Atenção: sequestro NA política externa, não DA política externa, mas também poderia ser...
Paulo Roberto de Almeida
Sequestro é notícia?
Carlos Brickmann, 10/09/2014
Se sequestro de um adolescente brasileiro no Exterior é notícia, não parece.
Arlan Flick, 16 anos, foi sequestrado pelo EPP, Ejército del Pueblo Paraguayo, no dia 2 de abril, em Paso Tuyá, no Paraguai. O EPP pediu resgate, que foi pago em 10 de abril: 500 mil dólares. O EPP exigiu então que a família doasse também US$ 50 mil em alimentos para dois assentamentos. Essa quantia também foi paga. O rapaz continuou sequestrado, e sequestrado continua até agora.
Uma curiosidade: três líderes do Ejército del Pueblo Paraguayo estão asilados no Brasil desde o Governo Lula. São eles Juan Arron, Victor Colman e Anuncio Marti. Não, o Governo brasileiro não censurou severamente os cavalheiros que desfrutam do nosso asilo por ajudarem a manter sequestrado um adolescente brasileiro. Não, o Governo brasileiro não ameaçou suspender o asilo a menos que o EPP liberte o sequestrado. O Governo brasileiro mantém, diante do EPP, uma postura humilde, obsequiosa, de diplomático nanismo.
E a imprensa brasileira? Houve há meses uma boa matéria em O Globo, há menções em colunas (normalmente as publicadas no Paraná), mas nada que se pareça com uma campanha para mostrar que, encostada à fronteira do Brasil, há uma organização criminosa realizando sequestros e usando nosso território para fugir à Polícia do país vizinho. As melhores fontes sobre o sequestro de Arlan Flick, que já dura seis meses, são jornais paraguaios. Dois links:
http://www.ultimahora.com/cinco-meses-rastros-arlan-n826011.html
http://www.abc.com.py/abc-tv/locales/arlan-cumple-5-meses-secuestrado-1281923.html
A propósito, a família do rapaz sequestrado não tem participação política nenhuma nem no Paraguai nem no Brasil. São fazendeiros prósperos e compraram suas terras legalmente, de acordo com as leis paraguaias.
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
quarta-feira, 10 de setembro de 2014
Eleicoes 2014: companheiros investem em mensagens mentirosas e sordidas
Juntar independência do Banco Central com a falta de comida na mesa dos brasileiros é uma das coisas mais canalhas, sórdidas e mentirosas que se pode conceber, mas combina com o espírito companheiro, sempre disposto a investir na fraude e na desinformação como forma de fazer política.
Pode ser que eles ganhem assim, e vamos passar a viver num país ainda mais degradado moralmente do que já é.
Paulo Roberto de Almeida
ELEIÇÕES 2014
Valor Econômico – "Não tenho banqueiro me sustentando", diz Dilma / Capa
10/09/2014
Por Letícia Casado, Raphael Di Cunto e Fernando Taquari | De São Paulo
A presidente Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição, disse ontem não ser sustentada por banqueiro, em referência a Neca Setubal, coordenadora do programa de governo de sua adversária Marina Silva (PSB), herdeira do banco Itaú e irmã do presidente da instituição, Roberto Setubal.
"Não adianta falar que eu fiz bolsa-banqueiro", disse Dilma a jornalistas em coletiva de imprensa. "Não tenho banqueiro me apoiando. Não tenho banqueiro, você sabe, me sustentando."
A fala de Dilma foi uma resposta a Marina Silva, que, em evento em Minas Gerais, disse que o governo federal beneficiou banqueiros e empresários, e criou "a bolsa empresário, a bolsa banqueiro, a bolsa juros altos".
A presidente se recusou a comentar a revisão de nota que a agência de rating Moody's fez sobre o risco de crédito do Brasil. Ela foi questionada se iria implementar alguma medida imediata para evitar o rebaixamento do rating pela Moody's. A agência de risco revisou de "estável" para "negativa" a perspectiva da nota de crédito soberana do Brasil e reafirmou em "Bba2", alegando crescimento baixo, piora nos indicadores da dívida e deterioração no sentimento dos investidores.
"Eu vou discutir isso que eu estou discutindo", disse Dilma, para em seguida afirmar que a banda larga é o maior desafio de infra-estrutura do país. Ela concedeu a entrevista antes de participar de evento sobre a internet de banda larga, no centro de São Paulo.
Jornalistas continuaram gritando para a presidente comentar sobre a Moody's, mas ela seguiu falando sobre banda larga.
Em outro momento da entrevista, Dilma voltou a alfinetar, sem citar nomes, a adversária Marina Silva. Disse que proposta de dar autonomia ao Banco Central, uma das principais medidas da parte econômica do programa de governo da candidata do PSB, vai tirar do Congresso Nacional a prerrogativa de fiscalizar a instituição.
"O Banco Central, como qualquer outra instituição, não é eleito por tecnocrata ou banqueiro. O Banco Central é indicado, sua diretoria, por quem tem o voto direto. E o que o Congresso faz com o Banco Central? Chama e manda prestar contas. Eu não digo isso porque sonhei com isso, está escrito no programa [de Marina Silva]: autonomia do Banco Central e todo mundo sabe que o que é autonomia do Banco Central. Todo mundo sabe", disse a presidente.
Dilma, que é criticada por analistas por ter pressionado o BC a reduzir a taxa básica de juros, sempre se manifestou contra a proposta de dar autonomia à instituição, embora a ideia tenha rondado seu governo impulsionada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que imaginava que isso mudaria a percepção que o mercado e os empresários têm deDilma.
A autonomia permitiria ao BC definir as condições de política de crédito, taxa de juros e câmbio sem prestar contas aos poderes Executivo e Legislativo, disse Dilma durante a entrevista. A afirmação seguiu a mesma linha do material apresentado no programa eleitoral gratuito exibido ontem.
