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terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Pensando no que é relevante para a imagem do Brasil no mundo - Paulo Roberto de Almeida

Pensando no que é relevante para a imagem do Brasil no mundo

Paulo Roberto de Almeida


Um dos critérios básicos, eu até diria imprescindíveis, para uma política externa de boa qualidade é a defesa do Estado de Direito, o que, no plano internacional, significa o pleno respeito à Carta da ONU.

Lula deveria pensar nisso ao definir suas diretrizes para a condução da diplomacia brasileira: quem, no mundo, acata as normas mais elementares do Direito Internacional, e quem se empenha em violar flagrantemente tais princípios que, desde o Barão do Rio Branco e Rui Barbosa, estão na essencia da concepção doutrinal da diplomacia nacional?

Basta mirar-se no exemplo do que fizeram chanceleres como Oswaldo Aranha, nos momentos mais sombrios da ascensão do nazifascismo, ou como San Tiago Dantas, numa conjuntura de prepotência imperial no confronto com normas tradicionais do Direito Internacional.

Não é equivocado pensar na construção de uma nova ordem internacional ou em ajudar a promover a multipolaridade, desde que isso se faça no acatamento das normas do Direito Internacional, ou seja, da Carta da ONU, e na condenação das ações que confrontem tais princípios e valores, que sempre foram os da nossa diplomacia, antes mesmo que existisse a ONU (mas já existia a Liga das Nações, que exibia, ainda que pró-forma, princípios similares).

Registre-se que, em pleno Estado Novo, a diplomacia brasileira não reconheceu a usurpação pela força do território da Polônia, iniciada por Hitler, em setembro de 1939, depois coadjuvada por forças da União Soviética, assim como não reconheceu a ocupação ilegal dos três países bálticos independentes — com os quais o Brasil manteve relações diplomáticas desde 1919-1921 até os anos 1960 — invadidos por Stalin em 1940.

Tais atitudes, mesmo de uma ditadura simpática ao autoritarismo das potências nazifascistas, deveriam servir de reflexão para se pautar a postura da diplomacia brasileira num momento em que violações similares às de Hitler e Stalin são perpetradas na conjuntura atual, na qual alguns maus conselheiros são seduzidos pela ilusão de uma “nova ordem internacional” patrocinada por duas grandes autocracias e por concepções equivocadas do que significa multipolaridade.

Como diria Rui Barbosa, não pode haver neutralidade entre a Justiça e o crime.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 17/01/2023

segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

A América Central e o Caribe como macrorregião estratégica para o Brasil: análise e proposta de uma nova agenda regional brasileira - Flávio Helmold Macieira (ESD)

metadata.dc.type: Artigo
Title: A América Central e o Caribe como macrorregião estratégica para o Brasil: análise e proposta de uma nova agenda regional brasileira
Authors: Macieira, Flávio Helmold
Advisors: Queiroz, Fábio Albergaria de
Course: Curso de Altos Estudos em Defesa (CAED)
Keywords: Estratégia de Defesa;Diplomacia - América Central;Política externa;Narcotráfico
Issue Date: 2020
Publisher: Escola Superior de Guerra (Campus Brasília)
Abstract: This Article presents facts and reasons that explain why the Central American and Caribbean region is highly strategic for Brazil. It proposes a renewal and reinforcement of national policies towards the area. Field observations made by the author in diplomatic missions in Central America set the basis for the analysis. The work’s theoretical framework assembles concepts from the Copenhagen School, the Neoliberal School and Dependency Theory. Through its Northern Coast Line, which connects the “Green Amazon” to the “Blue Amazon”, Brazil interacts with the Caribbean Basin. Central American and Caribbean and its aerial and maritime routes are vital for Brazilian trade and Brazilian access to the USA and Asia. The Article proposes an agenda of measures aimed at reinforcing Brazilian relationship with the region in such fields as: traditional diplomacy, cooperation in the security field, military subjects, trade and transports, financial intelligence, technical cooperation, environment. By intensifying its presence in that region, Brazil responds to historic reasons and to the interests of the regional players. The Brazilian Intelligentsia is invited to further deepen the Article’s proposals for a new relationship policy towards Central America and Caribbean.
Description: Este artigo analisa fatos e razões que explicam por que a região da América Central e Caribe é altamente estratégica para o Brasil. São propostos renovação e reforço das políticas nacionais de relacionamento com a área. Desenvolvido, metodologicamente, a partir do enquadramento de informações colhidas pelo autor em missões diplomáticas na América Central, o trabalho busca fundamento teórico em conceitos da Escola de Copenhague, da Escola Neoliberal e da Teoria da Dependência. Por sua localização geográfica, a Costa Norte brasileira – área de contato entre a Amazônia Verde e a Amazônia Azul – interage com a Bacia Caribenha. A região centro-americana e caribenha e as rotas aéreas e marítimas que a cruzam são de vital importância para o comércio brasileiro e a conectividade do país com os EUA e a Ásia. O artigo formula uma agenda de reforço do relacionamento brasileiro com a região em áreas como: diplomacia tradicional, cooperação em matéria de segurança, temas militares, comércio e transportes, inteligência financeira, cooperação técnica, meio ambiente. Incrementando sua presença interativa na região o Brasil obedece a determinantes históricas e atende a expectativas da própria região. A Intelligentsia brasileira é convidada a aprofundar as propostas do Artigo que visam à elaboração uma nova política de relacionamento com a América Central e o Caribe.
Coleção de Artigos (Estratégias de Defesa)

