Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
segunda-feira, 6 de setembro de 2010
Grande Depressao: tudo o que voce sempre quis saber sobre ela...
Agora já tem, no site da Library of Congress, dos EUA, como abaixo.
Pois é, cada vez que eu preciso saber alguma coisa, qualquer coisa, sobre algum livro, ou algum autor, quando tenho dúvidas sobre quando foi a primeira edição de algum livro, que eu sei, mas ficou naquele neurônio meio fraquinho lá no canto do cérebro, não tenho dúvidas, vou direto para a:
Library of Congress: www.loc.gov
simplesmente o maior site de referências do mundo para qualquer coisas, talvez até para receitas de bolo (mas eu nunca tentei essa linha de pesquisas).
Quando eu morava em Washington, eu era um usuário compulsivo da LoC, lá encontrando livros brasileiros ou sobre o Brasil que eu não achava em nenhuma biblioteca de Brasília. Fui muito feliz, eu e a LOC, durante os quatro anos que morei em Washington, tanto que doei alguns livros meus para sua coleção.
Pois bem, eu estava tranquilo no meu canto quando foi a LoC que me contatou, não o contrário. Fui consultado por uma equipe da LoC que se ocupa de "memória virtual", em cooperação com a Biblioteca Nacional, para guardar alguma coisa sobre as eleições brasileiras. Eles me contataram nestes termos:
A Fundação Biblioteca Nacional e a Biblioteca do Congresso Americano selecionou o seu website para inclusão no acervo histórico das matérias relacionadas com a Internet para a eleição presidencial do Brasil em 2010. Em um projeto conjunto das duas bibliotecas nacionais, esta iniciativa permitirá que os estudiosos atuais e do futuro estudem o processo eleitoral em detalhe.
Trata-se de um blog meu sobre as eleições presidenciais de 2010 (eu já tinha feito um sobre as eleições de 2006). Enfim, isso não importa.
Aproveitando a deixa de autorizá-los a reproduzir material do meu blog, fui consultar novamente o site da LoC (o que quase nunca faço, pois sempre vou para o sistema de obras do catálogo).
Encontrei muita coisa boa e selecionei apenas uma, pois acho que pode interessar muitos dos leitores deste blog, ou de minhas listas, que se interessam pela atual crise financeira e seus fundamentos históricos.
Pois a LoC tem uma assemblagem enorme de materiais sobre a Grande Depressão, simplesmente a maior crise, e depressão, já conhecida na história do capitalismo.
Aproveitem (pelo menos alguns dos 371 itens):
You Searched For: the great depression
Results 1 - 20 of 371 Previous | 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 ... | Next
Recommended Links:
* America From the Great Depression to World War II: Photographs from the FSA-OWI, 1935-1945
* New Deal Programs: Selected Library of Congress Resources
* Great Depression: Teacher Resources
Selecting a result will open a new browser window or tab.
1. The great depression
( p2005 ) ( Audio )
Source: Library of Congress Online Catalog
2. The great depression & the new deal
( 1996 ) ( Film, Video )
Source: Library of Congress Online Catalog
3. The Great Depression. Arsenal of democracy
( 1993 ) ( Film, Video )
Source: Library of Congress Online Catalog
4. The Great depression
( 1969] ) ( Book, Periodical, Manuscript )
Source: Library of Congress Online Catalog
5. The Great Depression. To be somebody
( 1993 ) ( Film, Video )
Source: Library of Congress Online Catalog
6. The Great Depression and the 1990s-Student Resources
( web page )
7. The Great Depression and the 1990s-Bibliography
( web page )
8. Introduction: The Great Depression and the New Deal
( web page )
"The Great Depression and the New Deal Page 1 of 16 Next Page [Tuskeegee, Alabama.] Photographer unknown. Photograph, 1936. Courtesy of the National Archives.
9. The Great Depression
( c2001 ) ( Book, Periodical, Manuscript )
10. Americans React to the Great Depression
( web page )
"The Library of Congress home Overview Documents "Hooverville,"Central Ohio, 1938. America from the Great Depression to World War II, 1935-1945 The Great Depression began in 1929 when, in a period of ten weeks, …"
11. Figuring Somepin 'Bout the Great Depression: Lesson One
( web page )
12. The great depression
Humphries, Charles ( [c1968] ) ( Book, Periodical, Manuscript )
13. Exhibitions and Presentations - The Great Depression - Themed Resources - For Teachers
( web page )
14. The great depression
Singer, Barnett ( [1974] ) ( Book, Periodical, Manuscript )
15. The great depression
D M X ( p2001 ) ( Audio )
16. Search Terms - The Great Depression - For Teachers (Library of Congress)
( web page )
17. The Great Depression and the 1990s-Lesson Two
( web page )
18. The Great Depression
Yass, Marion ( 1970 ) ( Book, Periodical, Manuscript )
Source: Library of Congress Online Catalog
19. For Students - The Great Depression - Themed Resources - For Teachers (Library of Congress)
( web page )
20. Lesson Plans - The Great Depression - Themed Resources - For Teachers (Library of Congress)
( web page )
"A compilation of Great Depression related lesson plans from across the Library's Web site"
Source: Library of Congress Web site
You Searched For: the great depression
Results 1 - 20 of 371 Previous | 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 ... | Next
Bem, acho que vocês já têm divertimento pelo resto do dia (e toda a noite)...
Paulo Roberto de Almeida
Ascensao e declinio do novo (agora quase velho) sindicalismo no Brasil: um livro a conferir
Mesmo sem conhecer o conteúdo exato, e os argumentos do autor, não sei se concordo com o título, pois NÃO acredito que o "novo sindicalismo" -- que já ficou velho desde os anos 1990 -- está em declínio, ao contrário.
Ele parece mais vitorioso do que nunca, tendo alcançado o poder, se instalado gostosamente e solidamente nele, e não parece querer dele sair, numa reprodução não semelhante, mas talvez similar, ao fenômeno peronista na Argentina.
Em todo caso, se as "mensagens" do "novo sindicalismo" já foram abandonadas -- e elas não são velhas, se julgarmos que se pedia liberdade sindical, fim do imposto e da subordinação dos sindicatos ao Estado, etc. -- esse sindicalismo que se deturpou, de prostituiu e virou praticamente um sindicalismo mafioso, ou quase isso, não se encontra perto do declínio, ao contrário; ele tem cada vez mais sucesso, a julgar pela "indústria dos sindicatos", uma das que mais proliferam no Brasil.
Eu até diria que temos ainda muito peronismo de araque pela frente, com um poder sindical cada vez mais disseminado, e talvez cada vez mais mafioso, como na Argentina.
Essa é a origem de um "pacto perverso" sobre o qual falarei em próxima oportunidade.
Paulo Roberto de Almeida
New Book: Rise and Decline of Brazil’s New Unionism
Jeffrey Sluyter- Beltrão
********************************
PETER LANG - International Academic Publishers
are pleased to announce a new book by Jeffrey Sluyter-Beltrão:
RISE AND DECLINE OF BRAZIL’S NEW UNIONISM: The Politics of the Central Única dos Trabalhadores
(Oxford, Bern, Berlin, Bruxelles, Frankfurt am Main, New York,
Wien, 2010; XVI, 465 pp., num. tables and graphs; Trade Unions Past, Present and Future. Vol. 6; Edited by Craig Phelan; ISBN 978-3-0343-0114-5 pb.; sFr. 85.00 / EUR* 58.20 / EUR** 59.80 / EUR 54.40 / £ 49.00 / US-$ 84.95)
This book explores the political trajectory of Latin America’s most important contemporary labor movement. The New Unionism played a central role in Brazil’s struggle for democracy in the 1980s and recast the country’s subsequent party politics through its creation of the innovative Workers’ Party (PT). The author breaks new ground by analyzing this celebrated prototype of «social movement unionism» as a heterogeneous alliance of component factions that evolves in relation to shifting economic, political, and ideological contexts. Through the prism of internal politics, he shows how Brazil’s transitions – from military–authoritarian to liberal–democratic rule, from statist to free-market economic policies, and from a Leninist to a post-Leninist left – undermined the independent labor movement’s commitments to internal democracy, political autonomy, and societal transformation. The book concludes with a comparative assessment of Brazilian, South African, and South Korean social movement unionisms’ shared dilemmas, arguing that an adequate understanding of their relative declines demands more rigorous attention to the dynamic nexus between internal movement politics and shifting external environments.
Contents:
Brazil’s New Unionism: Late Twentieth-Century Movement and Early
Twenty-First-Century Vestige
Movement Actors, Labor
Institutions, and the Dynamics of Distinction
Convergence
(1978-1984): Organizing Civil Society against the State
Turbulence (1985-1989): Between Civil and Political Society
Divergence (1990-1995): The Bid for Constructive Integration into Political Society
Dilemmas of Decline: The Politics of Brazil’s
Social Movement Unionism in Comparative Perspective.
Jeffrey Sluyter-Beltrão is an Assistant Professor of Political Science at Alfred University in New York State.
República Mafiosa do Brasil (18): a colaboracao da imprensa (ainda que involuntaria)
Longe disso: acredito que vitórias eleitorais, desde que legítimas -- ou seja, não manchadas por manipulações e fraudes, como se vê ainda muito perto do Brasil -- devem ser amplamente respeitadas. Ainda que eu possa não concordar com determinadas políticas -- e todos sabem que eu expresso claramente minhas opiniões quando não concordo com algo, até em tom veemente -- eu acredito que elas tenham legitimidade.
Por exemplo: esse horror todo que estão fazendo com a educação brasileira -- aulas obrigatórias de estudos afrobrasileiros e de espanhol, no fundamental, e disciplinas obrigatórias de sociologia e filosofia no médio --, esse racismo oficial que estão criando com as cotas do novo Apartheid, tudo isso eu acho um estupro indecente do ponto de vista da qualidade do ensino e de um Brasil democrático, mas não deixo de reconhecer que existe demanda, vinda de certos setores sociais, para esse tipo de besteirol. Os representantes políticos dos novos racistas, dos sindicalistas "professorais" e as pedagogas freireanas se apressam em satisfazer essas demandas, para atender sua clientela. Isso é legítimo, e compreendo. No dia em que eu for responsável por alguma área desse tipo, vou tentar desmantelar esse tipo de empreendimento que considero nefasto para o futuro do Brasil.
Mas, estamos assistindo, desde algum tempo no Brasil, a uma exacerbação de atos ilegais, eu até diria criminosos, que deixam qualquer um que tenha brios democráticos com os cabelos em pé.
Nunca antes neste país se assistiu a tamanha desfaçatez nos crimes políticos como agora, alguns até crimes comuns.
Essa é a única razão pela qual decidi registrar -- é a minha única forma de participação cidadã -- o que me parece relevante no cenário político-eleitoral do Brasil.
Como a nossa imprensa é muito ruim, mas muito ruim mesmo -- com raríssimas exceções entre os grandes jornais -- e como os jornalistas -- novamente com raríssima exceções -- são piores ainda, eu sou obrigado a me apoiar nos poucos exemplos que ainda possuem uma perspectiva crítica, como o conhecido jornalista que vai reproduzido abaixo.
Apenas para dar um exemplo de como eu considero a imprensa ruim.
