quinta-feira, 3 de abril de 2014

O regime militar e o Brasil: resposta a Frank D. McCann - Jorge Alberto Forrer Garcia

No dia 1 de Abril, transcrevi neste blog a entrevista concedida pelo historiador Frank D. McCann, especialista na história militar e nas Forças Armadas (mais Exército) do Brasil, ao jornal O Estado de S.Paulo, como abaixo.

'Vivi com o golpe toda a minha carreira'
Em entrevista ao Estado, historiador americano explica em que 1964 foi diferente das outras tentativas de golpe
Entrevista: Frank D. McCann
Wilson Tosta
O Estado de S. Paulo28 de março de 2014
- See more at: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/04/frank-d-mccann-tentando-entender-os.html#sthash.y4M3JZ19.dpuf

Recebo agora do historiador militar Jorge Alberto Forrer Garcia os comentários abaixo que se referem a trechos, afirmações, argumentos, do dito historiador, especialmente na parte final de sua entrevista.
Quem desejar ler primeiro a entrevista, siga este link:
http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/04/frank-d-mccann-tentando-entender-os.html
Mas, recomendo a leitura atenta, e a reflexão sobre as palavras que vão abaixo transcritas.
Paulo Roberto de Almeida 
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Sr. Diplomata Dr.  Paulo Roberto de Almeida.
Sou oficial do Exército, do posto de Coronel Reformado, residente em Curitiba/PR. Acompanho seu "blog" por indicação de amigos.
Dessa forma, fiquei um tanto revoltado com as palavras finais da entrevista concedida pelo "scholar" Frack D. McCann em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo e reproduzida no "blog" de V. Sa. Acompanho há anos a obra de McCann como historiador do Exército Brasileiro e estudei 3 (três) de suas obras. Isto posto, Venho solicitar de V. Sa. que se digne publicar o texto que consta abaixo.
Certo de sua compreensão, desde já agradeço. Tentei postá-lo diretamente,mas a operação não se completou.
Jorge Alberto Forrer Garcia

Cel Ref

Tomado apenas o trecho final da entrevista que o Sr. Prof. Franck D. McCann deu ao jornal O Estado de São Paulo em 31 de março de 2014.