https://repositorio.esg.br/handle/123456789/962


sexta-feira, 11 de novembro de 2022

Audo Faleiro assessora transição de Lula na diplomacia - Murilo Fagundes (Poder 360)

 Audo Faleiro assessora transição de Lula na diplomacia


Embaixador e ex-assessor para assuntos internacionais da Presidência é indicação do chanceler Celso Amorim

PODER 360
MURILO FAGUNDES 
11.nov.2022 (sexta-feira) - 13h17

O ex-assessor para assuntos internacionais da Presidência Audo Faleiro foi escalado pela equipe do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para o gabinete de transição. O embaixador atua como elo entre o Itamaraty e a equipe do governo transitório.

O Poder360 apurou que Faleiro já conduz reuniões preparatórias para as viagens do petista ao Egito, onde participará da COP27, e a Portugal, onde encontrará os chefes de Estado e Governo. Faleiro é indicação do ex-chanceler Celso Amorim, braço direito de Lula em assuntos relacionados à diplomacia.

Faleiro é avaliado por colegas como alguém com perfil sereno e apaziguador. Foi escolhido para conduzir uma transição sem entreveros com o atual chanceler, Carlos França.

O embaixador escalado pelo PT, diplomata de carreira, foi alvo do ex-chanceler Ernesto Araújo, em 2019, no início da gestão do presidente Jair Bolsonaro (PL). À época, 4 dias depois de ser nomeado para chefiar a Divisão de Europa do Ministério das Relações Exteriores, Faleiro foi demitido.

EGITO E PORTUGAL 
Lula visitará Portugal depois de participar da COP27, conferência climática da ONU (Organização das Nações Unidas), em Sharm El Sheikh (Egito). A informação foi confirmada pelo Poder360, mas a agenda ainda não foi divulgada.

Na 4ª feira (9.nov), o petista disse que sua viagem internacional começará na 2ª feira (14.nov) de manhã e terminará no sábado (19.nov). Lula afirmou também que começará a montar sua equipe de ministros depois de retornar ao Brasil.

Lula foi convidado pelos integrantes do Consórcio de Governadores da Amazônia Legal para participar da COP27. O coordenador do grupo, Waldez Góes (PDT), governador do Amapá, foi quem fez o convite. Mas Helder Barbalho (MDB), governador do Pará, anunciou o convite publicamente em 31 de outubro.

A defesa da pauta ambiental foi uma das principais bandeiras de Lula durante a campanha eleitoral. O presidente eleito defende que o Brasil volte a ser protagonista perante os outros países, especialmente para liderar respostas à emergência climática.

Na 2ª feira (7.nov), o ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim disse que a ida de Lula ao evento mostra “atitude, engajamento e respeito às metas climáticas”. “É uma questão de participação ativa, de desenvolvimento sustável, em que não se vê desenvolvimento e clima como conflito. Acho que essa é a visão dele”, declarou Amorim.

segunda-feira, 5 de setembro de 2022

Vergonha do Brasil e do Itamaraty - Paulo Roberto de Almeida

 Vergonha do Brasil e do Itamaraty: uma expressão pessoal de meu profundo desconforto moral com o desgoverno que rebaixa o conceito externo da nação.

Ingressei na carreira diplomática em plena ditadura, e durante alguns anos continuei resistindo ao regime militar, usando nomes de guerra para escrever contra o autoritarismo e mesmo contra aspectos da “diplomacia blindada” que tivemos em algumas fases da ditadura. 

Mas a política externa não era o pior aspecto do regime militar, quando comparada, por exemplo, à idiotice da censura política e da repressão cultural, ou até, no limite, à repressão desapiedada de opositores pacíficos do regime, entre os quais eu me incluía.

Melhoramos muito em todos os aspectos desde 1985, embora a vergonha das desigualdades sociais tenha continuado impérvia desde então, a despeito de melhorias pontuais em governos passados.

Mas um aspecto passou a me constranger desde as eleições presidenciais de outubro de 2018: jamais, até 2018-19, senti tanta vergonha da política externa e da diplomacia como nos últimos 4 anos.