O vídeo transmitido no horário eleitoral mostra uma mesa com executivos conversando; o cenário remete ao mercado financeiro, com um gráfico que indica volatilidade ao fundo. Enquanto os executivos, de terno, gravata e laptop sobre a mesa dão risadas, o narrador diz: "Marina tem dito que, se eleita vai fazer a autonomia do Banco Central. Parece algo distante da vida da gente, né? Parece, mas não é".
A cena corta para uma família na mesa de jantar. "Isso significaria entregar aos banqueiros um grande poder de decisão sobre a sua vida e de sua família. Os juros que você paga, seu emprego, preços e até salários", afirma o locutor. Aos poucos a comida some da mesa da família. "Ou seja, os bancos assumem um poder que é do presidente e do Congresso, eleito pelo povo. Você quer dar a eles esse poder?", diz o narrador.
Dilma não aparece na propaganda, e o vídeo não faz referência à amizade de Marina com Neca Setubal. A relação entre elas é explorada pelo PT nas redes sociais e na internet como um ponto negativo da candidata, que "governaria para os bancos".
Marina era contra a autonomia do Banco Central, mas foi convencida a apoiar a proposta pelo ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB), então candidato à Presidência da coligação até morrer em um acidente de avião no dia 13.
A presidente também foi questionada sobre qual seria o perfil de sua nova equipe econômica, caso vença a eleição, mas evitou fazer comentários; disse que sua equipe tem o compromisso de garantir que o Brasil tenha redução da desigualdade, seja país moderno, competitivo e inclusivo socialmente.
"Todo governo novo terá pessoas novas", afirmou. Em duas ocasiões na última semana, a presidente disse que vai trocar a equipe econômica em um eventual segundo mandato.Dilma disse que "tem coisas que o governo não muda", independentemente de mudar a equipe econômica. "Se porventura eu for eleita o segundo mandato terá conjectura melhor."
Pela manhã, Dilma visitou um centro de reabilitação para deficientes físicos em M' Boi Mirim que contou com recursos do governo federal. Na visita, feita na condição de presidente, Dilma estava acompanhada do prefeito Fernando Haddad (PT). De acordo com o secretário de Saúde do município, José de Filippi, que também acompanhou a visita, a presidente aproveitou para gravar imagens para seu programa de TV. A unidade recebeu recursos do governo federal.
Dilma deixou o local sem falar com a imprensa e a militantes que aguardavam sua passagem com bandeiras do PT acenou de dentro do carro baixando a janela. A visita durou cerca de 40 minutos.
Escocia: o que está em causa no plebiscito de separacao - Mike Peacock
Excelente artigo explicativo que deve ser lido com atenção.
Paulo Roberto de Almeida
Por que uma Escócia independente preocupa
Por Mike Peacock | Reuters, de Londres
Valor Econômico, 10/09/2014
Uma pesquisa que indica que a independência da Escócia pode ser aprovada em plebiscito daque a nove dias realçou as razões pelas quais o mundo em geral, e os investidores, deveriam prestar atenção ao voto em 18 de setembro, que poderá fazer o Reino Unido perder 5,3 milhões de escoceses.
Governos estrangeiros e mercados financeiros há muito previam que os escoceses rejeitariam independência em relação ao Reino Unido, mas a súbita guinada, confirmada por outra pesquisa que mostra os dois campos cabeça a cabeça, explodiu tal complacência.
Perder a Escócia provavelmente enfraquecerá o Reino Unido como potência, minará sua autoconfiança e o tornará mais introvertido, elevando as dúvidas sobre seu futuro na Europa. Muita energia foi gasta discutindo se uma Escócia independente poderia aderir à União Europeia. A Comissão Europeia afirmou na segunda-feira que mantém sua posição, segundo a qual a Escócia teria de sair da UE e recandidatar-se a uma adesão.
Ainda mais importante seria a ausência da Escócia no debate sobre se o Reino Unido deve continuar na UE. O premiê britânico, David Cameron prometeu um plebiscito sobre isso caso seja reeleito no ano que vem. No geral, os escoceses são muito mais pró-UE do que os ingleses. Se se separarem em 2016, não terão direito a opinar no referendo previsto para 2017 sobre continuar na UE.
Sem a Escócia, as chances de Inglaterra, País de Gales e Irlanda do Norte votarem por sair da UE serão maiores. Os escoceses podem ter só cerca de 4 milhões dos 45 milhões de eleitores do Reino Unido, mas, com a opinião dividida ao meio, podem ser o fiel da balança.
O presidente dos EUA, Barack Obama, disse em junho que o Reino Unido seria mais forte e mais robusto se a união fosse mantida, e Washington deixou claro que quer que o Reino Unido fique na UE.
Alex Salmond, líder nacionalista escocês, que lidera o Partido Nacional Escocês (SNP), diz que a maior ameaça à permanência da Escócia na UE é a promessa de Cameron de fazer um plebiscito sobre a permanência ou não na UE.
Instabilidade política
Uma independência da Escócia também modificaria o cálculo político nacional no restante do país.
O Partido Trabalhista, de centro-esquerda, hoje na oposição, tem 41 membros no Parlamento britânico vindos da Escócia, ao passo que os conservadores, de centro-direita, têm apenas um. Se esses forem excluídos da equação, os trabalhistas terão muita dificuldade de chegar ao poder no país.
"No Reino Unido, isso significará o fim de qualquer chance de os trabalhistas assumirem o poder", escreveu o ex-ministro do Trabalho europeu, Denis Macshane, no site "The Globalist", nesta semana.
Independentemente do resultado do plebiscito, os escoceses ainda participarão de uma eleição geral britânica, no ano que vem, o que cria outra incerteza. Se os trabalhistas ganharem, seu governo poderá perder a maioria parlamentar e cair depois que seus deputados escoceses se forem.
Isso levaria de volta à questão da permanência na UE, já que os conservadores estão comprometidos com a realização de um plebiscito, ao passo que os trabalhistas, não.
A ironia é que os conservadores têm sido tradicionalmente os mais vigorosos defensores da união britânica e muitos ficariam consternados com a independência, a despeito de ela dar ao partido uma vantagem eleitoral permanente no que restar do Reino Unido.