Prezado amigo, cordiais saudações.
É triste ver um estudioso como esse, de quem li os três livros sobre os militares do Brasil...(lágrimas)
Comecei a preparar essa resposta e fui tomado pela raiva. Ira, na verdade. Sei que são sentimentos menores, burrice mesmo, mas, preciso de várias reencarnações para chegar a um estado de evolução que me permita não mais sentir as coisas dessa forma.
Esse estudioso, que, até ler no jornal sua entrevista, eu tinha como um conhecedor dos militares do Brasil atreve-se a, hoje, tratar-nos dessa forma. Justamente ele que teve o mais amplo acesso que o Exército lhe poderia dar para a execução de suas pesquisas.
Eu mesmo, como tenente, participei de uma demonstração de ataque de carros de combate especialmente realizada para ele no 4° RCC, em Rosário do Sul. Até no tiro de M41 ele participou como atirador do Carro. (“A Nação Armada”, Franck D. McCann, 1982, Editora Guararapes, Recife/PE) Tenho fotos. Entrevistou-se com vários oficiais. Ele fora até lá como convidado do Estado-Maior do Exército e amigo do Comandante. Hoje, sou obrigado a ler tais palavras e pensar que ele, que tanto se serviu do Exército, foi levado na "onda" do "politicamente correto" e, agora, expressa-se dessa maneira. Para ficar só nas questões finais de sua entrevista ao Estado de São Paulo, tento argumentar como se segue.
Como evitar que tudo aconteça de novo? Basta que os Poderes da República e as instituições nacionais tomem vergonha na cara e cumpram com seus deveres...Retomem seus compromissos com a Nação e o Povo brasileiros. Quando me refiro a vergonha na cara quero dizer que voltem a se fazer respeitadas pelo cumprimento de suas missões constituicionais, e não mais se sirvam do Brasil e voltem à servi-lo.
É bom que a Presidente Dilma tenha proibido os militares de comemorar 1964 e o regime posterior...Que parte de seus estudos Sr. Frack lhe deu autoridade para tratar de assuntos internos do Brasil assim com essa desfaçatez? Seria a amizade que o Sr. sempre cultivou nos altos círculos do Exército e que foram fontes para seus estudos? Militares morreram em consequencia desse evento. Por que não podemos cultuá-los dentro dos quartéis? Eles estavam fardados, enquadrados e com, missões definidas. Não eram um “bando armado”. Tinham comandantes, famílias...Por que não se poder homenageá-los?
As escolas militares deveriam estar ensinando sobre tudo isso como um exemplo do que os militares brasileiros não devem fazer...Pôxa! Sr. McCann. Pelo fato de o Sr. nos ter estudado tanto isso lhe dá a suprema sabedoria para nos dizer como conduzir o ensino nas nossas escolas militares? Logo o Sr.! Que deve conhecer mais escolas militares brasileiras do que eu mesmo. Gostamos de cultuar aquele ditado militar que diz que numa Força Armada são preferíveis os leões aos cordeiros. Então posso concluir que o Sr. preferiria que nossas escolas estivessem formando cordeiros?
A melhor proteção para as Forças Armadas é ver o golpe como um erro grave...Sr. Franck! Tenha a santa paciência. Proteção contra quem e/ou contra o quê? E o que lhe dá o direito de vir apontar erros das Forças Armadas de um país que – até onde eu sei – é soberano? O Sr. é um historiador, logo, não serei eu a lhe dizer o que é conjuntura de uma época. O Sr. percebe que vivíamos uma conjuntura específica ou, com tanto estudo, o Sr não percebe? Se o “golpe”, como por V. Sa. tratado, não tivesse acontecido não há dúvida de que hoje seríamos um país comunista ou posso concluir que o Sr. preferiria que o país que tão bem o acolheu – e lhe permitiu sucesso por isso – fosse uma imensa Cuba?
Não foi uma vitória sobre o comunismo...Em seu livro “Soldados da Pátria – História do Exército Brasileiro 1889-1937” (Frack D. McCann, 2007, Editora Companhia das Letras, São Paulo/SP) V. Sa. gasta um bom números de páginas discorrendo sobre os acontecimentos de 1935. Então posso entender que também lá quando o Exército respondeu com armas à tentativa de tomada do poder pelos comunistas, a Instituição não os derrotou? Claro, o Sr, pode vir com aquele ponto de vista de que as ideias não se podem derrotar. Mas, acho que não vem ao caso. Não vamos agora discutir se trocamos uma ditadura por outra, pois isso também não vem ao caso. Se 1964 - num contexto de Guerra Fria - não foi uma vitória sobre o comunismo o que foi então? Talvez, se nos tivéssemos tornado aquela "Grande Cuba" o Sr. não tivesse tido a oportunidade de ter realizado tantas pesquisas com os militares brasileiros. Mas a História não aceita "talvez" e o Sr. bem sabe do perigo que o Brasil corria em 1964. Em 1965 o Sr. era professor na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro. Como historiador e pesquisador o Sr. não auscultava o que a população dizia daqueles anos? E depois, entre 1976 e 1977, quando o Sr. lecionou da Universidade de Brasília (UnB) não percebeu a ação deletéria das esquerdas sobre a vida acadêrmica brasileira? Afinal, que historiador o Sr. me saiu?
Mas um ataque à democracia e ao Brasil como um país livre...Para qual democracia o País estava indo? É como dizem: "O Brasil não é para principiantes!", ou o Sr. - que tanto nos estudou e, por isso, nem principiante pode ser considerado - não sabe da infiltração comunista no governo João Goulart? Das Ligas Camponesas? Da atuação de Prestes? Do apoio financeiro de Cuba? Isso tudo o Sr. não sabia?
Devo lembrar que as Forças Armadas de hoje não são as mesmas que as de 1964...Novamente nos jogam essa cunha ideológica para, noutra tentativa divisionista, tentar dissolver o amálgama que une as gerações de militares brasileiros. Como podem as Forças Armadas serem instituições permanentes e a cada momento serem tratadas como as de "ontem" e as de "hoje". Esta é uma das variadas formas de romper o compromisso da juventude militar das tradições históricas de cada uma das Forças Armadas. Verdadeira quimera buscada incessantemente pelas esquerdas.
As instituições militares de hoje no Brasil são politicamente neutras e totalmente engajadas na sua missão de defesa nacional...e de garantia da Lei e da Ordem! O Sr. esqueceu dessa parte da missão? Cabe às Forças Armadas defender o Brasil dos próprios brasileiros. Como não? Veja o que o que diz a missão de países tidos como muito desenvolvidos: defender a nação contra todos os tipos de inimigos, mesmo os domésticos. Ou o Sr. considera que estes não existem? Forças Armadas totalmente engajadas na defesa nacional? E as Forças Armadas de outros tempos não o foram igualmente? O Sr. que tanto nos estudou poderia citar uma oportunidade em que as Forças Armadas furtaram-se à defesa do Brasil por serem menos profissionais? Quanto a elas serem politicamente neutras aí eu concordo com o Sr. pois, toda a vez em que os militares brasileiros meteram-se com políticos deram-se mal. Não se trata de um juízo de valor É uma constatação histórica. Bem fazia Caxias. Quando o Império lhe dava poder militar sobre uma região ele logo pedia também o poder político local, pois bem sabia o que podia acontecer se assim não fosse.
Portanto Sr. Franck D. McCann, desça do pedestal a que o Sr. foi levado por essas mesmas Forças Armadas às quais ousa agora dar lições de moral e use o amplo conhecimento que tem de nós não para nos ser gratos, mas para ser honesto em seus propósitos de acadêmico e historiador..

Jorge Alberto Forrer Garcia
Coronel Reformado

Curitiba/PR

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