segunda-feira, 24 de abril de 2023

Lula perdido no vasto mundo - Rolf Kuntz (OESP)

ESPAÇO ABERTO

Lula perdido no vasto mundo

Rolf Kuntz

O Estado de S. Paulo, 23/04/2023

Com muito falatório e pouco governo, Lula se afunda em bobagens, iguala agressor e agredido e assusta os parceiros ocidentais 

O mundo, mundo, vasto mundo de Carlos Drummond de Andrade é certamente maior que o universo petista, insuficiente até para eleger o candidato Luiz Inácio Lula da Silva em 2022. Aparentemente esquecido da ampla diversidade política de seus eleitores, o presidente Lula insiste em agir como se o Brasil e o sistema internacional fossem extensões de Vila Euclides, berço sindical de sua carreira pública. Rebaixado à condição de pária pelo presidente Jair Bolsonaro, o País começou, com a mudança de governo, a retomar sua posição no sistema regional e na ordem global. Esse retorno seria mais fácil e mais seguro se o principal porta-voz brasileiro parasse de falar bobagens, levasse em conta o Direito Internacional, deixasse de afrontar sem razão Estados Unidos e Europa e considerasse mais seriamente os interesses nacionais.

O presidente brasileiro poderia, talvez, pensar no exemplo de seus gentis anfitriões na China, maior parceira comercial do Brasil. Sem descuidar de seus interesses, os chineses continuaram, nos últimos três anos, tomando espaço dos exportadores brasileiros nos maiores mercados sul-americanos. Em 2022, ocuparam o primeiro lugar nas vendas à Argentina.

O presidente Lula conseguiu impedir, por enquanto, acordos comerciais entre a China e outros países do Mercosul. Mas só impedirá a desorganização do bloco se coordenar uma negociação conjunta com os chineses. Isso dependerá muito mais de ação diplomática e de bons argumentos práticos do que de retórica. Paraguaios e uruguaios têm respeitáveis motivos, há muito tempo, para abandonar a fidelidade a um bloco estagnado e distante dos objetivos originais de cooperação produtiva e de inserção global.

Mas o presidente Lula tem mostrado mais inclinação para a retórica, para as picuinhas e para o falatório de palanque do que para a administração e para as políticas mais ambiciosas. Demorou cerca de três meses e meio para apresentar suas metas fiscais e formalizar o compromisso, ainda discutível, com o equilíbrio das contas públicas. Esse objetivo dependerá, como já indicaram analistas, de maior arrecadação, embora o ministro da Fazenda negue a intenção de impor maior peso aos contribuintes. Além disso, nenhum plano ou roteiro de governo foi apresentado até agora. Mas o presidente encontrou tempo para tolices administrativas, como a transferência da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), importante instrumento da política agrícola, para o insignificante Ministério do Desenvolvimento Agrário – uma decisão tecnicamente injustificada e obviamente ideológica.

Na política externa, as manifestações mais ostensivas têm sido grotescas ou desastrosas. A viagem à China foi encerrada com uma declaração infantil sobre a predominância do dólar em negócios internacionais. Sem se envolver no episódio ridículo, o presidente Xi Jinping até pode ter gostado da canelada nos Estados Unidos, mas certamente conservará o enorme volume de reservas cambiais em moeda americana, cerca de US$ 3,1 trilhões.

Se a segunda maior economia do mundo conserva esse dinheiro, deve haver uma razão ponderável, assim como deve haver uma boa razão para o uso do euro no dia a dia da União Europeia. Ninguém está proibido de negociar com outras moedas, especialmente em blocos econômicos, mas quem quer acumular reservas em reais, liras turcas ou pesos argentinos? Lula terá, em algum momento, considerado essas questões?

Nem todas as falas de Lula têm sido, no entanto, inconsequentes e engraçadas. Ao tratar como equivalentes um Estado agressor, a Rússia, e um Estado agredido, a Ucrânia, o presidente brasileiro atropelou uma das noções mais importantes do Direito Internacional, enunciada no artigo 51 da Carta das Nações Unidas e amadurecida em séculos de negociações e de elaborações teóricas.

Pelas normas internacionais, a violência só é admissível como resposta a um ataque. Também é inaceitável a chamada agressão preventiva – quando se fala, por exemplo, no perigo potencial gerado pela expansão da Otan ou quando se denuncia, com ou sem razão, a existência de armas de destruição em massa num país qualquer. O ataque à Ucrânia é tão contrário à regra internacional quanto foi a invasão do Iraque no começo deste século.

Pode-se até desculpar, em Lula, a ignorância da lei internacional, mas, neste caso, ele ignorou também uma norma simples do Código Penal e, é claro, uma regra básica da ética e da civilidade. Ao cometer esse erro, alinhou o Brasil à política criminosa de um autocrata. Diante da reação internacional, e certamente aconselhado por auxiliares mais informados e mais sensatos, o presidente mudou suas palavras e condenou, na terça-feira, a violação territorial da Ucrânia. Mas a tentativa de correção soou fraca e foi insuficiente para anular o enorme equívoco das declarações anteriores. Com tantos desastres, Lula talvez entenda, finalmente, a conveniência de falar menos, de consultar mais os assessores mais prudentes e de – afinal – dar mais atenção ao trabalho e começar, de fato, a governar o País.


domingo, 23 de abril de 2023

Tunisia, a primeira nação árabe a iniciar a primavera democrática é a última a recair na ditadura, depois de todas as outras - David D. Kirkpatrick (The New Yorker)

 Triste evolução da democrácia islâmica, estrangulada pelas suas contradições internas.

Tunisia Arrests Its Most Prominent Opposition Leader

Rached Ghannouchi has been a voice for democracy in his nation and across the Muslim world.

Tunisia, the birthplace of the Arab Spring, was the last place where it failed. After a decade of freedom and democracy, in 2021 a new strongman, President Kais Saied, shut down the parliament and, soon after, began imposing an authoritarian constitution and arresting his critics. This week, the police finally came for Rached Ghannouchi, the leader of Tunisia’s largest political party and the Arab world’s most influential thinker about the potential synthesis of liberal democracy and Islamic governance.

Born in 1941 to impoverished peasant farmers in remote southern Tunisia, Ghannouchi studied in Cairo, Damascus, and Paris; worked menial jobs in Europe; and returned to Tunis, in 1971. Muslim Brotherhood-style Islamist politics was on the rise across the region, as an alternative to the autocracies in power, and, in 1981, Ghannouchi co-founded a Tunisian Islamist movement. He was jailed and tortured for three years, and in 1987 he was arrested again, sentenced to death, and exiled to London. (Other Arab states would not take him.)

