Parece aquele velho jogo do cabo de guerra entre crianças: cada bando puxa para o seu lado, até que algum esperto solta a corda e todo mundo cai do outro lado...
Loucura? Certamente! Mas arrogância e autossuficiência também...
Paulo Roberto de Almeida
Aumentam as distorções
O Estado de S.Paulo, 1 de maio de 2013
Celso Ming
Até agora, as distorções da economia brasileira eram percebidas dentro do governo mais como consequência das mudanças estruturais do que da deterioração dos seus fundamentos. Essa convicção está sendo abalada.
A atual combinação de políticas não vem conseguindo assegurar o crescimento esperado do PIB do Brasil, de 3,5% a 4,0% ao ano, e, ao mesmo tempo, produz inflação que, em 12 meses, ameaça saltar para acima dos 6,0%. Afora isso, o investimento ainda se mantém fraco demais. Esses são os principais sintomas de desequilíbrio.
Enquanto prevaleceu dentro do governo o ponto de vista de que esses desarranjos são momentâneos e que não passam de desdobramentos inevitáveis da derrubada dos juros e do avanço da política distributiva (transferências para o setor privado), a atitude dos administradores da economia do Brasil era esperar pela virada, dada como certa. Mas essa virada não veio. E o governo se aflige agora com a incapacidade de entregar o prometido.
Neste clima, o miolo do governo Dilma passou a divergir tanto no diagnóstico quanto na ação. Para as autoridades do Ministério da Fazenda, falta consumo – conclusão inexplicável diante da expansão das vendas ao varejo, superior a 7% em 12 meses, e da situação inédita de pleno emprego.
O Banco Central, por sua vez, entende que o problema é a incapacidade de oferta do setor produtivo. Mas não é claro na análise dos fatores que concorrem para isso, provavelmente por lhe faltar autonomia e não querer polemizar com as demais áreas do governo.
O fato é que a indústria nacional está desencorajada. Já não vinha conseguindo superar sua falta de competitividade e, neste momento, tem de enfrentar a alta progressiva dos custos da força de trabalho.
Mas o que pesa mais na prostração do setor é a ausência de confiança. O empresário brasileiro sente que os resultados de sua atividade são baixos em relação às suas expectativas e começa a suspeitar de que há alguma coisa errada na política econômica: a inflação derruba o câmbio real e o mercado do seu produto; e deteriora-se a já baixa capacidade de competição de sua empresa. Essa é a principal razão pela qual não se anima a investir.
Por enquanto, a principal resposta tática do governo para esse déficit de resultados é o acirramento da gastança, tratado eufemística e enganosamente como política fiscal anticíclica – já inserida no novo contexto eleitoreiro que toma corpo no Brasil.
É provável que as notórias contradições entre o que pensam e o que fazem o Ministério da Fazenda e o Banco Central tendam agora a se acirrar, ainda mais caso não haja reação satisfatória do sistema produtivo e se a inflação não recuar, o que aparenta ser mais provável.
A piora das condições da economia brasileira tem tudo para transformar-se em prato principal do debate político, sobretudo agora que começam a aparecer rachaduras na base de apoio do governo. A pré-candidatura do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), e os discursos pronunciados nesta quarta-feira, nos festejos do Dia do Trabalho, são indicação disso.
CONFIRA
Inflaçãozinha a mais… Ainda subsiste dentro do governo Dilma – e mesmo entre economistas independentes – o ponto de vista de que a importância dada a inflação está sendo exagerada. No entanto, o crescimento das reivindicações pela instituição de gatilhos e pela reindexação dos salários deveria ser bom motivo para convencer aqueles que seguem pensando que uma inflaçãozinha a mais não tem importância.
Conflito distributivo. A redução das vendas da Ambev (cervejas) e da BRF (carnes) mostra como a inflação está atacando o poder aquisitivo do consumidor. Compõe com a nova rodada de reivindicações salariais uma situação de acirramento do conflito distributivo, que, num ambiente eleitoral, tende a abrir a guarda do governo.
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O mundo de sombras da meta de inflação
O Estado de S.Paulo, 30 de abril de 2013
Rolf Kuntz
Qual a meta de inflação? No Brasil é um mistério. Pode ser 4,5% ou qualquer ponto até 6,5%. A confusão é mantida e adubada, no dia a dia, pelo discurso oficial. Ora se fala dos 4,5% como a própria meta, ora como centro da meta. Isso faz enorme diferença para quem deseja saber para onde estão apontadas, de fato, as armas da política monetária. Uma das pretensões de todo banco central, incluído o brasileiro, é administrar as expectativas do mercado. Isso inclui tanto o pessoal do mercado financeiro quanto os empresários e, na condição mais desejável, também os trabalhadores e consumidores. Mas como administrar ou coordenar essas expectativas, se o objetivo da política é obscuro? Já houve quem apontasse a taxa de 5% como o alvo real da autoridade monetária. Mas até essa opinião, de aparência tão razoável, pode ser muito otimista.
A confusão foi nutrida mais uma vez, na quarta-feira, pelo Ministério da Fazenda. Segundo a nova edição do boletim Economia Brasileira em Perspectiva, as metas de inflação vêm sendo cumpridas desde 2004. A isso se acrescenta um pretenso esclarecimento: “Ou seja, por nove anos consecutivos a inflação ao consumidor medida pelo IPCA tem ficado dentro do intervalo dos porcentuais estabelecidos pelo Conselho Monetário Nacional”. Em seguida aparece uma referência aos “desvios do centro da meta”.
Embora esse discurso alimente o mistério geral sobre o assunto, deixa claro pelo menos um ponto: para o pessoal da Fazenda, a taxa de 4,5% é apenas o centro e a meta oficial é todo o espaço entre 2,5% e 6,5%. Qualquer pessoa poderia acrescentar: na prática, o alvo real é qualquer ponto até o limite superior, porque em Brasília ninguém deve estar interessado num resultado abaixo do centro. Ao contrário. O mais provável, num governo petista, seria um empenho para evitar uma ação anti-inflacionária mais forte. Isso faria mal ao crescimento, um efeito parecido com a mistura de manga com leite. Esse ponto de vista foi reafirmado há poucas semanas pela presidente Dilma Rousseff, portadora de um diploma de Economia.
