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sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

1636) Nova declaração de princípios, ao início de um novo ano

Reafirmando velhas idéias (que, aliás, deveriam estar sempre presentes)
Paulo Roberto de Almeida)

Em setembro de 2009, no seguimento de alguns embates com certos personagens obscuros que freqüentavam uma lista de debates (que faço de conta que administro) sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil, nesse vasto espaço cibernético aberto a todas as pessoas de bem e a todas as idéias, mesmo as mais malucas e, por vezes, ofensivas à razão (e até aos chamados ‘bons costumes’), fui levado a redigir uma “declaração de princípios”, cujo subtítulo era “apenas relembrando certas coisas que são permanentes”, texto que resumia o essencial de meu pensamento de tipo (digamos assim) ‘comportamental’.
Quase quatro meses depois, no início deste novo ano – e depois de ter redigido um balanço de 2009, e da década, e uma avaliação pessoal quanto ao que realizei (e também deixei de fazer) nos doze meses transcorridos – e do começo de uma nova década (que promete ser de grandes transformações políticas e econômicas no Brasil – pensei em redigir nova declaração de princípios, para deixar bem claro o que penso e como reajo em face de certas coisas e idéias que circulam ‘por aí’... Acredito ser importante reafirmar certos valores e normas de conduta, independentemente de conjunturas ou situações pessoais, embora essas transições cronológicas se prestem particularmente a este gênero de exercício intelectual.
Pois bem, ao reler minha declaração de princípios de setembro passado, para verificar o que, exatamente, eu tinha escrito e para preparar o que eu supostamente teria de novo a declarar, constatei que nada do que ali consignei necessitava de revisão ou modificação substantiva, posto que mantenho integralmente o que penso e que ali redigi. Assim, um pouco por preguiça – depois de uma noite de ano novo que se estendeu até quase o nascimento deste dia – e talvez um pouco por desejo de confirmar meus dizeres, permito-me reproduzir, abaixo, a declaração de princípios que havia feito em 4 de setembro de 2009. Ela segue tal qual como postada no blog Diplomatizzando (link), seguida de novos comentários que acrescento agora.

Declaração de Princípios (04.09.2009)
(apenas relembrando certas coisas que são permanentes)


