Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
quarta-feira, 25 de outubro de 2017
Prata da Casa: seis livros de diplomatas - Paulo Roberto de Almeida
Prata da Casa
Paulo Roberto de Almeida
Jaime Pinsky (org.): O Brasil no contexto, 1987-2017; São Paulo: Contexto, 2017, 224 p.; ISBN: 978-85-7244-992-2.
A Contexto é uma editora tipicamente acadêmica, cujo editor comemora, a cada 10 anos, sua continuada existência, publicando coletâneas nas quais analisa o “Brasil no contexto”. Assim foi nos primeiros 10 anos, depois nos 20, e agora nos 30 anos, recém-comemorados.
O embaixador Sérgio Florêncio, já autor de um livro sobre os mexicanos, na série sobre povos e culturas da Contexto, assina na obra um capítulo sobre a política externa brasileira entre a redemocratização e o governo atual, realizando a extraordinária performance de resumir todas as presidências em menos de 13 páginas.
Lula, por exemplo, é abordado como indo “do prestígio internacional à queda na credibilidade externa”, e Dilma merece um adequado “declínio da política externa e desprestígio da diplomacia”. Parabéns pela capacidade de síntese. Vale ler...
Gustavo Westmann (org.): Novos olhares sobre a política externa brasileira; São Paulo: Contexto, 2017, 272 p.; ISBN: 978-85-7244-986-1
Nove jovens diplomatas e quatro outros “paisanos” (acadêmicos ou jornalistas) assinam 14 capítulos abordando aspectos diversos da política externa, com críticas aos métodos ou até mesmo à substância da diplomacia nas últimas décadas. Na introdução, o organizador já coloca as questões mais relevantes que balizaram as contribuições: quais as prioridades do Brasil externamente?; que papel o país pretende assumir na nova ordem global?; quais são os desafios a superar?
Em capítulo próprio, ele formula suas opiniões sobre os “avanços e retrocessos da política externa e sobre a crise do Itamaraty, sugerindo novos caminhos” para o Brasil na cena internacional. Felipe Antunes trata de uma nova estratégia de desenvolvimento, Tiago Santos da formação do conhecimento e Hayle Gadelha do soft power brasileiro. Os demais capítulos são setoriais. Corajosos...
Rogério de Souza Farias: Edmundo P. Barbosa da Silva e a construção da diplomacia econômica brasileira; Brasília: Funag, 2017, 589 p.; ISBN: 978-85-7631-682-4.
Assim como as memórias de Roberto Campos Lanterna na popa constituem, bem mais que mera autobiografia, uma verdadeira história econômica do Brasil, essa densa biografia de um dos grandes construtores da diplomacia econômica no Itamaraty representa, igualmente, uma verdadeira reconstrução historiográfica de toda a história econômica do Brasil na segunda metade do século XX.
Assim como a obra de Campos, é leitura obrigatória por todos aqueles que pretendem abordar, doravante, as relações econômicas internacionais do Brasil, e as políticas econômicas, em especial a comercial e a industrial no período. Enriquecida por um belo e substantivo prefácio do colega de Edmundo, embaixador Marcílio Marques Moreira, a biografia se estende do século XIX ao XXI, e representa um monumento à inteligência econômica, como feita no Itamaraty.
Sergio de Queiroz Duarte: Desarmamento e temas correlatos; Brasília: Funag, 2014, 244 p.; ISBN: 978-85-7631-507-0; Coleção Em poucas palavras.
A coleção costuma ter 120 páginas: o tema tratado por Sérgio Duarte exigiu, porém, o dobro da extensão. Ele descreve todo o complexo compreendido no vasto universo das armas de destruição em massa, desde os primeiros esforços de desarmamento, como o programa dos Átomos para a paz, os tratados pertinentes às diversas categorias de armas (químicas, bacteriológicas e biológicas, nucleares).
A obra também trata das zonas livres destas últimas, ademais dos vetores (mísseis e foguetes), dos regimes de controle e dos organismos vinculados a esse interminável e, talvez insuperável, esforço. Tudo isso dentro das 120 páginas tradicionais da coleção: as restantes são ocupadas pela listagem dos principais acordos no campo do desarmamento e pela transcrição dos relevantes Tlatelolco, TNP e Proibição completa de testes nucleares.
Sérgio Eduardo Moreira Lima (org.): A importância da Espanha para o Brasil: história e perspectivas; Brasília: Funag, 2017, 217 p.; ISBN: 978-85-7631-670-1.
A Espanha está presente na história do Brasil muito antes da União Ibérica (1580-1640), pois portugueses e castelhanos disputaram de longa data porções do continente meridional do Novo Mundo e o reino espanhol foi um dos últimos a reconhecer a independência do Brasil, entre outros motivos por disputas monárquicas.
Luiz Felipe de Seixas Corrêa assina, nesta obra resultante de um seminário organizado pela Funag e pela Embaixada da Espanha, um interessante ensaio histórico O governo dos reis espanhóis em Portugal (1580-1640): um período singular na formação do Brasil –, que demonstra como essa União Ibérica constituiu um momento decisivo na organização da colônia até então relativamente descurada. O efeito mais importante foi a expansão do território, consolidado um século depois por Alexandre de Gusmão!
Martin Normann Kämpf: Ilha da Trindade: a ocupação britânica e o reconhecimento da soberania brasileira (1895-1896); Brasília: Funag, 2016, 221 p.; ISBN: 978-85-7631-584-1.
Depois dos clássicos livros de história diplomática de Hélio Vianna e Delgado de Carvalho, raramente a literatura em torno da política exterior do Brasil nas questões de limites tocou na questão da ilha da Trindade, limitando-se em geral aos casos mais conhecidos de limites territoriais tratados pelo Barão do Rio Branco.
Esse estudo que resulta de dissertação de mestrado no Instituto Rio Branco sob a direção do professor Francisco Doratioto inova, inclusive, sobre os estudos diplomáticos tradicionais (Araújo Jorge, Delgado de Carvalho), ao consultar arquivos primários que ainda não tinham sido explorados pelos pesquisadores. Numa era de predomínio quase absoluto e prepotente do imperialismo britânico, o Brasil conseguiu, unicamente pela força do direito, ou seja, da diplomacia, vencer o direito da força. A diplomacia construiu o Brasil moderno!
Paulo Roberto de Almeida,
diretor do Ipri/Funag do MRE.
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