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quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Brics, ainda uma vez, em 2017 - Paulo Roberto de Almeida

Depois da postagem de um trabalho meu, de maior consistência, sobre o Mercosul, mas produzido em 2014, e que está disponível neste link: 
             https://www.academia.edu/s/fa4524406e/o-que-eu-pensava-do-brics-em-2014-continuo-pensando-o-mesmo-2019#comment_461804
lembrei-me de um outro texto, mais opinativo, pois que preparado não como texto de leitura, mas para apoiar palestra, e que informo aqui: 


3188. “O lugar dos BRICS na agenda brasileira e internacional: reflexões, papeis e linkages”, Brasília, 3 novembro 2017, 29 p. Texto-guia para palestra no quadro do IV CIRIPE, Congresso Internacional de Relações Internacionais de Pernambuco (7/11/2017), a convite da Faculdade Damas, servindo também para livro (e-book), “O Lugar dos BRICS nas relações internacionais contemporâneas: Anais do IV Congresso Internacional de Relações Internacionais de Pernambuco. Inserido na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/s/15ebecf062/o-lugar-dos-brics-na-agenda-brasileira-e-internacional-reflexoes-papeis-e-linkages) e informado no blog Diplomatizzando (4/11/2017; link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/11/repensando-o-brics-ou-um-dos-brics.html).

O lugar dos BRICS na agenda brasileira e internacional: reflexões, papeis e linkages


Paulo Roberto de Almeida
Diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais, IPRI-Funag/MRE
 [Palestra no quadro do IV CIRIPE, Congresso Internacional de Relações Internacionais de Pernambuco (7/11/2017), na Faculdade Damas, servindo também para o e-book, “O Lugar dos BRICS nas relações internacionais contemporâneas: Anais do IV Congresso Internacional de Relações Internacionais de Pernambuco”.]