Ghannouchi’s examination of Britain’s liberal democracy through an Islamic lens set him apart from a generation of Arab intellectuals. Islamic scholars had long ago concluded that in the true “Abode of Islam” a Muslim must feel secure in his liberty, property, religion, and dignity, Ghannouchi wrote in his landmark treatise, “Public Freedoms in the Islamic State,” which he began writing in prison and published, in Arabic, in 1993. So why had he found that security only in the West? A true Islamic state, he concluded, must be founded on “freedom of conscience” for Muslim and non-Muslim alike. Quoting a revered twelfth-century scholar, Ghannouchi urged Islamists to learn from Western democracy—to benefit “from the best of human experiments regardless of their religious origins, since wisdom is Shari’a’s twin.”

He returned to Tunisia, in 2011, when a spontaneous wave of protests against police brutality drove its longtime ruler into exile and set the Arab Spring revolts in motion. Ghannouchi helped make the country’s political transition the most liberal in the region, and he did his best to salvage the prospects for democracy elsewhere. In the late spring of 2013—a decade ago—he flew to Egypt to offer advice to its first democratically elected President, Mohamed Morsi, of the Muslim Brotherhood. The hopefulness of those months is now difficult to remember. Tunisia, Egypt, and Libya had all held credible elections and had started drafting new charters. Western experts cited Yemen as a model for the peaceful handover of power. Even in Syria most rebels still marched under the banner of democracy, rather than of extremist Islam; the uprising had not yet devolved into a sectarian civil war. But a sandstorm was blowing toward Tahrir Square, where two and a half years earlier an eighteen-day sit-in, inspired by Tunisia, had toppled President Hosni Mubarak and opened the way for Morsi. Now Morsi’s opponents were calling for protests to demand his resignation, and the head of the armed forces was sending mixed signals about his allegiance.

Ghannouchi had spent more than two decades thinking and writing about the same promises that Egypt’s Muslim Brothers had campaigned on—combining Islamic governance with democratic elections and individual freedoms. During his trip to Cairo, he told me a few months later, at his party’s headquarters in Tunis, he had tried to convince Morsi that, in order to achieve those goals, he should voluntarily forfeit some power. (Morsi advisers later confirmed the broad outlines of Ghannouchi’s account, which he told me on the condition that I keep it private at the time.) After revolutions like those in Egypt and Tunisia, a majority party should understand the anxious vulnerability of political or religious minorities, such as Egypt’s secular-minded liberals and Coptic Christians. They had been afforded at least some protections under the old authoritarian order, and those were now gone, with little reason yet to trust promises about the rule of law, checks and balances, and individual rights. Precisely because of the Brotherhood’s electoral success—Morsi had already won ratification of the new constitution—in the interest of democracy and to reassure the Party’s weaker rivals, it should bring in a unity government ahead of another election. Why remain the lightning rod for his opponents’ fears or resentments? “The democracy of consensus succeeds—not the democracy of the majority,” Ghannouchi told me.

Morsi rejected that advice, convinced that yielding power under threat of protests would be a capitulation to political extortion and set a dangerous precedent.. Had Morsi followed Ghannouchi’s advice, perhaps he could have defused the protests that filled the streets on June 30th, demanding his ouster, or at least won over more Egyptian liberals. We’ll never know: on July 3, 2013, General Abdel Fattah el-Sisi—now President Sisi, possibly for life—ousted Morsi from power, ending Egypt’s thirty-month experiment with democracy and freedom.

More than a thousand Egyptian Islamists were killed in the streets for opposing the coup. Tens of thousands more were jailed. Those who were underground or in exile demanded retribution against the ostensibly liberal factions who initially supported Sisi’s takeover. But Ghannouchi still urged reconciliation. “The Egyptian ship needs to include all Egyptians and not throw some of them into the water,” he told me. “There should be no collective punishment. The cure for a failed democracy is more democracy.”

In the months after the Egyptian coup, one Arab Spring revolt after another foundered in despair and extremism—a reversal of 2011, when the Tahrir Square sit-in stirred democracy movements in capitals across the region. Tunisia was the exception to the dark turn after the coup, in part because Ghannouchi followed his own advice there the following year. The Islamist party that he co-founded and led, Ennahdha, meaning “the renaissance,” had won the dominant role in a transitional parliament. By late 2013, the assassinations of a pair of left-leaning, secular politicians had brought the political process and constitution-drafting to a halt; opponents suspected Islamist extremists of carrying out the killings, and blamed Ennahdha for failing to prevent them. Ghannouchi, who held no elected office at the time, defied many in his party to reach a power-sharing agreement with the main leader of the secular opposition. Ennahdha voluntarily handed power to a caretaker government to oversee new elections. Ghannouchi’s concession broke the logjam. Tunisia’s revolution celebrated a fourth anniversary—it was the only Arab Spring uprising that appeared to succeed—and the civil-society organizations that helped sponsor the talks between Ghannouchi and the opposition received a Nobel Peace Prize. “We are not angels. We would like to have power,” Ghannouchi said on a visit to Washington. “But we fervently believe that a democratic constitution is more important.”

His leadership made Ennahdha a unique example of what some called liberal Islamism. In fact, Ghannouchi helped persuade Ennahdha leaders to jettison the label “Islamist” and to begin describing themselves as Muslim democrats. (He published an essay in Foreign Affairs explaining the change.) His party, which led the drafting of the constitution, pushed through a charter with explicit protections for the rights of women and of religious minorities. When we spoke in 2014, he also noted that Tunisia’s was one of the few Arab constitutions that made no reference to Islamic law. He assured me that Tunisia guaranteed freedoms for mosques, churches, synagogues—and even “pubs.” He stopped short of endorsing same-sex marriage but described sexuality as a strictly personal matter—a more liberal stance than that taken by almost any Arab government.

Tunisia’s tourism-heavy economy, however, never fully recovered from the images of turmoil in the aftermath of the Arab Spring uprising, and the pandemic shut down its resorts. Years of relative inaction by Tunisia’s caretaker government and its successors fuelled a backlash against the whole political class, and especially against Ennahdha. During the next elections, in 2019, Ghannouchi also made the questionable decision to seek a seat in parliament and was then chosen as its speaker. He had become a politician. Emad Shahin, a scholar of political Islam in exile from Egypt, who is now a visiting professor at Harvard, said, “That parliament was a circus—not a place for a leader of his intellectual calibre to preside over, and he was consumed by petty politics.”