Mesmo sem essas teorias pitorescas, desmentidas pela experiência tanto internacional quanto nacional, segundo a turma do Banco Central (BC), a bagunça conceitual já seria suficiente para prejudicar a administração de expectativas. O portal do BC registra numa tabela o Histórico de Metas para a Inflação no Brasil desde 1999, quando foi adotado o sistema.
A primeira coluna indica as várias resoluções sobre o assunto. Na segunda aparecem as datas iniciais de vigência. O título da terceira é tão simples quanto claro: Meta (%). O da quarta é igualmente límpido: Banda (p.p.). As outras duas apontam os limites inferior e superior de cada banda e a inflação efetiva em cada período. Nada parece duvidoso. Meta é uma coisa, banda é outra. Não se menciona “centro da meta”, porque a meta é um ponto. A palavra banda aparece na tabela sem qualificação. Mas é difícil, quando se quer examinar o assunto seriamente, imaginar algum sentido diferente de “margem de erro” ou “margem de tolerância”.
Essa margem é necessária, obviamente, por mero realismo. O alvo pode ser muito bem definido, mas a eficácia da política monetária pode ser afetada por circunstâncias imprevistas ou incontroláveis. Secas, inundações, crises políticas no Oriente Médio, turbulências financeiras no mercado internacional podem afetar fortemente o câmbio e outros preços. A margem de tolerância deve servir, portanto, para acomodar desvios e evitar complicações para os dirigentes do BC.
Mas a clara diferença entre banda e meta é indispensável como segurança para todo o sistema econômico. Sem essa distinção, quem pode dizer se as autoridades se contentarão facilmente com resultados como os dos últimos três anos – 5,9% em 2010, 6,5% em 2011 e 5,8% em 2012 – sem se esforçar mais duramente para atingir o “centro da meta”, ou, sem embromação, a meta oficial sem mais qualificações? Só num desses anos, 2010, a economia brasileira exibiu alguma vitalidade, com crescimento de 7,5% na saída da recessão. Nos outros dois o produto interno bruto (PIB) aumentou 2,7% e 0,9%, num ambiente de baixa produtividade e severas restrições de oferta. Sem dispor sequer de um desempenho econômico decente para contrabalançar a gandaia dos preços, o governo decidiu atribuir a inflação destrambelhada a choques de preços internacionais. Outros governos de países em desenvolvimento, com resultados muito melhores para apresentar, ficaram dispensados de inventar desculpas desse tipo.
O governo dificilmente poderia evitar, nessas condições, a fama de tolerante com a inflação. Ele mesmo reforçou essa fama ao insistir na confusão entre meta e banda, como se um resultado de 6,5% fosse uma prova de empenho contra a alta de preços. A imagem de leniente foi sustentada pela fácil aceitação, nos anos seguintes, de taxas próximas de 6%, enquanto metas mais ambiciosas eram anunciadas na América Latina.
A acusação de leniência foi estendida ao BC, com a reputação já afetada pela aderência à política de juros defendida pela presidente Dilma Rousseff. A noção da autonomia operacional do Comitê de Política Monetária (Copom) foi pelo ralo. Para efeito de administração de expectativas, tornou-se irrelevante saber se essa opinião era justa ou infundada. O presidente do banco, Alexandre Tombini, e seus companheiros parecem ter iniciado uma reviravolta para impedir um desastre maior. Isso deve explicar, entre outras novidades, o anúncio, pelo diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo, de um possível endurecimento da política de juros. Pode ser a reafirmação do compromisso com um sistema sem confusão entre meta e banda. Mas esta, por enquanto, é só uma hipótese otimista. A maior parte do governo continua em outra direção. Quem já avacalhou as metas fiscais só pode ter interesses de outro tipo – eleitoreiros, por exemplo.
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
quinta-feira, 2 de maio de 2013
Oh nao! Um novo Chipre! Malta, desta vez, e quebrando igual...
Malte, prochain détonateur d'une crise européenne ?
Mathilde Damgé
Le Monde.fr 01.05.2013
Le plus petit Etat de l'Union européenne est exposé aux risques d'un secteur bancaire qui presque autant que celui de Chypre ou de l'Irlande avant qu'ils ne sombrent dans la crise.
Jusqu'à présent, le marché immobilier maltais a plutôt bien résisté à la crise.
Un nouveau départ de feu dans la crise (les crises) européenne(s) ? C'est un risque que relève une étude de Natixis, publiée mardi 30 avril. "Malte présente de troublantes similarités avec Chypre, affirme l'économiste de la banque française Alan Lemangnen : petite économie très ouverte, l'archipel s'est progressivement spécialisé dans les services d'intermédiation financière pour devenir l'une des principales places offshore de la zone euro."
Son système bancaire, le deuxième plus gros en Europe derrière le Luxembourg, pèse près de huit fois le produit intérieur brut de l'île (qui ressortait à 6,8 milliards d'euros en 2012, soit 0,08 % du PIB de la zone euro), un poids trop important pour pouvoir être englobé dans un plan de sauvetage.
"Le système fiscal maltais, très accommodant, a permis de capter de nombreux dépôts non résidents, lesquels ont massivement afflué dans la lignée de l'entrée du pays dans l'UE" (en 2004), explique Alan Lemangnen. Résultat : le système est rapidement devenu hypertrophié, et un sauvetage serait insoutenable pour un gouvernement qui reste aux prises avec une politique de consolidation budgétaire (Malte était en procédure pour déficit excessif auprès de la Commission européenne jusqu'en février dernier).
L'élargissement substantiel de la base des dépôts a permis au système bancaire d'étendre son portefeuille de crédits, particulièrement aux non résidents, le marché domestique étant vite saturé en raison de sa très petite taille. Natixis
"Restructurer la dette publique sur le modèle grec serait inadapté, puisqu'en décembre 2012, presque 48 % de la dette globale était détenue par les banques maltaises", détaille l'économiste - l'Etat ne pouvant annuler des dettes auprès des banques tout en empruntant davantage auprès de ces mêmes banques. Et "recapitaliser directement les banques via l'ESM serait également impossible car ces opérations ne seront effectives qu'en 2014 et ne concerneront très certainement que des montants limités".