O futuro de Cameron
O premiê Cameron deverá enfrentar pressões para deixar o cargo, caso perca a Escócia. O nome completo de seu partido é Partido Conservador e Unionista.
Para agravar seus problemas, uma eleição parlamentar complementar (para preencher vagas abertas de deputados) em outubro poderia proporcionar ao Independence Party (Ukip), anti-EU, a sua primeiro cadeira no Parlamento britânico, após uma defecção do parlamentar conservador.
Se for forçado a deixar o cargo (Cameron já disse que não renunciará) haveria um clamor entre muitos eurocéticos em seu partido, e entre aqueles que temem perder sua cadeira para o Ukip, no sentido de escolher um premiê mais claramente anti-UE.
Isso, por sua vez, poderia aumentar as chances de uma saída britânica da UE, caso um novo líder conservador não se empenhar numa campanha em defesa de permanência no bloco.
Salmond pressionou pela inclusão de uma terceira pergunta no plebiscito, pela devolução de mais poderes do Reino Unido para a Escócia. A rejeição dessa alternativa por Cameron agora parece ter sido um erro de cálculo, já que os principais partidos tentam desesperadamente prometer aos escoceses mais autonomia se votarem "não".
Questões constitucionais
Mesmo que os escoceses votem pela permanência no Reino Unido, o gênio constitucional escapou da garrafa. A Escócia provavelmente terá maior autonomia se ficar.
O País de Gales quase inevitavelmente exigirá mais poderes para si próprio, e a chamada "questão West Lothian" - por que deveriam os parlamentares escoceses e galeses ter direito a votar leis que afetam apenas a Inglaterra, quando os parlamentares ingleses não podem fazer o inverso - chegaria a um ponto de intensidade crítica.
O nacionalismo inglês, até então confinado à periferia de direita, poderia decolar, o que exigiria uma revisão total do acordo constitucional do Reino Unido.
Incerteza para os investidores
Para os investidores, há muitas incógnitas a ponderar.
Que percentual da dívida do Reino Unido a Escócia assumiria? Será que manteria a libra como moeda nacional? Quanto a Escócia passaria a receber das receitas petrolíferas do Mar do Norte, cujas estimativas são extremamente variadas? Será que implementaria uma política fiscal distinta? Pode aderir à UE? A libra caiu mais de 3% em relação ao dólar na última semana, à medida que as pesquisas mostravam um dramático estreitamento nas diferenças de intenção de voto no plebiscito.
O SNP quer manter a libra como moeda, mas todos os principais partidos políticos britânicos se opõem a isso, criando incertezas que podem persistir durante os 18 meses reservados para negociar os detalhes de um divórcio amigável.
O que é certo é que, subtraída a Escócia, o Reino Unido cairia para a posição de sexta maior economia no mundo. Poderiam surgir até questões de longo prazo sobre se o país deveria manter o assento no Conselho de Segurança da ONU e permanecer no G-7, grupo das sete maiores economias ricas do mundo, num momento em que o poder está se deslocando para as grandes economias emergentes.
A economia do Reino Unido é o maior destino, na Europa, de investimento estrangeiro direto. Sem a Escócia, esse fluxo cairia, e o resto do déficit em conta corrente britânico poderia subir para um nível que deixaria os investidores desconfortáveis.
O Tesouro britânico disse que honrará todas as dívidas do governo, independentemente de os escoceses votarem pela independência, decisão que visa prevenir volatilidade no mercado de títulos.
Mas Salmond disse que uma Escócia independente pode ignorar sua parte na dívida do Reino Unido, se não for autorizada a usar a libra. Isso poderia tornar a Escócia um pária no mercado de títulos.
A Moody's, empresa de classificação de crédito, disse que uma Escócia independente poderia esperar uma nota de crédito de "grau de investimento", mas teria de arcar com custos de tomada de empréstimos mais altos do que o resto do Reino Unido. Se as negociações sobre como efetivar a separação revelarem-se ásperas, sua nota poderia ser inferior. A Fitch, empresa rival, disse que o Reino Unido necessitaria mais tempo para recuperar a nota AAA para sua dívida, caso a Escócia se separe.
Política monetária
O Banco da Inglaterra (BoE, o BC britânico) não foi além de dizer que tem planos de contingência para o caso de o "sim" vencer.
Mas os investidores começaram a jogar mais para o futuro suas expectativas de quando o Banco da Inglaterra começará a elevar os juros, dada a incerteza que poderá vir na esteira do plebiscito.
A média para empréstimos interbancários em libra no overnight mostra que o mercado estendeu sua previsão de um aumento dos juros para sete meses, em comparação com a expectativa de seis meses na semana passada.
"As implicações de maior incerteza econômica, volatilidade financeira e risco fiscal pós-separação resultariam provavelmente em adiamento de juros pelo BoE e em regulação bancária mais rigorosa para controlar o risco sistêmico numa união fragmentada", diz Lena Komileva, na G+ Economics.
Dilema para as empresas
Embora reticentes quanto a abrir sua preferência, alguns grandes grupos financeiros com sede na Escócia poderiam migrar para o sul, caso os escoceses optem pela independência. O Royal Bank of Scotland disse em junho estar avaliando opções para o caso de independência da Escócia, acrescentando que o plebiscito criou uma grande dose de incerteza.
Fontes do setor bancário disseram que o Lloyds Banking Group está considerando registrar sua sede em Londres, em vez de Edimburgo, caso a Escócia se isole.
Poderá também ocorrer uma fuga mais indisciplinada de capital. "No caso de uma vitória do "sim" há um risco significativo de depósitos bancários fugirem abruptamente da Escócia", disse o UBS.
A Standard Life, um peso-pesado no setor de aposentadorias e pensões, alertou que poderia, em parte, deixar a Escócia, e as gigantes petrolíferas Royal Dutch Shell e BP disseram que desejam que a Escócia permaneça no Reino Unido.
