O que eu pensava sobre o
globalismo em 2017?
Uma reflexão em 2019
Paulo Roberto de Almeida
No segundo semestre de
2017, já tendo sido convidado uma primeira vez no ano anterior, para dar uma
entrevista para o grupo de mídia chamado “Brasil Paralelo”, fui novamente
contatado pelos seus organizadores para dar uma segunda entrevista para a mesma
ferramenta de mídia sobre os temas do globalismo e da globalização. Nunca fui
muito adepto dessa coisa bizarra chamada “globalismo”, que considero uma ideologia
completamente sem sentido, mas sempre fui um estudioso da chamada globalização,
uma força impessoal que existe desde o começo do mundo, e que se exerce de modo
impessoal, independentemente do que possam pensar ideólogos, intérpretes,
críticos ou promotores da globalização, em suas diversas modalidades, como por
exemplo os tipos micro e macro, distinção que faço e cujos fundamentos já
expliquei em outro trabalho:
3235. “Globalização micro e macro: o que é isso?”,
Brasília, 23 janeiro 2018, 2 p. Debate no Facebook sobre globalização política
e econômica, talvez efeito secundário do debate sobre o globalismo. Postado no Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2018/01/globalizacao-economica-e-globalizacao.html).
Minha primeira entrevista,
em outubro de 2016, teve, aparentemente, algum sucesso, razão pela qual fui
novamente contatado um ano depois, sem que eu soubesse, na origem, das posições
políticas dos organizadores de “Brasil Paralelo”, nitidamente à direita do
espectro político. Nunca tive preconceito contra quaisquer correntes políticas
e de opinião, sendo aberto a todas as propostas inteligentes que possam emergir
de todas elas, embora reconheça que, na extrema esquerda e na extrema direita,
mas mesmo no centro, muitas coisas pouco inteligentes circulam impunemente (e
conquistam adeptos). Não importa: eu leio de tudo, de uma a outra ponta, e faço
meus próprios julgamentos, assim como me utilizo dos argumentos dessas tribos
para formar minha próprio opinião sobre diversos assuntos. Essa entrevista de
2016 teve este registro:
Pois bem, um ano depois,
fui contatado pelos mesmos organizadores para dar uma “nova entrevista” sobre
esses temas já referidos: globalização e globalismo. Pedi, preventivamente, um
roteiro sobre o que queriam conversar e recebi uma lista de quatro ou cinco
questões, com base nas quais preparei, como sempre faço, algumas notas de
reflexão e análise para minha própria orientação no curso da entrevista. Essas
notas foram depois postadas em meu blog, de conformidade com o registro abaixo:
3202. “Globalismo
e globalização: os bastidores
do mundo”, Brasília, 7 dezembro 2017, 8 p. Notas para
entrevista para novo programa da série Brasil Paralelo, sobre o processo de
globalização e o conceito de globalismo. Blog Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/12/globalizacao-e-globalismo-como.html).
A “entrevista”, acertada
em meados de outubro de 2017, foi finalmente feita no dia 8 de dezembro, mas
apenas no momento de abrir o computador, para me conectar, é que soube que
seria, na verdade, um “diálogo”, e na companhia de – talvez eu devesse dizer em
contraposição a – ninguém menos do que Olavo de Carvalho, de quem eu já conheço
várias obras, mas ignorava que ele era uma espécie de guru do antiglobalismo,
influenciando, nessa condição, uma impressionante tribo de seguidores no Brasil
(não sei se ele tem seguidores em outros países). Enfim, nunca me intimidei com
credenciais ou títulos de qualquer personalidade, pois costumo pensar com minha
própria cabeça, sem atentar para argumentos de autoridade ou citações de
autores sabidos e não sabidos.
Durante a gravação, não me distanciei de minhas notas senão
para responder a acusações diretas do famoso personagem, mas no essencial me
mantive na linha do que já tinha preparado para a “entrevista”. Ele é que me
atacou continuamente, de forma não tão agressiva quanto o faria posteriormente,
junto com a tribo de seguidores. Acredito que o personagem teve um papel
importante na história política recente do Brasil, tendo sido um dos poucos
jornalistas – eu não o chamaria de “filósofo”, no máximo ele seria um “sofista”
– a denunciar o Foro de São Paulo, embora eu sempre o achei exagerado no alarme
contra a “comunização” do Brasil sob os governos de esquerda. Sempre vi os comunistas,
mesmo os do PCdoB, como os maiores aliados dos capitalistas, pois se são
inteligentes sabem que o socialismo não funciona, e seu papel, verdadeiro e
principal, é o de extorquir os capitalistas, tanto para fins partidários, como
para enriquecimento dos militantes (e sobretudo pessoal).
Enfim, finalizada a gravação,
o vídeo foi transmitido em 11/12/2017 e pode ser visualizado no YouTube (link: https://youtu.be/6Q_Amtnq34g), no Facebook (link: https://www.facebook.com/paulobooks/posts/1746403232089786), como informei no Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/12/globalismo-e-globalizacao-ou-vice-versa.html). Eu não classificaria
esse “diálogo” involuntário – sobre o qual nunca soube por antecipação – como
sendo um confronto entre Olavo de Carvalho e Paulo Roberto de Almeida, como
muitos o fizeram na sequência do debate, mas apenas como constituindo uma exposição paralela de ideias não convergentes,
poucas vezes coincidentes, na maior parte dos casos divergentes e até mesmo
opostas (o que é normal no mundo dos debates democráticos), sobre esses dois
conceitos: globalização e globalismo, em torno do qual mantemos concepções nas
antípodas.