SCÉNARIO À LA CHYPRIOTE
"Un scénario à la chypriote serait des plus probables, conclut Alan Lemangnen, si un sauvetage devait être envisagé". En d'autres termes, des contreparties draconiennes demandées aux épargnants (en grande partie étrangers), notamment une ponction possible sur les comptes bancaires.
Et des conditions moins avantageuses pour les entreprises. Car le premier charme du plus petit Etat de l'Union européenne est, aux yeux des investisseurs, sa fiscalité "douce" pour les entreprises. Selon un rapport annuel publié lundi par la Commission européenne, le taux moyen de cotisations appliquées au travail en 2011 était de 22,7 % à Malte (contre 38,6 % en France par exemple), soit le taux d'imposition le plus faible de l'UE.
La taxation du capital n'est pas communiquée dans ces chiffres, mais le pays est considéré comme une "juridiction à palmiers" : une fiscalité faible ou nulle, pas de transparence, pas d'échange de renseignements et pas d'activité économique réelle. Sauf les activités en ligne, comme les paris sportifs (l'entreprise française BetClic est basée à Malte), le poker ou le trading de devises (forex).
"TOO BIG TO SAVE"
Ces régimes de faveur pour les particuliers et les entreprises contribuent à attirer les capitaux et les banques. Les banques étrangères hors UE ont une place significative à Chypre, rappelle la Banque centrale européenne. Environ les deux tiers de l'ensemble des établissements, selon plusieurs observateurs extérieurs.
Or, grâce à une négociation serrée fin 2012, les autorités maltaises ont réussi à obtenir que seules les banques détenant plus de 5 milliards d'euros d'actifs soient contrôlées par l'Union européenne dans le cadre de la supervision décidée à la suite de la crise de l'été dernier (et qui entre en vigueur en 2014). Ce qui ne concerne que trois banques : Bank of Valletta, HSBC et CommBank Europe (filiale de l'Australienne Commonwealth Bank).
Bien peu par rapport à la totalité d'un secteur (plus de 50 milliards d'euros) que plusieurs qualifient de "too big to save" (trop lourd pour être sauvé), à l'instar du Fonds monétaire international. Ce dernier soulignait en 2012 la nécessité de prendre en compte les risques représentés par cette domination des banques étrangères si l'une d'elles venaient à faire défaut, par rapport à la capacité de réaction du gouvernement.
Une destabilisation touchant la Commonwealth Bank, par exemple, pourrait être absorbée par l'ensemble du secteur bancaire australien, et/ou être équilibrée par le gouvernement de Canberra. Pour La Valette, les effets seraient désastreux. "Il est crucial d'améliorer la gestion du risque systémique, en particulier le risque de propagation posé par les banques internationales", insiste le FMI.
SURCHAUFFE DE L'IMMOBILIER
Mais cette obésité du secteur financier n'importune pas les agences de notation, qui continuent de noter la dette du pays dans le haut du panier. Dans une note du 16 avril, Fitch affirme que "les secteurs bancaires chypriote et maltais ne présentent pas le même niveau de risque" dans la mesure où la majorité du secteur est lié à l'activité de banques n'ayant pas d'implication dans l'économie réelle de l'île.
"Les banques nationales qui ont des liens forts avec l'économie maltaise et sont considérées comme ayant une importance systémique pèsent l'équivalent de 128 % du PIB", calcule l'agence française, "soit bien moins qu'à Chypre où les banques nationales représentaient 466 % du PIB". Banques qui étaient très fortement exposées à la Grèce (laquelle a fait défaut sur une partie de sa dette).
Or, si l'exposition de Malte à la Grèce est la plus importante de la zone euro (4,3 % du PIB), cette exposition est l'oeuvre des banques internationales, revendique le gouverneur de la banque centrale de Malte, Josef Bonnici. Le FMI lui-même confirme que les banques maltaises sont peu exposées aux dettes des pays européens en difficulté.
Une analyse à laquelle souscrit Natixis qui précise toutefois surveiller le marché immobilier - et l'exposition des banques maltaises à celui-ci. "Bien que la valeur des biens ait augmenté de 80 % depuis 2000, les niveaux n'ont pas atteint un degré de survalorisation similaire à ceux observés dans les économies ayant récemment fait face à une crise immobilière", rassure Alan Lemangnen.
Dans ses perspectives, Fitch souligne un autre écueil : celui, à long terme, d'un positionnement comme centre financier offshore, dans un contexte de lutte accrue contre l'évasion fiscale et le blanchiment d'argent.
Mathilde Damgé
Le Monde.fr 01.05.2013
Le plus petit Etat de l'Union européenne est exposé aux risques d'un secteur bancaire qui presque autant que celui de Chypre ou de l'Irlande avant qu'ils ne sombrent dans la crise.
Jusqu'à présent, le marché immobilier maltais a plutôt bien résisté à la crise.
Un nouveau départ de feu dans la crise (les crises) européenne(s) ? C'est un risque que relève une étude de Natixis, publiée mardi 30 avril. "Malte présente de troublantes similarités avec Chypre, affirme l'économiste de la banque française Alan Lemangnen : petite économie très ouverte, l'archipel s'est progressivement spécialisé dans les services d'intermédiation financière pour devenir l'une des principales places offshore de la zone euro."
Son système bancaire, le deuxième plus gros en Europe derrière le Luxembourg, pèse près de huit fois le produit intérieur brut de l'île (qui ressortait à 6,8 milliards d'euros en 2012, soit 0,08 % du PIB de la zone euro), un poids trop important pour pouvoir être englobé dans un plan de sauvetage.
"Le système fiscal maltais, très accommodant, a permis de capter de nombreux dépôts non résidents, lesquels ont massivement afflué dans la lignée de l'entrée du pays dans l'UE" (en 2004), explique Alan Lemangnen. Résultat : le système est rapidement devenu hypertrophié, et un sauvetage serait insoutenable pour un gouvernement qui reste aux prises avec une politique de consolidation budgétaire (Malte était en procédure pour déficit excessif auprès de la Commission européenne jusqu'en février dernier).