Eu frequentemente me deparo com manchetes, de primeira página, ou nas páginas de política nacional, que levam mais ou menos um título similar a este:
"PRESIDENTE DISSE QUE FEZ ISSO E MAIS AQUILO"
"PRESIDENTE ACUSOU FULANO DISSO E MAIS AQUILO"
Isso e mais aquilo é obviamente algo que chamou a atenção e que vai além da conta de fatos normais, do contrário não receberia o destaque que se dá. Muitas vezes as afirmações não correspondem à verdade, ou são amplamente exageradas, quando não distorcidas, obviamente sempre em favor de quem as fez.
Pois bem, agora pergunto: o que impediria a uma imprensa correta, aquela que quer educar o cidadão, ou apenas que pretende informar corretamente, de agregar, imediatamente após, no mesmo padrão, algo do gênero?:
"AFIRMAÇÕES DO PRESIDENTE NÃO CONFEREM COM OS DADOS"
"FULANO NEGA DECLARAÇÕES DO PRESIDENTE"
O que impede uma imprensa de conferir imediatamente determinadas afirmações para verificar se elas correspondem à verdade, para logo em seguida confirmar ou desmentir quem as fez, independente de quem seja?
Deve ser estilo de trabalho, talvez, ou então sentido ético.
Esta é a única razão de porque eu transcrevo esse jornalista aqui.
Como sou amigo da verdade, procuro sempre uma explicação para as coisas. Raramente eu a encontro na "imprensa normal".
Paulo Roberto de Almeida
Chegou a hora de botar os pingos nos “is”. A máquina criminosa remonta à década de 80!
Reinaldo Azevedo, 6.09.2010
Não há um só jornalista trabalhando no Brasil — e isto que vou escrever e especialmente válido para os que têm a minha idade ou mais — que ignore que o PT sempre foi uma máquina de vazar dados sigilosos sobre a vida dos adversários. E isso faz muito, muito tempo! É raro, e os coleguinhas sabem que falo a verdade, haver um jornalista “investigativo” em Brasília que não tenha passado no gabinete de algum deputado petista para pegar dados protegidos por sigilo — e pouco importa a sua natureza: bancário, fiscal, de justiça, de investigação da PF… Escolham!
E, infelizmente, a imprensa tem feito uso da ilegalidade também. E não! Não estou defendendo que ela seja submetida, por isso, a censura de qualquer natureza. Mas não dá para ignorar que pau que bate em Chico também bate em Francisco, como se diz por aí. E, agora, cumpre caracterizar dois tempos: a da ingenuidade romântica e a do realismo cínico.
O PT passa dados sigilosos de adversários a jornalistas desde que existe como partido e desde que seus representantes começaram a ocupar a máquina do estado. Ah, houve um tempo em que as boas almas da “catchiguria” acreditavam mesmo no valor patriótico dessa gente. José Dirceu, por exemplo, era uma “fonte preciosa” desde quando era deputado estadual em São Paulo. Fez um milhão de amigos na imprensa. Outros tantos foram se sucedendo no trabalho sistemático de tentar destruir a reputação dos “inimigos”.
Alguns larápios se deram mal? Claro que sim! Mas muita gente boa — E INOCENTE — comeu o pão que o diabo amassou simplesmente porque “estava do lado de lá”. Eduardo Jorge Caldas Pereira, que teve agora o sigilo de novo invadido, é um caso emblemático da máquina de moer biografias. Ele se recuperou porque é uma pessoa determinada. Mas o PT, em associação com certos setores do Ministério Público, tentaram destruí-lo.
Na fase ingênuo-romântica, muitos acreditavam — e alguns bocós acreditam ainda hoje — que os crimes cometidos pelo partido ao vazar dados sigilosos para a imprensa eram compensados pelo bem que faziam: tirar de circulação algumas figuras detestáveis da política. Nem parecia que o PT o fazia como uma estratégia de poder. Não! Eram os patriotas, as pessoas que estavam do lado benigno da força. No arquivo, vocês encontram textos sobre o alinhamento imprensa-Ministério Público.
Acontece que…
Acontece que aquele “partidinho” de supostos guerreiros do bem se tornou essa máquina que aí está. E a prática criminosa de usar o acesso ao Estado para atingir adversários segue inalterada. Só que o PT é que é o partido da ordem, do continuísmo, do poder. E alguns só se dão conta agora — ao menos espero — de que não é a nossa avaliação do padrão moral de uma vítima que faz o crime. A invasão de dados protegidos pelo estado e seu vazamento são ações criminosas. Ponto.
Notem uma coisa curiosa. Até chegar ao poder, os petistas tinham no que agora chamam “mídia” uma aliada — era um partido “amigo” dos jornalistas e fazia uma crítica ou outra aos “patrões da comunicação”. Lula nunca foi besta. Sabia que a admiração que lhe devotava (e devota ainda, o que é fabuloso!) boa parte da “catchiguria” era importante para a sua causa. A animosidade com a imprensa começa com a chegada de Lula ao poder e atinge o ponto extremo na crise do mensalão.
Por quê? Porque uma parte do jornalismo considerou que os petistas passavam da condição de “investigadores” à de “investigados” — afinal, eram o novo poder. E isso lhes soou como coisa inaceitável. Com acesso pleno à máquina do Estado, queriam continuar na posição de atiradores, jamais de alvos. Começam, então, a chamar a imprensa — ao menos a que rejeita o servilismo — de “golpista”.
Quando o partido tentou, por exemplo, COM AMPLA COBERTURA DA IMPRENSA — BASTA PESQUISAR —, emplacar uma CPI com 45 (olhem que sutil!) denúncias de corrupção contra o governo FHC, tratava-se apenas de patriotismo e senso de justiça. Quando se tentou investigar o mensalão, aí já era golpe…
Volto ao ponto
Mas me desviei um pouco para explicar por que o partido mudou a sua relação com a “mídia”. Retomo o fio. Essa máquina de produzir dossiês e de escarafunchar ilegalmente a vida alheia remonta à década de 80 e vive seu apogeu na década de 90, especialmente durante a gestão FHC. Infelizmente, sucessivas ilegalidades tiveram como parceira a imprensa, sim, senhores! Se parecia moralizante — e até divertido — que o aguerrido partido de oposição denunciasse as “falcatruas” alheias (muitas não era; trava-se apenas de política), o expediente criminoso se mostra agora uma temeridade.
Quem, ilegalmente, quebra o sigilo bancário, fiscal ou de justiça par pegar A, B, ou C pode fazê-lo, se quiser, com o alfabeto inteiro. Vejamos o caso de Verônica Serra. Não é que ela devesse ter proteção especial, não! Não deve. O seu direito ao sigilo tem de ser tão assegurado como o de qualquer um de nós. Mas é evidente que, se até o dela, filha do candidato de oposição à Presidência, está na praça, quem está seguro?
Pois é… Alguns poderiam se sentir confortáveis pensando algo mais ou menos assim: “Já sei! Vou achar correta apenas a invasão do sigilo de algumas pessoas que considero suspeitas”. Bem, desnecessário dizer que isso é impossível. Quem atua ao arrepio da lei pratica bandidagem. E ela será sempre deletéria para as pessoas de bem.
Está posta a questão: “É possível condescender com o crime para ‘fazer o bem’? Sem hesitação, a minha resposta é esta: NÃO! Aqueles que antes se colocavam como os monopolistas da virtude contra os adversários da hora se colocam agora como donos das leis. E preparam uma investida contra a imprensa que ajudou a lhes dar o poder que têm. Antes, diziam proteger o bem público. Hoje, só pensam em se proteger, ainda que isso custe direitos fundamentais assegurados pela Constituição.
Pausa para o besteirol religioso-sincrético; nao apenas no Brasil...
Eu ainda não me conformo com a existência de curso de Astrologia na Universidade de Brasília, para mim um sinal a mais da decadência da universidade pública em plena capital da república (com r minúsculo).
Agora recebo a oferta de um curso de magia e ocultismo do que parece ser a maior escola do Brasil nessa área esotérica.
A propaganda é feita em torno de supostas "Caixinhas Mágickas!" [sic três vezes; mágicas, com c e k, para que não restem dúvidas sobre seus poderes...]
Mas o que prometem essas caixinhas?
Deixo a palavra com seus promotores, ou propagandistas:
Atendendo pedidos esta semana as atuas voltaram para a promoção!
As Atuas são caixinhas mágickas para não dizer milagrosas! Elas trabalham com a ajuda dos LOAS do Vodu. Quando se fala em Vodu sempre nos vêm à mente bonequinhos espetados, magia negra e maldição. Mas, as coisas não são bem assim, o Vodu é uma religião muito bem fundamentada com seu panteão e hierarquias organizadas. Os Loas são os Deuses ou Santos do Vodu, como os Orixás na Umbanda, os Santos Católicos, os Deuses Pagãos, etc. Cada Loa têm sua função, tanto para o bem quanto para o mal. Estes Loas possuem um poder muito forte, pois trata-se de uma religião primitiva e quanto mais primitiva, mais pura a energia com a qual se trabalha. Acredita-se que estas entidades já eram reverenciadas pelos povos Atlantes. O curso Tradição da Serpente Negra explica este tema detalhadamente.
Além da poderosa força dos LOAS, outro ponto importante de se trabalhar com as Atuas é o elo energético magnético que se cria. A atua não é um feitiço que você tem uma única oportunidade de executá-lo e se der errado tem que fazer tudo de novo. Com a atua você vai trabalhando diariamente criando um centro de energia incrível. Não existe receita pronta para o uso das Atuas, com elas você cria um feitiço totalmente seu, colocando dentro delas testemunhos e objetos que simbolizam o seu desejo.
Quando introduzimos as atuas em nosso site, disponibilizamos com apenas 4 funções que acreditamos ser as principais na vida de uma pessoa: Amor, Saúde, Prosperidade e Proteção. Com o passar do tempo, as pessoas que usaram se surpreenderam com os resultados e começaram a nos pedir Atuas específicas, para se vingar de um inimigo, fechar um contrato, passar em um concurso, ir bem nos estudos, etc... Aprofundamo-nos cada vez mais em nossos estudos, viajamos até a África, em Ouidah nos iniciamos na tradição Rada e Petro, não foi fácil, além das provações impostas pelo Sacerdote Houn'gan e da Sacerdotisa Mambo, ainda encontramos a barreira do idioma e estilo de vida totalmente diferente do nosso. Mas, valeu a pena! Hoje, orgulhosamente ostentamos o título de Sacerdote Houn'gan e Sacerdotisa Mambo e também apresentamos as 16 atuas que desenvolvemos baseados em nossos estudos e experiências e que tem apresentado resultados positivos ajudando à todos aqueles que fazem uso desta caixinha poderosa com sabedoria e respeito.
Durma-se com um barulho desses.
Mas, eu não tinha acabado as surpresas do dia.