Tenho profunda tristeza pelo que ocorreu com nossa imagem internacional e com o lado deprimente e depressivo que atingiu — o verbo não é muito forte — o Itamaraty, sobretudo na primeira fase do atual governo, quando a gestão da Casa de Rio Branco esteve entregue à franja lunática que rebaixou o conceito da diplomacia profissional e da própria política externa de forma nunca antes vista na história do país. 

Não consigo imaginar o estado de espírito da maioria dos meus colegas diplomatas e não consigo entender como alguém da carreira possa ainda admitir, apoiar ou defender o atual desgoverno, conduzido por um desequilibrado ex-militar, um indigno representante das masmorras dos anos de chumbo da ditadura militar.

Os valores e princípios da diplomacia profissional brasileira foram espezinhados e conspurcados pelos que humilham a nação no mundo. 

Sei que este meu protesto não tem nenhuma relevância no atual contexto eleitoral; eu apenas desejei registrar meu sentimento num momento decisivo da trajetória do Brasil: vamos atravessar o Bicentenário da Independência numa situação de profunda divisão do país.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 5/09/2022

sábado, 6 de agosto de 2022

"A hora da diplomacia brasileira voltar a priorizar seu retorno regional": Policy Paper do Núcleo América do Sul do CEBRI


O Núcleo América do Sul do CEBRI convida para o evento de lançamento do Policy Paper "A hora da diplomacia brasileira voltar a priorizar seu retorno regional".

Data e hora: 9 de agosto, terça-feira, às 17h

Evento presencial em São Paulo, vagas limitadas.
Inscrição presencial: rsvp@cebri.org.br
Assista ao evento ao vivo AQUI 

Endereço: USP - Cidade Universitária -  Prédio do Instituto de Relações Internacionais
Avenida Professor Lúcio Martins Rodrigues, Tv. 4 e 5/2º andar, Butantã, São Paulo

Em caso de dúvidas, por favor, entrar em contato pelo e-mail rsvp@cebri.org.br




sexta-feira, 5 de agosto de 2022

A diplomacia lulopetista vai se diferenciar da bolsonarista na questão da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia?

Aparentemente não, pois Lula e Amorim são abertamente pró-Rússia e totalmente antiamericanos. Mas, tem o seguinte: Lula ficou carente de um prêmio Nobel da Paz nas questões do conflito israelo-palestino e do programa nuclear iraniano, e vai tentar ganhar um. Acha que vai merecer um, se por acaso fizer a paz, ou pelo menos um armistício, entre russos e ucranianos, e depois, no embalo, entre americanos e chineses. Sonhar grande sempre é possível.

Paulo Roberto de Almeida 


Sanções dos EUA à Rússia são um erro, diz Celso Amorim

Principal conselheiro de Lula sobre política externa diz que presidenciável pode assumir papel em negociações de paz se voltar ao Planalto

Por Simone Iglesias e Martha Beck, Bloomberg — São Paulo
05/08/2022 12h02  Atualizado há 3 horas

As sanções econômicas lideradas pelos Estados Unidos contra Moscou são um erro político que aumenta o risco de uma ameaça nuclear, afirmou o embaixador Celso Amorim, principal conselheiro de política externa de Luiz Inácio Lula da Silva.

Amorim, que liderou o Ministério das Relações Exteriores durante os dois mandatos de Lula, alertou para os perigos de isolar uma economia “tão grande e estratégica” quanto a da Rússia, explicando por que o ex-presidente não endossaria tais posições diplomáticas se eleito em outubro.

Pela primeira vez desde a crise do mísseis de Cuba entre EUA e a ex-União Soviética, nos anos 1960, Amorim diz estar preocupado com um risco nuclear real.

— Toda semana sai um artigo sobre o uso de arma nuclear. Acho uma irresponsabilidade não se buscar a paz de maneira mais efetiva.

Quase seis meses após a Rússia invadir a Ucrânia, o conflito na Europa Oriental continua longe de seu fim, com países membros da Otan mantendo o envio de armas a Kiev e impondo grandes sanções econômicas a Moscou.

Em maio, Lula causou polêmica ao dizer à revista Time que Volodymyr Zelenskiy, da Ucrânia, e Joe Biden, dos EUA, compartilham parte da culpa pela guerra, pois acredita que os dois líderes não conseguiram negociar mais com Moscou.

Amorim agora vê as armas nucleares como uma ameaça tão tangível quanto as do clima, da desigualdade social e econômica e da pandemia. As sanções também estão fortalecendo os laços entre Moscou e Pequim, acrescentou.

— Não tenho nada contra a China, pelo contrário, mas não consigo entender o interesse dos países ocidentais, especialmente dos Estados Unidos, em fortalecer a relação China e Rússia — disse o embaixador em entrevista à Bloomberg, em São Paulo, esta semana.

Segundo o ex-chanceler, o sentimento anti-Ocidente pode se materializar de uma forma ou de outra nas próximas décadas.