L'élargissement substantiel de la base des dépôts a permis au système bancaire d'étendre son portefeuille de crédits, particulièrement aux non résidents, le marché domestique étant vite saturé en raison de sa très petite taille. Natixis
"Restructurer la dette publique sur le modèle grec serait inadapté, puisqu'en décembre 2012, presque 48 % de la dette globale était détenue par les banques maltaises", détaille l'économiste - l'Etat ne pouvant annuler des dettes auprès des banques tout en empruntant davantage auprès de ces mêmes banques. Et "recapitaliser directement les banques via l'ESM serait également impossible car ces opérations ne seront effectives qu'en 2014 et ne concerneront très certainement que des montants limités".
SCÉNARIO À LA CHYPRIOTE
"Un scénario à la chypriote serait des plus probables, conclut Alan Lemangnen, si un sauvetage devait être envisagé". En d'autres termes, des contreparties draconiennes demandées aux épargnants (en grande partie étrangers), notamment une ponction possible sur les comptes bancaires.
Et des conditions moins avantageuses pour les entreprises. Car le premier charme du plus petit Etat de l'Union européenne est, aux yeux des investisseurs, sa fiscalité "douce" pour les entreprises. Selon un rapport annuel publié lundi par la Commission européenne, le taux moyen de cotisations appliquées au travail en 2011 était de 22,7 % à Malte (contre 38,6 % en France par exemple), soit le taux d'imposition le plus faible de l'UE.
La taxation du capital n'est pas communiquée dans ces chiffres, mais le pays est considéré comme une "juridiction à palmiers" : une fiscalité faible ou nulle, pas de transparence, pas d'échange de renseignements et pas d'activité économique réelle. Sauf les activités en ligne, comme les paris sportifs (l'entreprise française BetClic est basée à Malte), le poker ou le trading de devises (forex).
"TOO BIG TO SAVE"
Ces régimes de faveur pour les particuliers et les entreprises contribuent à attirer les capitaux et les banques. Les banques étrangères hors UE ont une place significative à Chypre, rappelle la Banque centrale européenne. Environ les deux tiers de l'ensemble des établissements, selon plusieurs observateurs extérieurs.
Or, grâce à une négociation serrée fin 2012, les autorités maltaises ont réussi à obtenir que seules les banques détenant plus de 5 milliards d'euros d'actifs soient contrôlées par l'Union européenne dans le cadre de la supervision décidée à la suite de la crise de l'été dernier (et qui entre en vigueur en 2014). Ce qui ne concerne que trois banques : Bank of Valletta, HSBC et CommBank Europe (filiale de l'Australienne Commonwealth Bank).
Bien peu par rapport à la totalité d'un secteur (plus de 50 milliards d'euros) que plusieurs qualifient de "too big to save" (trop lourd pour être sauvé), à l'instar du Fonds monétaire international. Ce dernier soulignait en 2012 la nécessité de prendre en compte les risques représentés par cette domination des banques étrangères si l'une d'elles venaient à faire défaut, par rapport à la capacité de réaction du gouvernement.
Une destabilisation touchant la Commonwealth Bank, par exemple, pourrait être absorbée par l'ensemble du secteur bancaire australien, et/ou être équilibrée par le gouvernement de Canberra. Pour La Valette, les effets seraient désastreux. "Il est crucial d'améliorer la gestion du risque systémique, en particulier le risque de propagation posé par les banques internationales", insiste le FMI.
SURCHAUFFE DE L'IMMOBILIER
Mais cette obésité du secteur financier n'importune pas les agences de notation, qui continuent de noter la dette du pays dans le haut du panier. Dans une note du 16 avril, Fitch affirme que "les secteurs bancaires chypriote et maltais ne présentent pas le même niveau de risque" dans la mesure où la majorité du secteur est lié à l'activité de banques n'ayant pas d'implication dans l'économie réelle de l'île.
"Les banques nationales qui ont des liens forts avec l'économie maltaise et sont considérées comme ayant une importance systémique pèsent l'équivalent de 128 % du PIB", calcule l'agence française, "soit bien moins qu'à Chypre où les banques nationales représentaient 466 % du PIB". Banques qui étaient très fortement exposées à la Grèce (laquelle a fait défaut sur une partie de sa dette).
Or, si l'exposition de Malte à la Grèce est la plus importante de la zone euro (4,3 % du PIB), cette exposition est l'oeuvre des banques internationales, revendique le gouverneur de la banque centrale de Malte, Josef Bonnici. Le FMI lui-même confirme que les banques maltaises sont peu exposées aux dettes des pays européens en difficulté.
Une analyse à laquelle souscrit Natixis qui précise toutefois surveiller le marché immobilier - et l'exposition des banques maltaises à celui-ci. "Bien que la valeur des biens ait augmenté de 80 % depuis 2000, les niveaux n'ont pas atteint un degré de survalorisation similaire à ceux observés dans les économies ayant récemment fait face à une crise immobilière", rassure Alan Lemangnen.
Dans ses perspectives, Fitch souligne un autre écueil : celui, à long terme, d'un positionnement comme centre financier offshore, dans un contexte de lutte accrue contre l'évasion fiscale et le blanchiment d'argent.
Venezuela: perfeitamente em ordem com a clausula democratica do Mercosul
Mas é claro: enquanto os amigos do peito bolivarianos não aplicarem um golpe em si mesmos eles estão perfeitamente em ordem do ponto de vista dos companheiros. Afinal de contas não ocorreu nenhuma ruptura democrática: eles apenas estão aperfeiçoando uma ditadura ordinária.
Paulo Roberto de Almeida
Venezuelan opposition protests vote
By Emilia Diaz-Struck and Juan Forero
The Washington Post, Wednesday, May 1, 213
CARACAS, Venezuela — Unable to force a sweeping review of last month’s disputed presidential election, opposition supporters marched in the streets Wednesday to demonstrate their fury at the ruling party’s efforts to blunt a recount.
On International Workers’ Day, Venezuelans from both sides of the sharp political divide staged rallies, as is custom in Latin America. But in Caracas, the capital, and in the provinces, thousands of the government’s adversaries heeded the call of opposition leader Henrique Capriles to demand a complete audit of the April 14 vote.
Capriles, a 40-year-old governor who claims the election was stolen by Nicolás Maduro, characterized the protests as “the fight for truth against lies” and pledged to keep the pressure on the government.
But Capriles being forced into the streets was indicative of another reality: The opposition has limited options for redress in a country where the ruling United Socialist Party controls the electoral board and the Supreme Court, which Maduro’s predecessor, Hugo Chávez, packed with loyal supporters.