Eis que recebo, na lista da Brazilian Studies Association, que eu julgava uma entidade séria -- tanto que faço parte de seu Comitê Executivo -- o seguinte anúncio de uma palestra na prestigiosa Georgetown University:
Lecture: "Afro-Brazilian Spirituality in our Contemporary World," Carlos Buby, Georgetown University, Washington, DC, September 8
************************
The Department of Spanish and Portuguese & The Brazilian Studies Program at Georgetown University invite you to a lecture by
Carlos Buby - Babalorixá of Templo Guaracy do Brasil (Umbanda)
"Afro-Brazilian Spirituality in our Contemporary World"
BABALORIXÁ CARLOS BUBY: After a successful start as a singer and composer of Brazilian popular music, Carlos Buby turned to the Tradition of Umbanda in search for existential and spiritual answers. Deep researcher of natural phenomena, Carlos Buby founded Templo Guaracy in 1973, an Umbanda Temple that quickly became a reference in the Tradition. Today Templo Guaracy is present not only in Brazil, but in 7 other countries of Europe and North America (Portugal,France, Austria, Switzerland, Belgium and California, New York, Washington and Canada.) Throughout those years, Carlos Buby developed a cosmogonical model based on the Afro-Brazilian roots, which brings light in understanding the dynamics of life on Earth. Recently he also consolidated the principles that gave rise to the Guaracyan Philosophy, using a humanist, universal, apolitical and non-religious approach.
Wednesday, September 8th, 2010
12:00-1:30pm
ICC 450
Confesso a vocês que por esta eu não esperava, nem da BRASA, nem da Georgetown.
Acho que estou cada vez mais deslocado neste mundo.
Apenas eu acho tudo isso um besteirol completo?
Paulo Roberto de Almeida
Protecionismo: mitos e realidades; desmantelando interpretacoes erroneas da Historia
Protecionismo aumenta no mundo; relatório da OMC
Seu longo comentário, que reproduz algumas das mais comuns interpretações enviesadas da História, e que retiro do "rodapé" para comentar, é o seguinte:
"Equiano Santos deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Protecionismo aumenta no mundo; relatorio da OMC":
Mais uma vez presenciamos que as resoluções das crises financeiras dos países desenvolvidos estão diretamente ligadas às velhas práticas “mercantilistas”. Liberdade de comércio sempre soou como retórica defendida no momento que estes estiveram suficientemente preparados para uma possível livre-concorrência (que nunca existiu em sua forma plena). Protecionismo no momento de fragilidade, livre-concorrência no momento de força.
Lembremos da Inglaterra e suas Leis de Navegação em 1651, cujo protecionismo marítimo levou a uma guerra contra a Holanda, principal conrrente naval. Cabe aqui lembrar que as revoluções inglesas nada tiveram de liberais e que Adam Smith foi melhor recepcionado, à sua época e décadas após, no Brasil, por meio de pensadores como o José da Silva Lisboa do que na própria Grã-Bretanha, cuja política econômica continuara protecionista.
França, Alemanha, Japão, Estado Unidos, representam apenas “um museu de grandes novidades”. Este último, devemos lembrar, teve o seu desenvolvimento econômico fomentado pela ação direta do Estado até a segunda metade do século XIX, momento em que se tornou a 2º potência industrial do mundo. Sua política externa era altamente intervencionista e caracterizada por um isolacionismo profundo nas relações com a Europa.
Professor, a real sensação que tenho é que quanto mais pesquiso, mais chego a conclusão que a ação do Estado na economia, resguardando mercados, fomentando a indústria, redistribuindo renda é fundamental para um país, ao menos até o momento em que possuir setores competitivos o suficiente para enfrentar uma livre-concorrência. Aliás, mais uma vez me questiono: Falar em livre-comércio, ao menos em sua forma plena tal qual concebido por Smith, não é uma bonita utopia tal qual um futuro comunista da sociedade¿ Aliás, caro professor, lembro-me de um de seus artigos sobre globalização em que, na tentativa de defendê-la em sua forma plena, o que seria uma absoluta abertura de mercados entre os países, o senhor se mostrou reticente quanto à tão discutida questão das patentes. Talvez se o senhor estivesse em um debate, podeira naquele momento ter vislumbrado um intelectual que tiraria os óculos para limpar, baixaria a cabeça e diria: “ – Infelizmente isso é um mal necessário...!”. Patente em linguagem econômica, no meu entendimento, é reserva de mercado, nada mais nada menos que uma prática mercantilista disfarçada. Se é necessária como uma espécie de incentivo ao trabalho científico , deveria ser utilizada apenas pelo tempo suficiente para que empresas ou cientistas pudessem recuperar os gastos envolvidos no achamento ou desenvolvimento de algo, o que para alguns produtos não passariam de cinco anos.
Acredito na livre-concorrência, mas esta tal qual foi e é praticada pelos países desenvolvidos. Nestes países, percebemos que ela possui limites bem definidos. Assim, o desenvolvimento do Brasil estaria ligado a uma primeira fase protecionista, ao menos em setores estratégicos da economia. Não falo em estatização, nem em um retorno a Getúlio, longe disso! Devo recordá-lo, professor, que, passados quase vinte anos de abertura de mercados, embora o desenvolvimento econômico e social seja inegável, ainda somos uma república exportadora de” bananas”."
===========
Retomo para comentar e rebater, mas antes quero remeter a este outro post meu:
Protecionismo brasileiro: recrudescendo, cada vez mais...
que evidencia o protecionismo brasileiro, muito mais extensivo, regular, constante, crescente, do que os casos evidenciados acima.
Venho agora ao comentário de meu leitor, destacando apenas os pontos dos quais discordo absolutamente. Devo dizer que também acho que os países ricos praticam protecionismo seletivo, ou mercantilismo novo estilo, bem menos, entretanto, do que os países em desenvolvimento, que são contumazes utilizadores dos mecanismos mais nefastos do ponto de vista de seus próprios interesses de desenvolvimento.
Faço as transcrições seletivas e respondo em seguida:
1)"Protecionismo no momento de fragilidade, livre-concorrência no momento de força."
PRA: Se a história fosse simples assim, o mundo só teria duas cores: preto e branco, ou oposições do mesmo gênero. Essa visão maniqueista da História é muito disseminada em certa literatura, sobretudo a classista, mas ela não descreve a realidade muita mais complexa e mais matizada que ocorre de fato dentro dos países e nas suas relações com os demais.
2) "Estados Unidos (...) devemos lembrar, teve [sic; tiveram] o seu desenvolvimento econômico fomentado pela ação direta do Estado até a segunda metade do século XIX, momento em que se tornou [sic] a 2º potência industrial do mundo. Sua política externa era altamente intervencionista e caracterizada por um isolacionismo profundo nas relações com a Europa."
PRA: Aqui é o samba do historiador doido, sem dúvida nenhuma com a ajuda de historiadores suspeitos como Eric Hobsbawm (que faz muito sucesso no Brasil, mas que nos demais países não é considerado um grande historiador, por sua visão, justamente, enviesada do mundo) e daquela versão vulgar do marxismo pasteurizado pela finada Academia de Ciências da URSS, que fazia uma história vagabunda do mundo, sempre ao estilo simplista do Manifesto.
Sinto decepcionar nosso aprendiz de historiador, mas os EUA não tiveram seu desenvolvimento fomentado pelo Estado, como ele escreve. Este era extremamente fraco, pelo menos até o final da Guerra de Secessão, quando os EUA já tinham consolidado seu processo de desenvolvimento. Este, devemos lembrar, começou prtaicamente ao mesmo tempo que a revolução industrial britânica, com desenvolvimentos comparáveis na Nova Inglaterra, ainda que o Sul tenha permanecido agrário e tradicional.
Os EUA se tornam a primeira potência industrial no mundo já ao final do século 19, mas isso se deve menos à política protecionista, como muitos acreditam, e mais às condições favoráveis no plano da capacitação tecnológica e produtividade do trabalho no país. Os EUA tinham um enorme mercado interno e eram grandes exportadores agrícolas (o que eles continuaram a ser mesmo depois de se converterem na primeira potência industrial. O comércio exterior era uma parte pequena da economia americana, como ainda continua. Não se pode ter o rabo comercial abanando o cachorro do desenvolvimento. Os historiadores lidos por esse comentarista não conhecem a história econômica dos EUA.
Nada a acrescentar sobre essa tremenda contradição entre ter uma política externa intervencionista e ao mesmo tempo isolacionista. Sei do que ele pretende falar: intervenção no Caribe e América Central (até nas Filipinas), isolacionismo em relação à Europa. Mas isso continua no simplismo. Recomendo que ele leia mais livros de qualidade, como Neill Ferguson, Paul Johnson, em lugar do seu Hobsbawm habitual.
3) "...quanto mais pesquiso, mais chego a conclusão que a ação do Estado na economia, resguardando mercados, fomentando a indústria, redistribuindo renda é fundamental para um país, ao menos até o momento em que possuir setores competitivos o suficiente para enfrentar uma livre-concorrência."
PRA: Esta visão da história e do desenvolvimento econômico é construída para provar exatamente o que pretende provar. Ha-Joon Chang é o seu usuário mais recente e mais conhecido. Trata-se de uma leitura seletiva da história. Já tratei desse tipo de deformação neste meu artigo de uma série:
Falácias acadêmicas, 5: o mito do complô dos países ricos contra o desenvolvimento dos países pobres, Brasília, 21 janeiro 2009, 11 p. Continuação da série, tratando desta vez das teses do economista Ha-Joon Chang. Espaço Acadêmico (n. 93, fevereiro 2009; arquivo em pdf). Reproduzido, sob o título de Sobre o complô dos ricos contra os pobres, no site Dom Total (16.04.2009). Originais n. 1976.
4) "Patente em linguagem econômica, no meu entendimento, é reserva de mercado, nada mais nada menos que uma prática mercantilista disfarçada. Se é necessária como uma espécie de incentivo ao trabalho científico , deveria ser utilizada apenas pelo tempo suficiente para que empresas ou cientistas pudessem recuperar os gastos envolvidos no achamento ou desenvolvimento de algo, o que para alguns produtos não passariam de cinco anos."
PRA: De fato, é o que ocorre na prática. Dificilmente uma patente industrial é utilizada por toda a sua vida útil de 20 anos. As patentes de medicamentos sim, na medida em que sua proteção efetiva é menor, já que os procedimentos para venda ao público costumam ser demorados. Como desconfia nosso comentarista, se trata de um mal necessário. Como disse Churchill da democracia, se trata do pior sistema existente, ou possível, à exceção de todos os demais...
5) "...o desenvolvimento do Brasil estaria ligado a uma primeira fase protecionista, ao menos em setores estratégicos da economia. Não falo em estatização, nem em um retorno a Getúlio, longe disso! Devo recordá-lo, professor, que, passados quase vinte anos de abertura de mercados, embora o desenvolvimento econômico e social seja inegável, ainda somos uma república exportadora de” bananas”."
PRA: As pessoas acreditam que sem Getúlio, sem protecionismo, sem estatização, o Brasil nunca teria se desenvolvido, ou pelo menos se industrializado. É o tal princípio que diz que foi assim, então, só poderia ser assim, ou não poderia ter sido de outra forma. Trata-se de outra leitura enviesada da história. O Brasil poderia ter se desenvolvido talvez mais, e melhor, nos quadros de um sistema internacional aberto. Não foi fácil desenvolver o Brasil num mundo sem mercados, sem créditos, com todos os tipos de restrições. A leitura que se faz é simplesmente deformada pelo que ocorreu efetivamente, como se só pudesse ter ocorrido daquela forma e não de outras, sempre abertas.
Por outro lado, NÃO É VERDADE que continuamos exportador de bananas. A soja tem anos e anos de pesquisa e desenvolvimento e concentra o que de melhor o Brasil tem de INDÚSTRIA e de SERVIÇOS, ademais da melhor agricultura em zona tropical do mundo.
Já escrevi sobre nossa exportação de commodities também, para voltar ao mesmo assunto. Quem estiver interessado, pode buscar sob essa rubrica neste blog.