Introdução: uma sigla inventada por um economista de finanças
O BRIC, depois convertido em BRICS a partir de demanda especificamente chinesa quando de sua segunda cúpula, adquiriu um papel relativamente importante na agenda diplomática do Brasil nos últimos dez anos. Uma análise dessa importância, sua adequação ou conveniência política, no quadro de uma estratégia diplomática de maior alcance, na atualidade e nos anos à frente, impõe o dever, que me parece ser de simples honestidade intelectual, de abstrair a retórica oficial, sempre positiva ou otimista em relação a empreendimentos de governos, para justamente examinar o lugar dessa nova entidade no cenário da diplomacia regional, ou de blocos, em função dos interesses nacionais brasileiros, um conceito que já é, por si só, de difícil definição e avaliação.
Para atender à demanda formulada pelos organizadores do IV Congresso Internacional de Relações Internacionais de Pernambuco, pretendo seguir fielmente o enunciado proposto em carta convite a mim endereçada, qual seja, o de efetuar uma análise de cunho pessoal, formada por reflexões próprias, sobre o papel e o lugar do BRICS na agenda brasileira e internacional, com vinculações entre as diferentes vertentes dessa temática. Ao fazê-lo, caberia, antes de mais nada, referir-me a trabalhos anteriores que elaborei desde o início da discussão em torno desse acrônimo criado por um economista de banco de investimento, para atender a objetivos outros, que não os de um agrupamento diplomático dotado de locus próprio no cenário internacional, mas sim para oferecer oportunidades lucrativas de retorno a investimentos concebidos segundo uma estratégia global de aplicações em mercados financeiros, nas respectivas bolsas nacionais, em termos de investimentos diretos nesses mercados emergentes e de operações com títulos soberanos dos Estados envolvidos na sigla.
Com efeito, o BRIC-BRICS é o único foro diplomático – e isto é absolutamente inédito no plano das relações internacionais –que surge, não a partir de uma evolução natural de um processo de consultas e de coordenação política entre governos que se aproximaram por conveniências detectadas soberanamente a respeito da utilidade de uma atuação conjunta, mas sim a partir de uma sugestão puramente operacional de um economista de banco privado, motivado por questões absolutamente desprovidas de qualquer ambientação diplomática, mais exatamente com a expectativa de ganhos financeiros com base em transações financeiras de mercado por agentes privados. Essa característica já deveria nos incitar a refletir sobre o BRICS não como um agrupamento dotado de lógica própria, definida de maneira soberana e independente por governos nacionais, mas como uma resposta oportunista detectada por diplomatas e dirigentes políticos, aproveitando um acrônimo que se tornou, inopinadamente, de grande apelo mercadológico e de notável exposição e atratividade política internacional.
Mas, realidades são mutáveis. Prova disso é que o próprio banco propositor do acrônimo, e dos negócios feitos a partir dele, já desmontou a sua carteira BRIC desde vários anos, depois que a crise de 2008 mudou a configuração dos ganhos atrativos a partir desse agrupamento algo artificial que vinculava a sigla em inglês – um “tijolo” – à construção hipotética de uma nova realidade emergente na economia mundial, e nunca mais voltou a formular estudos analíticos ou propostas de carteiras de investimentos sob a guarida do acrônimo. A essa altura, ele já tinha efetuado a sua decolagem diplomática e conquistado certo lugar de destaque no teatro da política e da economia internacional. Não se pode deixar de registrar essa caraterística, um paradoxo político-econômico, quando se empreende uma análise independente, empiricamente sólida, honesta intelectualmente, não sobre o acrônimo em si, mas sobre sua configuração efetiva, tal como desenvolvida desde sua formalização diplomática, na Rússia, em 2009.
O grupo, ou foro, adquiriu consistência, se reuniu em cúpulas, com muito papel e retórica diplomática, e alguma realização concreta, como é o banco dos Brics, o New Development Bank, com sede em Xangai, e já operacional desde sua criação na cúpula de Fortaleza (2014). Minha função, no entanto, é a de prover os estudiosos e analistas das relações internacionais com reflexões próprias, honestas, consistentes, sobre o papel dessa nova configuração em nossa agenda diplomática, o que pretendo fazer, essencial e basicamente, do ponto de vista dos interesses nacionais brasileiros, tais como eu os percebo, enquanto analista engajado num trabalho de tipo analítico não comprometido com as posições oficiais de quaisquer governos brasileiros. Minhas palavras e escritos engajam unicamente minha própria pessoa, não a minha atual condição profissional.
Por isso, para concluir com esta introdução, volto, em primeiro lugar, à minha produção já acumulada a esse respeito, cujo registro seletivo se encontra na bibliografia. Se ouso recolher de minhas listas cronológicas de trabalhos efetuados ao longo dos anos apenas aqueles que contêm a sigla BRIC, ou BRICS, em seu título – ou seja, excluindo todos os demais que podem conter análises parciais ou paralelas sobre esse grupo, no corpo do texto, por exemplo –, chego a um total de 22 textos, em seus vários formatos: ensaios, entrevistas, questionários, artigos, apresentações em seminários ou debates.
A primeira reflexão a respeito do tema foi feita em entrevista concedida ao jornal O Estado de S. Paulo, em novembro de 2006, no quadro de uma conferência nacional de estudos estratégicos na Escola de Guerra Naval, no Rio de Janeiro. Ela foi publicada sob o título “O Bric é só um exercício intelectual” na edição de 04/12/2006, tendo sido objeto, no dia seguinte, de um editorial sob o título “Atraso made in Brazil”, que deve ter causado certa comoção no Itamaraty, certamente junto ao chanceler Celso Amorim, que nessa época já se encontrava engajado na conformação da sigla como um novo grupo diplomático, em coordenação com o chanceler russo, Sergey Lavrov.
Tratou-se, portanto, de minha primeira abordagem desse fenômeno, que na época eu considerava ser uma construção puramente teórica, artificial, sem qualquer configuração material ou diplomática mais explícita. Outras aproximações ao conceito, e seu fenômeno, foram feitas nos anos seguintes, no quadro de palestras, de entrevistas e cursos que continuei a efetuar, sempre elaborando um pouco mais sobre essa nova realidade do cenário diplomático, que já surgia como um novo personagem, ainda preliminar, na selva de siglas que frequentavam os veículos de comunicação econômica mundial, junto com G-7, G-8 e, logo depois, o G-20 financeiro. Um trabalho de análise econômica mais detalhada dos países integrantes do grupo, “Radiografia do Bric: indagações a partir do Brasil” (26/08/2008), publicado inicialmente na edição em espanhol da revista da Fundação Friedrich Ebert, Nueva Sociedad (outubro 2008), foi publicado em nova versão, sob o título “To Be or Not the Bric”, na revista Inteligência.
Ao lado dos aspectos econômicos do que era, até então, apenas o Bric, nunca deixei de focar a vertente da democracia, praticamente inexistente em metade do grupo e de má qualidade na outra metade (2010a). Outra questão relevante era representada pela relação entre o Bric e outros grupos existentes no plano da coordenação política entre os grandes atores, como o G-8, por exemplo (Almeida: 2009), que até então contava com a participação da Rússia; um dos chanceleres do Bric chegou a proclamar a morte do G-8, o que de toda forma só tinha expressão puramente política, sem nunca ter afetado a coordenação econômico-financeira do G-7, que mais adiante passou a também trabalhar no âmbito do G-20 financeiro, mais inclusivo e mais legítimo, embora menos eficaz.
No ambiente acadêmico, passaram a ocorrer encontros de caráter mais analítico ou conceitual, especulando sobre as possíveis configurações de poder resultante desse novo bloco de potências emergentes. A essa altura, em 2009, quando o grupo emergia com identidade própria, elaborei um estudo de maior escopo interpretativo tratando da perspectiva histórico-diplomática sobre a emergência de um novo cenário global: “O Bric e a substituição de hegemonias: um exercício analítico”, em obra coletiva (2010b). Com a crise nos países centrais, e a aparente solidez do Bric, sua importância cresceu, mas momentaneamente, até operar-se uma nítida distinção entre o desempenho dos dois gigantes da Ásia e a performance medíocre, senão de recessão, nos demais. Apesar da desaceleração, 2009 foi o ano em que a China suplantou os Estados Unidos como o principal parceiro comercial – e por enquanto apenas comercial – do Brasil.
Já transformado em Brics, o grupo continuou a ocupar espaço na mídia mundial, mas seu papel efetivo passou a ser o de uma espécie de espelho anti-hegemônico do velho G-7, sem dispor da mesma capacidade de moldar a agenda internacional. Procedi, então, a convite a uma nova análise abrangente do papel do Brasil nesse foro, em novo ensaio publicado em obra coletiva editada em Portugal (2015). Vários trabalhos feitos posteriormente serviram apenas para reafirmar meus argumentos sempre críticos em relação a um bloco que me parece singularmente desprovido de uma identidade comum.

Reflexões sobre um novo animal no cenário diplomático internacional
(...)

Ler a íntegra nos seguintes links: 


Bibliografia: 
Referências bibliográficas:


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