In the 2019 elections, voters rejected every Presidential candidate who had held public office. Two populists—a prominent media mogul and an obscure law professor, who together received only a third of the vote—went to a runoff. The professor, Saied, won in a landslide. In many ways, Saied is an inverse of Ghannouchi. He has eschewed any known political philosophy or faction. He routinely rails against the West, directing particular vitriol toward the International Monetary Fund, whose support Tunisia now desperately needs. His constitution promises the state “will work to achieve the objectives of pure Islam” and gives the government control over Islamic interpretation and teaching. He has called gay people “deviants” and supported the criminalization of homosexuality. This year, in his own adaptation of “replacement theory,” he set off a wave of anti-Black violence by scapegoating dark-skinned African migrants for Tunisia’s economic travails.

Saied initially cited the crisis of the pandemic as a pretext to dissolve the parliament and to rule by decree. It was not long before he began detaining a long list of critics and opponents, culminating this week with Ghannouchi. His alleged crime involves a statement that he made last weekend: “Tunisia without Ennahdha, without political Islam, without the left or any of its components is a project for civil war.” Shortly before dusk and the breaking of the fast on Monday, the holiest night of Ramadan, more than a hundred plainclothes police officers raided his home, his party said in a statement. After two days in custody, Ghannouchi, now eighty-one, was interrogated for eight hours. On Thursday, a judge sentenced him to an extended pretrial detention. Initially accused of incitement, he now faces charges of conspiring against the security of the state—a crime that can carry the death penalty.

The blow to Tunisian democracy is clear. But the imprisonment of a leader as singular as Ghannouchi is also a setback to the wider world. For Islamists who espouse violence, his imprisonment is a vindication—new evidence of the futility of the ballot box. And the silencing of his voice is a loss to the West, too.

“Marrying Islam and liberalism and democratic governance,” Robert Kagan, a historian of U.S. foreign policy, told me, “is the solution to our problems in the Arab world, and it is the solution to their problem with us.” That was also the hope that Ghannouchi tried to salvage in Egypt ten years ago.

Ghannouchi, in a prerecorded video released on Thursday, urged patience. He told Tunisians, “Trust in the principles of your revolution, and that democracy is not a passing thing in Tunis.”

Foreign Policy especial sobre a contraofensiva ucraniana para retomar terrenos conquistados por forças invasoras russas

 FOREIGN POLICY, April 23, 2023

Foreign Policy Logo
Foreign Policy Flashpoints
APRIL 23, 2023 | VIEW IN BROWSER
To read unlimited articles featured in Flash Points, sign in or subscribe today.
 

For months, there has been speculation over Ukraine’s spring counteroffensive. Now, as the weather gets warmer, observers are wondering: What is Kyiv waiting for? The reporting and essays below explore this question and more, delving into the reasons for the holdup, the innerworkings of Ukrainian military training and decision-making, and what the highly anticipated offensive might look like.—Chloe Hadavas


Ukraine’s Spring Offensive Is Waiting on Weapons Every day Kyiv waits, the Russians dig deeper trenches.
By Jack Detsch


Ukraine’s Longest Day The first 24 hours of the expected counteroffensive will likely be decisive.
By Franz-Stefan Gady


Crimea Has Become a Frankenstein’s Monster The Ukrainian government is now trapped by its own uncompromising—and increasingly indefensible—policy.
By Anatol Lieven


How Ukraine Learned to Fight Russia’s full-scale war started a year ago. Ukraine’s military started slashing its Soviet roots long before.
By Jack Detsch


Ukraine’s Leopard Tank Crews Are Trained and Ready to Fight Advanced tanks will be critical to any summer offensive.
By Elisabeth Braw

Photo: Paula Bronstein for Foreign Policy

Seleção atualizada de trabalhos sobre a guerra de agressão da Rússia contra a nação ucraniana - Paulo Roberto de Almeida

 Seleção atualizada de trabalhos sobre a guerra de agressão da Rússia contra a nação ucraniana

  

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

Lista seletiva de trabalhos sobre a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, atualizada em 23/04/2023; rev.: 25/05/2023.

 

 

4087. “Uma nota pessoal sobre mais uma postura vergonhosa de nossa diplomacia”, Brasília, 22 fevereiro 2022, 2 p. Comentários a nota do Itamaraty e a declaração feita no CSNU a propósito da invasão da Ucrânia pela Rússia, com referência à nacionalização dos hidrocarburos na Bolívia em 2006. Postado no blog Diplomatizzando(link:https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/02/uma-nota-pessoal-sobre-mais-uma-postura.html).

4098. “Renúncia infame: o abandono do Direito Internacional pelo Brasil”, Brasília, 7 março 2022, 5 p. Breve ensaio para o blog científico International Law Agendas, do ramo brasileiro da International Law Association (ILA; http://ila-brasil.org.br/blog/), para edição especial sobre “A política externa brasileira frente ao desafio da invasão russa na Ucrânia”, a convite de Lucas Carlos Lima, coeditor do blog, com base nas notas e declarações do Itamaraty com respeito aos debates no CSNU e na AGNU. Publicado, na condição de membro do Conselho Superior do ramo brasileiro da International Law Association, no blog eletrônico International Law Agendas (7/03/2022; link: http://ila-brasil.org.br/blog/uma-renuncia-infame/); blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/03/uma-renuncia-infame-o-abandono-do.html). Relação de Publicados n. 1442. 

4099. “Quando o dever moral nascido do sentido de Justiça deve prevalecer sobre o “pragmatismo” que sustenta o crime”, Brasília, 9 março 2022, 1 p. Comentário sobre a postura objetivamente favorável do governo brasileiro ao agressor no caso da guerra na Ucrânia. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/03/quando-o-dever-moral-nascido-do-sentido.html).

4107. “O conflito Rússia-Ucrânia e o Direito Internacional”, Brasília, 16 março 2022, 12 p. Respostas a questões colocadas por interlocutor profissional sobre a natureza do conflito e suas consequências no plano mundial. Disponível Academia.edu (link: https://www.academia.edu/73969669/OconflitoRussiaUcraniaeoDireitoInternacional2022); divulgado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/03/o-conflito-russia-ucrania-e-o-direito.html).

4109. “Avançamos moralmente desde os embates de nossos ancestrais na luta pela sobrevivência?”, Brasília, 19 março 2022, 1 p. Considerações sobre a imoralidade e barbaridade dos atos que estão sendo cometidos pelas tropas de Putin na Ucrânia. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/03/avancamos-moralmente-desde-os-embates.html).