The opposition is also unlikely to get a hearing in the National Assembly, whose president, Diosdado Cabello, a force in the ruling party, has thrown opposition legislators off committees and banned them from speaking for refusing to recognize Maduro as president.
When opposition lawmakers on Tuesday unfurled a banner reading “coup against the parliament,” Maduro’s allies delivered a beating that left several lawmakers bruised and battered, the government’s critics said.
For Julio Borges, a leading adversary of Maduro who was shown bleeding profusely in a video that went viral, it was the third time he had been attacked on the floor of the chamber.
“What we’re left with is to go into the streets to protest,” said Mayerlica Cedeño, 48, a teacher who joined anti-government demonstrators in Caracas. “We’re taking the streets but without guns. We do it with horns and signs and banners. We want the votes to be counted.”
‘Democracy or dictatorship?’
Opposition leaders and some human rights groups, including New York-based Human Rights Watch, say recent government actions against the opposition are raising concerns about whether officials are violating rights and becoming increasingly authoritarian.
“It’s getting completely out of control, completely out of line,” said JoséMiguel Vivanco, the Americas director for Human Rights Watch, which has compiled reports on abuses in Venezuela. “Is it a democracy or a dictatorship? I think Venezuela is on the verge of losing any serious claim to being a democracy.”
On Monday, a retired general, Antonio Rivero, was charged with conspiracy and inciting violence after a video surfaced of him appearing to coordinate protests. That came five days after an American filmmaker, Timothy Tracy, was arrested and accused of being a secret agent spearheading plans to destabilize the government.
The National Assembly has also announced an inquiry into violence that officials say left nine people dead after Capriles refused to recognize Maduro’s victory. The government contends that Capriles plans to use the unrest to take power. He was been warned that a jail cell awaits him.
“Sooner rather than later, he will have to pay for those crimes,” said Pedro Carreño, a ruling party lawmaker who is to lead a special committee empowered to investigate opposition leaders and their role in the protests.
Rights groups and labor unions allied with the opposition say that government ministries are trying to punish workers who voted for Capriles. In a widely circulated video, Housing Minister Ricardo Molina pledges before state employees to personally fire those who are activists in “fascist parties.”
“Let me say with total clarity, I do not care at all about labor rules. In this situation, they don’t matter,” he said, as workers cheered and shouted. “That’s how to govern!”
“I don’t accept that anyone can come here and speak badly of the revolution.”
Voting irregularities?
Political analysts and electoral experts, among them Jennifer McCoy of the Carter Center, say the crisis could be defused with an extensive review of the automated voting system to address concerns raised by the opposition.
“The concerns are not about the machines and whether they counted accurately,” said McCoy, who is the Americas director at the center and has observed six elections here. “The questions are much more about who voted. Was there double voting? Was there impersonation of voters? And was there coerced voting?”
But the National Electoral Council made clear this past weekend that an audit set to begin Monday on 46 percent of the votes would be far more limited than Capriles had demanded.
Tibisay Lucena, head of the council, said that Capriles had generated “false hopes” and that the planned audit would “in no way affect the electoral results” issued by her agency on election day.
The opposition thinks there might have been irregularities in as many as 6,000 of the nearly 14,000 voting centers, said Humberto Villalobos, who has worked with a team of opposition technicians to identify irregularities. The opposition also alleges that government supporters used ID cards from dead voters to cast ballots, that some people voted multiple times, that prospective voters were walked through the voting process and instructed to endorse Maduro, and that opposition witnesses were forced out of voting centers.
Villalobos said the opposition is particularly interested in reviewing the electronic fingerprints taken by automated machines, which would show whether there were multiple voters or if some voters used other people’s IDs to vote. The electoral council’s more limited audit would only compare vote totals from machines with paper receipts for each vote. Capriles’s camp would not be permitted to participate.
“Their audit is one where they define the conditions and all the proposals,” Villalobos said. “It’s not an audit where we can participate.”
Facing scant possibilities of redress from state institutions, Capriles may want to detail the evidence publicly, said David Smilde, an analyst with the Washington Office on Latin America who has studied the political situation in Venezuela.
“Capriles still has people’s attention,” Smilde said. “And calling people’s attention to the government’s arbitrary actions can be quite effective. If they could present their evidence in the court of public opinion, and Capriles could keep denouncing some of these things, it could have an impact.”
Forero reported from Charleston, W.Va.
© The Washington Post Company
Paulo Roberto de Almeida
Venezuelan opposition protests vote
By Emilia Diaz-Struck and Juan Forero
The Washington Post, Wednesday, May 1, 213
CARACAS, Venezuela — Unable to force a sweeping review of last month’s disputed presidential election, opposition supporters marched in the streets Wednesday to demonstrate their fury at the ruling party’s efforts to blunt a recount.
On International Workers’ Day, Venezuelans from both sides of the sharp political divide staged rallies, as is custom in Latin America. But in Caracas, the capital, and in the provinces, thousands of the government’s adversaries heeded the call of opposition leader Henrique Capriles to demand a complete audit of the April 14 vote.
Capriles, a 40-year-old governor who claims the election was stolen by Nicolás Maduro, characterized the protests as “the fight for truth against lies” and pledged to keep the pressure on the government.
But Capriles being forced into the streets was indicative of another reality: The opposition has limited options for redress in a country where the ruling United Socialist Party controls the electoral board and the Supreme Court, which Maduro’s predecessor, Hugo Chávez, packed with loyal supporters.
The opposition is also unlikely to get a hearing in the National Assembly, whose president, Diosdado Cabello, a force in the ruling party, has thrown opposition legislators off committees and banned them from speaking for refusing to recognize Maduro as president.
When opposition lawmakers on Tuesday unfurled a banner reading “coup against the parliament,” Maduro’s allies delivered a beating that left several lawmakers bruised and battered, the government’s critics said.
For Julio Borges, a leading adversary of Maduro who was shown bleeding profusely in a video that went viral, it was the third time he had been attacked on the floor of the chamber.
“What we’re left with is to go into the streets to protest,” said Mayerlica Cedeño, 48, a teacher who joined anti-government demonstrators in Caracas. “We’re taking the streets but without guns. We do it with horns and signs and banners. We want the votes to be counted.”
