quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

O que os economistas diziam sobre o Governo Dilma em 2011 - Ricardo Bergamini

Gosto de Ricardo Bergamini porque ele não hesita, nunca hesitou a nadar contra a corrente, revisando implacavelmente os números para "corrigir" falsos otimismos de economistas consagrados, como neste texto sobre os primeiros cem dias, em 2011, da administração Dilma, que resultou ser a mais desastrosa e desastrada para o Brasil, aquela que resultou na Grande Destruição.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 24 de janeiro de 2019

Economistas elogiam pragmatismo dos 100 primeiros dias de Dilma

Ricardo Bergamini (2011)

Ex-ministro Delfim Netto deu nota 9,9 para o novo governo; especialistas listam acertos e desafios para os próximos quatro anos
A presidente Dilma Rousseff chega, no próximo domingo, aos 100 primeiros dias na Presidência da República. Entre avaliações políticas e econômicas, o saldo é positivo, na análise de especialistas como Delfim Netto, Octavio de Barros, Paulo Rabello de Castro e Yoshiaki Nakano. Eles participaram nesta quinta-feira do debate “Uma análise dos 100 primeiros dias do governo Dilma”, realizado pela Fecomercio de São Paulo e foram praticamente consensuais: a gestão da presidente é mais técnica e pragmática que a do antecessor Luiz Inácio Lula da Silva.
“Estamos diante de um governo mais racional, pragmático e mais parrudo gerencialmente que o governo precedente”, disse o economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros. “O governo Dilma é uma ‘heterodoxia disciplinada’. É um governo pragmático que se vir que o carro corre o risco de bater no muro não hesita e muda de pista”, completou.
O ex-ministro da Fazenda Antonio Delfim Netto se disse otimista com o atual governo – e deu como praticamente certa a reeleição de Dilma Rousseff, ao considerar que ainda restam mais de 2 mil dias para a presidente no Planalto. “Estamos caminhando para uma situação muito melhor do que estava. É uma evolução muito positiva.” 
Segundo Delfim, o governo da petista merece nota 9,9. O décimo que faltou para a nota máxima foi atribuído ao modelo “extremamente ridículo” do Banco Central na análise da economia. “Há uma consciência clara de que a economia não é tão simples como parecia. Será a maior vergonha quando, daqui a 20 anos, analisarem esse modelinho de três equações – da qual não consta o crédito - que se dizia capaz de explicar o que estava acontecendo.” 
Para o diretor da escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Yoshiaki Nakano, os 100 primeiros dias do governo brasileiro foram positivamente surpreendentes, pela condução técnica e pelas negociações no campo político. Ele, no entanto, reforçou que “o governo ainda não mostrou a que veio nas grandes questões”. “Faltam ousadia, metas claras e objetivos estabelecidos”, continuou Nakano, para que o País cumpra a agenda estabelecida.
O economista Paulo Rabello de Castro, presidente da RC Consultores e do Conselho de Planejamento Estratégico da Fecomercio, disse que a análise dos 100 primeiros dias do governo é “injusta”, por conta dos outros dias que ainda restam. Entretanto, ele pontua que a avaliação é importante pelas “perspectivas que a economia brasileira oferece”.
Rabello citou uma pesquisa realizada junto aos diretores da Fecomercio, na qual a avaliação média do governo Dilma foi “suficiente” nas questões de promessas e programas de governo, imagem e realizações do governo Lula, desafios de conjuntura (inflação, déficit, competitividade e câmbio) e desafios permanentes (pobreza, acumulação, conhecimento, justiça fiscal e projeto Brasil). 
Dilma x Lula
Ao comparar a gestão de Dilma com a de Lula, Octavio de Barros disse existir uma clara diferença: o Lula é o presidente da demanda e a Dilma, da oferta. “Muito possivelmente, a agenda da Dilma estará mais do lado de quem produz e de quem investe. Claro que ela tem desafios do lado da demanda, mas estamos diante de uma nova orientação”, afirmou.
O economista-chefe do Bradesco afirmou que o País vive perspectivas positivas para o longo prazo, sem “espaços para ceticismo”. Barros acredita que “O Brasil tem condições de ingressar em um ciclo de 30 gloriosos anos”. Para tanto, diz ele, a manutenção da liderança da China, um ajuste fiscal e a reforma da previdência são pilares fundamentais.
Para Rabello, uma das principais questões que a gestão Dilma deve se diferenciar de Lula é no tratamento dado aos juros. “O governo Lula pagou uma indecência de juros durante oito anos de mandato e a presidente Dilma está equivocada ao ameaçar o Brasil de pagar R$ 220 bilhões apenas em juros no ano corrente.”
“O grande desafio da presidente é não repetir a pauta velha. Somos um País que admissivelmente acabou com a inflação, mas que reluta em pedir o fim da indexação dos nossos contratos”, completou o economista da RC Consultores. 
Mudanças