 4131. “Consequências econômicas da guerra da Ucrânia”, Brasília, 19 abril 2022, 18 p. Notas para desenvolvimento oral em palestra-debate promovida no canal Instagram do Instituto Direito e Inovação (prof. Vladimir Aras), no dia 21/04/22. Nova versão reformatada e acrescida do trabalho 4132, sob o título “A guerra da Ucrânia e as sanções econômicas multilaterais”, com sumário, anexo e bibliografia. Divulgado preliminarmente na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/77013457/AguerradaUcrâniaeassançõeseconômicasmultilaterais2022) e anunciado no blog Diplomatizzando (20/04/2022; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/04/a-guerra-da-ucrania-e-as-sancoes.html). Transmissão via Instagram (21/04/2022; 16:00-17:06; link: https://www.instagram.com/tv/CcoEemiljnq/?igshid=YmMyMTA2M2Y=); (Instagram: https://www.instagram.com/p/CcoEemiljnq/).

4143. “Quão crível é a ameaça de guerra nuclear da Rússia no caso da Ucrânia?”, Brasília, 2 maio 2022, 3 p. Rememorando o caso dos mísseis soviéticos em Cuba. Postado no blog Diplomatizzando (link:https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/05/quao-credivel-e-ameaca-de-guerra.html).

4152. “O Brasil e a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia”, Brasília, 11 maio 2022, 16 p. Texto de apoio a palestra no encerramento da Semana de Ciências Sociais do Mackenzie, sobre o tema da “Guerra na Ucrânia e suas implicações para o Brasil” (13/05/2022). Disponibilizado na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/78954459/OBrasileaguerradeagressãodaRússiacontraaUcrânia2022) e no blog Diplomatizzando (13/05/2022: xc>chttps://diplomatizzando.blogspot.com/2022/05/guerra-na-ucrania-e-suas-implicacoes.html). Divulgado igualmente na página do Centro de Liberdade Econômica das Faculdades Mackenzie (link: https://www.mackenzie.br/liberdade-economica/artigos-e-videos/artigos/arquivo/n/a/i/o-brasil-e-a-guerra-de-agressao-da-russia-contra-a-ucrania). vídeo da palestra no canal YouTube do Mackenzie (link: https://www.youtube.com/watch?v=7jQtR277iDc). Relação de Publicados n. 1452.

4153. “Guerra na Ucrânia e suas implicações para o Brasil”, Brasília, 11 maio 2022, 5 p. Notas para exposição oral na palestra no encerramento da Semana de Ciências Sociais do Mackenzie, sobre o tema da “Guerra na Ucrânia e suas implicações para o Brasil” (13/05/2022). Divulgado no blog Diplomatizzando (14/05/2022; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/05/guerra-na-ucrania-e-suas-implicacoes14.html); vídeo da palestra no canal YouTube do Mackenzie (link: https://www.youtube.com/watch?v=7jQtR277iDc).

4165. “Os 100 primeiros dias da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia: o Brasil afronta o Direito Internacional e a sua história diplomática”, Brasília, 3 junho 2022, 7 p. Texto de apoio a participação em seminário do Instituto Montese sobre os “100 dias de guerra na Ucrânia”, com gravação prévia antes da apresentação. Divulgado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/06/100-dias-de-guerra-de-agressao-da.html); emissão divulgada em 10/06/2022, 14h05 (link: https://www.youtube.com/watch?v=CEs-kG1hOjk; exposição PRA de 44:37 a 52:30 minutos da emissão). Relação de Publicados n. 1454.

 4168. “O Brics depois da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia”, Brasília, 9 junho 2022, 6 p. Posfácio ao livro A grande ilusão do Brics e o universo paralelo da diplomacia brasileira, e revisão geral, eliminando todas as tabelas, agora com 187 p. Apresentação no blog Diplomatizzando (11/06/2022; link:https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/06/meu-proximo-kindle-sobre-miragem-dos.html). Publicado em 12/06/2022 Brasília: Diplomatizzando, 2022; ISBN: 978-65-00-46587-7; ASIN: B0B3WC59F4; Preço: R$ 25,00;

 4171. “O Brasil está perdendo o rumo em sua postura enquanto nação civilizada?”, Brasília, 12 junho 2022, 5 p. Nota sobre a postura diplomática do Brasil em relação à guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, aproveitando para apresentar o livro sobre o Brics, incluindo os dois sumários e o índice não numerado. Postado no blog Diplomatizzando(link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/06/o-brasil-esta-perdendo-o-rumo-em-sua.html).

4189. “O futuro do grupo BRICS”, Brasília, 30 junho 2022, 9 p. Texto conceitual sobre os caminhos enviesados do BRICS pós-guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, e reflexivo sobre as ordens alternativas no campo econômico e político. Elaborado a propósito de webinar promovido pelo IRICE (embaixador Rubens Barbosa) sobre “O futuro do grupo Brics” (30/06/2022), na companhia do presidente do NDB, Marcos Troyjo, e da representante da Secretaria de Comércio Exterior do Itamaraty, Ana Maria Bierrenbach. Postado no Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/06/o-futuro-do-grupo-brics-ensaio-por.html). Vídeo do evento disponível no canal do IRICE no YouTube (link: https://www.youtube.com/watch?v=9Q9l8i4gyX4 ). Relação de Publicados n. 1464.

4206. “Sobre a guerra na Ucrânia e nossa próxima política externa”, Brasília, 24 julho 2022, 2 p. Nota sobre a postura de Lula em relação à questão da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/07/a-proxima-politica-externa-do-brasil.html ). 

4217. “A guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia e a postura do Brasil”, Brasília, 14 agosto 2022, 10 p. Breve paper sobre a diplomacia brasileira no tocante à guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, para participação em seminário híbrido sobre o posicionamento dos Estados latino-americanos frente ao conflito entre a Rússia e a Ucrânia, organizado pelo prof. Nitish Monebhurrun, no Ceub, no dia 17 de agosto, 9h30 (<nitish.monebhurrun@gmail.com>; link do seminário: meet.google.com/gkc-szgz-prt). Divulgado na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/84817949/4127AguerradeagressaodaRussiacontraaUcraniaeaposturadoBrasil2022) e no blog Diplomatizzando (15/08/2022; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/08/os-estados-latino-americanos-frente-ao.html). 

