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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

segunda-feira, 24 de julho de 2023

“NÃO SOMOS CANDIDATOS À MEDIAÇÃO”, DIZ CHANCELER MAURO VIEIRA SOBRE GUERRA NA UCRÂNIA - CARLOS LINS e EDSON SARDINHA (Congresso em Foco)

 


ENTREVISTA

“NÃO SOMOS CANDIDATOS À MEDIAÇÃO”, DIZ CHANCELER MAURO VIEIRA SOBRE GUERRA NA UCRÂNIA

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, diz que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não se propõe a assumir o papel de mediador na guerra entre Rússia e Ucrânia. Em entrevista ao Congresso em Foco, o chanceler diz que o presidente vem apenas postulando a “necessidade urgente de se falar na paz, e não só na guerra” – e que, segundo ele, esse objetivo vem sendo alcançado.

“NÃO SOMOS CANDIDATOS À MEDIAÇÃO. O QUE TEMOS DITO É QUE ESTAMOS DISPOSTOS A APOIAR QUALQUER ESFORÇO DE PAZ, E QUE A GUERRA NA UCRÂNIA REQUER UM ESFORÇO COLETIVO, DE VÁRIOS PAÍSES. NÃO É TAREFA PARA UM PAÍS SÓ”

O presidente vem recebendo críticas nos últimos meses por não se posicionar de forma mais contundente contra a Rússia e a invasão comandada por Vladimir Putin, que já dura um ano e meio. Em 25 de abril, quando estava em Portugal, Lula já disse que o conflito é uma “violação da integridade territorial” da Ucrânia. Mas também já chegou a falar que, para que a guerra acabe, “cada um vai ter que ceder um pouco”. Em 19 de julho, Lula disse ainda que o presidente do Chile, Gabriel Boric, estaria sendo “sequioso” e “apressado” por cobrar uma postura anti-Rússia dos países da América Latina.

De acordo com o chanceler Mauro Vieira, no entanto, há progresso: “Nosso objetivo, que é esse, de que se fale também de paz, está sendo atingido. Basta ver o recente engajamento dos países africanos, que enviaram delegação de alto nível a Kiev e Moscou para dialogar com as partes. E também outras lideranças globais têm atuado nesse mesmo sentido. […] Eventuais críticas na mídia fazem parte do processo, mas o importante é que já contribuímos para que o debate sobre a paz ocupe também o primeiro plano”.

Vieira ainda não descarta um encontro presencial entre Lula e o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. Os dois líderes estiveram na Cúpula do G-7 em Hiroshima, no Japão, mas não chegaram a se reunir. “Não há qualquer ansiedade a respeito”, diz Mauro Vieira. “Os canais estão abertos e estão funcionando, e o encontro pessoal entre os presidentes ocorrerá quando houver uma próxima oportunidade”.

Na entrevista ao Congresso em Foco, Mauro Vieira definiu o atual momento da política externa como uma “volta do Brasil ao mundo”. Segundo ele, a prioridade do Itamaraty no primeiro semestre do governo Lula 3 foi “reconstruir pontes com o mundo”, buscando compensar os danos produzidos pelo isolamento diplomático nos quatro anos de Jair Bolsonaro.

Nessa toada, o presidente Lula vem adotando agenda intensa de viagens. No Brasil, nenhum presidente pós-ditadura militar viajou tanto nos 6 primeiros meses de mandato quanto Lula em seu terceiro mandato. “A demanda desses primeiros meses foi muito grande, porque todos querem conversar com o Brasil e com o presidente Lula”, diz Mauro Vieira. Segundo ele, o presidente realizou reuniões bilaterais com chefes de Estado e de Governo de mais de 40 países nesse período.

