segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

1641) Politica Externa: desacordos Brasil-EUA

Iran, Honduras and a dubious diplomatic gamble
Posted on December 31, 2009 by Brazil Institute
Paulo Sotero
O Estado de S. Paulo, 12/20/2009 (summary from Portuguese)

A negative feeling is quickly replacing the good will toward the government of Luiz Inácio Lula da Silva and Brazil’s growing international presence that prevailed in Washington until a few months ago. Criticism against the United States and President Barack Obama made publicly by senior Brazilian officials indicate that the feeling is mutual.

Differences between Brazil and the United States over Honduras and other minor issues certainly helped create animosity. This is mainly instigated, however, by Lula’s decision to lend his personal prestige and Brazil’s international credibility to the leader of Iran, Mahmoud Ahmadinejad, hosting him in Brasilia and then offering the services of Brazil as a freelance mediator on the serious confrontation between Tehran and Washington and its allies over the Iranian nuclear program. The initiative mobilized the influential pro-Israel lobby in Washington, which could harm Brazilian commercial interests.

Also, the statement made by Lula on the lack of “moral authority” of the United States to negotiate issues of nuclear non-proliferation raised eyebrows in Washington. At that same time, Foreign Minister Celso Amorim was dispatched to Iran to an unlikely mission with Ahmadinejad, after Tehran rejected the proposal presented by the International Atomic Energy Agency.

The American perplexity was reinforced by signs that Lula let himself be used by the Iranian leader, as well as information published by the Brazilian press and attributed to diplomatic sources in Brasilia, in which Lula had acted in the case of Iran with encouragement from Washington. According to a senior official, Brazilian diplomats extrapolated circumstantial statements like “good luck” they heard from fellow Americans diplomats after Ahmadinejad’s visit was confirmed.

It’s striking in Washington what a congressional aide called the “schizophrenia” of Brazilian diplomacy. According to an aide, for a government concerned with “moral authority” in the external front, it should be evident the contradiction between Brazil’s insistence in the strictest respect for the rules of democracy in Honduras and the official endorsement of Ahmadinejad, who came to power after a fraudulent election.

The negative perception of foreign policy at the end of the Lula government is certainly influenced by criticism stated by senior Brazilian diplomats such as Rubens Ricupero, Rubens Barbosa, and Roberto Abdenur, all former ambassadors in the United States.

“It is understandable that governments take foreign policy decisions targeting domestic goals, but it is hard to see any political gain that Brazil could obtain from reducing itself to a supporting position to the policies of Venezuela and Iran,” said a high government source. The official predicted that one should not expect significant gestures by the United States, such as an Obama visit to Brazil, which once was, but is no longer, on the agenda. Realistically, the best news is the resumption of full diplomatic dialogue with the next year’s arrival in Brasília of the new American ambassador, Thomas A. Shannon, and the new ambassador of Brazil in Washington, Mauro Vieira.

To read the full article (in Portuguese), click here.

Here you have:

Irã, Honduras e uma duvidosa aposta diplomática
Paulo Sotero*
O Estado de S.Paulo, Domingo, 20 de Dezembro de 2009

Imagem negativa do Brasil aumenta em Washington após críticas públicas aos EUA e a Obama

Um sentimento negativo está rapidamente tomando o lugar da disposição favorável ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva e à crescente presença international do Brasil que prevaleceu em Washington até poucos meses atrás. Críticas aos EUA e ao próprio presidente Barack Obama feitas publicamente por altos funcionários brasileiros indicam que a recíproca é verdadeira. Platitudes sobre o caráter normal de diferenças na relação madura que supostamente existe entre os dois países, repetidas na semana passada por funcionários de ambos os governos - após uma rápida viagem inaugural a Brasília do novo secretário de Estado-adjunto para as Américas, Arturo Valenzuela -, indicam que a visita não alterou as percepções.

Divergências entre Brasil e os EUA sobre Honduras e outros episódios menores certamente contribuíram para criar animosidade. Esta se alimenta principalmente, porém, da decisão de Lula de emprestar seu prestígio pessoal e a credibilidade internacional do Brasil ao líder do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, recebendo-o em Brasília, e, depois, oferecendo os serviços do Brasil como mediador freelancer do gravíssimo confronto entre Teerã e Washington e seus aliados em torno do programa nuclear iraniano - questão estratégica número um do governo Obama. A iniciativa mobilizou o influente lobby pró-Israel em Washington, que atua tanto no Executivo como no Legislativo, e pode causar danos a interesses comerciais brasileiros. Nesse ambiente, até a controvérsia em torno da custódia do menino Sean Goldman, que corria em via própria na Justiça, acabou politizada. Na quinta-feira, o senador Frank Lautenberg, democrata de New Jersey, o Estado do pai de Sean, David Goldman, bloqueou a aprovação de lei que renovaria a concessão de isenções tarifárias a certas exportações do Brasil e outros países em desenvolvimento, em reação à decisão do ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, de conceder liminar à avó materna de Sean e sustar a sentença que ordenou a devolução do menino ao pai.