O Reino Unido tem quatro submarinos Trident equipados com ogivas nucleares na base naval de Faslane, na Escócia. O partido SNP quer que armas nucleares sejam removidas de uma Escócia independente tão logo seja possível.
Ex-chefes da defesa britânica advertiram contra isso no início deste ano, dizendo que a medida custaria bilhões de libras, eliminaria milhares de empregos e criaria ressentimento internacional.
Num momento de grande tensão com a Rússia, aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan, a aliança militar ocidental) ficariam preocupados, embora provavelmente viesse a levar anos para mudar a base naval.
O futuro dos submarinos nucleares são considerados por alguns observadores como uma das principais moedas de troca da Escócia para conseguir o que quer nos 18 meses de negociações que se seguiriam a um voto "sim" nos quais acertaria os detalhes de como abandonar o Reino Unido.
Separatismo europeu
A Europa observa atentamente, principalmente a Espanha.
O governo de Madrid recusou-se a permitir que a Catalunha realizasse uma votação sobre sua independência em novembro, mas, apesar disso, a região prometeu seguir em frente e realizar um plebiscito, mesmo com um resultado sem força legal. Se isso não for permitido, disse Artur Mas, o governador catalão, ele convocará uma eleição local como uma votação indireta pela independência.
Uma secessão escocesa encorajaria os catalães e alguns bascos, bem como, potencialmente, nacionalistas flamencos na Bélgica. Essa pode ser uma razão pela qual as autoridades europeias disseram aos escoceses que seria difícil a sua admissão imediata à UE. Novos candidatos precisam receber aprovação unânime dos países-membros existentes.
A independência da Escócia também poderia desestabilizar a Irlanda do Norte.
Apesar de um acordo de paz de 1998 ter, em larga medida, posto fim a décadas de violência sectária, a Irlanda do Norte continua profundamente dividida entre protestantes que, predominantemente, querem continuar a fazer parte do Reino Unido, e católicos que tendem a preferir uma unificação com a Irlanda.
Os unionistas têm laços particularmente estreitos com a Escócia, ao passo que os que são a favor da união com a Irlanda poderiam aproveitar-se de um voto "sim" dos escoceses para defender mais vigorosamente as suas reivindicações. (Tradução de Sergio Blum)
Economia: rebaixamento do rating pela Moody's
Pronto: lá vão os companheiros protestar novamente contra os tais de mercados, dizendo que só estão fazendo assim por motivos eleitorais.

Paulo Roberto de Almeida
Contas públicas
Moody's muda perspectiva de nota brasileira para "negativa"
Rating do país continua em Baa2. Deterioração fiscal e economia fraca são explicações da mudança

Logotipo da agência Moody's no escritório de Nova York (Reuters/VEJA)
A agência de classificação de risco Moody's mudou a perspectiva da nota de crédito do Brasil de "estável" para "negativa", refletindo a piora dos indicadores de risco dos títulos públicos do país. Isso quer dizer, na prática, que os analistas da agência diminuíram a confiança na capacidade de pagamento de dívida soberana do Brasil, na medida que aumenta a deterioração das contas públicas (política fiscal).
Entre janeiro e julho de 2014 foram economizados pelo setor público (Governo Central, estatais, Estados e municípios) apenas 24,7 bilhões de reais, menos da metade da cifra vista em igual período de 2013 (54,4 bilhões de reais). Além de ser o pior para o período desde o início da série histórica, em 2002, o resultado também está distante da meta de superávit primário para todo o ano, de 99 bilhões de reais, o equivalente a 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB). Segundo dados do Banco Central, em 12 meses até julho a economia feita para pagamento de juros equivale a apenas 1,22% PIB - ou seja, falta ainda 0,68 ponto porcentual.
A desaceleração da economia, que entrou em recessão no segundo trimestre e a baixa confiança dos investidores também pesaram na decisão da Moody's. "Esses ventos econômicos contrários representam desafios fiscais que impedem a reversão da tendência de baixo crescimento", comenta a agência em relatório divulgado nesta manhã. No primeiro trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro recuou 0,6%, depois de ter caído 0,2% (dados revisados) entre janeiro e março. Com isso, a economia brasileira entrou em recessão técnica, representada por dois trimestres consecutivos de queda do PIB.
Leia mais: Investimento recua 11,2% no 2º trimestre e pesa sobre PIB
PIB do 2º trimestre faz Brasil voltar para lanterna dos Brics
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A nota brasileira, Baa2, porém, continua mantida, apenas foi alterada a perspectiva, alegando que o país continua resiliente aos choques financeiros externos por seu colchão de reservas internacionais. O relatório cita ainda a vulnerabilidade limitada do balanço patrimonial do governo e os benefícios derivados da economia extensa e diversificada do Brasil.
A mudança para "negativa", vale ressaltar, é o primeiro passo para que haja um rebaixamento da nota, também chamada de rating. Essas são importantes sinalizadores da confiabilidade de um país (qual o risco de um calote). Recentemente a Argentina teve seu rating rebaixado devido aos problemas de negociação e pagamento de dívidas.
Leia mais: Fitch quer que próximo governo do Brasil ajuste políticas fiscais
S&P rebaixa ratings de nove bancos brasileiros
S&P rebaixa ratings de nove bancos brasileiros
Em março, a agência de classificação de risco Standard and Poor's (S&P) cortou a nota da dívida soberana brasileira para BBB-, de BBB. Em nota, ela explicou que "as ações contraditórias do governo, com implicações negativas para as contas públicas e a credibilidade da política econômica, somada às estimativas de desaceleração nos próximos dois anos, continuam a limitar a alternativas e o desempenho da economia brasileira". A agência havia alterado para "negativa" a perspectiva da nota brasileira em junho do ano passado — e, desde então, o mercado especulava sobre o rebaixamento.
