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quinta-feira, 8 de abril de 2010

2045) Seminario sobre a revisao do TNP no Senado Federal

Transcrevo aqui, sequencialmente, observacões diretas e indiretas que me foram remetidas por um atento observador (e conhecedor) do tema, em relação a este meu post:

terça-feira, 6 de abril de 2010
2030) Seminario sobre a Revisao do TNP - Senado Federal

Devo dizer que o resumo está excelente, bem como os comentários. Gostaria de acrescentar meus próprios comentários mas não pretendo fazê-lo agora por absoluta falta de tempo e cansaço (são 3hs da manhã aqui na China e amanha tenho trabalho desde as 9hs), e prefiro elaborar mais a respeito.
Meus agradecimentos sinceros ao Paulo Araujo, que merece este reconhecimento por um "serviço de utilidade pública" de alta qualidade intelectual, como apenas um verdadeiro estudioso da questão poderia fazer.
Seguem as três postagens em comentário ao post acima.
Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 9.04.2010)

Paulo Araújo deixou um novo comentário sobre a sua postagem "2030) Seminario sobre a Revisao do TNP - Senado Fe...":

Caro,

Minhas impressões e um breve relato. Ressalvo que houve sim intervenções fundamentadas em argumentos sólidos, embora discutíveis. Mas no geral, falando com franqueza, o Seminário foi bem fraquinho.

Frustrante. Esperava mais. No tocante a novas informações a meu ver nada foi apresentado. Ainda estou sem saber muito bem no que de fato consiste o Protocolo Adicional que o governo brasileiro recusa-se a assinar. Com base em argumentação retórica, os palestrantes mostraram-se bons discípulos de Gorgias e apoiaram a posição do governo brasileiro contrária à adesão ao Protocolo Adicional e expressa no Plano de Defesa Nacional de 2008. Chegou-se, por exemplo, ao absurdo de justificar a não-adesão pela desconfiança de que as assim chamadas “inspeções intrusivas” serviriam de pretexto para espionagem industrial. Francamente, além do ridículo da argumentação, considerei o argumento um insulto a AIEA.

Infelizmente, não houve voz discordante em relação ao que nos interessa diretamente. Isto é, se o Brasil de fato almeja ser exportador de urânio enriquecido para fins pacíficos e beneficiar-se do desenvolvimento mundial da tecnologia nuclear (com todo o respeito e reconhecimento ao trabalho dos nossos cientistas, mas sendo realista quanto à real capacidade brasileira de levar a bom termo a pesquisa teórica e de aplicação da tecnologia nuclear à margem da comunidade internacional), então por que resistir de modo tão peremptório à hipótese de pautar-se pelas normas definidas pela comunidade internacional no protocolo adicional ao TNP? Enfim, em nenhum momento se perguntou no Seminário se o País, ao não aderir ao Protocolo Adicional, não estaria criando um problema completamente desnecessário em assunto tão sensível á comunidade internacional.

A unanimidade dos “não-vira-latas” pela não-adesão deve ter deixado a plateia feliz e orgulhosa. O viés ufanista e "nacionalisteiro" marcou retórica e cansativamente a sua presença durante todo o Seminário.

Pesquisadores ligados à universidade repetiram as fastidiosas arengas do “outro mundo possível” e do “caráter imperialista do TNP”. Muita retórica ruim e pouca informação relevante.

As melhores e mais proveitosas intervenções partiram dos diplomatas e funcionários brasileiros nas agencias internacionais. Para se ter uma ideia do despreparo dos nossos cientistas sociais, o embaixador Santiago Duarte Queiroz teve que explicar de maneira muito didática o significado do conceito de salvaguarda presente nos tratados assinados pelo Brasil. Chegou-se ao cúmulo de sugerir que o Tratado de Trateloco teria sido uma armação do imperialismo americano. O embaixador Sérgio precisou novamente intervir para lembrar que, apesar de ter sido assinado no México, o tratado foi iniciativa da diplomacia brasileira, no contexto da crise dos mísseis em Cuba nos anos 60.

Nada ouvi (não pude assistir na íntegra, mas vi a maior parte) sobre o perigo real que significam a segunda geração de países detentores de armamento nuclear (hipótese do uso da bomba em conflitos regionais) e o acesso a artefatos nucleares por organizações terroristas.

Postado por paulo araújo no blog Diplomatizzando... em Quinta-feira, Abril 08, 2010 12:31:00 PM

Paulo Araújo disse...

(continuação)

PS: As observações apresentadas no post “(2040) Pausa para uma pequena reflexão sobre o Brasil - Andrei Pleshu” [07/04/2010] são certeiras e aplicam-se bastante ao que pude assistir durante o Seminário.

PS2: Os últimos acontecimentos nesse campo puseram a nu o isolamento do governo brasileiro em sua posição acintosamente pró-Irã. Imagino que Lula não irá à cúpula nuclear convocada por Obama para a próxima semana armado com a retórica do estilingue e da falta de moral.

Quando Hillary esteve no Brasil, a secretária não conseguiu obter apoio do governo brasileiro para uma nova rodada de sanções contra o Irã.

Mas na CRE do Senado (06/04/2010), Celso Amorim deu mostra que acusou o golpe, relativizando na Comissão o que antes eram afirmativas peremptórias:

"O Irã tem que demonstrar flexibilidade. Ele também não pode se isolar", disse Amorim. [eu observo: portanto, o governo brasileiro não vai mais apoiar a intransigência do Irã. Parece que finalmente os nossos itamaratecas aprenderam a lição, depois da sucessão de erros na questão hondurenha].

O ministro brasileiro disse ainda que o governo brasileiro irá aplicar as sanções comerciais ao Irã se essa for a decisão do Conselho de Segurança da ONU.

"Se houver sanções, mesmo que a gente não concorde com elas, isso vai afetar a cooperação econômica do Brasil com o Irã", disse Amorim.

"Temos dito isso a eles com clareza. Espero que eles vejam que é necessário negociar", acrescentou.

http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL1559681-5602,00-SANCOES+PODEM+PROVOCAR+REVOLTA+POPULAR+NO+IRA+DIZ+AMORIM.html
Quinta-feira, Abril 08, 2010 12:32:00 PM

Errata. A memória me traiu.

Na verdade o diplomata citado no meu comentário (Sérgio Duarte Queiroz - Alto Representante para as Questões de Desarmamento nas Nações Unidas) está aposentado e é hoje funcionário da ONU. Infelizmente, perdi a maior parte da sua exposição. O diplomata a quem me refiro no comentário é o Ministro Santiago Irazabal Mourão - Chefe da Divisão de Desarmamento e Tecnologias Sensíveis do Ministério das Relações Exteriores - MRE.

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Links para artigos a respeito produzidos pela assessoria de imprensa do Senado Federal:

COMISSÕES / Relações Exteriores
07/04/2010 - 14h04

Apoio a Irã coloca credibilidade do Brasil em risco, alerta Azeredo

ESPECIAL
07/04/2010 - 19h03
Pacifista dos EUA: Obama ainda não transformou discurso em ação

ESPECIAL
07/04/2010 - 21h43
Tecnologia nuclear: passado sombrio pode dar lugar a energia limpa

Um comentário:

Mário Machado disse...

Professor,

Alguns de nossos cientistas sociais emulam clubes de futebol e "vivem de títulos". Ok. Eu sou só um bacharel (pretendo maiores titulações), mas se convidado a explanar sobre algo, eu me preparo para falar e não ter que ser corrigido em coisas elementares. Por que afinal nem todo mundo cai em retóricas de baixa ideologia.