Embaixador exonerado aponta 'quebra de
procedimento' no Itamaraty
Paulo Roberto de Almeida publicou textos críticos a Ernesto
Araújo nas redes sociais; para diplomata, ministro é um 'júnior' na carreira
Camila Turtelli, O Estado de S.Paulo
04 de
março de 2019 | 21h17
Almeida disse que já estava
esperando a atitude do Itamaraty e critica a atuação do novo
governo frente à Casa. “Os embaixadores estão obedecendo a ministros de segunda
classe no Itamaraty. E todas as secretarias são ocupadas por funcionários
juniores, ou menos antigos dos que estavam antes”, afirmou Almeida, que é
diplomata de carreira desde 1977 e já serviu em diversos postos no exterior,
inclusive na Bélgica.
Em relação ao chanceler Ernesto Araújo,
diz que os próprios militares que integram o governo já demonstraram incômodo
com algumas de suas posturas. “Os militares parecem também terem visto isso e
adotaram uma espécie de ‘cordão sanitário’ ao redor do chanceler”, afirmou.
Como foi que o senhor ficou
sabendo da sua exoneração?
Recebi um telefonema do Chefe
de Gabinete do Ministro de Estado (Pedro Gustavo Ventura Wollny)
reclamando das minhas postagens no meu blog pessoal. Realmente, coloquei aquela
palestra do (Rubens) Ricupero na segunda-feira passada, coloquei o
artigo do Fernando Henrique Cardoso, no domingo, e o próprio artigo
do chanceler (Ernesto Araújo) à noite. E claro, teci comentários.
Há também outras postagens,
anteriores a estas, que são críticas...
Sim, eu sou um espírito
libertário, enfim, acredito que posso debater tudo. Enfim, eles ficaram
irritados e ele (Wollny) me telefonou para dizer que não era saudável.
O chefe de gabinete então
deixou claro que a exoneração tinha relação com as postagens?
Sim, claro. Com meu blog, sem
dúvida nenhuma. Mas isso já era previsível. Eu já estava preparado. Porque o
ministro de Estado demitiu todos os chefes da Casa. Desde antes de tomar posse,
em dezembro, eles estavam anunciando que todos os subsecretários, os
embaixadores, estavam dispensados.
E no lugar, hoje, os
embaixadores estão obedecendo a ministros de segunda classe no Itamaraty. E
todas as secretarias são ocupadas por funcionários juniores, ou menos antigos
dos que estavam antes. Há muito embaixador sem função, o que vai ser meu caso
agora também.
Por que o senhor acredita que
isso ocorreu?
Isso ocorreu porque o
chanceler Ernesto Araújo também é um embaixador júnior. E ele está usando um
critério geracional, digamos assim, para renovar a chefia. O que pode ocorrer
em determinadas circunstâncias, mas o fato é que houve uma quebra de hierarquia
muito clara no Itamaraty desde janeiro. Houve também uma ruptura dos
procedimentos quanto à reforma na Casa, totalmente sem consulta, sem
nenhuma preparação.
Como o senhor vê o desempenho
do chanceler até este momento?
Não sou eu que estou vendo.
Os jornalistas todos têm feito comentários sobre as posturas anti-globalista,
anti-climatista, essas questões envolvendo a Venezuela. Os militares parecem
também terem visto isso e adotaram uma espécie de “cordão sanitário” ao redor
do chanceler.
Há muitos elementos aí que
criam um certo desconforto tanto na Casa quanto fora dela. Acredito que o fato
de eu repercutir um pouco esse debate público incomodou um pouco.
O senhor acredita que ainda
podem haver novas exonerações no Itamaraty?
Vários embaixadores já foram
exonerados de seus cargos que estão sem função. Então, acho que há essa
perspectiva geracional. Não conheço nenhum diplomata petista. Talvez tenha dois
ou três, mas devem estar quietos. Essa coisa de limpar o petismo do Itamaraty,
o marxismo cultural, isso é uma grande bobagem. Porque o Itamaraty é feito por
profissionais, que, claro, atendem ao presidente, seguem a política externa do
Palácio. Algumas medidas tomadas recentemente são pouco compatíveis com a
chamadas tradições do Itamaraty.
Nobre embaixador, a despeito da quebra de hierarquia talvez ela ocorra exatamente quando subordinados promovem pautas que no mínimo constrange seus superiores.
ResponderExcluirÉ fato que o Itamaraty não vinha desenvolvendo uma política estrangeira a altura do país, antes apenas direcionando para o viés ideológico dos partidos de esquerda que ocupavam o governo, inclusive de FHC, e que esse cidadão sempre andou de mãos dadas com Bill Clinton e isso não foi visto como quebra da soberania...o foro de sp passou ao largo também do Itamaraty e isso não comprometia a soberania?
Bom, como cidadão brasileiro não gostei da sua atitude, isso não quer dizer que não o respeite ou que lhe quero mal.
Abraço forte.
👉🏻👮🏻♂️🇧🇷
Caro PRA,
ResponderExcluirsou leitor assíduo do seu blog, e expresso aqui a minha solidariedade a vc. Continue com esse espírito crítico, libertário e provocador, pois é do embate de ideias que se provoca o conhecimento. Abs, LF