Eleicoes 2014: pesquisas com base nas mentiras companheiras surtem efeito
A pancadaria atingiu Marina
G1, 9/09/2014
A pancadaria contra Marina Silva surtiu efeito nos dois principais colégios eleitorais do país, os Estados do Rio e de São Paulo que, juntos, somam 32% do eleitorado brasileiro (ou 44 milhões de votos). No período de uma semana, Marina perdeu o favoritismo no Rio para Dilma Rousseff (caiu de 38% para 34% das intenções de voto enquanto Dilma subiu de 32% para 37%) e também oscilou para baixo em São Paulo ( de 39% para 38% enquanto Dilma recuperou dois pontos, indo de 23% para 25% das intenções de voto). Isso é o que revela pesquisa Ibope divulgada nesta terça-feira (9).
Foi justamente nesses dois Estados onde Marina Silva apresentou o primeiro e mais rápido crescimento nesta corrida eleitoral. Os adversários Dilma e Aécio miraram nela, e Dilma levou a melhor. Aécio perdeu dois pontos percentuais no Rio e dois em São Paulo. O PT tem feito programas com críticas muito fortes a Marina e, no caso do Rio, afirmando que ela é contra a exploração do pré-sal e, por isso, iria abrir caminho para a privatização da Petrobras.
O Rio é o Estado que mais se beneficia dos recursos dos royalties do petróleo, e a reação foi imediata, com o recuo de quatro pontos percentuais. Marina já acusou o golpe e programou para a próxima quinta-feira um "abraço à Petrobras", uma manifestação em favor da empresa.
O ataque a Marina em São Paulo também já começou. Nesta semana, um comercial do PT tenta mostrar que, ao defender a independência do Banco Central, Marina Silva é a favor da privatização dos bancos públicos, como Banco do Brasil, e, ao mesmo tempo, repassaria poder aos bancos que poderiam subir juros. No programa de 30 segundos, imagens que são associadas a banqueiros sorridentes, enquanto os alimentos vão saindo da mesa do trabalhador – a mesma tática usada no começo da campanha para falar de "medo da volta ao passado".
Os aliados de Marina reconhecem que as críticas têm sido muito pesadas e estão afetando a aprovação da candidata do PSB. Eles avaliam que, como Dilma tem direito a 11 minutos diariamente no programa eleitoral, ela pode usar parte desse tempo para criticar Marina. Já Marina, com apenas dois minutos, teria de optar entre responder às críticas ou apresentar propostas. Este é o dilema que vive a candidatura do PSB neste momento.
A pesquisa Ibope sobre as disputas no Rio e São Paulo, onde estão as informações sobre a disputa presidencial, revela que o PSB terá de fazer ajustes na campanha. Já o PT, está convencido de que a fórmula está correta: esquecer a disputa com Aécio Neves e mirar exclusivamente em Marina Silva.
G1, 9/09/2014
A pancadaria contra Marina Silva surtiu efeito nos dois principais colégios eleitorais do país, os Estados do Rio e de São Paulo que, juntos, somam 32% do eleitorado brasileiro (ou 44 milhões de votos). No período de uma semana, Marina perdeu o favoritismo no Rio para Dilma Rousseff (caiu de 38% para 34% das intenções de voto enquanto Dilma subiu de 32% para 37%) e também oscilou para baixo em São Paulo ( de 39% para 38% enquanto Dilma recuperou dois pontos, indo de 23% para 25% das intenções de voto). Isso é o que revela pesquisa Ibope divulgada nesta terça-feira (9).
Foi justamente nesses dois Estados onde Marina Silva apresentou o primeiro e mais rápido crescimento nesta corrida eleitoral. Os adversários Dilma e Aécio miraram nela, e Dilma levou a melhor. Aécio perdeu dois pontos percentuais no Rio e dois em São Paulo. O PT tem feito programas com críticas muito fortes a Marina e, no caso do Rio, afirmando que ela é contra a exploração do pré-sal e, por isso, iria abrir caminho para a privatização da Petrobras.
O Rio é o Estado que mais se beneficia dos recursos dos royalties do petróleo, e a reação foi imediata, com o recuo de quatro pontos percentuais. Marina já acusou o golpe e programou para a próxima quinta-feira um "abraço à Petrobras", uma manifestação em favor da empresa.
O ataque a Marina em São Paulo também já começou. Nesta semana, um comercial do PT tenta mostrar que, ao defender a independência do Banco Central, Marina Silva é a favor da privatização dos bancos públicos, como Banco do Brasil, e, ao mesmo tempo, repassaria poder aos bancos que poderiam subir juros. No programa de 30 segundos, imagens que são associadas a banqueiros sorridentes, enquanto os alimentos vão saindo da mesa do trabalhador – a mesma tática usada no começo da campanha para falar de "medo da volta ao passado".
Os aliados de Marina reconhecem que as críticas têm sido muito pesadas e estão afetando a aprovação da candidata do PSB. Eles avaliam que, como Dilma tem direito a 11 minutos diariamente no programa eleitoral, ela pode usar parte desse tempo para criticar Marina. Já Marina, com apenas dois minutos, teria de optar entre responder às críticas ou apresentar propostas. Este é o dilema que vive a candidatura do PSB neste momento.
A pesquisa Ibope sobre as disputas no Rio e São Paulo, onde estão as informações sobre a disputa presidencial, revela que o PSB terá de fazer ajustes na campanha. Já o PT, está convencido de que a fórmula está correta: esquecer a disputa com Aécio Neves e mirar exclusivamente em Marina Silva.
Across the Empire, 2014 (13): em Vancouver, fazendo o balanço da primeira metade da viagem
Across the Empire, 2014 (13): em Vancouver
Fazendo o balanço da primeira metade da viagem
Paulo Roberto de Almeida
Postado no blog Diplomatizzando
Acabamos de jantar salmão com ervas
e azeite trufado, arroz integral com ervilhas, amêndoas fatiadas e torradas,
comprados no Whole Foods de Vancouver SW, tudo acompanhado por um Valpolicella
2013, que compramos numa loja de vinhos ao lado do hotel, West End Liquor
Store, tudo isso numa “modesta pensão” de chineses (ou pelo menos administrados
por eles), que se chama English Bay Hotel, pela simples razão de que fica a 200
passos da English Bay (que seria uma praia se os habitantes locais tivessem a
sorte de ter praias como as nossas). O salmão temperado e o arroz com ervilhas
ficaram por conta de Carmen Lícia; eu só tive de abrir o vinho (e carregar as
compras, claro). Mas estamos num apartamento de hotel de 4 peças, numa esquina
simpática de um pedacinho de Vancouver (e quem quiser localize no Google maps:
Denman Street, n. 1150), com o carro na garagem, e amplo espaço para espalharmos
coisas e ideias.