Existem certas coisas que independem da idade, da condição pessoal ou profissional, da situação econômica, de crenças religiosas ou afiliações políticas. Existem certos valores intangíveis que não são determinados por interesses econômicos ou vantagens momentâneas, que transcendem uma análise de custo-benefício imediato, ou mesmo perspectivas de ganhos no médio ou longo prazo. São questões inegociáveis, pelo menos para os que acreditam nelas.
Refiro-me a uma determinada concepção do mundo, da vida, da conduta pessoal, do comportamento social, do comprometimento com a própria história de vida. Esses valores são os da integridade moral, da honestidade intelectual, do compromisso com a verdade, da busca do que é moralmente justo, do que pode ser uma aproximação ao que é eticamente correto, ao que é legitimamente válido fazer, dizer ou defender. A busca da verdade é um desses valores que se mantêm íntegros, mesmo na adversidade, mesmo no confronto com forças superiores, mesmo nas dificuldades temporárias, mesmo ao custo do sacrifício de vantagens pessoais, de situações estabelecidas, de retrocessos materiais.
Tenho buscado, ao longo de minha vida – em meus escritos, em minhas atividades profissionais, em minhas aulas, na exposição de minhas idéias, em meu site pessoal, em meus blogs, em listas de discussões, em todas as minhas intervenções públicas – expressar exatamente aquilo que penso, não como reflexo de sentimentos pessoais, impressões subjetivas ou desejos individuais, mas como resultado de pesquisas, de leituras, de reflexões confrontadas aos dados da realidade, do debate aberto, da defesa da racionalidade, do uso da lógica como instrumento supremo de exercício da razão, enfim, como produto da mais simples expressão daquilo que representa a dignidade da palavra adequada à questão posta, a correspondência exata do problema colocado com uma solução possível, apenas determinado pela lógica, pela razão e pela verdade tentativa. Em uma palavra, tenho buscado viver de uma maneira digna.
O que vou dizer agora poderia ser precedido por: “Acredito que...”, mas não vou fazê-lo, pois considero o que vem exposto a seguir como uma espécie de imperativo moral. Não se deve fazer concessões a interesses partidários, a interesses econômicos, a fundamentalismos religiosos, a vantagens pessoais. Apenas a busca da verdade deve guiar aqueles que estão comprometidos com o debate aberto, a honestidade intelectual, a dignidade da palavra dada. Entre os valores que devem ser defendidos, com toda a determinação, estão a busca da honestidade intelectual, do bem comum, da dignidade da pessoa humana, da defesa desses mesmos princípios contra interesses pecuniários, da luta contra a mentira, o roubo, a violação da dignidade individual, a mistificação dos fatos e a distorção de provas empíricas. A demagogia e a mentira devem ser combatidas independentemente de quem as expressam, a fraude e a desonestidade devem ser reprimidas em quaisquer circunstâncias, os formalismos processuais devem ser repelidos em nome das evidências intencionais, e todos devem ser responsabilizados pelas palavras ditas e pelos atos cometidos.
São apenas algumas questões de princípio que devem ficar claras a todos os que interagem comigo, por quaisquer meios ou veículos. Sempre defenderei as mesmas idéias e valores, independente do tempo e da temperatura, da hora e da situação, sem qualquer concessão a oportunismos e acomodações.
Poderia acrescentar, entre parênteses, que considero o Brasil, seu cenário político, suas lideranças nacionais, os responsáveis pela ordem jurídica e os chamados representantes da vontade popular como singularmente distantes desses ideais, mas não vou fazê-lo, neste momento, pois creio que não é o caso de adentrar em uma discussão específica a uma situação. Esta é uma declaração de princípios, e como tal deve restar. Meus leitores inteligentes sabem do que estou falando; aqueles politicamente motivados, ideologicamente determinados, podem recusar minhas palavras, mas sou indiferente a esse tipo de contestação.
Acho que os que freqüentam os meus espaços de interação – site, blogs, listas, aulas, entrevistas e exposições orais e diretas – já sabem disso. Eu não precisaria relembrar tudo isso se, de vez em quando, algum espírito partidário ou fundamentalista, não tentasse colocar em dúvida esses princípios. Isto vale para minha conduta relacional (e pessoal), tanto quanto para a condução dos espaços de interação que me são dados administrar ou deles participar. Vale!

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 4 de setembro de 2009.

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Novos comentários em 1.01.2010:

Se ouso agregar comentários ao que escrito acima, não seria exatamente para adicionar novos valores ou princípios ao conjunto já resumido nesse texto, mas para tecer considerações sobre o que temos vivido em tempos aborrecidamente repetitivos de “nunca antes nestepaiz” e sobre o que poderíamos esperar dos meses e anos que vêm pela frente.
Na declaração acima eu me eximi de tecer argumentos sobre os que nos governam, julgam, representam, por achar que não era a oportunidade, numa declaração genérica e “principista”, justamente. Pois bem, creio que é chegado o momento de fazê-lo, em vista da conjuntura eleitoral em que entramos – na verdade, na qual o governo já entrou desde o primeiro dia que assumiu, sem nunca ter descido do palanque de disputas políticas – mas vou proceder de modo relativamente equânime, computando-se as diferenças pelo comportamento dos indigitados, não pelo que eu tenha a dizer.
Não creio que precise reafirmar meu completo apartidarismo, minha total indiferença a esses programas e promessas – já nem falo de idéias ou valores, pois acredito que eles não tenham – dos candidatos a qualquer coisa, que mais uma vez vão perturbar a nossa paz corriqueira com o seu desfilar de projetos eleitorais. Considero todos os políticos, sem exceção, hipócritas profissionais, mentirosos em potencial, sendo que alguns são fraudadores deliberados das verdades elementares que nos é dado observar na vida real, comportando-se eles como se fossemos todos idiotas e ingênuos (bem, muitos dos eleitores o são, mas isso por falta de ensino regular e de educação política em especial). Um número mais limitado – que espero seja ínfimo, mas tenho minhas dúvidas – é formado por bandidos de carteirinha, que buscam na representação política, justamente, o abrigo para seus crimes e falcatruas: muitos deles são eleitos e reeleitos, pois para isso serve o dinheiro desviado, a corrupção institucionalizada, que já chegou na presidência das duas casas do Congresso, como podemos testemunhar pelas revelações da imprensa. Não importa se esses crimes nunca são punidos pelo judiciário, se a mesma imprensa teima falar em “supostos” atos de corrupção, quando as evidências são tão eloqüentes que apenas idiotas, ou pessoas de má fé, ousariam repetir o bordão de que “é preciso esperar que a polícia e a justiça cumpram os seus deveres”, posto que, mesmo quando o fazem, os processos nunca chegam ao que seria sua conclusão lógica (no Brasil, nunca o que é lógico se consuma, pois o que é lógico em outros lugares, aqui é perfeitamente surrealista).
Bem, descarregados os meus sentimentos mais profundos e o meu pensamento sincero sobre os políticos que nos governam, vejamos o que vamos ter de enfrentar este ano da duvidosa graça de 2010, um ano eleitoral, como sabemos. Pior que ouvir entrevista de jogador de futebol antes ou depois do jogo, será ter de ouvir mentiras de campanha eleitoral, algumas mais viciosas e viciadas do que outras, é verdade. Se faço uma distinção de grau, é porque na verdade existe uma diferença de caráter entre certas promessas de campanha e certas mentiras de campanha, por mais que políticos são um pouco como aquele poeta, que dizia ser um fingidor natural. Nossos fingidores se especializaram no ilusionismo eleitoral, se apropriando de obras que nunca foram suas, ao mesmo tempo em que mentem sobre as ‘perversas intenções’ de adversários e competidores. Parece que tudo isso é normal em tempo de campanha, mas ocorre que eu não tenho estômago para ouvir muitas fraudes e mentiras simultaneamente.
Enfim, tudo isso vai ocorrer neste ano de 2010 – e vou seguir atentamente o noticiário, como se diz, tendo para isso aberto especialmente um novo blog, dedicado todo ele às eleições presidenciais: http://eleicoespresidenciais2010.blogspot.com/ -- mas acho que vou me aborrecer com o festival de besteirol que será destilado na programação política e nas entrevistas feitas pelos meios de comunicação. Será duro mas sobreviveremos, como já sobrevivemos a tantas fraudes e malfeitorias políticas. Mais duro de agüentar é essa sensação de que, independentemente de quem seja eleito presidente, e de quais sejam os escolhidos para os cargos políticos mais importantes do próximo governo, pouca coisa vai mudar no Brasil, por duas razoes muito simples, e absolutamente simétricas, em seu caráter antinômico.
Se o eleito – ou eleita, para não deixar de aderir ao politicamente correto – for da situação, teremos uma situação de quase completa paralisia, posto que o partido da reforma se converteu no partido da conservação, na verdade beirando o reacionarismo e o imobilismo. Conquistadas posições no aparelho de Estado e nas agências públicas, fica difícil pedir reformas administrativa, tributária, educacional, trabalhista e sindical ou, sobretudo, reforma política: se está tudo ‘dominado’ e já atende às conveniências políticas (e pessoais) dos assim aparelhados, por que se preocupar com reformas e outras chatices que só dão trabalho e perturbam a possibilidade de ganhar uns trocados com os esquemas já estabelecidos e conhecidos? Para que mudar se a nova classe chegou ao paraíso (ou quase ele)? Uma nomenklatura estabelecida e satisfeita é uma nomenklatura naturalmente conservadora, praticamente reacionária, em todo caso infensa a reformas ou a tudo que a tire da santa paz da acomodação presente.