Paulo Roberto de Almeida
domingo, 5 de setembro de 2010
Quilombo de resistência intelectual
Paulo Roberto de Almeida
Em situações de quase completa unanimidade, torna-se difícil, praticamente impossível, manter uma posição dissidente, discordante da maioria. Somos olhados como pessoas estranhas, suspeitos de alguma arrogância intelectual ou de elitismo social, o que aos olhos da maioria aparece como um pecado capital.
No entanto, esparsos na comunidade, existem muitos outros indivíduos que também mantêm as mesmas reservas e restrições à ordem dominante, pessoas que se ressentem dos consensos impostos e que gostariam de contribuir para um ambiente de pluralidade e, sobretudo, de respeito à livre expressão de suas discordâncias e propostas alternativas.
É o momento, talvez, de se congregarem esforços na resistência intelectual, de agrupar as forças contrárias atualmente existentes naquele conjunto que foi chamado, em conformidade ao título desta nota, de quilombo, um espaço de racionalidade, de defesa da razão, de não conformismo ou de não conformidade com a aparente unanimidade (que pode ter sido construída por meios de instrumentos espúrios). Trata-se, como alertado, de um foco de resistência, de preservação da racionalidade em meio ao oceano de aprovação, de aparente contentamento com a situação existente, de falsas utopias e de soluções enganosas.
Um quilombo é isso: uma fuga da ditadura dominante, uma pequena ilha de liberdade nas trevas das paixões desatadas, uma centelha de esperança na libertação futura, a preservação da autonomia em momentos de opressão, mesmo virtual ou potencial. Todos os fascismos – e os socialismos não deixam de ser modalidades dessa grande espécie – requerem a unanimidade. O quilombo da razão recusa a unanimidade. Por enquanto é apenas isso...
Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 6.09.2010)
PS.: Devo a ideia do quilombo da razão a meu amigo Vinicius Portella.
Protecionismo aumenta no mundo; relatorio da OMC
Jamil Chade CORRESPONDENTE / GENEBRA
O Estado de S.Paulo, 5.09.2010
Medidas protecionistas tomadas em meio à crise já afetaram um fluxo de bens equivalente a US$ 1,6 trilhão no mercado internacional
Uma nova barreira comercial foi criada por dia no mundo desde que o G-20 prometeu que não recorreria ao protecionismo para lidar com a crise econômica, dois meses depois da quebra do Lehman Brothers, em 2008. Esse é, por enquanto, o legado da crise econômica internacional no comércio. Especialistas alertam que poderá levar anos para que essas barreiras sejam desmanteladas.
A proliferação de medidas ocorre à medida que setores continuam a patinar, acumulam dívidas e pressionam governos a tomar medidas para se proteger. De olho em votos e em manter as contas nacionais em dia, alguns governos vêm sucumbindo à pressão.
A análise é da organização Global Trade Alert, formada por alguns dos principais economistas da Europa e dos EUA e financiada pelo Banco Mundial. Segundo os especialistas, as medidas protecionistas estabelecidas por governos em meio à crise econômica já afetaram um fluxo de bens equivalente a US$ 1,6 trilhão no mercado internacional e as barreiras criadas em menos de dois anos já atingiram 10% do comércio mundial.
A avaliação obtida pelo Estado seria, segundo o grupo de especialistas, a principal prova que o G-20 não cumpriu sua promessa, feita de forma solene pelos presidentes, de que evitaria medidas protecionistas.
650 medidas. Desde novembro de 2008, quando a cúpula do grupo se reuniu pela primeira vez e declarou que não recorreria a barreiras comerciais, cerca de 650 novas medidas protecionistas foram adotadas em todo o mundo para frear importações ou incentivar a produção local para garantir maior competitividade contra bens importados.
Os dados contradizem a avaliação da Organização Mundial do Comércio (OMC), que monitorou o surgimento de novas medidas. Críticos alertam que, por ser formada pelos mesmos estados que aplicam as barreiras, a organização evitou entrar em choque com os governos.
Em um relatório publicado em junho, a organização afirmou que os governos não aderiram às medidas protecionistas como resposta à crise. Segundo a OMC, as medidas protecionistas, quando existiram, afetaram apenas uma fração do comércio mundial e estão em queda. Em outubro de 2008 e outubro de 2009, apenas 1% das importações mundiais haviam sido atingidas pelas barreiras. Neste ano, o volume seria de apenas 0,4%.
Mas dados obtidos pelo Estado mostram que o impacto das medidas é maior que se imaginava. Segundo o levantamento, 22 medidas atingiram um comércio de US$ 10 bilhões cada, incluindo os pacotes de estímulo nos EUA privilegiando a compra de produtos nacionais - o programa "Buy American".
Europa e Brasil. Segundo o levantamento, o maior número de medidas protecionistas foi adotado pela União Europeia. Entre as medidas está a distribuição de novos subsídios aos produtores de açúcar, o que provocou a irritação do Brasil diante da perspectiva de prejuízos para os exportadores nacionais.
Outros países que adotaram as medidas em grande número são Rússia, Argentina e Nigéria.
A discrepância entre os números da OMC e do grupo de especialistas é explicada pela decisão da organização multilateral de não avaliar o impacto dos incentivos internos criados pelos países e de lidar apenas com barreiras nas fronteiras.
"A contribuição da OMC está sendo superestimada. As medidas adotadas driblaram as regras da entidade", afirmou Simon Evenett, coordenador do grupo e professor da Universidade de St. Gallen na Suíça. "Os custos das promessas não cumpridas do G-20 aumentam a cada trimestre."
Crise de 29. Olivier Cadot, professor da Universidade de Lausanne, alerta que o comércio mundial apresentou a mesma taxa de contração que foi identificada em 1929, após a quebra da Bolsa de Nova York. Segundo ele, o comércio mundial sofreu uma queda acima de 10% no terceiro trimestre de 1929, seguido por uma queda de 7% no fim daquele ano. "O que ocorreu em 2009 foi muito similar. É algo para se preocupar", disse Cadot.
O que preocupa os especialistas é que o discurso protecionista não desapareceu e novas legislações estão sendo aplicadas. O país mais atingido é a China. Nesta semana mais uma polêmica foi aberta, desta vez com os Estados Unidos.
De olho nas eleições legislativas, a Casa Branca anunciou que vai desenvolver 14 medidas para lidar com a importação de bens que receberiam incentivos ilegais em seus países de origem, principalmente China e Vietnã.
A proposta é parte do esforço dos EUA de dobrar as exportações nos próximos cinco anos para gerar empregos. A meta havia sido estabelecida no discurso anual de Barack Obama no Congresso, em janeiro. A China reagiu imediatamente à medida e alertou que poderia ter "implicações muito graves" para o comércio internacional.
=============
O relatório da OMC, de 2010, sobre o comércio mundial pode ser visto aqui, em sua versão francesa: http://www.wto.org/french/res_f/publications_f/wtr10_f.htm
(versões em inglês e em espanhol também estão disponíveis)
E tem gente que reclama do MST: poderia ser pior...
Os proprietários de terras no Brasil vivem, de certa forma, acossados pelos neobolcheviques do MST, que realmente praticam seu esporte favorito na total indiferença do governo (que aliás fornece, indiretamente, os meios).
Mas o Brasil até que é um país "moderado" na prática da expropriação revolucionária.
Poderia ser pior. Como na Venezuela, por exemplo...
Paulo Roberto de Almeida
Inseguridad afecta economía venezolana
Emilia C. de Paula
El Nuevo Herald, 05/09/2010
Acosado por el constante riesgo de que lo secuestren, el ganadero venezolano Gustavo Martínez vive como si fuera un fugitivo; nunca avisa cuando se dirige a su finca, siempre altera las horas en que viaja, frecuentemente cambia las rutas y mantiene un ojo puesto en el espejo retrovisor para ver si lo están siguiendo.
Y es que la inseguridad personal –en un país considerado como uno de los más peligrosos de América Latina– es un tema de gran preocupación entre los ganaderos, especialmente en el sur de El Lago de Maracaibo, donde vive Martínez, y donde la industria del secuestro se encuentra en pleno apogeo.
Pero es el temor a que le expropien sus tierras, bajo posesión de la familia de Martínez por más de tres generaciones, lo que más le quita el sueño a este productor agrícola y agropecuario de 56 años.
“No hay quien te garantice la propiedad”, dijo Martínez a El Nuevo Herald en una entrevista telefónica. “El gobierno dice que la tierra es del Estado, que no tiene dueño [. . .]. Es muy duro ver que lo que fue parte de tu tradición familiar pase a manos de unos fascinerosos porque están bien con el gobierno”.
Como Martínez son miles los productores agropecuarios y empresarios de otros sectores los que sienten estar viviendo perennemente bajo la Espada de Damocles en Venezuela y que tratan de sobrevivir en un ambiente que es cada vez más hostil, marcado por una alta volatilidad económica, la inseguridad personal, políticas gubernamentales que desestimulan la inversión privada y una constante amenaza de que sus activos sean expropiados.
Expertos advierten que los riesgos para el empresariado podrían ser aún mayores con una victoria del oficialismo en las elecciones parlamentarias del 26 de septiembre, ante la promesa del presidente Hugo Chávez de que radicalizará más su revolución socialista de salir airoso en los comicios.
Economistas consultados por El Nuevo Herald dijeron que hay muy pocas dudas en Venezuela de que eso es precisamente lo que el mandatario se propone hacer.
“Todo el mundo se lo espera”, afirmó Asdrúbal Oliveros, director de la firma de asesores Ecoanalítica. “Eso es lo que ya ha venido haciendo, con toda una aprobación de leyes que ha venido tomando esta Asamblea Nacional, algunas que ya han sido aprobadas y otras que están en discusión”.
El grueso de estas nueva leyes buscan reemplazar los espacios actualmente ocupados por el sector privado por empresas comunales operadas bajo una estrecha vinculación con el Estado, bajo un esquema denominado por el gobierno como propiedad social o propiedad comunal.
Una vez que ese esquema ya esté creado, Oliveros dijo que Venezuela podría ver una mayor ola de expropiaciones, acentuando aún más la incertidumbre del empresariado.
“El empresario venezolano se levanta hoy en día con dos cosas en la cabeza. La primera de ellas es: ‘¿Seré yo la próxima víctima de una expropiación, de una nacionalización?’ Y la segunda: ‘¿Podré obtener las divisas para los trámites de importación o de compras de insumo?’. Porque al problema ideológico hay que sumarle el problema de una profunda escasez de divisas que está viviendo Venezuela en los últimos meses”, indicó Oliveros.
Pedro Palma, presidente de la Academia de Ciencias Económicas de Venezuela, dijo que el empresariado está encontrando espacios cada vez más reducidos para operar.
“Ha habido una política de hostigamiento, en la que las expropiaciones ya se han vuelto muy comunes, que ya no sólo afectan a las grandes empresas o a los grandes fundos de producción agrícola, sino que ahora afectan también a los pequeños productores, que se les expropian sus empresas”, aseguró Palma.
Todo esto crea un ambiente muy poco propicio para la inversión y son muy pocos los empresarios en el país que están pensando en ampliar sus negocios, limitándose a gastarsólo lo suficiente para mantener sus operaciones funcionando a un mínimo.
Martínez es un vivo ejemplo de esto.
