Across the Empire, 2014 (13): em Vancouver
Fazendo o balanço da primeira metade da viagem
Paulo Roberto de Almeida
Postado no blog Diplomatizzando
Acabamos de jantar salmão com ervas
e azeite trufado, arroz integral com ervilhas, amêndoas fatiadas e torradas,
comprados no Whole Foods de Vancouver SW, tudo acompanhado por um Valpolicella
2013, que compramos numa loja de vinhos ao lado do hotel, West End Liquor
Store, tudo isso numa “modesta pensão” de chineses (ou pelo menos administrados
por eles), que se chama English Bay Hotel, pela simples razão de que fica a 200
passos da English Bay (que seria uma praia se os habitantes locais tivessem a
sorte de ter praias como as nossas). O salmão temperado e o arroz com ervilhas
ficaram por conta de Carmen Lícia; eu só tive de abrir o vinho (e carregar as
compras, claro). Mas estamos num apartamento de hotel de 4 peças, numa esquina
simpática de um pedacinho de Vancouver (e quem quiser localize no Google maps:
Denman Street, n. 1150), com o carro na garagem, e amplo espaço para espalharmos
coisas e ideias.
Como diria um radialista belga, cujo
nome esqueci, mas cujo mote de programa eu nunca esqueci – desde os primeiros
tempos em que me refugiei voluntariamente na Bélgica, fugindo de uma ditadura
no Brasil e saindo de um socialismo real, na então Tchecoslováquia – “la
culture c’est comme de la confiture: moins on a, plus on l’étend” (a cultura é
como um resto de geleia: quanto menos se tem, mais a espalhamos).
Pois viemos estendendo e aumentando
nossa cultura desde Hartford, quase nas margens do Atlântico norte, até
Vancouver, no Pacífico norte, um trajeto de 4.091 milhas até entrar no hotel,
ou cerca de 6.545 km. Isso faz cerca de 340 milhas por dia, ou 545 kms em cada
um dos doze dias que levamos para chegar até o outro lado dos EUA e agora no
Canadá extremo-ocidental. Aliás, no meio do caminho entre Seattle e Vancouver,
o carro sinalizou exatamente 33.333 milhas, ou 53,3 mil km no total. Em 18
meses de posse desse carro, fizemos o equivalente a 3 mil km por mês, ou 100
por dia. Como eu moro a duas quadras do trabalho, praticamente não existem
percursos urbanos e o essencial foi feito mesmo nas estradas americanas.
Justamente, em toda a presente viagem, não
tivemos nenhum problema de estrada, nenhum buraco, não fosse por um pedregulho
arremessado por um caminhão de passagem, que deixou um impacto no para-brisa, e
vai me obrigar a trocá-lo, uma vez de volta a Hartford. Quando digo nenhum
problema, é nenhum problema mesmo, pois que viajamos tranquilamente, em toda
segurança, com alguns pontos de lentidão por trabalhos de manutenção (mas muito
bem sinalizados), e paradas sempre satisfatórias, tanto para comer, quanto para
dormir (geralmente em Quality Inn, ou Holiday Inn). Banheiros limpos em todas
as paradas, com raríssimas exceções, comida boa e barata (entre fast food e
saladas), e sobretudo quase nenhum pedágio (salvo nos estados mais capitalistas
da costa leste). Gasolina a preços razoáveis, mas os americanos gostariam que
ela baixasse ainda mais, com o desenvolvimento de novas fontes de energia no
próprio país. Tempo ótimo na quase totalidade do tempo: sol, mas bastante
ameno.
Vejamos agora os custos obrigatórios
dessa viagem e uma comparação com o que seria gasto no Brasil. Não considero
hotel ou comida, pois são gastos arbitrários, ou seja, dependem de escolhas:
pode-se viajar em hotéis cinco estrelas, comendo em restaurantes sofisticados
toda vez, ou pode-se fazer, como estamos fazendo mais por imposição do perfil
americano de viagens do que por opção, ficar em hotéis três estrelas e fazer
lanche durante os percursos, o que reduz bastante os valores efetivamente
gastos.
