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domingo, 10 de janeiro de 2010

1661) Relacoes Brasil-EUA: melhorando cada vez mais...

As relações melhoraram tanto, no atual governo, que nem temos mais um relatório de barreiras protecionistas americanas aos produtos brasileiros. Parece que desapareceram, nao as barreiras, mas os relatórios.
É isso que deixa entender este editorial de um jornal reacionário...

Silêncio sobre as barreiras
Editorial O Estado de S.Paulo, Sábado, 09 de Janeiro de 2010

Mais uma vez o governo deixou de publicar o relatório sobre barreiras comerciais americanas, um importante instrumento de informação para exportadores, políticos e demais interessados em acompanhar as condições do comércio Brasil-Estados Unidos. Sem explicação, a divulgação foi interrompida em 2008, embora o governo americano tenha continuado a praticar sua habitual política protecionista. Segundo a embaixada brasileira em Washington, o relatório de 2009 ainda não está pronto e, quando for concluído, o Itamaraty decidirá sobre sua divulgação. Ou, naturalmente, sobre a não divulgação, como no ano anterior. A nova orientação adotada pelos diplomatas de Brasília, em relação aos entraves comerciais impostos por Washington, é incompreensível. Deve ser parte de alguma das estranhas concepções estratégicas desenvolvidas no Palácio do Planalto e no Itamaraty a partir de 2003, quando a diplomacia nacional abandonou seu profissionalismo para se sujeitar à mais amadorística e fantasiosa orientação partidária.

O relatório sobre as barreiras comerciais americanas foi publicado regularmente entre 1993 e 2007, com exceção de um único ano, 2004. A grande mudança de orientação ocorreu em 2007, quando a embaixada em Washington foi finalmente enquadrada, de forma completa, nos novos padrões do Itamaraty. O resultado foi muito estranho. O texto de apresentação, tradicionalmente crítico em relação ao protecionismo americano, foi atenuado e, mais que isso, ganhou tonalidades quase positivas. Tudo isso foi recebido com surpresa pelos leitores habituais do relatório, até porque o governo petista não havia deixado de contestar, legalmente, a política de comércio dos Estados Unidos, marcada por forte protecionismo em algumas áreas e muitos subsídios à agricultura.

A única explicação parecia estar na boa relação pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com seu colega George W. Bush. Teriam os estrategistas do Planalto e do Itamaraty enxergado nessa relação a base de alguma nova estratégia internacional de projeção do Brasil - ou de seu presidente?

O mistério nunca foi desfeito. Nunca se explicou por que a embaixada brasileira deveria dar uma tonalidade rósea à velha e sempre reiterada tendência protecionista de Washington - protecionista pelo menos em relação aos produtos de maior interesse para o comércio brasileiro. O mistério apenas ficou mais denso com a decisão de suspender a divulgação do relatório nos dois anos seguintes.

Documentos desse tipo são no entanto normais, e muito úteis, na relação diplomática entre grandes parceiros comerciais. Como lembra a correspondente do Estado em Washington, Patrícia Campos Mello, os europeus dispõem do Market Access Database, um canal de divulgação de barreiras de qualquer país contra produtos da União Europeia. Dispõem também de uma base de dados especial para o registro de barreiras impostas pelo governo dos Estados Unidos. Os americanos têm o National Trade Estimate, com informações sobre barreiras a produtos, entraves a investimentos e ameaças à propriedade intelectual.

Num aspecto, pelo menos, o governo petista não se desviou da orientação de seus antecessores. Manteve a disposição de contestar legalmente o protecionismo americano e os subsídios pagos pelo governo de Washington. Mas inovou, de forma errada, em dois pontos. Em primeiro lugar, quando desprezou as possibilidades de um acordo bem negociado para a formação da Alca. Hoje, as condições para fazer um acordo de livre comércio com os Estados Unidos são mais complexas, porque o presidente Barack Obama tem fortes compromissos com grupos sindicais e empresariais protecionistas.

Errou, em segundo lugar, quando resolveu suspender, em nome de alguma obscura estratégia, a divulgação anual do relatório sobre barreiras. Deixou-se, com isso, de prestar um serviço importante às empresas brasileiras e a todos os interessados no comércio bilateral.

A discussão franca sobre as condições de comércio é sempre útil e nunca prejudicou a boa relação entre os dois países. Prejudiciais têm sido outras escolhas, igualmente injustificáveis, como a recusa de uma solução conciliadora para a crise em Honduras, a aliança com o regime autoritário de Teerã e a desastrada intromissão nos complexos problemas do Oriente Médio.

4 comentários:

João Pedro disse...

Dr. Paulo,
Poderia, por gentileza, comentar o caráter 'reacionário' do jornal em referência ?
Pergunto apenas como um aluno que costuma ler o jornal, talvez de forma ingênua.
Obrigado,

Paulo Roberto de Almeida disse...

Sutil ironia, meu caro Joao Pedro.
O Estadao é considerado pela esquerda um jornal de direita, conservador, reacionário, por ser liberal e defender o capitalismo.
Eu também o considerava assim, nos meus tempos de esquerda, em plena adolescencia.
Agora o fiz por ironia, já que o pessoal no poder, e os responsaveis pela politica externa, se pretendem de esquerda...

Bismark disse...

Professor, que jornais e revistas, nacionais ou não, o senhor indica para o candidato à prova do Rio Branco?

Assino a Folha e a revista Política Externa, mas procuro mais.

Paulo Roberto de Almeida disse...

Bismark,
Você me pede uma coisa impossível: fazer recomendações para outra pessoa, da qual eu sequer sei a preparação acaddêmica, as leituras diárias, as fontes de informacão.
Eu poderia dizer, todos os jornais, ou nenhum, mas eu não assinaria a Folha, que considero muito frquainha e tendenciosa. Mas, se você assina, não vou dizer para desassinar.
Eu assinaria apenas dois: Estadao e Valor Economico, mas não ficaria só com esses. Leria, diariamente, a versao eletronica do New York Times, Washington Post, Financial Times e Le Monde. A versao eletronica do semanário The Economist, a versao eletronica da Foreign Affairs e Foreing Policy, e por ai vai...
Leia tudo o que voce puder...