La producción de leche de su finca que una vez alcanzaba 1,500 litros diarios actualmente ronda por niveles de 300 litros, y el productor agropecuario se ha volcado cada vez más a la producción de plátanos, rubro que no requiere de gran atención ni de inversiones.
Palma aseguró que el empresariado es consciente de que la Revolución Socialista del Siglo XXI que lleva a cabo Chávez es una réplica del modelo comunista autoritario aplicado en Cuba.
Añadió que al gobierno le irritan comentarios como estos porque las encuestas demuestran que el venezolano mayoritariamente rechaza el comunismo.
“Pero es lo que se está haciendo”, enfatizó Palma. “No hay dudas de que el Socialismo del Siglo XXI cada vez se parece más al socialismo totalitario cubano”.
Al riesgo de la expropiación se le añaden las tremendas dificultades que enfrentan los empresarios venezolanos para conseguir dólares.
La divisa estadounidense ha cobrado una importancia cada vez mayor debido a que el gradual achicamiento del aparato productivo ha llevado a depender cada vez más de las importaciones para los insumos que las empresas necesitan y para la compra de productos que han dejado de ser elaborados en el país.
Martín Herrera, economista del Grupo Soluciones Gerenciales S.A., dijo que la dependencia del dólar se ha disparado a lo largo de los últimos 10 años.
“Nosotros tenemos una escalada cada vez mayor de dependencia de las importaciones”, afirmó Herrera, cuya empresa hace un minucioso seguimiento de los volúmenes de importaciones que realiza el país.
Añadió que esto puede verse fácilmente en los números de la balanza comercial que muestran que para 1999 eran $19,400 millones los requeridos por la economía, monto que para el 2009 se ubicaba en unos $55,000 millones. Para el 2010, se presupuestaron $60,000 millones.
“Esto es una clara prueba de que cada vez más dependemos de las importaciones y el aparato productivo se ve cada vez más afectado porque muchos rubros están desapareciendo y muchas empresas están cerrando, agudizando la dependencia de las importaciones”.
El problema que tienen actualmente las empresas que mantienen sus puertas abiertas es que el gobierno no está suministrando todo los dólares que necesitan, lo que según Herrera también se está viendo reflejado en el pobre desempeño del crecimiento económico.
“El gobierno no lo quiere reconocer, pero lo que dicen las cifras del Banco Central es que nuestra crisis es de presupuesto de divisas, no hay la cantidad de divisas para atender la demanda”, dijo Herrera.
Martínez está entre los empresarios que enfrentan serias dificultades para encontrar dólares.
Pero el ganadero considera que este es sólo uno de una larga lista de problemas que tiene al empresariado de rodillas.
“Los problemas están por todos los lados. Hay problemas para salir del país; hay problemas para conseguir dólares de CADIVI [el organismo oficial que los entrega]; hay problemas de inseguridad; se corre el riesgo de que te expropien lo que tienes. No hay forma de trabajar así”, subrayó Martínez. “Con un gobierno como este, el futuro es incierto”.
Republica Mafiosa do Brasil (17): a banalizacao do crime
Às favas com os direitos
Dora Kramer
O Estado de S.Paulo, 5 de setembro de 2010
Só pesquisas podem medir com alguma chance de precisão se um episódio como o da quebra reiterada de sigilo fiscal nas dependências da Receita Federal mexe com a sensibilidade do eleitorado ao ponto de fazer da preservação do Estado de Direito um dos fatores para definição de voto.
A primeira impressão é a de que não influi. Isso com base no peso que a população tem dado a questões como valores e princípios.
A ética foi enterrada como indigente. Em silêncio, sem choro nem vela e à grande maioria pouco se lhe dá se o Estado aumenta seu poder discricionário, invade privacidade, agride a Constituição, barbariza com o patrimônio público, usa, abusa e ainda sai dizendo que o que vem debaixo não o atinge.
Distorce a verdade para fazer o papel de vítima sabendo-se na condição de algoz.
Permite que o ministro da Fazenda assuma como normal a insegurança dos dados do contribuinte e, se alguém diz que isso é crime de responsabilidade, acusa "golpe eleitoral".
Enquanto isso os mais pobres se alegram em poder comprar, atribuindo a bonança à ação de um homem sem compreender que é resultado de um processo; os mais ricos não querem outra vida; os mais retrógrados nunca tiveram tanto cartaz; os mais à esquerda não perdem a esperança de vir a ter; os mais conscientes percebem algo fora do lugar, mas preferem se irritar porque não têm ao seu lado também um líder carismático e sem pudor.
Em um cenário assim desenhado, convenhamos, os valores que estão em jogo soam difusos para o grosso do eleitorado: os deveres do Estado e os direitos do cidadão.
Neste Brasil de tantas necessidades é provável que, se for posto na balança de um lado o crédito farto e de outro a liberdade parca, o prato penda a favor do consumo largo.
É um debate difícil de ser feito. Quase impossível em períodos eleitorais porque sempre haverá por parte dos acusados a alegação de que são injustamente atacados por adversários "desesperados", enquanto a essência da questão se perde: a invasão do espaço institucional por tropas de ocupação com interesses específicos. Ideológicos, fisiológicos ou simplesmente corruptos.
Sob a indiferença das vanguardas (onde?) e deixadas à mercê do poder da propaganda, as pessoas não conseguem ter a dimensão da gravidade.
Não atentam para o seguinte: o Estado que deixa sigilo ser quebrado, não se incomoda com propriedades privadas invadidas e insiste no controle dos meios de comunicação amanhã ou depois pode querer reduzir a liberdade alegando agir em prol do povo e do patriotismo como fator indispensável ao triunfo do Brasil.
Por isso é improvável que haja repercussão eleitoral. Se houver, terá sido por causa dos tropeções e das contradições do governo.
A naturalidade do ministro da Fazenda ao dizer que as informações do contribuinte não são invioláveis é tão escandalosa quanto a quebra de sigilo.
Nesse caso a urgência fez a imprudência. No afã de afastar de Dilma Rousseff as suspeitas de uso político da máquina pública, Guido Mantega informa ao público pagante que a Receita Federal e a casa da mãe joana são ambientes similares.
Uma confissão de incapacidade de prestar o serviço contratado pelo cidadão e a impossibilidade de cumprir a lei que se impõe a todos.
É a rendição do Estado à ação do crime.
A propósito, se era para dizer uma estultice dessa envergadura o ministro da Fazenda estava mais bem posicionado em sua omissão diante dos fatos.
Um canto de cisne tucano? - Fernando Henrique Cardoso
Esse é o Brasil real: um povo com 70% do eleitorado dotado de educação primária para baixo, ou seja, deseducado politicamente, se prepara para confirmar seu apreço por um presidente vindo do povo.
Que não se veja neste meu argumento uma reclamação elitista. Sou da elite, por uma simples questão de renda e de educação, aliás primeiro pela educação, pois ela veio bem antes da renda: eu já era de elite quando ainda era pobre, por ter sido simplesmente beneficiado com uma escola pública de qualidade e ter podido frequentar bibliotecas públicas infantis, e ter aprendido tudo o que é possível aprender num ambiente aberto à ascensão dos mais pobres.
Essas condições, infelizmente, já não existem mais no Brasil.
A situação atual é esta que estamos assistindo: de uma tremenda decadência institucional e uma deterioração do mores político.
Teremos de conviver com isso durante muito tempo.
Conformem-se, sociólogos e outros visitantes...
Paulo Roberto de Almeida
Democracia em risco, Democracia virtual
Fernando Henrique Cardoso
O Estado de S.Paulo, Sábado, 4 de Setembro de 2010
Vivemos uma fase de democracia virtual. Não no sentido da utilização dos meios eletrônicos e da dicionário do Aurélio: algo que existe como faculdade, porém sem exercício ou efeito atual. Faz tempo que eu insisto: o edifício da democracia, e mesmo o de muitas instituições econômicas e sociais, está feito no Brasil. A arquitetura é bela, mas, quando alguém bate à porta, a monumentalidade das formas institucionais desfaz-se em um eco que indica estar a casa vazia por dentro.
Ainda agora a devassa da privacidade fiscal de tucanos e de outras pessoas mais mostra a vacuidade das leis diante da prática cotidiana. Com a maior desfaçatez do mundo, altos funcionários, tentando elidir a questão política – como se estivessem tratando com um povo de parvos –, proclamam que “não foi nada não; apenas um balcão de venda de dados...”. E fica o dito pelo não dito, com a mídia denunciando, os interessados protestando e buscando socorro no Judiciário, até que o tempo passe e nada aconteça.
Não tem sido assim com tudo o mais? O que aconteceu com o “dossiê” contra mim e minha mulher feito na Casa Civil da Presidência, misturando dados para fazer crer que também nós nos fartávamos em usar recursos públicos para fins privados? E os gastos da atual Presidência não se transformaram em “secretos” em nome da segurança nacional? E o que aconteceu de prático? Nada. Estamos todos felizes no embalo de uma sensação de bonança que deriva de uma boa conjuntura econômica e da solidez das reformas do governo anterior.
No momento do exercício máximo da soberania popular, o desrespeito ocorre sob a batuta presidencial. Nas democracias, é lógico e saudável que os presidentes e altos dirigentes eleitos tomem partido e se manifestem em eleições. Mas é escandalosa a reiteração diária de posturas político-partidárias, dando ao povo a impressão de que o chefe da nação é chefe de uma facção em guerra para arrasar as outras correntes políticas. Há um abismo entre o legítimo apoio aos partidários e o abuso da utilização do prestígio do presidente, que além de pessoal é também institucional, na pugna política diária. Chama a atenção que nenhum procurador da República, nem mesmo candidatos ou partidos, haja pedido o cancelamento das candidaturas beneficiadas, senão para obtê-lo, ao menos para refrear o abuso. Por que não se faz? Porque pouco a pouco estamos nos acostumando que é assim mesmo.
Na marcha em que vamos, na hipótese de vitória governista – que ainda dá para evitar – incorremos no risco futuro de vivermos uma simulação política ao estilo do PRI mexicano – se o PT conseguir a proeza de ser “hegemônico” – ou do peronismo, se mais do que a força de um partido preponderar a figura do líder. Dadas as características da cultura política brasileira, de leniência com a transgressão e criatividade para simular, o jogo pluripartidário pode ser mantido na aparência, enquanto na essência se venha a ter um partido para valer e outro(s) para sempre se opor, como durante o autoritarismo militar.
Pior ainda, com a massificação da propaganda oficial e o caudilhismo renascente, poderá até haver anuência do povo e a cumplicidade das elites para com essa forma de democracia quase plebiscitária. Aceitação pelas massas na medida em que se beneficiem das políticas econômico-sociais, e das elites porque estas sabem que neste tipo de regime o que vale mesmo é uma boa ligação com quem manda. O “dirigismo à brasileira”, mesmo na economia, não é tão mau assim para os amigos do rei ou da rainha.
É isso que está em jogo nas eleições de outubro: que forma de democracia teremos, oca por dentro ou plena de conteúdo. Tudo mais pesará menos. Pode ter havido erros de marketing nas campanhas oposicionistas, assim como é certo que a oposição se opôs menos do que deveria à usurpação de seus próprios feitos pelos atuais ocupantes do poder. Esperneou menos diante dos pequenos assassinatos às instituições que vêm sendo perpetrados há muito tempo, como no caso das quebras reiteradas de sigilos. Ainda assim, é preciso tentar impedir que os recursos financeiros, políticos e simbólicos reunidos no Grupão do Poder em formação tenham força para destruir não apenas candidaturas, mas um estilo de atuação política que repudia o personalismo como fundamento da legitimidade do poder e tem a convicção de que a democracia é o governo das leis e não das pessoas.