‘Democracy or dictatorship?’
Opposition leaders and some human rights groups, including New York-based Human Rights Watch, say recent government actions against the opposition are raising concerns about whether officials are violating rights and becoming increasingly authoritarian.
“It’s getting completely out of control, completely out of line,” said JoséMiguel Vivanco, the Americas director for Human Rights Watch, which has compiled reports on abuses in Venezuela. “Is it a democracy or a dictatorship? I think Venezuela is on the verge of losing any serious claim to being a democracy.”
On Monday, a retired general, Antonio Rivero, was charged with conspiracy and inciting violence after a video surfaced of him appearing to coordinate protests. That came five days after an American filmmaker, Timothy Tracy, was arrested and accused of being a secret agent spearheading plans to destabilize the government.
The National Assembly has also announced an inquiry into violence that officials say left nine people dead after Capriles refused to recognize Maduro’s victory. The government contends that Capriles plans to use the unrest to take power. He was been warned that a jail cell awaits him.
“Sooner rather than later, he will have to pay for those crimes,” said Pedro Carreño, a ruling party lawmaker who is to lead a special committee empowered to investigate opposition leaders and their role in the protests.
Rights groups and labor unions allied with the opposition say that government ministries are trying to punish workers who voted for Capriles. In a widely circulated video, Housing Minister Ricardo Molina pledges before state employees to personally fire those who are activists in “fascist parties.”
“Let me say with total clarity, I do not care at all about labor rules. In this situation, they don’t matter,” he said, as workers cheered and shouted. “That’s how to govern!”
“I don’t accept that anyone can come here and speak badly of the revolution.”
Voting irregularities?
Political analysts and electoral experts, among them Jennifer McCoy of the Carter Center, say the crisis could be defused with an extensive review of the automated voting system to address concerns raised by the opposition.
“The concerns are not about the machines and whether they counted accurately,” said McCoy, who is the Americas director at the center and has observed six elections here. “The questions are much more about who voted. Was there double voting? Was there impersonation of voters? And was there coerced voting?”
But the National Electoral Council made clear this past weekend that an audit set to begin Monday on 46 percent of the votes would be far more limited than Capriles had demanded.
Tibisay Lucena, head of the council, said that Capriles had generated “false hopes” and that the planned audit would “in no way affect the electoral results” issued by her agency on election day.
The opposition thinks there might have been irregularities in as many as 6,000 of the nearly 14,000 voting centers, said Humberto Villalobos, who has worked with a team of opposition technicians to identify irregularities. The opposition also alleges that government supporters used ID cards from dead voters to cast ballots, that some people voted multiple times, that prospective voters were walked through the voting process and instructed to endorse Maduro, and that opposition witnesses were forced out of voting centers.
Villalobos said the opposition is particularly interested in reviewing the electronic fingerprints taken by automated machines, which would show whether there were multiple voters or if some voters used other people’s IDs to vote. The electoral council’s more limited audit would only compare vote totals from machines with paper receipts for each vote. Capriles’s camp would not be permitted to participate.
“Their audit is one where they define the conditions and all the proposals,” Villalobos said. “It’s not an audit where we can participate.”
Facing scant possibilities of redress from state institutions, Capriles may want to detail the evidence publicly, said David Smilde, an analyst with the Washington Office on Latin America who has studied the political situation in Venezuela.
“Capriles still has people’s attention,” Smilde said. “And calling people’s attention to the government’s arbitrary actions can be quite effective. If they could present their evidence in the court of public opinion, and Capriles could keep denouncing some of these things, it could have an impact.”
Forero reported from Charleston, W.Va.
© The Washington Post Company
A França, enferma dos seus impostos - Le Monde
La France ou la religion de l'impôt
LE MONDE01.05.2013 à 18:45
Editorial du "Monde". Dans leur brutalité, les chiffres en disent souvent plus que les traités d'économie. Ils livrent un diagnostic cru, l'état des lieux avant que le discours politique vienne embellir ou assombrir la réalité selon que l'on est au gouvernement ou dans l'opposition.
La dernière livraison d'Eurostat, l'organisme de statistiques de l'Union européenne, lundi 29 avril, vient ainsi confirmer ce que l'on savait depuis quelque temps déjà : la France est malade de sa fiscalité. Pathologie lourde, à laquelle ni la droite ni la gauche n'ont jamais réellement voulu remédier.
Là est, pourtant, une partie du "mal français" : la globalisation de l'économie et les nouvelles conditions de concurrence n'ont fait, ces dernières années, que l'exacerber davantage.
L'impôt, ce n'est pas toujours une simple affaire de taux, ou pas seulement. Eurostat rappelle que le taux global d'imposition, en pourcentage du produit intérieur brut, situe la France dans le peloton de tête de l'UE. Avec un taux de 43,9 % en 2011, elle est à la quatrième place, derrière le Danemark, la Suède et la Belgique.
Ce chiffre ne dit pas tout. Il n'a de sens que rapporté à la qualité des services publics obtenue en contrepartie de l'impôt. Contrairement à ce qu'on serine aux Français, ils n'en n'ont pas pour leur argent. Les prestations publiques dans la plupart des pays d'Europe du Nord sont supérieures à ce qu'elles sont en France.
Qu'il s'agisse de l'éducation en général, de la sécurité, de l'intégration des quartiers défavorisés, des transports publics, de l'état des prisons, de la justice et de la police et, même, parfois, de la santé, l'Etat-providence est plus performant au Danemark ou en Suède qu'il ne l'est en France. Pourquoi ? La question, celle du bon usage de l'argent public, est trop rarement posée.
Dans un pays taraudé par le chômage de masse, la droite et la gauche ont-elles mené depuis quinze ans une politique fiscale favorable aux entreprises ? La réponse est non. En 2013 comme en 2012, la France détient le record d'Europe pour l'impôt sur les sociétés avec un taux maximal de 36,1 % contre 29,8 % en Allemagne. Elle est aussi le pays européen où le capital est le plus taxé, loin au-dessus de la moyenne européenne.
Pas étonnant que les marges de nos entreprises figurent parmi les plus faibles de l'UE. Si les profits d'aujourd'hui sont les investissements de demain, alors il est urgent de revenir sur les mécanismes d'imposition du capital : en France, ils découragent l'entrepreneuriat.
