As multinacionais brasileiras
O Estado de S. Paulo - 26/01/2010
EDITORIAL
Se a valorização da moeda nacional em relação ao dólar dificulta as exportações das empresas instaladas no Brasil, de outra parte o real forte lhes dá mais cacife para aquisição do controle de companhias estrangeiras, participação em seu capital ou fusão com algumas de suas unidades, além de instalação de subsidiárias. Por exemplo, dois grandes grupos nacionais, a Cia. Siderúrgica Nacional (CSN) e a Camargo Corrêa, estão disputando a aquisição do controle ou fusão de uma de suas unidades com a portuguesa Cimpor, que opera em 13 países, inclusive no Brasil.
O negócio em perspectiva chama a atenção do mercado, mas não é extraordinário. Existem hoje dezenas de empresas brasileiras com braços no exterior, que podem ser consideradas como autênticas multinacionais. Essa evolução, sem dúvida, tem sido possibilitada pelos bons fundamentos da economia, pela vitalidade do mercado de capitais e pela boa reputação de empresas originárias do País.
Não se pode dizer que tais empresas, em sua maioria, sejam de capital puramente nacional, já que às vezes estão associadas a companhias internacionais ou, como as inscritas no Novo Mercado da BM&F Bovespa, têm papéis negociados na Bolsa de Nova York.
Pode-se dizer que a expansão das empresas brasileiras no exterior é uma contrapartida dos investimentos estrangeiros diretos (IEDs) que têm afluído ao Brasil em volumes cada vez maiores. Segundo as estimativas correntes, os IEDs devem ter alcançado US$ 28 bilhões em 2009 (o total líquido até novembro era de US$ 26,68 bilhões, segundo o Banco Central - BC). Estima o mercado que os IEDs somem US$ 37,5 bilhões este ano, podendo superar a casa de US$ 40 bilhões.
Uma boa parte desse dinheiro ingressa no País para a compra ou associação com indústrias manufatureiras, agroindústrias e empresas de serviço. O inverso também ocorre, ou seja, empresas do Brasil estão indo às compras no exterior. Dados do BC indicam saídas de investimentos diretos brasileiros de US$ 6,58 bilhões em 2009 (até novembro), total que pode aumentar bastante com a recuperação da economia mundial.
Ainda que o real possa vir a ter uma desvalorização moderada, não parece provável que esse movimento arrefeça. Muitas vezes, a internacionalização das empresas resulta de circunstâncias específicas. No caso de indústrias siderúrgicas, essa foi a válvula de escape para exportar para o mercado americano produtos semiacabados de aço, que são transformados por usinas adquiridas naquele país. Há também empresas que instalaram unidades em países que mantêm acordos comerciais com os EUA para facilitar o ingresso de seus produtos no mercado americano.
A necessidade de diversificar mercados ditou a expansão de empresas brasileiras em países da América Latina, da União Europeia (UE), do Oriente Médio, da África, do sudeste Asiático e da China. No caso do Mercosul, foram criadas condições mais favoráveis à integração por meio de binacionais ou associadas. Contudo, o que se nota hoje não é um processo condicionado apenas pelo comércio exterior. Há também a busca de oportunidades lucrativas nos quatro cantos do mundo.
Não se trata também de buscar mão de obra mais barata em outros países. A expansão é motivada, principalmente, pela necessidade de ganhar escala e, assim, poder competir melhor, de várias formas, ampliando e diversificando atividades. Além disso, atuando na arena internacional, as empresas aprendem muito, reforçam seu capital humano, aperfeiçoam técnicas de gerência e criam meios para absorver novas tecnologias.
Grandes empresas e até mesmo as de porte médio não podem, conforme sua área de atividade, ficar na dependência exclusiva do mercado doméstico, onde também enfrentam concorrentes transnacionais. Elas são empurradas para o exterior até para tentar firmar-se entre os "players" de expressão.
A ativação de negócios no exterior pelas multinacionais brasileiras atesta o grau de desenvolvimento capitalista do País.
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