Se o eleito for da oposição – não precisa o gênero feminino neste caso – ele também ficará paralisado, por razoes inversas. Ao pretender mudar o comportamento do Congresso, ele se deparará com a mais perfeita depravação e promiscuidade a que já assistimos desde os descobrimentos – para ficar com um bordão habitual –, o que torna mais difícil, e bem mais caro, compor maiorias congressuais para votar projetos transformadores da situação presente. Nas ruas, ele se deparará com aquelas manifestações a que já estamos acostumados na capital da República: manifestantes comprados com diárias e honorários, máquina fotográfica a tiracolo, passeiam com as bandeiras e cartazes fornecidos pelos profissionais, até a próxima manifestação, que aliás pode ser por outra causa semelhante ou diferente. Invasores profissionais continuarão com sua rotina triplamente anual, talvez mensal, de invadir prédios públicos e fazendas produtivas, atendendo ao programa do partido neobolchevique que se acredita em Petrogrado em 1917.
Claro, sempre se pode fazer alguma coisa, numa situação ou noutra, pois o ativismo do governo – sempre com o nosso dinheiro, cabe lembrar – é exemplar: ele sempre quer nos salvar de nós mesmos, e nossas tendências suicidarias ao pretender gastar nós mesmos o dinheiro que ganhamos com o trabalho honesto (obviamente, no dinheiro dos desonestos o governo não mete a mão, pelo menos não diretamente). Sim, o que não mudará, numa ou noutra hipótese de resultado eleitoral, é isso mesmo: o governo continuará nos tomando praticamente metade dos rendimentos auferidos prometendo investir e criar empregos, quando o que ele estará fazendo, em primeiro e principal lugar, será cuidar dele mesmo e de seus funcionários e assessores especiais.
Como vêm, sou razoavelmente pessimista quanto ao futuro imediato, e quanto ao mediato também. Aos que acreditam que algo possa mudar, convido a uma leitura de meu texto recentemente publicado sobre “A Primeira Década do Século 21: um retrospecto e algumas previsões imprevisíveis” (ver o original em neste link). Minha convicção é a de que mudaremos muito lentamente, e tardiamente, quando não houver mais nenhuma outra opção a escolher (ou seja, quando todas as opções erradas e soluções equivocadas já tiverem sido testadas e demonstrarem sua total ineficácia para lidar com nossas mazelas mais corriqueiras).
Não querendo parecer totalmente derrotista, eu repetiria uma frase que li há muito tempo atrás em Mario Andrade, e que nunca mais voltei a encontrar em seus escritos, mas dela tenho certeza por tê-la gravado em minha memória de adolescente fascinado com as boas frases e as fórmulas impactantes: “Progredir, progredimos um tiquinho, que o progresso também é uma fatalidade...”. De fato, salvo involução darwiniana – o que sempre é possível, dado o caráter absolutamente errático e cego da seleção natural, que por vezes escolhe os menos adaptados e capazes, em função de um ambiente confuso, como é o nosso – nos arrastaremos penosamente em direção ao futuro, no curso dos próximos anos e década: ao chegarmos em 2022, quando estaremos comemorando nossos primeiros duzentos anos de nação independente, constataremos que o Brasil ficou melhor, sem dúvida, mesmo se os mesmos políticos corruptos continuam a nos governar, se a desigualdade não diminuiu tanto assim e se a qualidade da educação continua a nos impressionar pela ruindade fabricada.
Em qualquer hipótese, o que queremos transmitir a nossos filhos e netos são valores e princípios simples, que devem guiar nossas vidas em quaisquer situações e circunstâncias, mesmo nas mais adversas como as que enfrentamos hoje: o respeito à verdade, a honestidade intelectual, a busca das melhores políticas públicas com o menor grau de extorsão tributária possível, integridade moral, da honestidade intelectual, do compromisso com a verdade, da busca do que é moralmente justo, do que se aproxima ao eticamente correto, enfim, um conjunto de princípios já explicitados anteriormente e que me contento em repetir. Esse conjunto, e alguns outros valores na mesma família deveriam guiar nossas ações em 2010 e nos anos mais à frente. Espero sinceramente que eu seja capaz de fazê-lo.
Acima de tudo devemos buscar a felicidade pessoal e a dos que nos são caros. É o que desejo a todos os que lerem estas linhas. Um bom ano a todos.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 1o. de janeiro de 2010.

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