Pois bem: pelos meus registros,
abasteci o carro com 130 galões de gasolina regular, a um custo médio de 3,64
dólares o galão, o que perfaz US$ 475,74 (ou, cerca de R$ 1.084,00, a um câmbio
de 2,28). Se fossemos traduzir isso para o Brasil, a um preço de 3,15 reais por
litro de gasolina, eu teria gasto R$ 1.500,00, ou praticamente 50% a mais.
Imagino que estando os preços defasados, por decisão política do governo,
poderia ser mais, mas mesmo nesse montante, estamos falando de um custo 50%
maior para viajar no Brasil do que nos EUA (sem mencionar os problemas nas
estradas, pedágios mais agressivos em certos lugares, bem como o exagero dos
preços nos chamados serviços non
tradables, que são justamente hotéis e restaurantes).
Falando agora da viagem, o que
poderia sintetizar: como sempre acontece, acabamos fazendo mais do que o
planejado, e em menor espaço de tempo: pelo meu planejamento inicial estaríamos
ainda, nesta terça-feira 9 de setembro, viajando de Portland a Tacoma, e isso
fizemos no domingo, tendo depois feito Seattle em um dia, em lugar dos dois
programados. Em conclusão, estamos adiantados três dias, pois só estaríamos
chegando a Vancouver na sexta-feira, dia 12 de setembro. Vamos ficar os três
dias programados nesta cidade, pois tem muita coisa para ver, e vamos também
descansar um pouco, e cuidar dos trabalhos. Eu preciso revisar um capítulo
inteiro de um livro em inglês, até o dia 15 próximo, para mandar ao meu amigo
Ted Goertzel, que quer publicar um livro coletivo sobre o Brasil e pediu uma
colaboração minha. Tenho também outros trabalhos na cabeça, em parte vinculados
ao processo político-eleitoral em curso no Brasil.
Agora é hora de começar a pensar na
volta: daqui não há mais marcha para oeste, a não ser que fôssemos para o
Alaska, de barco ou pelas estradas da Columbia Britânica, o que não é o caso.
Agora não vou ter mais o sol pela frente nos finais de tarde, apenas numa
pequena parte da manhã (e isso se sairmos cedo do hotel, o que quase nunca é o
caso, pois sempre ficamos trabalhando até tarde, pois também viajamos até quase
22hs em grandes etapas). Preciso retirar meu Guia Michelin Canadá do carro,
pois ele tem muitas páginas dedicadas a Vancouver.
Chegando aqui, depois de deixar as
malas no hotel, fomos percorrer a cidade, de carro, além de atravessar duas ou
três pontes, fomos a Chinatown, jardim do Dr. Sun Yat-sen e o centro cultural
chinês, onde visitamos uma exposição sobre os chineses que emigraram para cá,
como simples operários manuais de construção de ferrovias, sendo que alguns
lutaram nas fileiras canadenses nas duas guerras mundiais do século 20.
Tirei
uma foto de um rato do zodíaco chinês, meu símbolo de rato de biblioteca.
Voltando para o hotel, uma parada no supermercado, para as compras descritas no
primeiro parágrafo. Ainda é cedo, ou seja, 23:15hs, o que me habilita ainda a
ler toda a correspondência, responder o que for necessário, postar uma ou outra
matéria de interesse no blog (esta postagem imediatamente), e depois ler o que
me resta de informação sobre Vancouver, nos dois guias que temos conosco.
Amanhã começam verdadeiramente as
visitas, que antecipamos bastante agradáveis, tanto pela ordem britânica,
simpatia canadense, limpeza suíça e povo muito alegre e colorido (com todo
aquele pessoal pintado, grafitado, perfurado que anda por aí...). Abaixo, mais
uma vez, os links das postagens anteriores...
Paulo
Roberto de Almeida
Portland,
9 de setembro de 2014
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