Le 29 avril, François Hollande a annoncé pour les entrepreneurs une batterie de mesures allant dans le bon sens. Il détricote partiellement ce qu'il a mis en oeuvre en arrivant à l'Elysée... Alléger la charge pesant sur les entreprises, c'est ce qu'ont fait nos voisins du Nord, sans démolir l'Etat-providence.
Cela devrait être à la portée d'un gouvernement qui se veut social-démocrate.
LE MONDE01.05.2013 à 18:45
Editorial du "Monde". Dans leur brutalité, les chiffres en disent souvent plus que les traités d'économie. Ils livrent un diagnostic cru, l'état des lieux avant que le discours politique vienne embellir ou assombrir la réalité selon que l'on est au gouvernement ou dans l'opposition.
La dernière livraison d'Eurostat, l'organisme de statistiques de l'Union européenne, lundi 29 avril, vient ainsi confirmer ce que l'on savait depuis quelque temps déjà : la France est malade de sa fiscalité. Pathologie lourde, à laquelle ni la droite ni la gauche n'ont jamais réellement voulu remédier.
Là est, pourtant, une partie du "mal français" : la globalisation de l'économie et les nouvelles conditions de concurrence n'ont fait, ces dernières années, que l'exacerber davantage.
L'impôt, ce n'est pas toujours une simple affaire de taux, ou pas seulement. Eurostat rappelle que le taux global d'imposition, en pourcentage du produit intérieur brut, situe la France dans le peloton de tête de l'UE. Avec un taux de 43,9 % en 2011, elle est à la quatrième place, derrière le Danemark, la Suède et la Belgique.
Ce chiffre ne dit pas tout. Il n'a de sens que rapporté à la qualité des services publics obtenue en contrepartie de l'impôt. Contrairement à ce qu'on serine aux Français, ils n'en n'ont pas pour leur argent. Les prestations publiques dans la plupart des pays d'Europe du Nord sont supérieures à ce qu'elles sont en France.
Qu'il s'agisse de l'éducation en général, de la sécurité, de l'intégration des quartiers défavorisés, des transports publics, de l'état des prisons, de la justice et de la police et, même, parfois, de la santé, l'Etat-providence est plus performant au Danemark ou en Suède qu'il ne l'est en France. Pourquoi ? La question, celle du bon usage de l'argent public, est trop rarement posée.
Dans un pays taraudé par le chômage de masse, la droite et la gauche ont-elles mené depuis quinze ans une politique fiscale favorable aux entreprises ? La réponse est non. En 2013 comme en 2012, la France détient le record d'Europe pour l'impôt sur les sociétés avec un taux maximal de 36,1 % contre 29,8 % en Allemagne. Elle est aussi le pays européen où le capital est le plus taxé, loin au-dessus de la moyenne européenne.
Pas étonnant que les marges de nos entreprises figurent parmi les plus faibles de l'UE. Si les profits d'aujourd'hui sont les investissements de demain, alors il est urgent de revenir sur les mécanismes d'imposition du capital : en France, ils découragent l'entrepreneuriat.
Le 29 avril, François Hollande a annoncé pour les entrepreneurs une batterie de mesures allant dans le bon sens. Il détricote partiellement ce qu'il a mis en oeuvre en arrivant à l'Elysée... Alléger la charge pesant sur les entreprises, c'est ce qu'ont fait nos voisins du Nord, sans démolir l'Etat-providence.
Cela devrait être à la portée d'un gouvernement qui se veut social-démocrate.
quarta-feira, 1 de maio de 2013
A frase da semana: a Argentina tem tudo e esta' prosa... (CK)
“Temos papa, rainha e Messi, não nos falta nada”.
Cristina Kirchner, ao comemorar a coroação da conterrânea Máxima Zorreguieta como rainha consorte da Holanda.
Bem, acho que falta, falta, muita coisa, mas vamos descobrir na próxima crise...
Paulo Roberto de Almeida
O Itamaraty e a imprensa - Matias Spektor
MATIAS SPEKTOR
Boa luta
O problema do Itamaraty está, em parte, no seu próprio modo de interação com a opinião pública
Folha de S.Paulo, 1/05/2013
Há mais de ano, a imagem de uma Dilma intolerante em face de um Itamaraty prostrado abriu temporada de golpes contra o ministério.
Os ataques cresceram nas últimas semanas, com notícias de abuso de passaportes diplomáticos, supersalários, diplomatas-fantasmas, a possível suspensão do concurso do Instituto Rio Branco e a leniência diante de uma grave acusação de assédio.
Se as denúncias em si são bem-vindas, o burburinho de onde se originam tem bafo de injustiça.
Afinal, a ordem para emitir passaportes diplomáticos vem de cima.
Na lista divulgada de funcionários-fantasmas, tem gente em trânsito normal para posto no exterior.
E, embora existam casos de salários nababescos em todo o serviço público, a maioria dos diplomatas brasileiros não vive na opulência.
Com apenas 1% do Orçamento federal, o Itamaraty está longe de ser perdulário. Faz milagre.
O tatibitate mais recente também traz algumas inverdades, como o suposto descaso diante da prisão de brasileiros na Bolívia. Nesse quesito, a diplomacia tem feito um trabalho verdadeiramente exemplar.
Dadas as circunstâncias, bem que o Itamaraty podia reagir com uma ofensiva de caráter tribal. Não para calar as críticas, que são essenciais, mas para tirar o debate público sobre política externa do fundo do poço em que se encontra.
Basta abrir as principais revistas e jornais do país para saber que é urgente restaurar o embate de grandes ideias a respeito dos desafios diplomáticos do Brasil.
Em parte, o problema atual está no próprio modo de interação do Itamaraty com a opinião pública.
Sem política de comunicação social, o ministério usa instrumentos ultrapassados para divulgar sua mensagem.
O contato com a imprensa, por exemplo, é concentrado no topo, modelo que funciona somente quando há material e disposição abundante para alimentar uma imprensa faminta. Quando a informação é distribuída a conta-gotas, no entanto, esse modelo apenas estimula vazamentos.