4227. “Relação de materiais no Diplomatizzando sobre a guerra na Ucrânia”, Brasília, 2 setembro 2022, 3 p. Listagem dos materiais mais interessantes sobre a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia e seu impacto geopolítico. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/09/materiais-sobre-guerra-de-agressao.html); disponível na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/86055975/4227_Materiais_no_Diplomatizzando_sobre_a_guerra_de_agressao_a_Ucrania_2022_).

 4245. “O Brasil deixou de fazer parte da comunidade internacional? Desde quando?”, Brasília, 28 setembro 2022, 2 p. Nota sobre a postura do Brasil em face das violações da Rússia na sua guerra de agressão contra a Ucrânia. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/09/o-brasil-deixou-de-fazer-parte-da.html).

 4249. “Carta aberta ao Sr. Presidente da República”, Brasília, 7 outubro 2022, 1 p. Indagação a respeito de nossas obrigações constitucionais e internacionais, no tocante à guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/10/carta-aberta-ao-sr-presidente-da.html).

 4293. “O Brasil e a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia”, Brasília, 20 dezembro 2022, 1 p. Nota sobre a futura diplomacia do lulopetismo no tocante à guerra na Ucrânia. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/12/o-brasil-e-guerra-de-agressao-da-russia.html).

4301. “Seleção de trabalhos sobre a guerra de agressão da Rússia contra a nação ucraniana”, Brasília, 10 janeiro 2023, 4 p. Lista seletiva de trabalhos sobre a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia. Postado no blog Diplomatizzando(link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2023/01/selecao-de-trabalhos-sobre-guerra-de.html).

4308. “O mundo aguarda o Brasil sobre a Ucrânia”, Brasília, 21 janeiro 2023, 2 p. Nota sobre a posição ambígua do Brasil em torno da questão da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2023/01/o-mundo-aguarda-o-brasil-sobre-ucrania.html). 

4327. “Julgamento da História, pelo lado MORAL”, Brasília, 22 fevereiro 2023, 2 p. Nota sobre a postura da diplomacia brasileira em relação à guerra na Ucrânia. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2023/02/julgamento-da-historia-pelo-lado-moral.html).

4328. “Não ao inaceitável “Não Alinhamento Ativo”, que só significa um Desalinhamento Passivo e Inativo”, Brasília, 26 fevereiro 2023, 1 p. Nota sobre a postura proposta ao fantasmagórico Sul Global de Não Alinhamento Ativo em relação ao conflito da Ucrânia. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2023/02/nao-ao-inaceitavel-nao-alinhamento.html).

4329. “Os 12 pontos do ‘Plano de Paz” da China para a guerra na Ucrânia; comentários de Paulo Roberto de Almeida”, Brasília, 27 fevereiro 2023, 2 p. Comentários pessoais aos 12 pontos do Plano de Paz da China à guerra de agressão da China contra a Ucrânia. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2023/02/os-12-pontos-do-plano-de-paz-da-china.html).

4330. “Qual é o maior desafio à diplomacia brasileira, em décadas?”, Brasilia, 28 fevereiro 2023, 2 p. Nota sobre a questão do desafio russo e chinês à paz e à segurança internacionais, do ponto de vista do Brasil. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2023/02/qual-e-o-maior-desafio-diplomacia.html).

4344. “O que Putin quer de Lula? O que ele vai conseguir?”, Brasília, 25 março 2023, 6 p. Artigo para a revista Crusoé, sobre a próxima visita do chanceler Lavrov ao Brasil, tratando do Brics e da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia. Publicado na Crusoé (31/03/2023; link: https://crusoe.uol.com.br/edicoes/257/o-que-putin-quer-de-lula-o-que-ele-vai-conseguir/?fbclid=IwAR0HUZLik-L-mAziepagvbW2FtPFh-mtymnqIQHUhNSGKuu2dxVGndG0dKk?utm_source=crs-site&utm_medium=crs-login&utm_campaign=redir); divulgado no blog Diplomatizzando (18/04/2023; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2023/04/o-que-putin-quer-de-lula-o-que-ele-vai.html). Relação de Publicados n. 1499.

4347. “Faz sentido o Brasil se aproximar de China e Rússia?”, Programa Latitudes n. 19, 1 abril 2023, 1h de conversa com os jornalistas Rogério Ortega e Duda Teixeira sobre as posições adotadas pela diplomacia petista em relação aos grandes temas da política internacional, como a invasão da Ucrânia e a retórica belicista da China (link: https://www.youtube.com/watch?v=3S2n8_pCtrw); divulgado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2023/04/faz-sentido-o-brasil-se-aproximar-de.html). Relação de Publicados n. 1501.

4351. “Em face de uma nova bifurcação da estrada, à nossa frente”, Brasília, 6 abril 2023, 1 p. Nota sobre mais um momento decisivo na vida da nação: a opção entre sustentar um crime ou optar pela Justiça. Divulgado no blog Diplomatizzando(6/04/2023: https://diplomatizzando.blogspot.com/2023/04/em-face-de-uma-nova-bifurcacao-da.html).

4354. “‘A Guerra Perpétua’, segundo Putin, ou o projeto de uma ‘nova ordem mundial’, como vontade e como representação”, Brasília, 7 abril 2023, 3 p. Publicado na revista Crusoé (14/04/2023; link: https://oantagonista.uol.com.br/mundo/paulo-roberto-de-almeida-na-crusoe-guerra-perpetua-de-putin/); divulgado no blog Diplomatizzando (23/04/2023; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2023/04/a-guerra-perpetua-segundo-putin-ou-o.html). Relação de Publicados n. 1504.

4358. “O retorno da diplomacia presidencial nos cem dias de Lula”, entrevista com o jornalista Duda Teixeira da revista Crusoé (emissão em 9/04/2023, 14:29; link: https://crusoe.uol.com.br/diario/o-retorno-da-diplomacia-presidencial-nos-100-dias-de-lula/); divulgado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2023/04/o-retorno-da-diplomacia-presidencial.html). Relação de Publicados n. 1503.

4359. “O Brasil tem futuro? Um debate no programa Latitudes”, Brasília, 10 abril 2023, 6 p. Resposta a um comentarista no programa Latitudes 19, como registrado no trabalho 4347 (“Faz sentido o Brasil se aproximar de China e Rússia?”). Postado no site do YouTube (link: https://www.youtube.com/watch?v=3S2n8_pCtrw), aguardando novos comentários. Divulgado inteiramente no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2023/04/um-debate-espontaneo-no-programa.html).