Yoshiaki Nakano considerou, por sua vez, que o Brasil passa por uma mudança abrupta, inciada em 2005. Esse movimento, explica, está associado à expansão do mercado doméstico e à mudança da confiança do empresariado brasileiro. “Quando você consegue formar uma massa crítica mínima disposta a fazer investimentos, o país vai para frente.”
Nakano pontuou que o crescimento do investimento em patamares superiores ao avanço do próprio PIB abre perspectivas positivas, mas “o grande problema é que o governo puxa o breque de mão o tempo todo”.
Ele projeta que, para crescer na casa dos 5% ao ano, o País precisará ampliar a taxa de investimento dos atuais 18% do PIB para algo em torno de 25% do PIB. “Aumentar essa taxa significa migrar recursos do consumo para investimento. A política do governo está voltada para o consumo e isso, claramente, tem um limite.”
O ex-ministro Delfim Netto reforçou a mudança social e econômica que o País atravessa. “Hoje, a empregada doméstica é uma espécie em extinção”, diz. “Ela virou manicure, depois telefonista do call center, depois foi trabalhar em uma loja e agora é gerente. Quando ela começou, usava sabão de coco. Hoje, usa Dove”, comparou.
Segundo Delfim, esse movimento explica o desarranjo existente entre oferta e demanda no setor de serviços, que gera a pressão inflacionária vista atualmente. 
Desafios

Diante do descompasso entre oferta e demanda, um dos grandes desafios para o governo Dilma no curto prazo é o controle da inflação. Octavio de Barros, do Bradesco, diz que a pressão maior vem por parte do setor de serviços, “que essencialmente traduz essa pressão sobre o mercado de trabalho”. 
Ele acredita, por outro lado, que o empresário brasileiro não está com foco no horizonte de 2011. “Pelos nossos estudos, nenhum empresário está preocupado com o crescimento deste ano. O horizonte é muito mais amplo.”
Octavio defende, neste início de governo, um combate à desancoragem e à indexação da economia. “Isso deixou de ser um tema apenas do Banco Central”, diz. 
Já Rabello defendeu que o corte no Orçamento de R$ 50 bilhões é insuficiente para atingir a meta de controle da despesa pública. “Se desconsiderarmos o aporte feito na capitalização da Petrobras, teremos um aumento real de 5% nos gastos públicos.” Ele defendeu, também, o enquadramento das taxas de juros do País com relação ao mundo. “Esse é o problema central da entrada de recursos. Está na hora de o Brasil praticar taxa de juros normais.”
Sobre a valorização do real frente ao dólar, Rabello afirmou que o problema é estrutural. “Não adianta ficar ‘botando rolha no casco do navio’, quando a pressão interna e externa sobre a estrutura é muito mais forte que a capacidade de um IOF a 6%, 7%, 8% pode suportar.”
Nakano, por sua vez, disse que o governo enfrenta desafios na esfera externa, fiscal e monetária. No setor externo, ele defende que o País mude a integração no mercado global. “O Brasil optou por integrar via mercado financeiro, mas quem quer crescer precisa de integração via comércio.”
Em relação à questão fiscal, o diretor da FGV afirmou que é preciso “mudar o pacto pró gastança”. “O governo está estimulando o consumo e não o investimento. Precisamos fazer um ajuste fiscal.”
Por fim, Nakano elogiou a postura do Banco Central, mas criticou a política monetária. “É muito pouco eficaz. O que segura a inflação no País é a apreciação cambial. Se olharmos em que período o BC conseguiu atingir as metas de inflação foi quando o câmbio apreciou abruptamente. Aí é muito fácil”, completou.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários são sempre bem-vindos, desde que se refiram ao objeto mesmo da postagem, de preferência identificados. Propagandas ou mensagens agressivas serão sumariamente eliminadas. Outras questões podem ser encaminhadas através de meu site (www.pralmeida.org). Formule seus comentários em linguagem concisa, objetiva, em um Português aceitável para os padrões da língua coloquial.
A confirmação manual dos comentários é necessária, tendo em vista o grande número de junks e spams recebidos.