Sem material para trabalhar, jornalistas fracos reproduzem fuxicos, ao passo que os bons correm por fora, garimpando pautas em arquivos ou consultando fontes estrangeiras.
Além disso, os embaixadores brasileiros que poderiam estar operando a imprensa cotidianamente são orientados a evitá-la e a deixar tudo na mão do QG, em Brasília.
No ministério, o medo generalizado dos meios de comunicação produz também certo desprezo por jornalistas. Nesse jogo, o Itamaraty sempre sai perdedor.
O problema está bem ilustrado no uso que o ministério faz de Facebook e Twitter: ignorando a lógica dessa tecnologia, mantém a velha prática de notas áridas que pouco explicam e nada discutem. Idem no YouTube.
Se o Itamaraty aproveitar esta conjuntura negativa para sacudir a poeira, renovar as armas e partir para a boa luta, receber tantos golpes não terá sido em vão.
Ninguém sabe ao certo quantos brasileiros vivem nos Estados Unidos, mas é bem menos que os 2,5 milhões que escrevi na última coluna.
Salami science: quanto mais artigos melhor? - Fernando Reinach
| Darwin e a prática da 'Salami Science' | |
| Fernando Reinach O Estado de São Paulo, 29/04/2013
Em 1985, ouvi pela primeira vez no Laboratório de Biologia Molecular a expressão "Salami Science". Um de nós estava com uma pilha de trabalhos científicos quando Max Perutz se aproximou. Um jovem disse que estava lendo trabalhos de um famoso cientista dos EUA. Perutz olhou a pilha e murmurou: "Salami Science, espero que não chegue aqui". Mas a praga se espalhou pelo mundo e agora assola a comunidade científica brasileira.
"Salami Science" é a prática de fatiar uma única descoberta, como um salame, para publicá-la no maior número possível de artigos científicos. O cientista aumenta seu currículo e cria a impressão de que é muito produtivo. O leitor é forçado a juntar as fatias para entender o todo. As revistas ficam abarrotadas. E avaliar um cientista fica mais difícil. Apesar disso, a "Salami Science" se espalhou, induzido pela busca obsessiva de um método quantitativo capaz de avaliar a produção acadêmica.
No Laboratório de Biologia Molecular, nossos ídolos eram os cinco prêmios Nobel do prédio. Publicar muitos artigos indicava falta de rigor intelectual. Eles valorizavam a capacidade de criar uma maneira engenhosa para destrinchar um problema importante. Aprendíamos que o objetivo era desvendar os mistérios da natureza. Publicar um artigo era consequência de um trabalho financiado com dinheiro público, servia para comunicar a nova descoberta. O trabalho deveria ser simples, claro e didático. O exemplo a ser seguido eram as duas páginas em que Watson e Crick descreveram a estrutura do DNA. Você se tornaria um cientista de respeito se o esforço de uma vida pudesse ser resumido em uma frase: Ele descobriu... Os três pontinhos teriam de ser uma ou duas palavras: a estrutura do DNA (Watson e Crick), a estrutura das proteínas (Max Perutz), a teoria da Relatividade (Einstein). Sabíamos que poucos chegariam lá, mas o importante era ter certeza de que havíamos gasto a vida atrás de algo importante.
Hoje, nas melhores universidade do Brasil, a conversa entre pós-graduandos e cientistas é outra. A maioria está preocupada com quantos trabalhos publicou no último ano - e onde. Querem saber como serão classificados. "Fulano agora é pesquisador 1B no CNPq. Com 8 trabalhos em revistas de alto impacto no ano passado, não poderia ser diferente." "O departamento de beltrano foi rebaixado para 4 pela Capes. Também, com poucas teses no ano passado e só duas publicações em revistas de baixo impacto..." Não que os olhos dessas pessoas não brilhem quando discutem suas pesquisas, mas o relato de como alguém emplacou um trabalho na Nature causa mais alvoroço que o de uma nova maneira de abordar um problema dito insolúvel.
Essa mudança de cultura ocorreu porque agora os cientistas e suas instituições são avaliados a partir de fórmulas matemáticas que levam em conta três ingredientes, combinados ao gosto do freguês: número de trabalhos publicados, quantas vezes esses trabalhos foram citados na literatura e qualidade das revistas (medida pela quantidade de citações a trabalhos publicados na revista). Você estranhou a ausência de palavras como qualidade, criatividade e originalidade? Se conversar com um burocrata da ciência, ele tentará te explicar como esses índices englobam de maneira objetiva conceitos tão subjetivos. E não adianta argumentar que Einstein, Crick e Perutz teriam sido excluídos por esses critérios. No fundo, essas pessoas acreditam que cientistas desse calibre não podem surgir no Brasil. O resultado é que em algumas pós-graduações da USP o credenciamento de orientadores depende unicamente do total de trabalhos publicados, em outras o pré-requisito para uma tese ser defendida é que um ou mais trabalhos tenham sido aceitos para publicação.
Não há dúvida de que métodos quantitativos são úteis para avaliar um cientista, mas usá-los de modo exclusivo, abdicando da capacidade subjetiva de identificar pessoas talentosas, criativas ou simplesmente geniais, é caminho seguro para excluir da carreira científica as poucas pessoas que realmente podem fazer descobertas importantes. Essa atitude isenta os responsáveis de tomar e defender decisões. É a covardia intelectual escondida por trás de algoritmos matemáticos.
Mas o que Darwin tem a ver com isso? Foi ele que mostrou que uma das características que facilitam a sobrevivência é a capacidade de se adaptar aos ambientes. E os cientistas são animais como qualquer outro ser humano. Se a regra exige aumentar o número de trabalhos publicados, vou praticar "Salami Science". É necessário ser muito citado? Sem problema, minhas fatias de salame vão citar umas às outras e vou pedir a amigos que me citem. Em troca, garanto que vou citá-los. As revistas precisam de muitas citações? Basta pedir aos autores que citem artigos da própria revista. E, aos poucos, o objetivo da ciência deixa de ser entender a natureza e passa a ser publicar e ser citado. Se o trabalho é medíocre ou genial, pouco importa. Mas a ciência brasileira vai bem, o número de mestres aumenta, o de trabalhos cresce, assim como as citações. E a cada dia ficamos mais longe de ter cientistas que possam ser descritos em uma única frase: Ele descobriu...
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