4365. “Potências revisionistas e rupturas da ordem global”, Brasília, 17 abril 2023, 4 p. Ensaio sobre os momentos de rupturas históricas em ordens políticas estabelecidas. Para aula no curso de mestrado em Relações Internacionais da UFABC, via online, em 18/04/2023. Primeira parte aproveitada para um pequeno texto sobre a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia; postado, sob o título de “Lula tem certeza de que seria uma boa ideia colocar o Brasil do lado da Rússia e da China na construção de uma nova ordem mundial?”, no blog Diplomatizzando (26/04/2023; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2023/04/deve-o-brasil-aderir-ideia-de-uma-nova.html); segunda e terceira partes, aproveitadas para novo artigo para a revista Crusoé, sob o título “Por que a tal de 'nova ordem mundial' é uma má ideia?”, sob o número 4374. 


Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4370, 23 abril 2023, 5 p.; rev. 25/05/2023.


 

A Guerra Perpétua’, segundo Putin, ou o projeto de uma ‘nova ordem mundial’, como vontade e como representação - Paulo Roberto de Almeida

 Um trabalho que ainda não havia sido divulgado publicamente: 

4354. “‘A Guerra Perpétua’, segundo Putin, ou o projeto de uma ‘nova ordem mundial’, como vontade e como representação”, Brasília, 7 abril 2023, 3 p. Publicado em versão reduzida na revista Crusoé (14/04/2023; link: https://oantagonista.uol.com.br/mundo/paulo-roberto-de-almeida-na-crusoe-guerra-perpetua-de-putin/). Relação de Publicados n. 1504. 



‘A Guerra Perpétua’, segundo Putin, ou o projeto de uma ‘nova ordem mundial’, como vontade e como representação

 

 

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com


 

Kant era um idealista-realista, como se sabe: numa aparente resposta a uma proposta anterior do Abade Saint Pierre (Projet de paix perpétuelle, de 1713), que já pretendia uma liga de estados e uma corte internacional, ele estabeleceu, em 1795, que a paz perpétua (uma coisa “para si”) dependeria da existência, de maneira geral e irrestrita, de regimes constitucionais (a “coisa em si”), da liberdade de pensamento e do respeito à autonomia das federações. As monarquias absolutistas, então realmente existentes no final do século XVIII, assim como a própria “vontade” de Napoleão, com sua tentativa de “paz imperial” de âmbito europeu no início do século XIX, demonstraram amplamente que a “paz perpétua” não estava sequer próxima de ser concebida, menos ainda realizada.

Não obstante, o Congresso de Viena de 1815, depois que o imperador francês foi finalmente derrotado em Waterloo — foi a primeira e última vez que tropas russas andaram por Paris —, tentou o que parecia ser uma “ordem mundial”, ainda que oligárquica, já que a anterior, a paz de Westfalia (1648), não tinha confirmado suas grandes expectativas. A “ordem quase mundial” de Viena, seja com Santa Aliança ou regimes constitucionais, manteve o continente europeu mais ou menos em paz, durante praticamente um século, mesmo com uma primeira guerra da Crimeia no meio do caminho.

Uma nova tentativa de “ordem mundial”, a da Liga das Nações, concertada nas negociações de paz de Paris, no imediato seguimento da Grande Guerra (1914-1918), de natureza igualmente oligárquica, tampouco foi capaz de controlar a “vontade” de novas potências expansionistas, empenhadas em aumentar sua “representação” na cartografia da geopolítica então existente: o projeto mussolinista de um novo império romano, a brutal imposição do Lebensraum hitlerista e da “solução final” ao “problema” judeu, e o esforço dos fascistas japoneses de superar o colonialismo europeu na Ásia Pacífico pelo seu próprio império brutal, sobretudo na China. A despeito de um tratado para evitar novos conflitos militares pela via da arbitragem e mediação – o Pacto Briand-Kellog de 1928 –, não foi possível evitar a invasão da Manchúria pelo Japão em 1931, e depois a tentativa de conquista do resto da China, em 1937, a invasão da Etiópia (o único país africano independente e membro da Liga das Nações) pela Itália fascista em 1935, assim como a anexação da Áustria e da Tchecoslováquia por Hitler em 1938, seguida da invasão da Polônia por Hitler em 1939, num acerto com Stalin de esquartejamento do país, o que deu início à mais terrível guerra global de toda a humanidade. Stalin aproveitou, em 1940, para abocanhar os três países bálticos em 1940 – independentes desde 1919 –, assim como para tentar reincorporar a Finlândia ao antigo espaço do império czarista, ampliado enormemente na nova ordem bolchevique; a Finlândia resistiu, e permaneceu neutra pelos 80 anos seguintes.

Mas, um século antes do início das complexas negociações entre as potências aliadas em torno de uma “nova ordem mundial”, em Dumbarton Oaks, em Bretton Woods, em Ialta e em San Francisco, um jovem filósofo alemão, Arthur Schopenhauer, empreendeu de corrigir o idealismo transcendental de Kant ao propor uma nova interpretação do mundo: a “coisa em si” já não seria mais a encarnação da razão pura, mas o resultado da vontade humana, como princípio fundamental da natureza, uma força cega, incontrolável que move o mundo. Ora, ninguém encarna melhor, atualmente, essa vontade cega de dominar o mundo do que o neoczar russo, Vladimir Putin, embora sua “representação do mundo” corresponda bem mais a uma “guerra perpétua” do que propriamente a um projeto consensual de paz durável. 

Putin está muito distante, mais exatamente do lado oposto, ao de Kant, cujo projeto de paz perpétua proclamava, entre outros requisitos, que “nenhum Estado independente, pequeno ou grande, pode ser adquirido por um outro Estado por herança, troca, compra ou doação”, ou ainda, que “nenhum Estado deve imiscuir-se com emprego de força na constituição e no governo de um outro Estado” (2008, p. 15 e 18). Para Kant, a constituição civil nos Estados deve ser republicana, isto é, constitucional. Para Putin, isso é mero detalhe, com o qual ele não está nem um pouco preocupado. A “representação” que ele concebe para cada Estado deve ser uma que se amolde à vontade dos mais poderosos dentre eles, em total contradição com o federalismo de Estados livres de Kant, regidos pelo Direito internacional. 