Estamos no século 21, mas há valores e práticas propostos no século 18 que foram se transformando em prática política e que devem ser resguardados, embora se mostrem insuficientes para motivar as pessoas. É preciso aumentar a inclusão e ampliar a participação. É positivo se valer de meios eletrônicos para tomar decisões e validar caminhos. É inaceitável, porém, a absorção de tudo isso pela “vontade geral” encapsulada na figura do líder. Isso é qualquer coisa, menos democracia. Se o fosse, não haveria por que criticar Mussolini em seus tempos de glória, ou o Getúlio do Estado Novo (que, diga-se, não exerceu propriamente o personalismo como fator de dominação) e assim por diante. É disso que se trata no Brasil de hoje: estamos decidindo se queremos correr o risco de um retrocesso democrático em nome do personalismo paternal (e, amanhã, quem sabe, maternal). Por mais restrições que alguém possa ter ao encaminhamento das campanhas ou mesmo a características pessoais de um ou outro candidato, uma coisa é certa: o governismo tal como está posto representa um passo atrás no caminho da institucionalização democrática. Há tempo ainda para derrotá-lo. Eleição se ganha no dia.
Será que estou ficando insensivel? Ou os outros sao ingenuos demais?
Sou eu que estou ficando mais exigente, ou são as pessoas que escrevem que estão ficando mais ingênuas?
Ou outra coisa que não vou dizer, pois existem muitos censores da minha linguagem neste blog e logo alguém vai escrever para dizer que eu empreguei linguagem inapropriada (existe essa expressão?) para designar os alvos (ou as vítimas) de minha impaciência (estou até contido, como vocês podem reparar).
Pois bem, vou logo transcrever (apenas o sumário) o que suscitou minha "impaciência", para vocês constatatem se eu estou ficando muito exigente, ou se as pessoas que escrevem estão de fato carecendo de um pouco mais de sentido da realidade...
1) No inferno do Atacama
Especialista em catástrofes, [XXXX, vamos deixar o entrevistado em paz] avalia drama de mineiros presos por desabamento em mina de cobre no deserto do Chile. E diz que catástrofes resultam do desrespeito à natureza. Por [XXXX, xxxx; não importa quem, onde...]
Será que esse "especialista em catástrofes" acha mesmo que os homens, que são apenas produtores de bens, com base em recursos naturais, vão parar de recolher minérios, ou qualquer outra coisa da natureza, apenas por "respeito" à dita cuja? Como é que os homens vão se aquecer, comer, se vestir, construir casas, melhorar seu padrão de vida?
Apenas e tão somente agredindo a natureza, desrespeitando-a, quase violando-a (ou o fazendo, literalmente)?
Vamos ser claros: não existe hipótese de se ter qualquer atividade humana, na face da Terra que não constitua uma agressão à natureza. Quem disser o contrário, está se auto-enganando ou se iludindo.
Mas, atenção, essa "agressão" não é feita apenas pelos homens. Com exceção dos minerais (que estão quietinhos na natureza, mas de vez em quando eles entram em erupção), e das plantas (mas algumas são carnívoras, outras venenosas ou tóxicas), TODOS OS ANIMAIS AGRIDEM A NATUREZA.
Claro, alguém sempre vai dizer que eles o fazem para sua sobrevivência, e o homem não, faz de malvado, por esporte, por lazer, por exagero consumista, sabe-se lá o que mais.
Eu vou parar por aqui e mandar quem pensa assim plantar batatinhas... (bem, não fui tão agressivo assim fui?).
2) Recado aos jovens futuros economistas e aos que desejam estudar economia
O mundo da Economia não pode ser reduzido à condição de mercado, nem de mercadoria. Antes, é fundamental ter ciência que existe algo de mais valioso: a vida humana. Por [Fulaninho e Sicraninho, mas deixemo-los em paz...]
Sinto muito, mas não consigo levar a sério alguém que, antes de qualquer outro argumento inteligente, começa por dizer: "sim, isso é importante, mas mais importante que tudo é a vida humana..."
Saperlipopete! Será que os que dizem isso acham que economistas, engenheiros, médicos, cientistas de laboratório (sim, eu sei, os mais atacados são, obviamente, os donos de laboratórios farmacêuticos, interessados apenas no lucro, ao passo que seus cientistas são até bonzinhos), enfim, quaisquer outras pessoas, esquecem que também são humanos?
Será que os economistas, em especial, são seres desumanos, perversos, interessados apenas na eficiência produtiva, totalmente desinteressados da vida humana?
Eu proponho que Fulaninho e Sicraninho não consumam nenhuma mercadoria, e que por respeito à vida humana elas produzam todos os seus alimentos, plantem fibras ou criem animais e fabriquem todas as suas roupas, elaborem seus próprios medicamentos, e sobretudo, sobretudo, se abstenham de irem aos mercados, tão desumanos...
Estou impaciente com o besteirol, como vocês viram.
Mas, pelo menos hoje não chamei ninguém de idiota...
Paulo Roberto de Almeida
9Shanghai, 5/09/2010)
Xenofobia fundiaria e nacionalismo contraproducente: explico as razoes...
Nacionalismo fundiário só pode atrasar o país...
Isso a propósito das declarações de "eminentes" economistas -- como o Delfim Netto, por exemplo -- que nas últimas semanas vem dando entrevistas ou publicando artigos alertando para o terrível perigo que consiste em deixar empresas chinesas comprarem empresas de mineração no Brasil ou terras, para plantar alimentos e exportar para a China. Eles consideram isso um atentado à soberania e um perigo para a defesa nacional, já que muitas dessas empresas chinesas são estatais, alegam os neonacionalistas fundiários.
Já troquei impressões com colegas e amigos a esse respeito, e reparei que eles também aprovam as medidas do governo -- que já provocaram, por exemplo, desistência de uma grande empresa de celulose, que pretendia investir no sul do Brasil para abastecer sua fábrica no Uruguai -- e também são contra a entrada de empresas chinesas no mercado brasileiro, entre outros motivos por elas serem estatais ou receberem apoio do governo.
Vou expor claramente minha posição, sem precisar chamar ninguém de idiota, como já fiz, de modo inadequado anteriormente (me desculpo, mas não consigo evitar uma reação desse tipo quando ouço algo que me parece um simples non-sense, para não dizer outra coisa).
Pois bem, vejamos quais são minhas razões, e convido qualquer um a expor as suas, contrárias às minhas, com base em argumentos que tenham consistência, não ofendam à lógica formal e sejam algo mais do que a simples exposição do nacionalismo superficial, epidérmico, que não serve como razão. São requeridas razões econômicas e políticas para fazê-lo, se posso colocar essa exigência.
A China vem crescendo de modo extraordinário nos últimos 20 anos, pelo menos. Nunca houve, nem provavelmente jamais haverá, no futuro previsível, um outro país como ela, com essa taxa de crescimento sustentado, durante tanto tempo: isso é inédito na história econômica mundial. Mesmo a China, dentro de alguns, vai diminuir o seu ritmo e deixar essas taxas fenomenais no passado.
A função de suas empresas, privadas ou estatais, e mesmo a função de seu governo, é a de assegurar que as empresas tenham insumos em volumes suficientes para atender à demanda (que, diga-se de passagem, é de origem estrangeira: a China presta um favor ao mundo, aos países desenvolvidos em primeiro lugar, ao acolher suas indústrias poluidoras e ao produzir bens de consumo corrente para eles). Os governantes chineses também têm a obrigação de garantir suficiente abastecimento alimentar ao seu povo.
Até agora -- e tudo indica que essa política "não-agressiva" vai continuar -- os chineses vêm agindo corretamente, ou seja, via mercados comerciais e via investimentos diretos no exterior. Eles têm o direito de fazer isso, e todos os países ocidentais já o fizeram no passado, inclusive com materiais estratégicos como petróleo.
Nesse processo, os chineses tem procurado comprar empresas mineradoras no Brasil e também terras. As mineradoras são geralmente empresas deficitárias, que custam barato. Os chineses pretendem investir e retirar minério para exportar para a China: que sejam empresas estatais ou não, dá no mesmo, pois elas são obrigadas a se registrar como empresas "brasileiras", a cumprir toda a legislação brasileira e vão pagar impostos e obter receita no Brasil, como aliás qualquer empresa estrangeira faria.
Com as terras ocorre o mesmo: elas vão investir, e depois exportar alimentos para a China. Como outras já fazem. Elas não vão exportar terras, obviamente, apenas o que a terra produzir.
Empresas brasileiras, podem quando desejarem, destinar toda a sua produção de minérios ou alimentos para a China, e ninguém vai achar nada de estranho nisso. Por que as empresas chinesas não poderiam fazê-lo?
"Ah, por que são estrangeiras", diriam alguns, ou "porque são estatais chinesas", dirão outros, como se isso fosse um pecado ou um probema para o Brasil.
O fato de elas buscarem atender ao mercado chinês muda alguma coisa para o Brasil, para o povo brasileiro, para o governo? O brasileira vai deixar de ter minério ou de se alimentar porque alguma empresa está exportando toda a sua produção?
Ora, não sejamos ingênuos...
A xenofobia, não tem NENHUMA razão econômica de ser, inclusive porque temos empresas que destinam TODA a sua produção para o exterior, qualquer que seja o país.
"Ah, os chineses podem manipular os preços", podem aventar a hipótese outros. E o que impede as empresas estrangeiras não chinesas ou as brasileiras de fazê-lo?
Onde está a diferença substancial?
Chega de xenofobia ingênua, portanto.
Mas, vou usar outro argumento, talvez absurdo, mas nenhuma hipótese é absurda no longo prazo.
Imaginemos que o Brasil destruiu todas as suas florestas, contaminou todas as suas terras, esgotou todos os seus recursos naturais, o que ele simplesmente não tenha mais terras agricultáveis para alimentar uma gigantesca população, que passou das centenas de milhões. A hipótese pode soar absurda agora, mas ela é pelo menos plausível, reconheçamos.
Frente a esse quadro, empresas brasileiras e o próprio governo brasileiro investem no exterior, depois de esgotadas todas as possibilidades comerciais para atender à demanda interna.
O que diriam esses mesmos brasileiros xenófobos se países estrangeiros viessem dizer: "Ah, desculpem, vocês não podem investir aqui, pois temos limitações contra estrangeiros, vocês são brasileiros, vocês destruiram todas as suas reservas naturais, vocês não têm esse direito de vir aqui destruir as nossas também..."
Pois é, suponho que os brasileiros se sentiriam discriminados e descontentes com esse tipo de limitação absurda, de impedimento irracional, não economicamente justificável, pois o que se quer, justamente, é investir, produzir, exportar, criar empregos e riquezas no país produtor.
Bem, estas são minhas posições. Quem tiver argumentos contrários que se sustentem com base na boa economia e na boa política, sem nacionalismos superficiais, pode expô-los aqui mesmo.
Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 5.09.2010)
Protecionismo brasileiro: recrudescendo, cada vez mais...
Isso em completa descoordenação com os sócios do Mercosul, bloco que, supostamente, constitui uma união aduaneira, ou seja, possui uma tarifa externa comum.
