção joga (e muito) o Messi. Bons vinhos, carne de primeira, Astor Piazzola, Quino e (acima de tudo) Jorge Luis Borges são outros motivos para não nos esquecermos dos vizinhos, já que, economicamente falando, poucas sociedades foram mais cuidadosas no sentido de engendrar sua própria irrelevância.
Para quem não se lembra, a Argentina foi também apontada como uma alternativa à política econômica brasileira (não a de hoje, é bom que se diga, mas a adotada até uns anos atrás), em particular suas tentativas de manipulação da taxa de câmbio.
Certas correntes de pensamento local, para quem tudo se resume ao câmbio (não, não é um exagero meu), apontavam para o Sul como o modelo a ser seguido. Hoje, o silêncio acerca da Argentina ribomba.
Ao contrário do que fazia há tempos, quando tomava medidas para impedir o ingresso de dólares, o governo argentino agora tenta impedir a fuga de capitais, que, pelos números oficiais (sempre um risco), já drenaram US$ 5,5 bilhões das reservas nos últimos 12 meses, uma queda pouco superior a 10%.
No contexto brasileiro isso seria equivalente a uma perda da ordem de US$ 35 bilhões, o que, não tenho dúvida, já teria colocado boa parte dos nossos keynesianos de quermesse em pé de guerra.
Já a inflação, pouco inferior a 9,5% nos 12 meses até junho, segundo os dados oficiais, é estimada pelo sítio Inflación Verdadera na casa de 40%. Apesar disso, nossos agora emudecidos desenvolvimentistas, quando lembrados dos problemas inflacionários platinos, não hesitavam em apontar o forte crescimento argentino como prova definitiva da superioridade da abordagem heterodoxa.
Afinal, a valerem os números do Indec (o IBGE portenho), de 2002 para cá, quando a Argentina superou sua crise, o crescimento médio ficou em 7,7% ao ano, apesar da crise internacional de 2009, um desempenho que, se não é chinês, não seria páreo para a maioria dos países no mundo.
Parece, portanto, que um "poucão" a mais de inflação conseguiria, ao final das contas, comprar um "tantão" a mais de crescimento... Ou não?
Para me certificar sobre a robustez dos números do crescimento argentino, resolvi cruzar os dados relativos ao PIB com os associados à geração de energia. Tenho de confessar certo prazer mórbido nessa investigação, mas os resultados foram mais do que interessantes.
Tomados literalmente, os dados mostram que, em 2004, cada GWh na Argentina correspondia a pouco mais de 12,6 milhões de pesos (a preços de 1993), valor não muito diferente do observado em 2002 e em 2003. Ao final de 2011, porém, cada GWh correspondia a 14,9 milhões de pesos, uma melhora de eficiência energética da ordem de 18%!
Nesse mesmo período, estima-se que a eficiência energética global (PIB/GWh) teria melhorado em torno de 9,5%, pouco mais da metade da evolução argentina.
Obviamente, nada impede que o país tenha conseguido uma evolução superior à global; só cá rumino por qual motivo se preocupariam com isso, dado que as tarifas por lá, por conta de controles de preços, não constituem exatamente em incentivo à economia de energia.
De qualquer forma, meu respeito por crenças e crendices não me permite a palavra final sobre o crescimento argentino. Pode resultar da eficiência platina, mas pode também ser apenas mais em efeito colateral da subestimação persistente da inflação. A decisão final é, como sempre, do leitor.
Só noto (resisto a tudo, exceto à tentação) que o silêncio heterodoxo sobre a Argentina é o veredito derradeiro sobre a tal alternativa de política econômica.
Caso o desempenho argentino pudesse, ainda que remotamente, ser qualificado como um sucesso, pais não faltariam. A orfandade diz muito sobre o que nossos desenvolvimentistas de fato pensam sobre o que por lá ocorreu nos últimos anos.

ALEXANDRE SCHWARTSMAN, 49, é doutor em economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central do Brasil, sócio-diretor da Schwartsman & Associados Consultoria Econômica e professor do Insper.
========= 

Valor do dólar paralelo dispara na Argentina
O Globo, 18/07/2012

Limitação do governo à venda da moeda faz seu valor saltar 10,23% no mercado informal este mês
Do La Nación*