— Não tem condição de isolar a Rússia — disse. — Ou você vai transformá-lo num país cujo rancor com o Ocidente vai ser cada vez maior, ou concomitantemente, vai fazê-lo se aproximar cada vez mais da China.

Lula, se eleito, poderia assumir um papel de liderança nas negociações de paz globais, afirmou o mais longevo chanceler brasileiro, sinalizando que o país retomará sua política externa de neutralidade e resolução pacífica de conflitos.

Na América Latina, o petista reorganizaria o Mercosul, ao mesmo tempo em que restabeleceria relações diplomáticas normais com a Venezuela, assim como o presidente eleito Gustavo Petro está fazendo na Colômbia.

— Como é que vai fazer um programa para a Amazônia sem a Venezuela? — afirmou. — Ter relações diplomáticas não significa aprovar um governo.

Isso demarcaria o afastamento da política externa adotada pelo presidente Jair Bolsonaro, cujo governo se juntou aos EUA e uma dúzia de outros países ao não mais reconhecer Nicolás Maduro como presidente da Venezuela.

Um dos mais urgentes desafios de Lula, no entanto, seria reconstruir a imagem do Brasil no exterior depois de ter sido atingida pelas posições polêmicas de Bolsonaro sobre meio ambiente, pandemia, direitos humanos e racismo, disse Amorim.

Isso exigiria não apenas palavras, mas gestos concretos, como a nomeação de enviados especiais capazes de realizar discussões de alto nível sobre agenda climática e de direitos dos povos indígenas com outros ministros e chefes de Estado, disse ele.

— Talvez também uma carta do presidente Lula falando a líderes mundiais — citou.

Ao ser questionado se voltaria ao Ministério das Relações Exteriores, Amorim respondeu:

— Atravessaremos essa ponte quando chegarmos lá.

Ele disse que Lula saberá escolher a pessoa certa para o cargo.

— Eu jamais me recusarei ao que o presidente Lula achar que precisa, mas ninguém é indispensável — ele disse.

E brincou:

— Se o Lula for eleito e me der uma sala no fundo do Planalto e me chamar para tomar um cafezinho de vez em quando eu estou feliz.

https://oglobo.globo.com/mundo/noticia/2022/08/sancoes-dos-eua-a-russia-sao-um-erro-diz-celso-amorim.ghtml

domingo, 24 de julho de 2022

Recado dos embaixadores estrangeiros a Lula - TAG Report 168, 24/07/2022

 RECADOS DOS EMBAIXADORES 

Representantes diplomáticos não podem recusar convites dos chefes de Estado e de Governo dos países onde estão em missão. E nem embaixadores estrangeiros podem sair de encontros assim criticando o que foi dito. Mas muitos recados, públicos ou não, foram dados em apoio à democracia e ao sistema eleitoral — que os embaixadores estrangeiros viram Jair Bolsonaro desancar na reunião do Alvorada. Além das manifestações oficiais nesse sentido de EUA e Reino Unido, e de entrevistas de diplomatas de outros países, como a Itália, interlocutores do ex-presidente Lula também foram procurados por diplomatas estrangeiros. Nesse caso, com mensagens deixando claro que seus governos veem com bons olhos sua eleição. 

Países da União Europeia mais ligados ao Brasil, como Portugal e Espanha, por exemplo, informaram que gostariam de ser incluídos no roteiro internacional que presidentes eleitos costumam fazer antes de tomar posse. Seus chefes de governo ou Estado já declararam intenção de vir à posse no primeiro dia de janeiro se o eleito for o petista. No caso da Espanha, viria o Rei Felipe. Mandaram dizer ainda a Lula que, caso ele se torne presidente, irão defender no ano que vem que seja dada celeridade às tratativas do acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia.


Nesta semana, Lula deve ter encontro com os embaixadores dos países que compõem o BRICS — Rússia, China, India e África do Sul — , grupo que nunca foi valorizado pela política externa bolsonarista. 


Helena Chagas

Lydia Medeiros

TAG Report 168, 24/07/2022

sexta-feira, 15 de julho de 2022

Diplomacia, Revolução e afetos, livro de Sergio Florêncio - debate-apresentação na TV-IAB

 Estou participando desta emissão neste momento: 

https://www.youtube.com/watch?v=XxoaueWLq9c

IAB | Diplomacia, Revolução e afetos

Fiz uma resenha do livro tal como postado neste mesmo blog, como abaixo: 

4135. “Sergio Florêncio: um livro como não há igual na diplomacia brasileira”, Brasília, 26 abril 2022, 4 p. Resenha de Sergio Abreu e Lima Florêncio, Diplomacia, Revolução e Afetos: de Vila Isabel a Teerã (Curitiba: Appris, 2022; ISBN: 978-65-250-2114-0). Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/04/sergio-florencio-um-livro-como-nao-ha.html), junto com o capítulo que me é dedicado.