Como diria um radialista belga, cujo
nome esqueci, mas cujo mote de programa eu nunca esqueci – desde os primeiros
tempos em que me refugiei voluntariamente na Bélgica, fugindo de uma ditadura
no Brasil e saindo de um socialismo real, na então Tchecoslováquia – “la
culture c’est comme de la confiture: moins on a, plus on l’étend” (a cultura é
como um resto de geleia: quanto menos se tem, mais a espalhamos).
Pois viemos estendendo e aumentando
nossa cultura desde Hartford, quase nas margens do Atlântico norte, até
Vancouver, no Pacífico norte, um trajeto de 4.091 milhas até entrar no hotel,
ou cerca de 6.545 km. Isso faz cerca de 340 milhas por dia, ou 545 kms em cada
um dos doze dias que levamos para chegar até o outro lado dos EUA e agora no
Canadá extremo-ocidental. Aliás, no meio do caminho entre Seattle e Vancouver,
o carro sinalizou exatamente 33.333 milhas, ou 53,3 mil km no total. Em 18
meses de posse desse carro, fizemos o equivalente a 3 mil km por mês, ou 100
por dia. Como eu moro a duas quadras do trabalho, praticamente não existem
percursos urbanos e o essencial foi feito mesmo nas estradas americanas.
Justamente, em toda a presente viagem, não
tivemos nenhum problema de estrada, nenhum buraco, não fosse por um pedregulho
arremessado por um caminhão de passagem, que deixou um impacto no para-brisa, e
vai me obrigar a trocá-lo, uma vez de volta a Hartford. Quando digo nenhum
problema, é nenhum problema mesmo, pois que viajamos tranquilamente, em toda
segurança, com alguns pontos de lentidão por trabalhos de manutenção (mas muito
bem sinalizados), e paradas sempre satisfatórias, tanto para comer, quanto para
dormir (geralmente em Quality Inn, ou Holiday Inn). Banheiros limpos em todas
as paradas, com raríssimas exceções, comida boa e barata (entre fast food e
saladas), e sobretudo quase nenhum pedágio (salvo nos estados mais capitalistas
da costa leste). Gasolina a preços razoáveis, mas os americanos gostariam que
ela baixasse ainda mais, com o desenvolvimento de novas fontes de energia no
próprio país. Tempo ótimo na quase totalidade do tempo: sol, mas bastante
ameno.
Vejamos agora os custos obrigatórios
dessa viagem e uma comparação com o que seria gasto no Brasil. Não considero
hotel ou comida, pois são gastos arbitrários, ou seja, dependem de escolhas:
pode-se viajar em hotéis cinco estrelas, comendo em restaurantes sofisticados
toda vez, ou pode-se fazer, como estamos fazendo mais por imposição do perfil
americano de viagens do que por opção, ficar em hotéis três estrelas e fazer
lanche durante os percursos, o que reduz bastante os valores efetivamente
gastos.
Pois bem: pelos meus registros,
abasteci o carro com 130 galões de gasolina regular, a um custo médio de 3,64
dólares o galão, o que perfaz US$ 475,74 (ou, cerca de R$ 1.084,00, a um câmbio
de 2,28). Se fossemos traduzir isso para o Brasil, a um preço de 3,15 reais por
litro de gasolina, eu teria gasto R$ 1.500,00, ou praticamente 50% a mais.
Imagino que estando os preços defasados, por decisão política do governo,
poderia ser mais, mas mesmo nesse montante, estamos falando de um custo 50%
maior para viajar no Brasil do que nos EUA (sem mencionar os problemas nas
estradas, pedágios mais agressivos em certos lugares, bem como o exagero dos
preços nos chamados serviços non
tradables, que são justamente hotéis e restaurantes).
Falando agora da viagem, o que
poderia sintetizar: como sempre acontece, acabamos fazendo mais do que o
planejado, e em menor espaço de tempo: pelo meu planejamento inicial estaríamos
ainda, nesta terça-feira 9 de setembro, viajando de Portland a Tacoma, e isso
fizemos no domingo, tendo depois feito Seattle em um dia, em lugar dos dois
programados. Em conclusão, estamos adiantados três dias, pois só estaríamos
chegando a Vancouver na sexta-feira, dia 12 de setembro. Vamos ficar os três
dias programados nesta cidade, pois tem muita coisa para ver, e vamos também
descansar um pouco, e cuidar dos trabalhos. Eu preciso revisar um capítulo
inteiro de um livro em inglês, até o dia 15 próximo, para mandar ao meu amigo
Ted Goertzel, que quer publicar um livro coletivo sobre o Brasil e pediu uma
colaboração minha. Tenho também outros trabalhos na cabeça, em parte vinculados
ao processo político-eleitoral em curso no Brasil.
Agora é hora de começar a pensar na
volta: daqui não há mais marcha para oeste, a não ser que fôssemos para o
Alaska, de barco ou pelas estradas da Columbia Britânica, o que não é o caso.
Agora não vou ter mais o sol pela frente nos finais de tarde, apenas numa
pequena parte da manhã (e isso se sairmos cedo do hotel, o que quase nunca é o
caso, pois sempre ficamos trabalhando até tarde, pois também viajamos até quase
22hs em grandes etapas). Preciso retirar meu Guia Michelin Canadá do carro,
pois ele tem muitas páginas dedicadas a Vancouver.