Todos aqueles que já viajaram ou que viajam regularmente ao exterior, sabem que o Brasil é um dos países mais caros do mundo, e não apenas para a gasolina, e sim para bens de consumo corrente, para serviços (que em princípio não são tradeable, ou seja, não sofrem concorrência estrangeira) e para todo o resto (sem falar da burocracia).
Os empresários querem que os brasileiros paguem ainda mais caro pelos produtos que consomem, que consumam obrigatoriamente seus produtos caros, e o governo colabora com esse rentismo explícito, com essa expropriação autorizada oficialmente (e muitas vezes de forma ilegal, com respeito às normas do Mercosul; mas quem é que está ligando para o Mercosul?).
Os preços altos no Brasil não são explicados apenas pelos impostos recolhidos pelo governo, e esses já são muito altos, extorsivos, eu diria. Mas também pela falta de concorrência interna, pela proteção extensiva (que se faz por meio de impostos, mas não apenas), por toda uma orientação nacionalista e anti-estrangeira que é tradicional no Brasil.
Sem pretender elogiar nenhum larápio governamental, mas cabe reconhecer que a última, talvez a única fase de abertura econômica e de liberalização comercial que o Brasil conheceu ocorreu no início dos anos 1990, sob o governo Collor. Desde então, a despeito das privatizações e das reformas econômicas sob FHC (que só fez isso), a política comercial brasileira só fez recrudescer no protecionismo, cada vez mais, com Mercosul ou sem Mercosul.
Parece que vai continuar assim...
Paulo Roberto de Almeida
Indústria reage às importações com onda protecionista
Raquel Landim
O Estado de S.Paulo, 05 de setembro de 2010
Governo recebeu mais de 30 pedidos de elevação de tarifas de setores como máquinas, têxteis e equipamentos elétricos
O forte crescimento das importações provocou uma onda protecionista na indústria brasileira. Os empresários estão pressionando o governo a adotar medidas capazes de frear a entrada de produtos vindos do exterior: tarifas de importação mais altas, regras mais flexíveis para medidas antidumping e até preferências em licitações públicas.
Nas últimas semanas, fabricantes de eletroeletrônicos e máquinas procuraram o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e pediram para aumentar as tarifas de importação de alguns de seus produtos. A iniciativa chamou a atenção dos setor químico, que avalia se é conveniente fazer o mesmo pleito.
Outras empresas também estão se mexendo. A Usiminas solicitou a abertura de uma investigação de dumping contra a China. Fabricantes de calçados, escovas de cabelo, óculos e ímãs vão entregar em breve petições para estender as sobretaxas já existentes contra os chineses a outros países.
O real valorizado é apenas um dos motivos das reclamações. Com um crescimento de mais de 7% previsto para este ano, o mercado brasileiro se tornou um alvo óbvio. Os países ricos querem sair da crise exportando mais, enquanto os asiáticos precisam diversificar suas vendas. De janeiro a agosto, as importações brasileiras cresceram 45,7% - a maior taxa do planeta.
Temporário. A Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) solicitou ao governo a elevação da tarifa de importação de alguns produtos, como equipamentos de distribuição e geração de energia, de 14% para 35% - o máximo permitido pela Organização Mundial do Comércio (OMC). "Seria uma medida temporária, para compensar o câmbio sobrevalorizado", disse Humberto Barbato, presidente da Abinee. O setor prevê um déficit recorde de US$ 20 bilhões este ano.
O objetivo da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) também é subir a tarifa para 35%. Empresários do setor se reuniram com Mantega em Brasília e foram encorajado a fazer um estudo, que deve ser entregue este mês. Segundo José Velloso, vice-presidente da Abimaq, o ritmo das importações acelerou, com altas de 35% em maio, 42% em junho e 53% em julho.
Ao perceber a movimentação de outras entidades, o gerente de assuntos de comércio exterior da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) Renato Endres, começou a preparar um estudo sobre elevação de tarifas de importação. "Se for o caso, vamos pleitear algo desse tipo, mas ainda não foi discutido no conselho".
Segundo dados do ministério do Desenvolvimento, mais de 30 pedidos de elevação de tarifas de importação estão em análise. Também foram solicitadas 19 investigações de dumping (vender abaixo do custo) de janeiro até agora, o mesmo número de todo o ano de 2009. Em breve, prometem pipocar pedidos de tarifa contra a triangulação, uma nova medida que permite estender as tarifas antidumping a outros países usados para disfarçar a origem da mercadoria.
"Pelo menos 10 a 12 setores vão entrar rapidamente com seus pedidos contra triangulação", disse Roberto Barth, da Comissão de Defesa da Indústria Brasileira. A entidade convenceu o governo a regulamentar o instrumento de defesa comercial, argumentando que os importadores praticavam triangulação de produtos.
Dumping. O setor siderúrgico promete engrossar as fila dos pedidos de tarifas antidumping. Segundo o presidente-executivo do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, outras empresas devem seguir a trilha da Usiminas. "O mundo pós-crise é muito competitivo e todos estão no jogo da defesa comercial. O Brasil não pode ser ingênuo".
Segundo a entidade, as importações respondem hoje por 18% do consumo brasileiro de aço, o triplo da média histórica. O setor é um dos que mais reclamam. O presidente da CSN e da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Benjamin Steinbruch, provocou polêmica recentemente ao afirmar que "o Brasil precisa se fechar".
A Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) apresentou um novo tipo de pleito: preferência para o tecido nacional nas licitações do Exército para a compra de uniformes. "Todos os países estão se protegendo. O maior ativo do Brasil é o mercado interno. Não podemos entregá-lo a outros países", disse o presidente da entidade, Aguinaldo Diniz.
Para Rodrigo Maciel, da Strategus, que presta consultorias a empresas chinesas interessadas no País, "sempre que o Brasil cresce, o protecionismo volta. É uma postura simplória".
RAZÕES PARA...
A invasão de produtos importados
1.O dólar fechou na sexta-feira a R$ 1,73. O câmbio forte favorece a entrada de produtos importados, que se tornam mais competitivos que insumos e máquinas nacionais.
2.A economia brasileira deve crescer mais de 7% este ano, o que estimula a demanda por importados.
3.Uma das apostas dos países ricos para sair da crise é elevar as exportações. O Brasil se tornou um alvo e recebe com frequência missões empresariais estrangeiras.
4.Com as economias do Estados Unidos e da Europa se recuperando lentamente, os fornecedores asiáticos acumularam estoques. Para evitar demissões, querem diversificar os destinos das exportações e fazem um esforço de vendas em países como o Brasil .
============
Fazenda admite possibilidade de elevação de tarifas
Raquel Landim
O Estado de S.Paulo, 5/09/2010
Medida não é descartada na equipe de Mantega, mas encontra oposição[br]na pasta do Desenvolvimento
O governo brasileiro recusa o rótulo de protecionista, mas os empresários estão encontrando interlocutores sensíveis às suas demandas. A grande preocupação em Brasília é com o rombo nas contas externas. "Temos que defender o livre comércio, mas não podemos fazer papel de bobo", disse Mantega, na semana passada, em São Paulo.
O chefe de gabinete do ministro, Luiz Eduardo Melin, explica que "não se trata de protecionismo, mas nivelar o campo do jogo", pois outros países estão recorrendo a dumping e estímulos financeiros e tributários.
Ele não descarta a elevação de tarifas de importação dentro dos limites permitidos pela Organização Mundial de Comércio (OMC), mas ressalta que os setores podem ser auxiliados com medidas de defesa comercial e incentivos tributários.
Os empresários estão procurando diretamente o titular da Fazenda e saem dos encontros otimistas. "A disposição do ministro em avaliar seriamente me chamou a atenção, porque falar em elevar tarifa de importação no Brasil é como chutar a santa", disse José Velloso, vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).
Resistência. No Ministério do Desenvolvimento, a resistência é mais forte à elevação de tarifas de importação. "Não vamos adotar medidas protecionistas", disse ao Estado o ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, que não é simpático à ideia de elevar tarifas de importação.
O secretário de Comércio Exterior, Welber Barral, explica que vai avaliar "caso a caso". Ele ressalta os problemas que podem ser causados por aumento de alíquota de importação: preços mais altos ao consumidor, custos mais altos para as indústrias e estímulo ao contrabando.
O ministério reforçou o foco na defesa comercial, com a regulamentação mês passado da cláusula antielisão, que permite estender a outros países uma tarifa antidumping em apenas três meses, se for comprovada triangulação de produtos.
O gigante analfabeto: difícil crescer sem recursos humanos
By ALEXEI BARRIONUEVO
The New York Times, September 4, 2010
CAETÉS, Brazil — When Luiz Inácio Lula da Silva was sworn in as Brazil’s president in early 2003, he emotionally declared that he had finally earned his “first diploma” by becoming president of the country.
One of Brazil’s least educated presidents — Mr. da Silva completed only the fourth grade — soon became one of its most beloved, lifting millions out of extreme poverty, stabilizing Brazil’s economy and earning near-legendary status both at home and abroad.
But while Mr. da Silva has overcome his humble beginnings, his country is still grappling with its own. Perhaps more than any other challenge facing Brazil today, education is a stumbling block in its bid to accelerate its economy and establish itself as one of the world’s most powerful nations, exposing a major weakness in its newfound armor.
“Unfortunately, in an era of global competition, the current state of education in Brazil means it is likely to fall behind other developing economies in the search for new investment and economic growth opportunities,” the World Bank concluded in a 2008 report.
Over the past decade, Brazil’s students have scored among the lowest of any country’s students taking international exams for basic skills like reading, mathematics and science, trailing fellow Latin American nations like Chile, Uruguay and Mexico.
Brazilian 15-year-olds tied for 49th out of 56 countries on the reading exam of the Program for International Student Assessment, with more than half scoring in the test’s bottom reading level in 2006, the most recent year available. In math and science, they fared even worse.
“We should be ashamed of ourselves,” said Ilona Becskeházy, executive director of the Lemann Foundation, an organization based in São Paulo devoted to improving Brazilian education. “This means that 15-year-olds in Brazil are mastering more or less the same skills as 9-year-olds or 10-year-olds in countries such as Denmark or Finland.”
The task confronting the nation — and Mr. da Silva’s legacy — is daunting. Here in this dirt-poor northeastern town, where Mr. da Silva lived his first seven years, about 30 percent of the population is still illiterate, a figure three times higher than the national rate.
When Mr. da Silva was a boy here, his father used to beat some of his older siblings when they went to school instead of working, said Denise Paraná, the author of a biography of the president.
Today, teachers say that many parents send their children to school only because school attendance is a requirement of the Bolsa Familia subsidy program that Mr. da Silva has greatly expanded under his watch, which provides up to about $115 a month per family.
But even with the added incentive, reading levels vary so greatly here that in one eighth-grade classroom, students from 13 to 17 all read aloud from the same text.
“A lot of parents say, ‘Why should they study if there are no opportunities?’ ” said Ana Carla Pereira, a teacher at another rural school here.
As president, Mr. da Silva’s own education policies got off to a slow start; he dismissed two education ministers before settling on one in 2005. Then the government’s educational program did not start until 2007 — four years after Mr. da Silva took office.
Now in his last year in office and talking about his place in history, Mr. da Silva has an “obsession” with the issue, his education minister, Fernando Haddad, said, which was plain to see when he recently returned here to his childhood town.
