Ricardo Bergamini, sempre crítico das pequenas e grandes hipocrisias da política, relembra fatos, discursos, palavras e tomadas de posição que líderes políticos atuais, provavelmente, não gostariam que fossem relembrados.
O que segue transcrito abaixo é a mensagem enviada nesta data, como documentação histórica.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 23 de janeiro de 2019
190123BolsonaroPetistaRicBergamini
Na defesa dos interesses das corporações
todas as ideologias existentes no Brasil são aliadas históricas (Ricardo
Bergamini).
Prezados Senhores
O artigo abaixo publicado
na Gazeta do Povo de 31/07/17 retrata, de forma cabal e irrefutável, a minha
afirmação acima.
Bolsonaro como líder
sindical da “CUT MILITAR” se tornou inimigo mortal do presidente FHC por ter
acabado com a excrescência das pensões das filhas dos militares, bem como o fim
da promoção de uma patente acima, quando da passagem para a reserva. Com isso
apoiou Ciro Gomes no primeiro turno das eleições de 2002, e posteriormente Lula
no segundo turno.
Com a reforma da
previdência do governo Lula em 2003 também passou a ser seu inimigo por ter,
mais uma vez, atingido os direitos dos militares.
Para quem tiver coragem
sugiro ouvir o trecho do discurso de Bolsonaro em que diz ter votado em Lula.
Com esse perfil de
deputado federal por quase 30 anos, como poderia ter se transformado num
“Liberal” em apenas “uma noite de lua cheia”? Eu não acredito!
DE ALIADO A OPOSITOR
Bolsonaro, quem diria,
já votou no “companheiro” Lula para presidente
Durante a eleição de
2002, deputado Jair Bolsonaro fez elogios a Lula, sugeriu o nome de José
Genoino para o Ministério da Defesa e deu nota 10 para um discurso do líder
petista
Brasília Evandro
Éboli [31/07/2017]
Fabio Rodrigues
Pozzebom/Agência Brasil
A grande volta que a
política dá. Hoje ferrenho opositor e adversário número 1 do PT na corrida
presidencial, o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), quem diria, já teve seu
momento petista: ele votou em Lula para presidente da República no segundo
turno de 2002 (ouça áudio), deu nota 10 para um discurso do ex-presidente e até
sugeriu o nome do então deputado José Genoino (PT-SP) para ser o ministro da
Defesa de seu primeiro mandato. O chamou até de “companheiro” e “nosso querido
Lula”. Em discursos na Câmara em 2002, antes e após a eleição daquele ano na
qual Lula se elegeu, Bolsonaro foi só elogios ao petista. No primeiro turno,
ele votou em Ciro Gomes, então no PPS.
Uma de suas confissões
de voto em Lula se deu num discurso enfático de 5 de dezembro daquele ano. O
deputado, então no seu terceiro mandato, pelo PPB, era um crítico do governo de
Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, presidente à época.
“Confesso publicamente
que votei no segundo turno em Lula. Jamais votaria em um candidato de Fernando
Henrique Cardoso [José Serra, derrotado por Lula]. Votei e trabalhei para Ciro
Gomes no primeiro turno. Perdi. No segundo, escolhi o que considerei ser a
melhor opção. Haverá brava crise pela frente, mas mantemos a esperança de dias
melhores. Espero que o companheiro Lula, já que está na moda falar assim,
consulte os quadros do PT, do PCdoB e de outros partidos para fazer suas
escolhas”, disse Bolsonaro à época, preocupado com a notícia de que Lula
nomearia o embaixador José Viegas para o Ministério da Defesa, como o fez.
O deputado era um duro
crítico do governo tucano e de sua política para os militares. E, nesse
discurso, sugeriu até mesmo que Lula, em vez de Viegas, indicasse José Genoino
ou o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP). E os elogiou. Viegas era muito próximo de
FHC no entendimento de Bolsonaro.
“Não tenho como
indicar alguém para o Ministério da Defesa. Não faço parte da equipe do Lula
nem tenho poder de veto, mas tenho voz nesta Casa. Sugiro até mesmo o nome de
José Genoíno, por quem não tenho grande amizade, mas reconheço sua competência.
Não faria oposição à possibilidade dele ir para o Ministério da Defesa. Também
não me oporia se o eleito fosse Aldo Rebelo, do PCdoB. Ambos são competentes.
Não quero falar sobre a história de ninguém. Temos de pensar apenas no Brasil
daqui para a frente... Apelo para os companheiros do PT, do PCdoB, para pessoas
de bom senso do futuro governo que digam não a José Viegas”.
