O Brasil e a Grande Guerra: diplomacia e história
Paulo Roberto de Almeida
[Nota sobre o seminário a ser realizado no Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro, no Rio de Janeiro, em 6/11/2017]
O conflito matricial do século XX
Todos admitem – não só
os historiadores, mas também cientistas políticos e analistas de relações
internacionais, de modo geral – que a Grande Guerra, que mais tarde recebeu o
título de Primeira Guerra Mundial por razões mais do que óbvias, foi o conflito
seminal do século XX, que provocou imensas alterações políticas, sociais e
propriamente militares em todos os países por ela afetados, mas também enormes
impactos econômicos que perduram até a atualidade – na intromissão dos Estados
na vida econômica – e, sobretudo, no plano das relações internacionais, ao
acelerar os movimentos nacionalistas que redundariam nas descolonizações da
segunda metade do século e alteraram completamente a geopolítica mundial. Essas
mudanças afetaram em primeiro lugar a Europa, mas também os impérios coloniais
e mesmo povos e regiões distantes do epicentro do conflito, inclusive no
hemisfério americano e no Pacífico.
A historiografia, ao
longo do último século, identificou as origens da guerra – uma simples disputa
de honra nacional e de defesa de soberania entre o Império Austro-Húngaro e o
reino da Sérvia –, nas atitudes propriamente “feudais” (na visão de Arno Mayer)
dos monarcas disputando poder e influência nos Balcãs, uma subida aos extremos
por causa de um ultimatum mal concebido, exacerbado pelos ardores de chefes
militares que pensavam apenas num conflito de pequena duração, finalmente
extravasado para as grandes potências europeias por causa de um sistema de
alianças militares e de garantias ambíguas vinculando os dois extremos da
Europa central. Mas se tratava, ao início, de uma “guerra local”, que
extravasou para as grandes potências vinculadas entre si pela lógica
confrontacionista das alianças.
A guerra se tornou
mundial pela ação dos submarinos alemães, afundando inclusive navios de países
neutros, como os Estados Unidos e o próprio Brasil. Suas consequências foram
ainda mais vastas, pois foi em grande medida devido à Grande Guerra que o
czarismo foi derrocado na Rússia e que um novo sistema sócio-político e
econômico, consolidado após anos de guerra civil, emergiu na União Soviética e
projetou sua sombra sobre as relações internacionais durante mais de oito
décadas.
Programa de
seminário sobre a Grande Guerra
Para examinar os
diversos aspectos da Grande Guerra, o Instituto de Pesquisa de Relações
Internacionais (IPRI-Funag/MRE), do qual sou diretor, está organizando um
seminário no Instituto Histórico e Geográfico (Rio de Janeiro), em 6 de
novembro, segundo o programa que se detalha a seguir:
Seminário
no dia 06 de novembro de 2017
Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro, Rua Augusto Severo 8, RJ, 09:00-18:30hs
09:00 Abertura:
Apresentação do programa
09:30
Conferência de abertura:
“A América Latina e a Grande Guerra
(1914-1918)” – Prof. Olivier Compagnon (Universidade de Paris III – Institut
des Hautes Études de l´Amérique Latine), autor de O Adeus à Europa: a América Latina e a Grande Guerra.
10:30 A
imprensa brasileira e a Grande Guerra – Prof. Sidney Garambone (PUC-RJ),
autor de A Primeira Guerra Mundial e a
Imprensa Brasileira.
11:20 O
Brasil da neutralidade à guerra - Embaixador Rubens Ricupero (FAAP), autor de A Diplomacia na construção do Brasil:
1750-2016.
12:10 A neutralidade
argentina – Embaixador
Juan Archibaldo Lanús (CARI), autor de Aquel
apogeo: politica internacional argentina 1910-1939.
13:00 Almoço
14:00 Rui
Barbosa e o debate parlamentar sobre a neutralidade brasileira - Embaixador Carlos
Henrique Cardim (UNB), autor de A raiz
das coisas - Rui Barbosa: o Brasil no mundo.
14:50 A Marinha
do Brasil na Grande Guerra –
Prof. Francisco Eduardo Alves de Almeida (EGN/IGHMB), co-autor de Atlântico – a História de um Oceano.
15:40 Aviadores brasileiros na Grande Guerra (power
point) – Prof. Carlos Daróz
(UNISUL/UNIVERSO/IGHMB), autor de O
Brasil na Primeira Guerra Mundial – A Longa Travessia.
16:10 O
Exército Brasileiro na Grande Guerra: a Missão Médica Militar e o Hospital
Brasileiro de Paris - Prof.
Cristiano Enrique de Brum (PUC-RS), doutorando em História.
17:00 Epitácio Pessoa e a Conferência de Paz de Paris - Procurador Marcílio Toscano França Filho
(UFPB), autor de Epitácio Pessoa e a
Codificação do Direito Internacional.
17:50 Debate
18:30 Encerramento
Guia de
leitura, bibliografia:
A bibliografia sobre a
Grande Guerra é, obviamente, imensa, mas menos abundante no que se refere ao
envolvimento dos países latino-americanos e do Brasil. Um dos palestrantes, o
prof. Olivier Compagnon, é autor da obra de pesquisa histórica
L’adieu à l’Europe: l’Amérique Latine et
la Grande Guerre (Paris: Librairie Arthème Fyard, 2013), com edições em
português: O adeus à Europa: a América
Latina e a Grande Guerra (Rio de Janeiro: Rocco, 2014); e em espanhol: América Latina y la Gran Guerra: el adiós a
Europa (Argentina y Brasil, 1914-1939) (Buenos Aires: Crítica, 2014). Outro
participante também tem obra publicada; Sidney Garambone: A primeira guerra mundial e a imprensa brasileira (Rio de Janeiro:
Mauad, 2003).
Compagnon cita, em sua
bibliografia, livros sobre a mesma temática, entre os quais: Bill Albert; Paul
Henderson: South America and the First
World War: the impact of the war on Brazil, Argentina, Peru and Chile
(Cambridge: Cambrisge University Press, 1988); Percy Alvin Martin: Latin America and the War (Baltimore:
Johns Hopkins Press, 1925); Clodoaldo Bueno: Política externa da Primeira República: os anos de apogeu, de 1902 a
1918 (São Paulo: Paz e Terra, 2003).
O grande estudo sobre o
tema é o de Francisco Luiz Teixeira Vinhosa: O
Brasil e a Primeira Guerra Mundial: a diplomacia brasileira e as grandes potências
(Rio de Janeiro: Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 1990), com ampla
bibliografia sobre o assunto. O diplomata Fernando Paulo de Mello Barreto Filho
publicou Os Sucessores do Barão:
relações exteriores do Brasil, 1912-1964
(São
Paulo: Paz e Terra, 2001). Mais recentemente, o historiador Carlos Daróz publicou O Brasil na Primeira Guerra Mundial: a longa travessia (São Paulo: Contexto, 2016).
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 30 de outubro de 2017
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