BUENOS AIRES . A política do governo de Cristina Kirchner de limitar a venda de dólares no mercado oficial está fazendo com que o dólar paralelo seja comercializado a valores que equivalem a quase o dobro do oficial. A moeda paralela subiu ontem 3,8% em um dia, para 6,55 pesos na venda. O valor atual é 43% mais alto do que o oferecido em bancos ou casas de câmbio da capital do país, 4,58 pesos.
A velocidade da depreciação do peso no mercado informal contrasta com a trajetória da divisa nos segmentos oficiais: na venda para empresas, o dólar subiu ontem cinco milésimos, a 4,552 pesos, enquanto o valor aplicado para negociações com pessoas físicas teve correção de apenas um centavo, a 4,58 pesos na venda.
O dólar paralelo, que ontem tocou o máximo de 6,6 pesos durante o dia e já avançou 10,23% no mês de julho em relação ao oferecido em entidades financeiras e casas de câmbio, por sua vez, valorizou-se 0,88%, ou quatro centavos, no mesmo período.
Em novembro de 2011, o governo criou uma série de restrições à compra de dólares, que se aprofundaram até o último dia 5 de julho, quando o Banco Central argentino proibiu a aquisição de moeda estrangeira para fins de poupança, o que resultou em uma escalada do preço do dólar no mercado informal.
A avidez pela moeda americana também causou uma fuga de dólares, com investidores realizando operações em bolsas de valores para acumular divisa no exterior. Para conseguir a moeda fora do país, grandes investidores compraram títulos a 6,80 pesos.
Os títulos em dólares continuam sendo uma das alternativas dos investidores para acumular divisas. Depois de passar por vários processos de hiperinflação, os argentinos perderam a confiança no peso.

Venezuela: uma economia em frangalhos (Valor)


Chávez não investe na PDVSA e torna-se mais dependente do petróleo
 Benedict Mander - Financial Times, de Caracas
Valor Econômico, 18/07/2012

Há poucas coisas que o prolixo presidente da Venezuela Hugo Chávez fala mais do que como sua "revolução bolivariana" reconquistou a independência do país ante ao "império ianque". "Precisamos reconhecer que somos os novos libertadores e construtores da nova pátria", disse o ex-comandante de tanque a soldados em uma parada militar neste mês.
Mas o país-membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) continua mais do que nunca dependente de algo menos fácil de ser demonizado pelo exaltado líder socialista - o petróleo. Faltando menos de 100 dias para a eleição presidencial de 7 de outubro, o problema da crescente dependência do petróleo e o histórico de má administração econômica do governo passaram a ser o centro das atenções. "Não há dúvidas. A Venezuela não só está mais dependente do petróleo, como também está mais dependente dos preços do petróleo, uma vez que a produção não aumentou", afirma Jorge Piñon, pesquisador visitante da Universidade do Texas.
A alta dos preços do petróleo desde que Chávez assumiu, em 1999, tem sido uma bênção. Permitiu-lhe aumentar a popularidade com gastos excessivos em programas sociais, para os quais a estatal de petróleo PDVSA canalizou US$ 53 bilhões entre 2006 e 2010.
O problema é que a PDVSA menosprezou os investimentos em seus principais negócios, levando a uma queda da produção - ela aplicou apenas US$ 1 bilhão em atividades de exploração no mesmo período. A Venezuela produziu 2,72 milhões de barris de petróleo por dia em 2011, segundo análise estatística anual da BP, contra 3,48 milhões de barris/dia em 1998. Isso tornou a economia mais dependente da permanência dos preços em alta. "Os preços do petróleo são o calcanhar de Aquiles da economia venezuelana", disse Piñon.
Os preços do petróleo venezuelano atingiram o patamar de baixa de US$ 86,17 o barril no mês passado, após o pico de US$ 116,85 em março. Apesar da fantasiosa previsão feita recentemente por Chávez, de que os preços vão se estabilizar em torno de US$ 100, temores de que novas quedas despertam preocupações com a economia de US$ 340 bilhões da Venezuela, cujo petróleo responde por 95% das receitas de exportações.
A consultoria Capital Economics de Londres calcula que, se os preços do petróleo do tipo Brent caírem a US$ 85 o barril, como esperado, a queda nas receitas da Venezuela com o petróleo será equivalente a 2,5% do PIB.
Isso não deverá afetar a farra nos gastos que Chávez vem empreendendo antes das eleições. Analistas estão cada vez mais preocupados com sua atitude de varrer o problema para debaixo do tapete. "A Venezuela vai precisar de um ajuste significativo no ano que vem, que vai envolver em primeiro lugar a desvalorização da moeda", diz Boris Segura, analista da Nomura Securities. Os gastos também terão que ser significativamente cortados, com menos dólares designados para as importações, o que possivelmente vai agravar a falta de bens básicos, acrescenta.
Paradoxalmente, uma importação que poderá ser pressionada é a de derivados de petróleo. A falta de investimentos pela PDVSA levou a uma queda na atividade de refino e a Venezuela está importando 40.000 barris por dia de produtos petrolíferos dos Estados Unidos, incluindo gasolina, contra 32.000 barris/dia em 2011, segundo dados do governo americano.
Como a gasolina é vendida no varejo a 9 centavos de dólar o galão na Venezuela, ou US$ 5 o barril, mas custa cerca de US$ 200 pelos preços internacionais. A Venezuela está perdendo US$ 2,5 bilhões por ano com esta política, afirma Juan Cristóbal Nagel, um economista venezuelano. Ainda assim, se o governo quiser impedir um agravamento da falta do produto, ele sempre pode recorrer a tomar dinheiro emprestado de países como a China, em troca do fornecimento futuro de petróleo, além de emitir mais dívida.
José Guerra, um consultor econômico da oposição, alerta que o governo está mal preparado para uma queda nos preços do petróleo, e a economia estaria mais bem administrada pela oposição, que entende melhor os mercados.
"Este governo conhece apenas uma maneira de resolver o problema: imprimir dinheiro e se endividar", disse ele. "A Venezuela está extremamente vulnerável."
Guerra calcula que para cada dólar que o preço do petróleo cai, o governo deixa de ganhar US$ 800 milhões em receitas por ano.
Essas preocupações pode pesar sobre as chances de Chávez nas eleições. Uma pesquisa feita pela Consultores 21 entre 15 e 26 de junho mostra que ele tinha um apoio de 45,9% do eleitorado, contra 45,8% para Capriles, embora outras deem ao presidente uma vantagem de dois dígitos.
Chávez não é o primeiro presidente a não conseguir reduzir a pesada dependência que a Venezuela tem do "excremento do diabo", conforme disse em declaração que ficou famosa Juan Pablo Pérez Alfonso, um ex-ministro do Petróleo da Venezuela e membro fundador da OPEP. Ele usou a frase ao prever que o petróleo seria a ruína de sua nação.