Ouça trecho do
discurso de Bolsonaro em que diz ter votado em Lula
“Honesto, ainda que
sem cultura”
Antes mesmo dessa
confissão, Bolsonaro já declarava que, num segundo turno entre Serra e Lula,
como apontavam as pesquisas, não votaria no candidato tucano, mesmo sendo seu
partido integrante da base do governo de FHC. E que votaria em Lula, mesmo ele
não tendo “muita cultura”, mas se tratava de uma pessoa honesta. Esse discurso
ocorreu em 9 de maio de 2002.
“Embora eu pertença a
partido da base de apoio do governo, o PPB, raramente voto favoravelmente às
propostas governamentais e jamais apoiaria o candidato oficial. Digo mais: num
segundo turno disputado entre José Serra e Lula, não voto em José Serra.
Prefiro uma pessoa honesta, ainda que sem muita cultura, como dizem ser o caso
de Lula, a uma pessoa muito culta, porém mal-intencionada”.
Em outro discurso,
também em maio, ele alertou que toda a insatisfação militar iria “estourar no
colo do PT”, caso vencesse a eleição. E reiterou que seu voto seria no petista.
“Então, alerto o pessoal do PT: entre Serra e Lula, no segundo turno, não tenho
dúvidas em quem votarei”.
Discurso nota 10
Bolsonaro e Lula se
encontraram em junho daquele ano na Comissão de Relações Exteriores da Câmara,
durante uma audiência pública na qual o petista era o convidado. O deputado e
Lula criticaram a nomeação do advogado Geraldo Quintão para o Ministério da
Defesa de Fernando Henrique. O discurso de Lula de críticas a Quintão ganhou
nota 10 de Bolsonaro, que novamente o chamou de companheiro.
“O fato é que ninguém
sabe quem é Geraldo Quintão. Ontem, na Comissão de Relações Exteriores e de
Defesa Internacional, Luiz Inácio Lula da Silva também demonstrou insatisfação
com o perfil do atual ministro. Disse então ao companheiro que ficasse
tranquilo porque ninguém conhecia o dr. Geraldo Quintão a não ser os
banqueiros, para quem advogou por 38 anos... Lula merece nota 10 pelo sincero e
confiante discurso que fez ontem. Disse apenas o que está acontecendo e que é
muito fácil resolver os problemas das Forças Armadas. Basta multiplicar por um
o que o atual governo está fazendo”.
No encerramento dessa
fala, Bolsonaro anunciou que iria disseminar a posição de Lula sobre Quintão a
20 mil militares. E voltou a pregar o voto em Lula, ainda que de forma
indireta.
“Quero louvar a
posição do Lula na Comissão de Relações Exteriores. Farei chegar ao
conhecimento dos meus 20 mil militares, que forem internautas, da posição do
presidenciável naquela Comissão, para que cada um forme um juízo melhor de como
votar por ocasião das eleições em 6 de outubro (quando se deu a votação no
primeiro turno). Obviamente, nós fechamos: nenhum militar vai votar em
Serra”.
Depois de Lula eleito,
mas ainda não empossado, Bolsonaro, em 27 de novembro, chamou Lula de
“querido”. Sempre preocupado com a indicação de seu ministro da Defesa.
“Senhor Presidente,
posto ser o momento oportuno, espero que o nosso querido Luiz Inácio Lula da
Silva, futuro Presidente da República, tenha o devido carinho para escolher um
ministro da Defesa que realmente esteja à altura das tradições do nosso
Exército”.
Lua de mel terminou em
2003
Ainda em fevereiro de
2003, com Lula já empossado, Bolsonaro começou a criticar seu governo. Ele
condenou a proposta de reforma da Previdência proposta pela gestão petista.
“Estou um tanto quanto
apreensivo neste início do governo Lula, principalmente no tocante à
previdência militar e à dos servidores públicos. O governo continua com o
propósito de cobrar contribuição previdenciária dos inativos”, afirmou
Bolsonaro.
Em maio, voltou a
criticar a política previdenciária do petista, em especial a reforma que estava
propondo para essa área. “Confesso que, se essa reforma fosse proposta pelo
governo Fernando Henrique Cardoso, já seria difícil acreditar, mas apresentada
por este governo, massacrando os servidores civis, logo essa classe que, em
quase sua totalidade, votou no governo Lula, assim como os militares da União,
é ainda pior”.
De lá para cá,
Bolsonaro virou um algoz dos políticos petistas, com quem teve embates
duríssimos. Ele já chamou Dilma de “ladra”, “guerrilheira”, “assassina”. E já
chamou Lula de “ladrão”, “corrupto” e “chefe de quadrilha”. Foram dezenas esses
confrontos com petistas.
A Gazeta do Povo fez
contato com Bolsonaro na noite desta segunda-feira (31) e até o fechamento
dessa reportagem não obteve retorno. "
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