domingo, 29 de maio de 2022

Brasil Paralelo: Paulo Roberto de Almeida (14/10/2016) - uma entrevista sobre políticas econômicas e diplomacia

De vez em quando alguém comenta neste vídeo do Brasil Paralelo – entidade que eu desconhecia completamente quando voltei ao Brasil e me convidaram para dar uma entrevista sobre economia e política externa, o que foi feito de completo improviso – no qual eu comento, em OUTUBRO DE 2016, as políticas econômicas e a diplomacia da era petista, e do Brasil em geral.

segunda-feira, 2 de maio de 2022

MILICOS BURROS DO PLANALTO estão impedindo o Itamaraty de fazer Política Externa - matéria do Globo (Janaína Figueiredo, Lauro Jardim)

 A CACOFONIA na área externa do Brasil. Se os milicos BURROS do Planalto querem que o Itamaraty seja como eles – Hierarquia, Disciplina, aquelas bobagens –, eles teria de deixar o Itamaraty funcionar como se faz em operações de guerra: UNIDADE DE COMANDO, coerência nas ordens e acatamento disciplinado.

Se todo mundo se julga no direito de opinar e mandar, só pode dar confusão no pedaço.
APRENDAM MILICOS BURROS: deixem o Itamaraty trabalhar. Outro que está sempre interferindo é o incompetente do Guedes, um cara que nunca aprendeu o que é política externa ou mesmo política comercial.
Paulo Roberto de Almeida


Após um ano no posto, chefe do Itamaraty sofre desgaste com interferências em sua área
Guerra e discussões sobre a posição do Brasil no cenário internacional geram rumores de fritura de Carlos França, ratificado por Bolsonaro
Janaína Figueiredo
O Globo, 02/05/2022

A invasão da Ucrânia pela Rússia, iniciada em 24 de fevereiro, encerrou o que poderia ser chamado de período de graça do ministro das Relações Exteriores, Carlos França, que chegou ao posto em março de 2021. Desde então, questionamentos internos ao chanceler têm se intensificado, provocando o que fontes do governo consideram um “tiroteio” do qual, até agora, França saiu ileso.

Semana passada, o presidente Jair Bolsonaro, com quem o chanceler mantém uma excelente relação, ratificou França no cargo, na tentativa de pôr panos quentes em rumores sobre a possibilidade de uma troca de comando no Itamaraty, em plena campanha eleitoral.

— A nossa política externa, que tem à frente o ministro Carlos França, é realmente reconhecida por todos nós e por todo o mundo afora. Todos querem fazer comércio conosco — disse o presidente durante a abertura de uma feira de agricultura em Ribeirão Preto (SP).

França navegou em águas tranquilas durante quase um ano, mas hoje enfrenta fortes interferências em sua área, e elas têm alimentado versões sobre a fritura do ministro. Em palavras de uma fonte do governo, “hoje todo mundo dá pitaco sobre a guerra: temos a ala militar, a Faria Lima [em referência à equipe econômica], os ideológicos, e o Itamaraty”.

Bolsonaro ouve todos, e hoje continua respaldando o ministro das Relações Exteriores que, por seu passado como chefe de protocolo do Palácio do Planalto, tem acesso privilegiado ao poder e ao mundo político.

Poucos acreditam que França deixará o cargo antes das eleições, mas esse cenário não pode ser totalmente descartado. O desgaste é evidente. Relações que fluíam com facilidade alguns meses atrás, hoje, confirmaram fontes do governo, enfrentam tensões.

Uma delas é do chanceler com o secretário de Assuntos Estratégicos, almirante Flávio Viana Rocha, que circula com assídua frequência pelas embaixadas de Brasília, recebe muitos embaixadores no Palácio do Planalto e tem uma agenda internacional que, segundo fontes, “provoca desajustes”. França e o almirante sempre tiveram um vínculo cordial, e Viana Rocha, conhecido por sua simpatia e capacidade (entre outras, fala vários idiomas), trabalha em permanente contato com o Itamaraty. Mas os tempos mudaram, insistem as fontes.

Guedes e a OCDE
Hoje, França é mais cobrado internamente, e as brigas por espaço e por influenciar a posição do país sobre a guerra — condenação à agressão russa, mas não alinhamento aos EUA e à União Europeia — se acentuaram.

Alguns votos recentes do Brasil em organismos internacionais, como na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), causaram “desconforto” no Ministério da Economia e, hoje, segundo fontes, existe um “receio” pela possibilidade de que políticas do Itamaraty que estão causando mal-estar entre americanos e europeus possam prejudicar a agenda econômica.

A visão nessa ala do governo é de que existem falhas de comunicação sobre a posição brasileira e, partindo dessa avaliação, o ministro Paulo Guedes tem falado sobre o assunto, no Brasil e no exterior.

