Paulo Roberto de Almeida
O GLOBO ONLINE
Cabral dava mesada a 32 funcionários do palácio, do alto escalão a motorista e cozinheira
Delator diz que valores variavam de R$ 150 mil a R$ 500
BRASÍLIA — Apontado como chefe de uma organização criminosa que desviou milhões dos cofres do Estado do Rio, o ex-governador Sérgio Cabral se mostrou também um generoso gestor de mesadas para as pessoas que lhe eram próximas. Segundo contou o delator Carlos Miranda, Cabral mantinha um esquema, com recursos arrecadados de propinas de empresas, para garantir uma remuneração extra a seus familiares, parentes da sua mulher, Adriana Ancelmo, e funcionários do Palácio Guanabara.
Do vice-governador Luiz Fernando Pezão à cozinheira, passando por secretária e office boy, todos eram agraciados, disse Miranda, que atuava como operador financeiro do esquema. Os valores variavam de R$ 150 mil, cifra exclusiva ao alto escalão, a R$ 500 para a base da pirâmide.
Segundo delatou Miranda, nos sete anos como vice-governador do Rio, Pezão recebeu em dinheiro vivo uma mesada de R$ 150 mil. Sua remuneração oficial no contracheque era de R$ 18 mil. A comprovação dos repasses fundamentou o pedido de prisão de Pezão feito pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e cumprido no último dia 29. Na delação, Miranda, que também era agraciado mensalmente com R$ 150 mil, contou que, no total, 32 funcionários do Palácio Guanabara recebiam remuneração extra por ordem de Cabral.
Cabral também mostrava benevolência com os familiares. Entre os beneficiários do esquema, estavam seus pais, irmão, a ex-mulher Susana Neves e parentes da sua atual mulher, Adriana Ancelmo. Tantos compromissos financeiros, somados a um luxuoso estilo de vida com viagens e jantares em restaurantes regados aos melhores vinhos, demandavam de Cabral um gasto mensal de R$ 4 milhões a R$ 5 milhões, segundo os cálculos de Miranda. Desde 1997, o delator era o responsável por cuidar da vida financeira do ex-governador, hoje bancado pelo Estado, em Bangu 8.
A lista da mesada familiar incluía R$ 100 mil para a ex-mulher Suzana, R$ 100 mil para os pais de Cabral, R$ 5 mil a uma prima, R$ 12 mil para uma tia, R$ 1,9 mil para um sobrinho e R$ 1 mil para outra sobrinha.
No segundo grupo de mesadas, com valores intermediários, os repasses variavam de R$ 40 mil a R$ 500 — este último valor era destinado para o office-boy do Guanabara. Segundo o delator, Luiz Carlos Bezerra, ex-assessor de Cabral que também era operador do esquema, recebia R$ 40 mil — procurada, sua defesa confirmou a mesada, mas diz que era de R$ 25 mil. O ex-secretário de Segurança Pública José Mariano Beltrame é apontado como recebedor de R$ 30 mil mensais por intermédio de sua mulher, como revelado pelo GLOBO em abril. A ex-secretária de Cabral, Sônia Baptista, é apontada como beneficiária do mesmo valor.
O GLOBO obteve os detalhes das mesadas de Sérgio Cabral, entregues no anexo 58 da delação de Miranda, homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e mantida sob sigilo.
Na avaliação dos procuradores, para os funcionários de baixo escalão, os pagamentos dificilmente caracterizariam crimes, já que não há indícios de que eles tenham realizado atos indevidos na administração pública em contrapartida do dinheiro. Os investigadores avaliam que não existem indícios de crimes praticados por esse grupo. Já os integrantes da alta cúpula que recebiam as mesadas se tornaram alvos de denúncias ou até já estão presos.
Além dos R$ 150 mil para Pezão e Miranda, também tinham direito a esse valor os secretários Régis Fichtner (Casa Civil) e Wilson Carlos (Gestão) e o assessor especial Ary Ferreira Filho, acusado de favorecer empresários na Secretaria de Fazenda. O conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio (TCE-RJ) Aloysio Neves, que foi assessor de Cabral na Assembleia Legislativa e ocupava um cargo de assessoria na administração estadual, tinha direito a R$ 100 mil mensais. Sérgio de Castro Oliveira, o Serjão, apontado como entregador de dinheiro, recebia R$ 50 mil. Para custear o topo de pirâmide, a organização criminosa precisava de R$ 900 mil mensais.
Miranda também forneceu informações sobre como as mesadas eram pagas. Para Pezão, as entregas seriam feitas em dinheiro vivo por Serjão, após o próprio Carlos Miranda recolher a propina junto a empreiteiras ou outras empresas prestadoras de serviço ao governo. “A utilização de Serjão para transportar o dinheiro até o Palácio Guanabara foi feita em razão de Serjão ser funcionário comissionado da Secretaria de Governo e dispensar registros na portaria”, disse o delator.
Ao detalhar o custo de vida de Sérgio Cabral, o delator dividiu as despesas em cinco grupos: 1) gastos com sua casa, contas, itens de consumo e funcionários da residência; 2) mesadas e salários dos funcionários do Guanabara; 3) despesas de sua mansão em Mangaratiba; 4) despesas com a ex-mulher Susana Cabral; 5) gastos com familiares dele e de Adriana Ancelmo.
