Uma história sincera do Itamaraty
Paulo Roberto de Almeida
[Objetivo: comentário sobre um projeto; finalidade: completar história institucional]
Um antigo projeto de livro que tenho em mente, “Uma história sincera do Itamaraty”, só poderá realmente ser conduzido até o marco cronológico de 2018.
Depois disso se entra num “labirinto de sombras” — título, aliás, de meu mais recente livro de ensaios de política externa e sobre a diplomacia brasileira — para o qual o adjetivo “sincera” não mais se aplica, uma vez que interlocutores da ativa enfrentam enormes dificuldades para se expressar com toda clareza e transparência sobre uma das fases mais obscuras e vergonhosas de nosso Serviço Exterior, constrangido e encabulado por mais deformações e mentiras do que no período especial da ditadura militar, quando agentes consulares e diplomatas eram impedidos de sequer expedir certidões e passaportes para adversários exilados do regime ou seus filhos.
Ainda assim relatarei, na maior extensão possível, o verdadeiro “surrealismo exótico” sob o qual o Itamaraty passou a viver desde 2019, quando se passou a cultivar as fantasmagorias demenciais de um guru destrambelhado sobre uma suposta ameaça do “globalismo” mancomunado ao “comunismo”, como sendo, junto com essa coisa bizarra do “climatismo”, os maiores perigos para a sobrevivência da “alma conservadora” do povo brasileiro, além de outras loucuras diplomáticas só capazes de frequentar mentes muito doentias e desequilibradas.
Claro, o lado “sincero” dessa história consiste simplesmente em revelar como o oportunismo rastaquera de certos vira-casacas é capaz de se colocar servilmente a serviço dos agentes mais aloprados de um tal de “movimento conservador”, que na verdade pertence à tribo obscurantista e reacionária dos novos bárbaros.
O trabalho de redação continua, a despeito do pântano circundante...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 3731, 8 de agosto de 2020
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