Alexandra David-Neel - Carmen Licia Palazzo (NetHistoria)


por Site NetHistória
Bem vindos ao Cliocast, o podcast do Site NetHistória. Nesse segundo programa, tivemos o grande prazer de entrevistar a professora Carmen Lícia Palazzo. Doutora em História pela Universidade de Brasília (UnB), é consultora do PEJ/UnB (Departamento de História) e foi pesquisadora visitante da Georgetown University (Washington, DC). Também é membro da Middle East Studies Association, da Society for the Medieval Mediterranean e da International Society for Iranian Studies.
Palavras-chave: Oriente - Alteridade - Viajante
Qualidade do Áudio: 96kb


quarta-feira, 18 de julho de 2012

Mudancas no mercado mundial de energia - The Economist


World energy markets

A year of change

The Economist, Jun 14th 2012, 10:33 by S.W.
THE world's energy markets in 2011 are like one of those pictures where, depending on how you tilt it, you see two different images. According to BP's annual statistical review of world energy, released on June 13th, all was calm. The world economy grew by 3.7%, roughly the average of the previous decade's expansion. Energy consumption, closely linked to economic activity, grew by 2.5%, much as it has over the past ten years.
But looked at from a different angle, energy markets went through a year of much change, the report also points out. Natural disaster and politics conspired to buffet energy supplies. The Fukushima disaster shut down Japan's nuclear power generators. Oil prices averaged more than $100 a barrel for the year as Libya's civil war and fears over the spread of the Arab Spring hit or threatened supplies. And shifts in the global economy changed consumption patterns. Rich countries again consumed less; so energy demand declined for the third out of the past four years. Developing countries continued to grow fast; the Chinese added an extra 8.8% in GDP—growth which increased the country's energy demand by as much as Britain's entire energy use.
In the BP report, Christof Rühl, the firm's chief economist, describes how the markets responded. Saudi Arabia pumped more crude to make up for Libya, liquefied gas (LNG) bound for Europe went to Japan (where it fetches a far higher price, to make up for the nuclear shortfall) and coal from across the Atlantic plugged Europe's energy gap (where high prices and a warm winter had suppressed demand). America's shale-gas bonanza has led to the rapid substitution of gas for coal in the power sector, freeing up plenty of the black stuff for export.
These shifts show how powerless governments are in the face of big shifts in international energy flows. The European Union, at pains to reduce carbon emissions to preserve the environment, saw them shift down only slightly despite a big drop in energy consumption; cleaner gas disappeared to Japan and power generators were forced shovel more dirty coal from America and Colombia into their furnaces. America, with no such commitments to greenery, saw carbon dioxide emissions fall by 450m tonnes over the past five years, more than in any other country. This was thanks to a rapid switch from coal to gas in power stations, which simply happened because the latter has become dirt cheap. Abundant gas from shale beds is America's golden goose.

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...