(Colaborou Igor Mello)
Do vice-governador Luiz Fernando Pezão à cozinheira, passando por secretária e office boy, todos eram agraciados, disse Miranda, que atuava como operador financeiro do esquema. Os valores variavam de R$ 150 mil, cifra exclusiva ao alto escalão, a R$ 500 para a base da pirâmide.
Segundo delatou Miranda, nos sete anos como vice-governador do Rio, Pezão recebeu em dinheiro vivo uma mesada de R$ 150 mil. Sua remuneração oficial no contracheque era de R$ 18 mil. A comprovação dos repasses fundamentou o pedido de prisão de Pezão feito pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e cumprido no último dia 29. Na delação, Miranda, que também era agraciado mensalmente com R$ 150 mil, contou que, no total, 32 funcionários do Palácio Guanabara recebiam remuneração extra por ordem de Cabral.
Cabral também mostrava benevolência com os familiares. Entre os beneficiários do esquema, estavam seus pais, irmão, a ex-mulher Susana Neves e parentes da sua atual mulher, Adriana Ancelmo. Tantos compromissos financeiros, somados a um luxuoso estilo de vida com viagens e jantares em restaurantes regados aos melhores vinhos, demandavam de Cabral um gasto mensal de R$ 4 milhões a R$ 5 milhões, segundo os cálculos de Miranda. Desde 1997, o delator era o responsável por cuidar da vida financeira do ex-governador, hoje bancado pelo Estado, em Bangu 8.
Dinheiro vivo
Há repasses para o segurança do governador (R$ 20 mil), sua chefe de gabinete (R$ 20 mil), o motorista (R$ 12 mil), duas secretárias (R$ 6 mil cada), a cozinheira (R$ 6 mil), uma empregada (R$ 1,5 mil) e quatro funcionários de funções gerais no palácio (dois ganhavam mesadas de R$ 1 mil e outros dois, R$ 500).A lista da mesada familiar incluía R$ 100 mil para a ex-mulher Suzana, R$ 100 mil para os pais de Cabral, R$ 5 mil a uma prima, R$ 12 mil para uma tia, R$ 1,9 mil para um sobrinho e R$ 1 mil para outra sobrinha.
No segundo grupo de mesadas, com valores intermediários, os repasses variavam de R$ 40 mil a R$ 500 — este último valor era destinado para o office-boy do Guanabara. Segundo o delator, Luiz Carlos Bezerra, ex-assessor de Cabral que também era operador do esquema, recebia R$ 40 mil — procurada, sua defesa confirmou a mesada, mas diz que era de R$ 25 mil. O ex-secretário de Segurança Pública José Mariano Beltrame é apontado como recebedor de R$ 30 mil mensais por intermédio de sua mulher, como revelado pelo GLOBO em abril. A ex-secretária de Cabral, Sônia Baptista, é apontada como beneficiária do mesmo valor.
O GLOBO obteve os detalhes das mesadas de Sérgio Cabral, entregues no anexo 58 da delação de Miranda, homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e mantida sob sigilo.
Na avaliação dos procuradores, para os funcionários de baixo escalão, os pagamentos dificilmente caracterizariam crimes, já que não há indícios de que eles tenham realizado atos indevidos na administração pública em contrapartida do dinheiro. Os investigadores avaliam que não existem indícios de crimes praticados por esse grupo. Já os integrantes da alta cúpula que recebiam as mesadas se tornaram alvos de denúncias ou até já estão presos.
Além dos R$ 150 mil para Pezão e Miranda, também tinham direito a esse valor os secretários Régis Fichtner (Casa Civil) e Wilson Carlos (Gestão) e o assessor especial Ary Ferreira Filho, acusado de favorecer empresários na Secretaria de Fazenda. O conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio (TCE-RJ) Aloysio Neves, que foi assessor de Cabral na Assembleia Legislativa e ocupava um cargo de assessoria na administração estadual, tinha direito a R$ 100 mil mensais. Sérgio de Castro Oliveira, o Serjão, apontado como entregador de dinheiro, recebia R$ 50 mil. Para custear o topo de pirâmide, a organização criminosa precisava de R$ 900 mil mensais.
Miranda também forneceu informações sobre como as mesadas eram pagas. Para Pezão, as entregas seriam feitas em dinheiro vivo por Serjão, após o próprio Carlos Miranda recolher a propina junto a empreiteiras ou outras empresas prestadoras de serviço ao governo. “A utilização de Serjão para transportar o dinheiro até o Palácio Guanabara foi feita em razão de Serjão ser funcionário comissionado da Secretaria de Governo e dispensar registros na portaria”, disse o delator.
Ao detalhar o custo de vida de Sérgio Cabral, o delator dividiu as despesas em cinco grupos: 1) gastos com sua casa, contas, itens de consumo e funcionários da residência; 2) mesadas e salários dos funcionários do Guanabara; 3) despesas de sua mansão em Mangaratiba; 4) despesas com a ex-mulher Susana Cabral; 5) gastos com familiares dele e de Adriana Ancelmo.
(Colaborou Igor Mello)
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