— O Brasil vai trabalhar sempre no sentido de reforçar os valores das instituições multilaterais e abraçar a OCDE. Vamos avançar em todas as frentes. Queremos acesso à OCDE, queremos o acordo Mercosul-União Europeia, para garantir a segurança alimentar e energética dessa grande comunidade de nações — declarou o ministro da Economia, recentemente.

Depois de o Brasil se abster numa votação sobre a exclusão da Rússia do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, alinhada com seus sócios dos Brics (China, Índia e África do Sul, além de Rússia), Guedes criticou as guerras atuais, as quais chamou de “retrocesso”. O medo é de que o estremecimento das relações, sobretudo com os europeus, possa causar danos colaterais.

No próximo mês, o conselho de embaixadores e ministros da OCDE (organismo com sede em Paris e dominado amplamente pelos europeus) deve aprovar o chamado roteiro de ascensão para os seis países em processo de adesão, entre eles o Brasil. Estão se aproximando instâncias-chave no caminho para alcançar uma meta traçada por Guedes no começo do governo, o que eleva ainda mais as tensões.

As falas do ministro da Economia não caem bem em setores do Ministério das Relações Exteriores, que defendem a entrada do Brasil em organismos como a OCDE com uma voz própria e não abaixando a cabeça para as cada vez mais explícitas pressões externas, sobretudo de países da UE.

‘Demoras e titubeios’
Existe entre diplomatas estrangeiros em Brasília a sensação de que muitas vozes dentro do governo estão opinando sobre a política externa desde que a guerra estourou, o que leva a demoras e titubeios do Brasil, termos usados por uma das fontes consultadas, que enfraquecem a gestão de França. O chanceler é visto como um equilibrista, que deve conciliar a visão do Planalto, para muitos observadores estrangeiros claramente pró Rússia, com as demandas de outros ministérios, a ala militar e tradições diplomáticas brasileiras.

As declarações de França defendendo a permanência da Rússia no G-20, na contramão do que pregam europeus e americanos, foram consideradas “inadmissíveis” por diplomatas de países da UE. Uma das fontes consultadas afirmou que “com a Rússia dentro, não haverá cúpula do G-20”.

— Você pode imaginar uma reunião com Putin e [o chanceler Serguei] Lavrov sentados à mesma mesa que autoridades europeias? Isso seria impensável — disse a fonte.

Não são tempos tranquilos para França. Sinais de fogo amigo apareceram pela primeira vez na gestão do chanceler, que continua sendo visto como a melhor opção por diplomatas ativos e já afastados. Na visão do embaixador Rubens Barbosa, que já chefiou as embaixadas brasileiras em Washington e Londres e atualmente preside o Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice), uma mudança agora seria ruim para o Brasil.

— Não creio que o presidente vá fazer uma mudança neste momento. Uma mudança agora pareceria uma capitulação diante dos EUA e da UE — diz Barbosa.

Ambiguidades
O deputado federal Marcel van Hatten (Novo-RS), integrante da Comissão de Relações Exteriores e Defesa da Câmara, concorda que “no momento, França é a pessoa mais adequada para o posto”.

— O chanceler acomoda os interesses do presidente com os do país — opina ele.

Não é a mesma opinião que predomina em embaixadas estrangeiras em Brasília. As críticas pelo que é considerado falta de clareza e ambiguidade do Brasil em relação à guerra aumentam a cada semana, e os supostos massacres cometidos pelos militares russos na Ucrânia aprofundam o mal-estar.

Mas França está firme, e fontes do governo que defendem sua gestão garantem que “o ministro é ponderado, equilibrado, o melhor que poderíamos ter neste momento. O Brasil precisa ter uma política externa independente”.



O apelido de Flávio Rocha entre os diplomatas no Itamaraty

Por Lauro Jardim
O Globo, 01/05/2022

No Itamaraty, o ministro Flávio Rocha, chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), tem sido chamado de "chefe da SAI", ou seja, uma inexistente Secretaria de Assuntos Internacionais.

O motivo, na visão dos diplomatas, é a quantidade de vezes em que Rocha se mete em temas de relações exteriores.


sábado, 30 de abril de 2022

Tarefas a serem feitas na frente externa - Paulo Roberto de Almeida

 Tarefas a serem feitas na frente externa

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 30/04/2022


O Brasil precisa fechar o parêntese de 4 anos de retrocessos na governança, em especial na área externa, e começar desde já o trabalho de reconstrução do que foi destruído em termos de credibilidade internacional do Brasil. 

Quem o fará? Os próprios mandarins, os burocratas do setor? A comunidade acadêmica? Os grandes veículos da mídia tradicional? Todos eles juntos?

A restauração dos princípios e valores da diplomacia nacional, a recomposição de uma declaração de diretrizes prioritárias no âmbito da política externa, compatível com os interesses nacionais — não com os preconceitos ideológicos e as deformações conspiratórias de uma franja lunática de amadores e incompetentes, como são os que deram o padrão lamentável da diplomacia bolsolavista desde 2019 — são tarefas urgentes a serem empreendidas por todos aqueles comprometidos com a refundação da política externa e da diplomacia brasileira.