O que eu não previa, porém, é que, no
seguimento do vídeo, Olavo de Carvalho e com ele dezenas de seus seguidores continuariam
a me atacar, muitas vezes de forma vil – ou seja, com palavras grosseiras, até
mesmo xingamentos –, o que não tive nenhum problema em registrar, pois revelador dos ânimos (e do caráter) dessa
tribo de fundamentalistas. Pouco me importa o fato de haver ou não fundamento
às teses deles sobre o globalismo – que me parece um fantasma totalmente
desprovido de evidências concretas –, mas a violência e a virulência dos
ataques que me foram dirigidos foram surpreendentes, o que depois foi
confirmado pelo novo estilo escatológico do guru da Virgínia, capaz de xingar a
todos com os mais chulos impropérios.
Devo dizer que não me
orgulho em nada – até me envergonho – de postar coisas tão medíocres e
lamentáveis, em meu blog, que é supostamente dedicado a coisas inteligentes,
para pessoas inteligentes. Os dois registros efetuados a propósito desse evento
sumamente desagradável são estes:
Reafirmo, uma vez mais,
minha aversão a esse tipo de “debate”, não desejado por mim, e que jamais seria
empreendido não fosse por esse ambiente maniqueísta em que se movem diferentes
figurantes do atual cenário político, e que pode tornar-se ainda mais
exacerbado do que o já observado nos anos finais do lulopetismo delirante e
desde o “golpe” perpetrado contra o regime mais corrupto nunca antes visto no
Brasil. Não que eu me oponha a debates de ideias – quando são ideias, ou até
mesmo ideologias –, longe disso, pois sou, basicamente, um acadêmico, ou seja,
um desses seres alienados que vivem se digladiando em torno de conceitos
abstratos. Mas o que se nos apresenta por vezes, nos palcos cibernéticos, nas
redes e ferramentas de comunicação social ou em quaisquer outros meios, é um
simulacro de “debate” que acaba revelando, bem mais do que argumentos bem
fundamentados, a profunda ignorância dos interlocutores, como esse falso alarme
sobre um tal de globalismo, por exemplo.
A globalização é um processo
real, empiricamente embasado, ao passo que o globalismo é um mero conceito,
para não dizer um espantalho, agitado justamente por pessoas que acreditam
existir essa coisa intangível, e que pretendem lutar contra ele, nas suas
diversas versões imaginárias, combinando espectros conspiratórios que juntam
bilionários de esquerda, organizações internacionais, comunistas enrustidos e
alguns outros representantes de uma fauna improvável. E se você pede provas da
existência dessa entidade maléfica, prejudicial à soberania de nações frágeis
como o Brasil, essas pessoas o acusam de ser um globalista disfarçado, e são
elas que passam a lhe pedir provas de que o globalismo não existe. Seria
preciso provar a inexistência de seres fantásticos como os unicórnios.
Não vou, neste momento e
neste espaço, deblaterar contra os inimigos da “ordem global”, pois seria
alimentar um debate tão inútil quanto desnecessário, mas prometo, quando tiver
tempo, voltar ao assunto, para tentar esclarecer algumas questões reais do
atual processo de globalização. O que me interessa, na verdade, é debater as
políticas públicas que permitam ao Brasil enveredar por um processo sustentado
– que não tem nada a ver com a tal de sustentabilidade – de crescimento econômico,
feito de mudanças estruturais (ou seja, progressos tecnológicos) e de melhoria
do capital humano, o que permitiria a elevação dos padrões de vida do conjunto
da população.
Não acredito, por exemplo,
que exista um grande embate mundial entre o globalismo e a liberdade humana, inclusive
porque não existe um espaço único que seria exclusivo ou excludente a um outro,
uma vez que cada um desses conceitos pertence a universos diferentes, inclusive
no campo propriamente conceitual. Aliás, esses conceitos, sobretudo o primeiro,
são suficientemente “etéreos” para imaginar um embate mundial entre um e outro.
Seria preciso primeiro definir exatamente o que é esse tal globalismo, saber
como se manifesta, onde já se encontra implantado, e inquirir depois em que sentido
ele poderia cercear, limitar, eliminar a liberdade humana, cujos parâmetros
respondem a uma infinidade de variáveis – geralmente domésticas – que se situam
num âmbito bem mais vinculado aos sistemas políticos nacionais. Seria o
globalismo um monstro metafísico, ou estaria ele na mesma condição do
imperialismo na visão do tirano Mao Tsé-tung, que o considerava um “tigre de
papel”? Confesso não saber responder, inclusive porque o “debate” não faz muito
sentido, num sentido, digamos, socrático.
Vou voltar ao assunto,
assim que for possível. Esta nota se destinava apenas a consolidar algumas
postagens de um ou dois anos atrás, mas que passaram a ter relevância a partir
de novos interlocutores surgidos nos últimos tempos. Até mais...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 19 de janeiro de 2019
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