Cada nova ordem internacional só foi estabelecida ao cabo de terríveis guerras entre poderes adversários, seja a guerra de Trinta Anos que precedeu à paz de Westfália, as guerras napoleônicas que resultaram no Congresso de Viena, a Grande Guerra que abriu o caminho à frustrada Liga das Nações, assim como o sistema onusiano, após a segunda guerra de Trinta Anos. O chanceler russo Lavrov acaba de anunciar, o que é certamente a “vontade” de Putin, que a paz na Ucrânia só se dará com uma “nova ordem mundial”. O que o neoczar russo propõe, portanto, é uma “guerra perpétua”, até que a sua “representação” dessa “nova ordem”, uma paz imperial, venha a realizar-se como uma coisa em si e para si (com uma pequena ajuda de seu amigo Xi Jinping). Nenhum deles entrou em detalhes sobre como seria instalado ou como funcionaria essa nova ordem, diferente da atual, que emergiu desde Bretton Woods, na parte econômica, em 1944, e que se prolongou nas conferências de Ialta e de Potsdam, em 1945, que conformaram uma nova ordem oligárquica, baseada no direito absoluto de veto sobre qualquer decisão do Conselho de Segurança das Nações Unidas, por parte das cinco grandes potências garantidoras da paz e da segurança internacional, depois de derrotarem os regimes fascistas que provocaram a maior mortandade já vista na história.

A humanidade não tem necessidade de uma nova paz imperial, baseada na coerção de Estados menores, e sim do pleno cumprimento dos dispositivos da Carta da ONU, assim como do respeito às normas mais elementares do Direito Internacional, princípios e valores que vêm sendo acatados pela diplomacia brasileira desde o século XIX, e mais enfaticamente durante todo o século XX, a partir do Barão do Rio Branco, de Rui Barbosa, de Oswaldo Aranha, de Afonso Arinos e de San Tiago Dantas, entre outros próceres de nossa política externa. Essa arquitetura da diplomacia brasileira começou a ruir em 2014, quando a presidente Dilma disse que não iria se pronunciar sobre a invasão da Crimeia, por se tratar de um “assunto interno” à Ucrânia, como se a anexação de parte do território de um Estado soberano pudesse ser assim classificada. Ela parece perto de ruir mais um pouco, atualmente.

Já não estamos mais no idealismo racionalista de um Kant, ou na vontade metafísica de Schopenhauer, e sim na expressão mais crua do despotismo oriental de um Putin e de um Xi Jinping. Se a atual administração diplomática do Brasil pensa que uma nova ordem mundial pode ser criada com base nesse tipo de arranjo, mais conforme à violência primária dos impérios do que ao federalismo dos povos livres e no princípio da hospitalidade universal do mestre de Konigsberg, isto significa que estaríamos aderindo a concepções que já tinham ficado caducas desde o Aufklärung, o Iluminismo do século XVIII. Um tremendo retrocesso!

 

Referências bibliográficas

Projet pour rendre la paix perpétuelle en Europe, par l’abbé Castel de Saint-Pierre. Utrecht: A. Schouten, 1713; disponível na coleção Gallica, da Biblioteca Nacional da França: https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k105087z.

Immanuel Kant. Zum ewigen Frieden. Ein philosophischer Entwurf (A Paz Perpétua: Um Projeto Filosófico). Leipzig: Insel Verlag, 1795; resumo das principais ideias: https://pt.wikipedia.org/wiki/A_Paz_Perpetua:_Um_Projeto_Filosofico.

_________ . À paz perpétua. Porto Alegre: LPM, 2008; tradução e prefácio de Marco Zingano.


Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4354: 7 abril 2023, 3 p. Relação de Publicados n. 1504. 


A proposta de criação de grupo de países amigos da Paz [sobre a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia] - Vitorio Sorotiuk (Representação ucraniana no Brasil)

 A proposta de criação de grupo de países amigos da Paz [sobre a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia]

 

      Vitorio Sorotiuk

Presidente da Representação Central Ucraniano Brasileira

Curitiba 21/04/2023
 

      

    O Brasil voltou à cena internacional, diz o atual Presidente Luís Inácio Lula da Silva.  Na verdade, não saiu, estava ali como peso morto e omisso em questões vitais para a humanidade. A volta de uma presença mais ativa na cena internacional teve um primeiro round muito positivo com a assunção dos compromissos mundiais com a agenda ambiental e cresceu com a ação pronta e imediata no socorro aos índios Ianomani e aos vitimados pelas enchentes em São Sebastião e outras localidades. E veio, em seguida, a abordagem da questão da paz, da guerra na Ucrânia que geraram expectativas positivas. Porém, as declarações quando da visita a China e na recepção ao Chanceler Serguei Lavrov da Rússia em Brasília levaram o Brasil, objetivamente, a favorecer o agressor russo Vladimir Putin. E o Presidente Luís Inácio Lula da Silva começou a cair no crédito internacional. Já a comunidade ucraniana brasileira ficou indignada, tanto a parte que votou contra ele como a parte da comunidade que votou nele. 

Na visita de Serguei Lavrov, o Brasil somente fez uma declaração pedindo o cessar fogo, como continuidade da responsabilização por igual na continuidade da guerra para a Rússia e Ucrânia e responsabilidade da continuidade da guerra aos Estados Unidos e Europa por fornecer armas para a Ucrânia. A críticas se fizeram sentir por todos os lados e na recepção ao Presidente da Romênia o Presidente foi obrigado a ler texto onde afirmava o reconhecimento da integridade territorial da Ucrânia e Celso Amorim sair em campo para explicar o inexplicável. Antes enviou o Celso Amorim a Moscou, sem visitar Kyiv ao mesmo tempo, repetindo o que fez Bolsonaro.  Enfim, o Brasil ainda não firmou uma posição que o coloque no campo da democracia mundial e possa de fato favorecer o caminho da paz e da justiça.

Há um desconhecimento da história da Ucrânia e da Rússia e uma grande intoxicação não sanada pelas concepções estalinistas e da atual propaganda da FSB (ex KGB), sobre a expansão da OTAN, os Estados Unidos terceirizando a guerra contra a Rússia e outras. A responsabilidade pela expansão da OTAN é da própria Rússia. Basta ver as duas últimas adesões, Suécia em curso e Finlândia já efetivada. Elas se deram não por vontade dos membros da OTAN, mas por decisão dos povos desses dois países para terem segurança frente a ameaça que representa a vizinha Rússia. E assim foi com os países bálticos, a Polônia e era a vontade da Ucrânia. Ninguém buscou a OTAN para agredir a Rússia, mas para se proteger dela. O problema para a Rússia é a própria elite russa e seu projeto.