Vou dar a minha contribuição nessa área.

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 30/04/2022

quarta-feira, 23 de março de 2022

A Diplomacia em um Mundo em Transformação - e-book de Paulo Fernando Pinheiro Machado - disponível na Amazon

 Centelhas de Tempestade: a Diplomacia em um Mundo em Transformação


 Esta obra oferece uma reflexão prática a respeito do atual sistema internacional e do papel do Brasil nele, a partir da experiência profissional, como diplomata e como advogado, do autor Paulo Fernando Pinheiro Machado. São apresentadas análises sobre os elementos mais profundos do sistema internacional, de caráter estrutural, dos quais depende a articulação do próprio sistema, e cuja configuração baliza a negociação dos temas da agenda internacional, que se dá sobre o pano de fundo desse sistema. A preocupação deste livro está nos elementos de longo prazo da vida internacional, seja no aspecto instrumental, diplomático, seja no aspecto de configuração de possibilidades econômico-financeiras, geopolíticas e/ou tecnológicas. 
Verificam-se quatro principais forças que estão desintegrando o atual sistema internacional e moldando o novo sistema ainda em formação, que irá substituí-lo. Essas quatro forças são a pandemia de Covid-19, a Segunda Guerra Fria, a desigualdade estrutural e as novas tecnologias. Dessa forma, esta obra proporciona uma visão geral sobre os processos estruturais pelos quais está passando o sistema internacional contemporâneo.
Recomendo vivamente.
Paulo Fernando já é o autor deste livro, que tive o privilégio de prefaciar: 
  • Publisher ‏ : ‎ Chiado Books (January 1, 2022)
  • Language ‏ : ‎ Portuguese
  • ISBN-10 ‏ : ‎ 989372189X
  • ISBN-13 ‏ : ‎ 978-9893721896

Vejam o sumário deste livro e trechos de meu prefácio neste link: 

quarta-feira, 2 de março de 2022

O Brasil de Bozo e do ex-chanceler acidental e a guerra na Ucrânia - entrevista de Paulo Roberto de Almeida ao Correio Braziliense

 O que segue na matéria abaixo parece uma entrevista, mas não era para ser e foi tudo meio improvisado. Aliás eu não tinha sequer consciência de que seria uma entrevista; pensei que estava apenas dando subsidios para uma matéria mais ampla, então falei livremente, sem sequer cuidar da correção gramatical do que expressava. 

Se soubesse que seria uma entrevista, teria mais cuidado com as frases. Por outro lado, eu jamais daria uma entrevista para falar do patético ex-chanceler acidental, pois o considero muito medíocre para merecer tanta atenção. 

A reporter deveria ter me avisado. Na verdade, creio que ela é muito jovem para compor uma grande matéria e apenas pegou minhas declarações esparsas e as transformou em “entrevista”, quando eu não tinha tal intenção. Deve ser a tal lei das consequências involuntárias.

Transcrevo, ao final, o teor da entrevista.

Paulo Roberto de Almeida


Três perguntas para Paulo Roberto de Almeida: Correio Braziliense

  

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

  

O ex-ministro afirma que nossa política exterior tem o lema do "não é conosco", colocando-se num eixo em que não dialoga nem com o bloco ocidental, capitalista e cristão, nem com o bloco comunista. A posição de "neutralidade" buscada por Bolsonaro diante da invasão da Ucrânia reforça a política externa do "não é conosco"?

Ernesto Araújo sempre teve essa postura vinculada a Olavo de Carvalho, uma postura da ultradireita ou da direita extrema americana, a franja lunática dos conservadores antiglobalistas. As democracias ocidentais, os membros da Otan, têm uma postura clara de defesa da democracia, das liberdades que estão em causa hoje pelo regime de direita e imperialista da Rússia. Essa análise é totalmente lunática. Ernesto Araújo, era um diplomata normal, um conservador, um religioso de direita, mas esteve no armário, porque o Itamaraty era progressista sob Fernando Henrique Cardoso, sob Lula. Ele se revelou quando ascendeu essa nova direita no Brasil. Para mim, ele revela o seu desequilíbrio político, emocional, ideológico.

Ernesto Araújo defende que, na prática, a posição do Brasil frente à guerra na Ucrânia não tem sido de neutralidade, e sim pró-Rússia, por conta das demonstrações de simpatia a Putin, e de indiferença à Ucrânia. Podemos interpretar desta maneira?