É um sentimento que vai da perplexidade dos diplomatas do Departamento de Estado à mal disfarçada hostilidade de altos funcionários de outras áreas do governo, incluindo a Casa Branca - setores que até recentemente aplaudiam o governo Lula e a ascensão do Brasil na cena global.

Moisés Naim, editor da revista Foreign Policy, diz hoje que "o Brasil se comporta como um país em desenvolvimento imaturo e ressentido". Críticas públicas aos EUA e a Obama feitas em semanas recentes por Lula, pelo chanceler Celso Amorim e pelo assessor internacional do Planalto, Marco Aurélio Garcia, reforçaram conclusões semelhantes no lado oficial.

Causou espanto, por exemplo, a afirmação feita por Lula sobre a falta de "autoridade moral" dos EUA para negociar questões de não proliferação nuclear, no momento em que despachava Celso Amorim ao Irã para uma improvável missão junto a Ahmadinejad, depois de Teerã ter rejeitado a proposta de acordo apresentada pela Agência Internacional de Energia Atômica, que tornaria o programa nuclear iraniano compatível com suas obrigações de signatário do Tratado de Não Proliferação. A crítica foi tomada como prova adicional da gratuidade da oferta brasileira de mediação. O ataque mereceu registro, também, porque foi o governo Obama que reintroduziu o desarmamento na política de não proliferação dos EUA, ausente no governo do ultraconservador George W. Bush, cuja política nuclear não mereceu maiores reparos de Brasília.

Reforçaram a perplexidade americana indícios de que Lula deixou-se usar pelo líder iraniano, assim como informações publicadas pela imprensa brasileira e atribuídas a fontes diplomáticas de Brasília, segundo as quais Lula teria atuado no caso do Irã com o incentivo ou o beneplácito de Washington. Segundo um alto funcionário, diplomatas brasileiros "extrapolaram" afirmações circunstanciais, do tipo "boa sorte", que ouviram de colegas americanos depois que a visita de Ahmadinejad foi confirmada. "O Irã é hoje o terceiro trilho da política externa dos EUA", disse a fonte, referindo-se ao condutor de eletricidade de alta tensão que movimenta os trens do metrô.

ADVERTÊNCIA VELADA
Se havia dúvida, a secretária de Estado tratou de elucidá-la num breve discurso sobre as relações dos EUA com a América Latina, no dia 11. "Creio que as pessoas que querem flertar com o Irã deveriam prestar atenção às consequências", disse ela. Em contraste, a liderança brasileira em temas nos quais o país é relevante e tem influência - como no caso das questões ambientais - continua aparentemente a ser vista com bons olhos pelos EUA.

Chama a atenção em Washington o que um assessor parlamentar chamou de "esquizofrenia" da diplomacia brasileira. Segundo o assessor, para um governo preocupado com "autoridade moral" na ação externa, deveria ser evidente a contradição entre a insistência do Brasil no mais estrito respeito às regras da democracia em Honduras e o endosso oficial a Ahmadinejad, que chegou ao poder após uma eleição fraudulenta. A percepção negativa sobre a política externa do final do governo Lula, que se cristaliza em Washington, é certamente influenciada pelas fortes críticas que veteranos diplomatas brasileiros como Rubens Ricupero, Rubens Barbosa e Roberto Abdenur, todos ex-embaixadores nos EUA, vêm publicando.

"É compreensível que os governos tomem decisões de política externa mirando objetivos domésticos, mas é difícil vislumbrar os dividendos políticos que o Brasil possa obter diminuindo-se à condição de coadjuvante das políticas da Venezuela e do Irã", afirmou um alta fonte do governo. O funcionário adiantou que não se devem esperar grandes gestos por parte dos EUA, como, por exemplo, uma visita de Obama ao Brasil, que já esteve mas não está mais na pauta. Realisticamente, a melhor notícia será a retomada do diálogo diplomático pleno com a chegada a Brasília no início do ano do novo embaixador americano, Thomas A. Shannon, e do novo embaixador do Brasil em Washington, Mauro Vieira.

* Paulo Sotero, jornalista, foi correspondente do "Estado" em Washington, onde hoje dirige o Brazil Institute do Woodrow Wilson International Center for Scholars

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