Amanhã começam verdadeiramente as
visitas, que antecipamos bastante agradáveis, tanto pela ordem britânica,
simpatia canadense, limpeza suíça e povo muito alegre e colorido (com todo
aquele pessoal pintado, grafitado, perfurado que anda por aí...). Abaixo, mais
uma vez, os links das postagens anteriores...
Paulo
Roberto de Almeida
Portland,
9 de setembro de 2014
0) Crossing the Empire (0): segunda viagem
através dos EUA: 12,6 mil km em 30 dias: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/08/crossing-empire-segunda-viagem-atraves.html
1) Across the Empire (1) First day: boring roads, sempre mais do que o
planejado...: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/08/across-empire-1-first-day-boring-roads.html
2) Across the Empire (2) Second day: only the road, no more than the
road...: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/08/across-empire-2-second-day-only-road-no.html
3) Across the Empire (3): Des Moines, Omaha e o caminho dos pioneiros...: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/09/across-empire-3-des-moines-omaha-e-o.html
4) Across the Empire (4): de North Platte, Nebraska, a Denver, Colorado: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/09/across-empire-4-de-north-platte.html
5) Across the Empire (5): em Denver, num jardim botânico de vidro (Chihuly):
http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/09/across-empire-5-em-denver-num-jardim.html).
6) Across the Empire (6): Leituras no Colorado: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/09/across-empire-6-leituras-no-colorado.html
7) Across the Empire (7): de Denver a Cody, leituras no velho Oeste: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/09/across-empire-7-leituras-no-velho-oeste.html
8) Across the Empire (8): tinha um Yellowstone no caminho: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/09/across-empire-8-tinha-um-yellowstone-no.html
9) Across the Empire (9): de Twin Falls a Portland, pelo Oregon Trail: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/09/across-empire-9-de-twin-falls-portland.html
10) Across the Empire (10): em Portland, buscando cultura: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/09/across-empire-10-em-portland-buscando.html
11) Across the Empire (11): de Portland, OR, a Tacoma, WA: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/09/across-empire-11-de-portland-or-tacoma.html
12) Across the Empire (12): de novo com Chihuly, desta vez em
Seattle: http://diplomatizzando.blogspot.ca/2014/09/across-empire-12-de-novo-com-chihuly.html
13) Across the Empire (13): em Vancouver, fazendo o balanço da metade
do caminho: http://diplomatizzando.blogspot.ca/2014/09/across-empire-2014-13-em-vancouver.html
terça-feira, 9 de setembro de 2014
A Decada Perdida (dos companheiros, claro) - Vinícius Carrasco, João M.P. de Mello e Isabela Duarte
Um documento que precisa ser lido
Antonio Delfim Netto
Valor Econômico, 9/09/2014
A sociedade brasileira está num momento de reflexão. Deve escolher quem dará continuidade à construção da sociedade civilizada inscrita na Constituição de 1988. É tempo, portanto, de avaliações. É preciso reconhecer que essas nunca são "neutras", mesmo as que, honestamente, se esforçam para sê-lo usando métodos "objetivos". Mesmo assim, frequentemente, um descuidado adjetivo emerge aqui ou ali, para provar a impossibilidade de qualquer analista de libertar-se dos valores ínsitos na sua "visão do mundo".
Recentemente, três excelentes economistas condicionados, por formação, à análise mais objetiva e menor viés ideológico quanto possível, apresentaram competente e extenso trabalho que vale a pena ler. Trata-se do texto nº 626, do Departamento de Economia da PUC, "A Década Perdida 2003-2012", de Vinícius Carrasco, João M.P. de Mello e Isabela Duarte. O esforço é sério e em larga medida bem-sucedido. A metodologia usada, conhecida pelo nome de "controle sintético", constrói "contrafactuais" agrupando países escolhidos "neutramente" por algoritmos estatísticos para cada item da comparação desejada.
Na comparação da taxa de crescimento do PIB, por exemplo, o método "escolhe" alguns países que antes de um evento conhecido e dado (eleição de Lula), apresentavam crescimento agregado parecido com o Brasil. Esses constituirão o "grupo de controle sintético", contra o qual se medirá o desempenho da economia brasileira.
Trata-se de corajoso avanço da aplicação da inferência causal a problemas sociais, inspirado nos trabalhos do estatístico P.R. Rosenbaum: corrige o óbvio viés que existe quando se compara um novo governo com o antecessor depois da emergência de uma nova política social e econômica.
O problema fundamental é o seguinte: com a política do governo Lula, os cidadãos brasileiros podem "sentir" se melhoraram ou não, social e economicamente, quando comparada a sua situação com a que tinham no governo FHC. O que eles não sabem e nem podem avaliar é "quanto mais" ela poderia ter melhorado, se Lula tivesse adotado políticas diferentes.
O problema não é simples: consiste em mimetizar um efeito causal num experimento bem imaginado, mas que está longe de satisfazer as condições do controle dos experimentos da física ou das ciências biológicas ou da aleatoriedade nos experimentos sociais. Como reconhecem corretamente os autores, "a vitória da oposição (de Lula em 2002) não foi fortuita: havia uma insatisfação com o governo (FHC). O Brasil partia de uma situação relativamente frágil, fragilidade agravada pela própria perspectiva de troca de governo. O fato do Brasil estar na largada, em uma situação diferente dos outros países atrapalha que sejam interpretadas como causais quaisquer diferenças que porventura apareçam entre o Brasil e outros países depois de 2002".
País cresceu 10% menos do que poderia entre 2003 e 2012
Têm ainda razão os autores quando afirmam que o método do controle sintético é o "estado da arte" na inferência causal com dados não experimentais, ainda que, às vezes, a seleção objetiva do grupo de controle recuse a intuição ordinária.
Apenas para dar ao leitor um aperitivo que lhe aguce o paladar pela leitura do trabalho, vamos explorar a análise da taxa de crescimento econômico, ou seja, o crescimento do PIB per capita. O resultado final está no gráfico abaixo. Nele o PIB per capita é medido em dólares constantes de 2005. O grupo de controle sintético é constituído de Tailândia (com peso 0,206), Turquia (0,577), Ucrânia (0,146) e África do Sul (0,071).