Depois de ter falado em solidariedade à Rússia, Bolsonaro falou em neutralidade. Ele teve que se retratar porque o Brasil ficou isolado, do lado oposto ao das democracias, da maior parte dos países da comunidade internacional que condenam a invasão e a agressão russa. O Itamaraty teria uma posição muito concreta, condenaria a violação do direito internacional e a invasão russa, que é uma agressão não provocada. Não é o que fez Bolsonaro, que até agora impediu que o Itamaraty expressasse uma posição correta. Então ficamos naquela posição em cima do muro: "Queremos a cessação das hostilidades", como se as hostilidades fossem recíprocas. Não são, elas são provocadas por uma potência agressora. O Putin é um é um déspota agressor. Houve um rompimento de valores e princípios que estão com a diplomacia brasileira desde 1907. Rui Barbosa ensinava que não pode haver neutralidade entre o crime e o direito internacional. Ser imparcial significa que você considera que ambas as partes podem ter razão, que são equivalentes, que é o que estava nas notas do Itamaraty.

O que tais posições do ex-ministro têm como pano de fundo?

A posição do Ernesto Araújo é totalmente inconsequente, porque não expressa a realidade do sistema internacional, assim como a postura do Bolsonaro é absolutamente ignorante e não tem a ver com a realidade das coisas. Eu simplesmente classifico Ernesto Araújo como desequilibrado, e não me interessa qual posição ele adote. A atitude dele é uma postura contra a Rússia porque ele acha que a Rússia não corresponde ao espírito da direita verdadeira. O que o Ernesto queria era uma aliança mundial das grandes potências cristãs — o Brasil católico, os Estados Unidos protestantes e a Rússia ortodoxa —contra o comunismo da China, como se a China fosse comunista hoje. O Ernesto já provou que é um desequilibrado e, portanto, não tem nenhuma importância.

 Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4092: 2 março 2022, 2 p.

  

Texto da matéria do Correio Braziliense: 

 

Ex-chanceler Ernesto Araújo critica Jair Bolsonaro em canal no YouTube

Ernesto Araújo provoca polêmica ao criticar o posicionamento do governo brasileiro diante da invasão da Ucrânia

Taísa Medeiros

Correio Braziliense, 02/03/2022

 

Criador de um recente canal no YouTube, intitulado "Logopolítica", o ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, adotou uma posição crítica às atitudes do governo de Jair Bolsonaro (PL) diante do conflito na Ucrânia. Em um de seus artigos recentes, o diplomata afirmou que, "por mais de seis décadas, o princípio 'não é conosco' da nossa diplomacia serviu para distanciar o Brasil do Ocidente democrático, favorecer totalitarismos e agradar a oligarquia nacional", e alegou que o padrão se repete com o ataque russo à Ucrânia.

Araújo defende que o país adote posições pró-Ocidente e, antes mesmo do início do conflito, já tecia críticas à visita de Bolsonaro a Vladimir Putin. "O Brasil está mostrando uma preferência pela Rússia. Neutralidade é você visitar ou os dois que estão em conflito ou nenhum", declarou em uma entrevista em 15 de fevereiro.

"A diplomacia não tem ideologia", ressalta a professora de direito internacional da Universidade de São Paulo Maristela Basso. "A política externa brasileira nunca foi do 'não é conosco'. Pelo contrário, sempre primou pelas posições firmes e equilibradas de respeito ao direito internacional", afirmou a professora. "O ex-ministro não representa nem fala em nome do Itamaraty. Nem mesmo quando ocupava o cargo de chanceler. Frequentou uma escola filosófica e ideológica obscura e de fundamentos frágeis. O que diz hoje é fruto do ressentimento e da falta de respeito à política externa conduzida pelo Ministério das Relações Exteriores (MRE)", observou.

Para o professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) Roberto Goulart Menezes, caso estivesse à frente do Itamaraty, Araújo faria declarações "desconexas". "Ele demonstrava uma alienação acerca do mundo contemporâneo, e sua subserviência não o faria elaborar algo relevante sobre o conflito e suas consequências. Para quem votou contra os palestinos, pela primeira vez em décadas, ao arrepio do direito internacional, ele tentaria, creio, imprimir uma conotação religiosa ao conflito", projetou o docente.

Neutralidade

Segundo Maristela Basso, não se pode confundir a posição do MRE com frases soltas do Presidente da República. "Estas não contam, porque são feitas fora de contexto e lugar próprios. Faz tempo que o presidente diz e o Itamaraty conserta", analisou. Na avaliação de Roberto Menezes, a tentativa de "neutralidade" de Bolsonaro é um apoio explícito a Putin. "Bolsonaro deu de ombros para a Ucrânia. Optou pelo mais forte."

Para o general Santos Cruz, que ocupou a Secretaria de Governo até junho de 2019, há falta de clareza no discurso do presidente e, por isso, críticas aos seus posicionamentos. O general ressalta que neutralidade não significa falta de opinião. "Posicionar-se contra por uma questão de direito internacional não é quebra de neutralidade. Também não precisa tirar a responsabilidade de todos os atores que levaram a essa situação difícil, inclusive de políticos da própria Ucrânia. Mas não se pode validar a invasão e o sofrimento", pontuou.