“I want every child to study much more than I could, much more,” he said while announcing a program to give laptops to students. “And for all of them to get a university diploma, for all of them to have a vocational diploma.”
The urgency could hardly be clearer. Brazil has already established itself as a global force, riding a commodity and domestic consumption boom to become one of the largest economies in the world. With huge new oil discoveries and an increasingly important role in providing food and raw materials to China, the country is poised to surge even more.
But the nation’s educational shortcomings are leaving many Brazilians on the sidelines. More than 22 percent of the roughly 25 million workers available to join Brazil’s work force this year were not considered qualified to meet the demands of the labor market, according to a government report in March.
“In certain cities and states we have a problem hiring workers, even though we do have employment,” said Márcio Pochmann, president of the Institute for Applied Economic Research, the government agency that produced the March report. Earlier estimates showed that tens of thousands of jobs went unclaimed because there were not enough qualified professionals to fill them.
Unless that gap is filled soon, Brazil may miss its “demographic window” over the next two decades in which “the economically active population is at its peak,” the World Bank said.
Dr. Haddad, the education minister, said that while Brazil still performed poorly compared with other countries, it was improving faster than many competitors.
“Brazil is trying to make up for lost time,” Dr. Haddad said. “While other countries were investing in education we were wasting our time here saying that education was not that important.”
The government has had some notable successes, including a program that has created about 700,000 scholarships for low-income students to attend private colleges, an effort lauded by education specialists.
Under Mr. da Silva, the government also opened more than 180 vocational schools — compared with 140 added during the previous 93 years — and has administered a new test to evaluate student performance.
School enrollment has continued to climb, a trend that began in the 1990s under the previous president, Fernando Henrique Cardoso, and middle school graduation rates have risen under Mr. da Silva by 13 percentage points to 47 percent, Mr. Haddad said.
But those successes fall short of the urgent thrust for change that some education specialists were hoping to see from Mr. da Silva, considering his background. Not nearly enough was done to improve the quality of education and teaching methods, and the president has not used his bully pulpit to inspire the nation to demand more from its teachers and schools, they say.
“He has this aura, he has this power, he influences a lot,” Ms. Becskeházy of the Lemann Foundation said. “He did not use the opportunity to lift people up.”
It has not helped, critics add, that Mr. da Silva has sometimes used his own lack of an education as part of a populist discourse to assail the well-educated “elites” who long ruled Brazil, almost boasting that he got as far as he did without formal education.
“In his speeches, he tended to pit less-educated people against the educated Brazilian elite,” Mr. Pochmann said.
Finding workers with the adequate basic skills for even manual labor jobs is becoming a challenge, and many companies are not waiting for Brazil’s education system to catch up. The Brazilian construction giant Odebrecht is one of several companies that train a potential labor pool for a few months in basic reading and math.
“Education is the big disadvantage for Brazil when compared to China, India and Russia,” said Paulo Henrique Quaresma, the director of human resources at Odebrecht, referring to the other three nations that global investors see as the world’s largest developing economies.
In Caetés, it is not difficult to see why.
“The first school my father introduced me to was the handle of a hoe,” said José Bezerra da Silva, who, like his wife, is illiterate and cannot help his children with their schoolwork. The couple and their seven children share a two-room house; the couch’s wood frame is poking out from under a threadbare cushion. “Lula changed a lot of things.”
Brazil’s first-grade repetition rate is 28 percent, among the highest in the world, the World Bank said, though the government contends that the number has been shrinking. Secondary schools contain many older students because of the high rate of failing students in earlier grades, and many of the frustrated simply drop out.
“Brazil will continue to grow slower than its potential,” said Samuel Pessoa, an economist at the Brazilian Economic Institute at the Getulio Vargas Foundation. “If it had a better education system, things would be different.”
Myrna Domit contributed reporting from São Paulo, Brazil.
Republica Mafiosa do Brasil (16): uma boquinha aqui, um empreguinho ali...
Como o Partido do Polvo vai estendendo seus tentáculos
Reinaldo Azevedo, 5.09.2010
Já passam de 21 mil os cargos de confiança no governo federal sob a gestão petista. Isso quer dizer que os nomeados não precisam prestar concurso público, mas ter um padrinho — e, não raro, a carteirinha de filiação ao PT. Abaixo, transcrevo trechos da reportagem de Fernando Mello, na VEJA desta semana, com dados sobre o aparelhamento do Estado brasileiro pelo petismo. Não deixe de ler a reportagem completa na revista. Trata-se do documento de um tempo. É nesse ambiente que o estado policial está se instalando, de que os descalabros da Receita são um exemplo. Para Lula, tudo não passa de “futrica”.
(…)
Desde 2003, quando Lula chegou ao poder, seus seguidores aceleraram uma operação de conquista de postos-chave do estado que, aliás, já vinha sendo disciplinadamente seguida em governos anteriores sem que se soassem alarmes. Dos quarenta cargos mais cobiçados do governo, os partidários de Lula e filiados ao PT ocupam 22. Nesses postos eles controlam orçamentos anuais que, somados, chegam a 870 bilhões de reais. Isso representa um quarto do produto interno bruto brasileiro. Ou seja, que 25% da riqueza nacional está sob administração direta de quadros partidários e ligados a sindicatos e centrais sindicais, todos comprometidos com um programa duradouro de poder.
(…)
Com o preenchimento dos 1.219 cargos especiais de “direção e assessoramento superior”, as famosas DAS 5 e 6, os governos formam o que se poderia chamar de “núcleo duro” da administração. Antes de Lula e do PT, esses cargos eram ocupados em parte por indicação política, já que a maioria dos postos era reservada para especialistas de reconhecido conhecimento técnico. No governo de Lula, 45% desses cargos foram entregues a sindicalistas, sendo que, entre eles, 82% são filiados ao PT. (…) Tratar o estado como se fosse o partido é uma liberalidade a que poucos governantes se entregam tão alegremente quanto Lula o fez nos mais de sete anos de governo. (…) Os servidores passaram a agir como funcionários camuflados: apesar de oficialmente desempenharem tarefas públicas e terem remuneração paga pelo estado (ou seja, por todos os contribuintes), dedicam-se a cumprir objetivos táticos e estratégicos definidos pelos líderes de sua sigla.
(…)
Um cruzamento de dados realizado por VEJA mostrou que 6 045 servidores federais de alto nível se filiaram ao PT desde o início do governo Lula. Sete em cada dez desses convertidos tiveram sua carreira turbinada e, em pouco tempo, foram elevados a postos de chefia ou receberam alguma espécie de promoção. (…) “As instituições do estado passaram a ser subservientes aos interesses do governo do PT - e não do restante da população”, diz Maria Celina D’Araujo.
(…)
O cientista político Pedro José Floriano Ribeiro, professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). estudou durante oito anos as mudanças na base social do PT e em seus programas. Ele diz que a sigla pode hoje se encaixar na definição de partido cartel: retira cada vez mais do estado recursos vitais à sua sobrevivência.
(…)
Onde faltam carreiras estruturadas e com promoções definidas pelo mérito, a possibilidade de ingerência política é ainda maior. Por exemplo: somente no organograma da Fundação Nacional de Saúde, que tem a missão crucial de gerenciar os recursos destinados a ações de saneamento básico, há 1500 petistas incrustados. O que será que todos eles querem “Quando esse quadro de aparelhamento começa a ser dominante no serviço público, como acontece no Brasil do PT, o estado passa a servir apenas ao partido do polvo e não ao povo.
=============
O mesmo jornalista transcreve a Carta do Editor da revista Veja que introduz essa matéria, transposta aqui já que a revista limita o acesso a sua edição:
A ruína causada pelo aparelhamento do Estado
Reinaldo Azevedo, 5.09.2010
Na sexta-feira, esfarelei um texto de Elio Gaspari sobre o que muitos chamam a “PRIização da política brasileira”, numa referência ao PRI, o Partido da Revolução Institucional, do México, que governou o país por mais de 70 anos, num amálgama de burocratas, plutocratas, sindicalistas e larápios. Para o jornalista, os que vêem o risco de o PT ser o nosso PRI estão movidos por inarredável “demofobia”. Vocês sabem como essas coisas funcionam: o primeiro que grita “demofóbico” para desqualificar o debatedor se torna imediatamente um “amigo do povo”… Estamos todos vacinados contra esse tipo de trapaça intelectual.
O aparelhamento do estado ou, mais do que isso, o seu seqüestro por um partido é coisa séria. E pode render um trabalho acadêmico da melhor qualidade, como rendeu. E também pode resultar em trabalhos jornalísticos de fôlego, como o que foi parar na capa da VEJA desta semana. Abaixo, reproduzo a “Carta ao Leitor”. No post abaixo deste, segue um trecho da reportagem.
[Revista Veja: carta do editor:]
Em janeiro deste ano, uma equipe de jornalistas de VEJA sediados em São Paulo somou forças com um grupo de colegas da sucursal do Rio de Janeiro com o objetivo de investigar o fenômeno do aparelhamento do estado brasileiro por militantes partidários e sindicalistas. O assunto é de difícil abordagem, e foi de enorme valia para a equipe a publicação naquele mês do livro A Elite Dirigente do Governo Lula, das cientistas políticas Maria Celina D’Araújo, da PUC do Rio de Janeiro, e Camila Lameirão. A obra acadêmica de alta qualidade e politicamente neutra da dupla de pesquisadoras serviu de base para a apuração jornalística sobre o tema que aparece na presente edição de VEJA em meio a reportagens que relatam e analisam as implicações da criminosa quebra do sigilo fiscal de Verônica Serra, filha do presidenciável da oposição, José Serra.
Os dois assuntos pertencem à mesma esfera. O aparelhamento ideológico e sindical do estado brasileiro torna muito maior a possibilidade de ocorrerem quebras de sigilo e outros atropelamentos das regras de conduta do funcionalismo feitos em nome da causa. Massa crítica para isso não falta. Maria Celina revela em seu livro que os integrantes das carreiras públicas no Brasil, ao contrário dos trabalhadores da iniciativa privada, são majoritariamente filiados a sindicatos. Entre os funcionários públicos federais mais bem pagos, a pesquisadora encontrou 45% de ativistas sindicais e, entre eles, 82% de filiados ao PT. Os jornalistas de VEJA mostram na reportagem exemplos aterradores de um setor público capturado por interesses corporativos e partidários.
Em uma reportagem de capa de junho de 2005, VEJA alertava para o que chamou de “o grande erro” do PT, o de “confundir o partido com o governo’”. Pois, desde então, o que era uma cabeça de ponte partidária plantada na máquina burocrática federal se tornou uma invasão e posteriormente ganhou o perfil de uma verdadeira e asfixiante ocupação ideológica que, no pior cenário, não cederia nem com a alternância do poder. É o que conclui Maria Celina: “Mesmo que o governo seja de outro partido, a máquina pública vai refletir essa tendência”. Não existe tradução melhor do que seja aparelhamento.
Para diminuir seus efeitos perversos, a sociedade brasileira tem de exigir do setor público a adoção de regras estáveis e transparência total nos processos de seleção dos altos dirigentes - e cobrar destes o exercício de uma administração pública austera, impessoal e profissional. Sem isso, qualquer um de nós pode um dia, a exemplo do que ocorreu com Verônica Serra, ser vítima do leviatã ideológico, desde já o mais ruinoso legado da era Lula.