            A agressão da Rússia a Ucrânia vem desde a independência em 1991, não começou em 24 de fevereiro de 2022 e nem em 2014, mas antes, está fundada em um projeto desenvolvido no âmbito do governo russo após a dissolução da União Soviética. Não se pode também esquecer o passado imperial tzarista, a crítica dos revolucionários de 1917 a elite russa por sua concepção de superioridade racial, o Holodomor e o totalitarismo estalinista. Atualmente, verificando-se o círculo no entorno de Vladimir Putin encontramos os conservadores chauvinistas russos Vladimir Yakunine, o Padre Tikhone Chevkunov e Vladislav Surkov defensor convicto da narrativa “não há Ucrânia”, que levou Putin a escrever um texto de 20 páginas afirmando que a Ucrânia é uma invenção de Lenin. A citação mais frequente nos discursos de Putin é a de Ivan Illyn (1883-1954). Illyn foi expulso da Rússia soviética em 1922. No exílio, em Berlim e depois na Suíça, conectou-se aos emigrados russos contrarrevolucionários e abraçou o pensamento fascista. Em 1950, escreveu um ensaio que viria a ser repetidamente citado por Putin. Outros citados são Nicolas Danilevski, que pregou o messianismo da cultura eslava, Lev Gumilov expoente do euroasianismo ou Konstantin Leontiev, filósofo russo monarquista conservador que defendia uma união monárquica conservadora. entre a Rússia e o Oriente contra o que ele acreditava serem as catastróficas influências igualitárias , utilitárias e revolucionárias do Ocidente. Analisando-se atentamente os discursos dos últimos 20 anos de Putin constata-se um pensamento formado em um coquetel de superioridade étnica russa, conservadorismo e expansionismo. Daí porque a ocupação da Ucrânia é uma peça no projeto euroasiático com centro em Moscou por parte de Vladimir Putin. Oleksandr Dugin disse isso com todas as tintas “a guerra à Ucrânia como uma pré-condição para o renascimento do Império Russo.”

Sobre o dever de oferecer armas à Ucrânia. Uma situação é o fornecimento de armas para um país que agride outro e outra situação é o fornecimento de armas para a defesa de um país agredido. No caso, os Estados Unidos, a Inglaterra, a França, a China e a Irlanda do Norte têm obrigação de fornecer armas para a Ucrânia se defender. A razão está que a Ucrânia aparece no cenário internacional em 1991 como a terceira potência nuclear do planeta, pelo número de ogivas nucleares existentes em seu território.  Em 5 de dezembro de 1994, com adesão da Ucrânia ao tratado de não proliferação de armas atômicas, a Rússia reconheceu as fronteiras da Ucrânia, incluindo a Criméia. Em 5 de dezembro de 1994 é assinado o Memorando de Budapeste 1. A Federação Russa, o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte e os Estados Unidos da América reafirmam seu compromisso com a Ucrânia, de acordo com os princípios da Ata Final da Conferência sobre Segurança e Cooperação na Europa, em respeitar a independência e soberania e as fronteiras existentes da Ucrânia”. Depois, aderem ao memorando a França e a China.

A Rússia não cumpre leis e tratados internacionais. Desde 1991 nenhuma das guerras da Rússia terminou em paz negociada estável. A Rússia tende a congelar conflitos, mantê-los como desestabilizadores enquanto chantageia o mundo. Foi assim com Moldávia em 1992, conflito congelado até hoje; Chechênia onde a Rússia forçou a aceitar a ocupação depois de vários anos; Geórgia em 2008 mais de 20% do território da Georgia permanece ocupado; a Rússia ocupou a Crimeia em 2014 e se infiltrou no leste em Donbass e Luhansk e depois de manter a guerra semi-congelada por 8 anos invadiu a Ucrânia em 2022 tentando derrubar o governo e ocupar o país. Portanto, se a Ucrânia parar de resistir só serve a tática e estratégia russa de manter conflitos para mais adiante avançar mais. Cessar fogo, com soldados russos em terras ucranianas, sem exigência de desocupação total do território ucraniano pelas forças armadas russas é favorecer a estratégia russa. 

Para a constituição e sucesso de um grupo de países amigos da Paz há que se redefinir rumos, enviar Celso Amorim de imediato a Kyiv, o Presidente deve aceitar o convite e ir a Ucrânia. E o Brasil precisa estudar mais a história da Ucrânia e considerar o que significa o governo russo para a democracia e o desenvolvimento social e cultural da humanidade e a sua política imperial belicosa. A Ucrânia precisa de amigos da paz e não de amigos da tática e estratégia russa. Os 10 pontos da fórmula da Paz proposta pelo Presidente Zelensky conduzem a paz e a formula de congelamento do conflito faz perdurar a instabilidade e a durabilidade da guerra de agressão. 

VITORIO SOROTIUK / Curitiba 21.04.2023

Presidente da Representação Central Ucraniano Brasileira

 

More of the same, all over again… - Paulo Roberto de Almeida

 More of the same, all over again…

A integração regional e a inserção do Brasil na economia mundial não vão avançar muito sob Lula 3: ele continua preferindo a velha substituição de importações e o tradicional mercantilismo protecionista, que convém mais à FIESP e aos sindicatos de trabalhadores, do que ao conjunto dos consumidores, especialmente os mais pobres. 

Ou seja, teremos mais do mesmo, talvez até de forma acentuada, como o provam declarações e negociações recentes. Não esperem, portanto, resultados diferentes do que aquela conhecida retórica vazia, sobre nossas fábricas e nossa soberania e emprego, como das vezes anteriores.

Ocorreu algum avanço na integração, além de palanques políticos, com peronistas e chavistas sob Lula 1 e 2? Dona Dilma ainda agravou o quadro da integração ao enfiar (ilegalmente) a Venezuela chavista no Mercosul, quando ela não possuía as mínimas condições (não por ser uma ditadura, que isso não importava, mas por não preencher nenhum dos requisitos técnicos) para integrar o bloco, que já é uma peneira furada e uma colcha de retalhos esfarrapada.

O comércio exterior do Brasil, a despeito de avançar em volume e valor, saiu de menos de 1,3% do comércio mundial que exibimos persistentemente há 60 anos? E sua composição escapou das commodities? Ao contrário, só aprofundou a tendência…

Alguma expectativa de mudança desta vez? Claramente não: Lula 3 quer renegociar o acordo Mercosul-UE, para “proteger nossas indústrias”, e continua a recusar, com Celso Amorim, qualquer aproximação à OCDE.

O PT pode até ser um partido, na prática, social-democrata, não socialista, interessado em reduzir a pobreza e proteger os mais pobres, mas suas concepções econômicas são anacrônicas e suas preferências diplomáticas ainda vão, tristemente, para ditaduras execráveis.

Os petistas gostariam de me desmentir?

Por favor…

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 23/04/2023

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...