Intuitivamente a escolha não parece ter explicação fácil, mas os resultados parecem robustos quando comparados com as alternativas apresentadas no trabalho, quando varia o universo da escolha do grupo de controle sintético. Vemos que no período 1995 a 2002, o crescimento do PIB per capita do grupo sintético mimetizou bastante bem o crescimento do Brasil. A partir de 2003 (quando muda a política social e econômica), o crescimento médio do grupo de controle sintético é visivelmente maior do que o nosso.
O Brasil seguramente cresceu entre 2003 e 2012, mas o gráfico mostra que há razões para supor que cresceu 10% menos do que provavelmente poderia ter crescido, com relação ao melhor grupo de comparação. Esse, dizem os autores, "é o nosso resultado principal". Nas comparações sociais que envolvem o crescimento civilizado, por outro lado, o Brasil se sai, em geral, tão bem ou melhor do que os grupos de comparação selecionados pelo algoritmo impessoal. Tanto os ufanistas quanto os céticos devem ler o trabalho. Ele é importante e mais crível do que seu título.
(Antonio Delfim Netto é professor emérito da FEA-USP, ex-ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento dos governos militares)
Antonio Delfim Netto
Valor Econômico, 9/09/2014
A sociedade brasileira está num momento de reflexão. Deve escolher quem dará continuidade à construção da sociedade civilizada inscrita na Constituição de 1988. É tempo, portanto, de avaliações. É preciso reconhecer que essas nunca são "neutras", mesmo as que, honestamente, se esforçam para sê-lo usando métodos "objetivos". Mesmo assim, frequentemente, um descuidado adjetivo emerge aqui ou ali, para provar a impossibilidade de qualquer analista de libertar-se dos valores ínsitos na sua "visão do mundo".
Recentemente, três excelentes economistas condicionados, por formação, à análise mais objetiva e menor viés ideológico quanto possível, apresentaram competente e extenso trabalho que vale a pena ler. Trata-se do texto nº 626, do Departamento de Economia da PUC, "A Década Perdida 2003-2012", de Vinícius Carrasco, João M.P. de Mello e Isabela Duarte. O esforço é sério e em larga medida bem-sucedido. A metodologia usada, conhecida pelo nome de "controle sintético", constrói "contrafactuais" agrupando países escolhidos "neutramente" por algoritmos estatísticos para cada item da comparação desejada.
Na comparação da taxa de crescimento do PIB, por exemplo, o método "escolhe" alguns países que antes de um evento conhecido e dado (eleição de Lula), apresentavam crescimento agregado parecido com o Brasil. Esses constituirão o "grupo de controle sintético", contra o qual se medirá o desempenho da economia brasileira.
Trata-se de corajoso avanço da aplicação da inferência causal a problemas sociais, inspirado nos trabalhos do estatístico P.R. Rosenbaum: corrige o óbvio viés que existe quando se compara um novo governo com o antecessor depois da emergência de uma nova política social e econômica.
O problema fundamental é o seguinte: com a política do governo Lula, os cidadãos brasileiros podem "sentir" se melhoraram ou não, social e economicamente, quando comparada a sua situação com a que tinham no governo FHC. O que eles não sabem e nem podem avaliar é "quanto mais" ela poderia ter melhorado, se Lula tivesse adotado políticas diferentes.
O problema não é simples: consiste em mimetizar um efeito causal num experimento bem imaginado, mas que está longe de satisfazer as condições do controle dos experimentos da física ou das ciências biológicas ou da aleatoriedade nos experimentos sociais. Como reconhecem corretamente os autores, "a vitória da oposição (de Lula em 2002) não foi fortuita: havia uma insatisfação com o governo (FHC). O Brasil partia de uma situação relativamente frágil, fragilidade agravada pela própria perspectiva de troca de governo. O fato do Brasil estar na largada, em uma situação diferente dos outros países atrapalha que sejam interpretadas como causais quaisquer diferenças que porventura apareçam entre o Brasil e outros países depois de 2002".
País cresceu 10% menos do que poderia entre 2003 e 2012
Têm ainda razão os autores quando afirmam que o método do controle sintético é o "estado da arte" na inferência causal com dados não experimentais, ainda que, às vezes, a seleção objetiva do grupo de controle recuse a intuição ordinária.
Apenas para dar ao leitor um aperitivo que lhe aguce o paladar pela leitura do trabalho, vamos explorar a análise da taxa de crescimento econômico, ou seja, o crescimento do PIB per capita. O resultado final está no gráfico abaixo. Nele o PIB per capita é medido em dólares constantes de 2005. O grupo de controle sintético é constituído de Tailândia (com peso 0,206), Turquia (0,577), Ucrânia (0,146) e África do Sul (0,071).
Intuitivamente a escolha não parece ter explicação fácil, mas os resultados parecem robustos quando comparados com as alternativas apresentadas no trabalho, quando varia o universo da escolha do grupo de controle sintético. Vemos que no período 1995 a 2002, o crescimento do PIB per capita do grupo sintético mimetizou bastante bem o crescimento do Brasil. A partir de 2003 (quando muda a política social e econômica), o crescimento médio do grupo de controle sintético é visivelmente maior do que o nosso.
O Brasil seguramente cresceu entre 2003 e 2012, mas o gráfico mostra que há razões para supor que cresceu 10% menos do que provavelmente poderia ter crescido, com relação ao melhor grupo de comparação. Esse, dizem os autores, "é o nosso resultado principal". Nas comparações sociais que envolvem o crescimento civilizado, por outro lado, o Brasil se sai, em geral, tão bem ou melhor do que os grupos de comparação selecionados pelo algoritmo impessoal. Tanto os ufanistas quanto os céticos devem ler o trabalho. Ele é importante e mais crível do que seu título.
(Antonio Delfim Netto é professor emérito da FEA-USP, ex-ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento dos governos militares)
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