Leia abaixo o que o chanceler falou ao Congresso em Foco a respeito de outros assuntos:

  • política externa na gestão Bolsonaro – “Estamos trabalhando para repará-los [os danos], já a partir do processo eleitoral, quando as instituições democráticas brasileiras foram ameaçadas por discursos e orquestrações autoritárias e souberam dar a resposta adequada. O Brasil mostrou que é uma democracia madura e sólida, em um momento turbulento no mundo”;
  • agenda para o segundo semestre de 2023 – “É natural que a confirmação de algumas viagens ocorra mais perto das datas de cada compromisso”. Citou a cúpula dos BRICS em Joanesburgo, na África do Sul (agosto), a cúpula do G20 em Nova Délhi, na Índia (setembro), e a Assembleia-Geral da ONU, em Nova York (setembro), ambas em setembro, além da COP 28 do clima, nos Emirados Árabes Unidos (novembro);
  • Congresso – “Boa parte da sociedade brasileira, e também do Congresso, já está convencida dos prejuízos do isolamento diplomático dos últimos anos […] Desde o início da legislatura, temos contado com o apoio e com a compreensão de ambas as Casas do Congresso Nacional em relação ao nosso esforço de reconstruir pontes”;
  • Venezuela – “Para mim o mais importante foi a retomada das relações diplomáticas entre dois países vizinhos, após um afastamento que durou três anos, determinado pela decisão equivocada do governo anterior de fechar a embaixada e os consulados brasileiros naquele país. […] Isso é a antidiplomacia, com prejuízos evidentes para o Brasil”;
  • governo Maduro e violações à democracia – “Faremos chegar ao governo venezuelano nossas preocupações e críticas por meio de um diálogo diplomático franco, mas que será mantido pelos canais diplomáticos adequados, e não pela mídia ou pelas redes sociais”.

ÍNTEGRA

Leia abaixo a íntegra da entrevista concedida por Mauro Vieira ao Congresso em Foco. As perguntas e as respostas foram enviadas por e-mail.

Congresso em Foco: O presidente Lula tem priorizado a agenda internacional desde a sua posse, depois de quatro longos anos de isolamento internacional do Brasil. Nenhum outro presidente viajou tanto quanto ele nos seis primeiros meses do mandato. O que o governo espera conseguir ainda neste ano com esta agenda de viagens? O que já conseguimos até agora?
Mauro Vieira: Para um país da importância que o Brasil tem na sua região e no mundo, a agenda internacional se impõe entre as prioridades, até porque a política externa e a diplomacia presidencial são ferramentas indispensáveis para a promoção do País e dos seus produtos, para a atração de investimentos e para a defesa de regras internacionais que levem em conta os interesses da sociedade brasileira. Nestes seis primeiros meses, o que o Presidente Lula tem feito é reconhecer essa necessidade, atender a inúmeros convites e atuar para que o Brasil supere o isolamento que marcou o período anterior. Posso sintetizar esse momento novo, de volta do Brasil ao mundo, com uma frase do chanceler de um de nossos principais parceiros na Europa: “Como é bom poder voltar a conversar com o Brasil”, me disse ele, e outros parceiros disseram frases parecidas, na mesma linha, de que o mundo esperava pela volta do Brasil com saudades, para usarmos uma expressão bem nossa.

Com isso, a demanda desses primeiros meses foi muito grande, porque todos querem conversar com o Brasil e com o Presidente Lula. Ao final desse período inicial, o Presidente Lula tem um balanço de reuniões bilaterais com Chefes de Estado e de Governo de mais de 40 países, e em todas elas são discutidos assuntos de interesse do Brasil, seja na atração de investimentos, seja no fortalecimento de laços econômico-comerciais com nossos vizinhos, ou, para ser mais específico, na venda de aviões brasileiros para a China ou na atração de novos parceiros para o Fundo Amazônia, como ocorreu com os Estados Unidos e o Reino Unido, entre outros países. É uma política externa pragmática e que prioriza as necessidades de geração de oportunidades no nosso país, por meio dos laços econômicos e políticos com o mundo.

Já conseguimos sair do isolamento, logramos recuperar o lugar do Brasil como um país que é respeitado e lidera discussões relevantes no mundo, e que defende suas posições a partir do diálogo com a sociedade brasileira e de uma clara noção do interesse nacional em cada questão. O desenvolvimento sustentável e o combate à desigualdade, por meio da geração de oportunidades para todos, estão sempre entre essas questões. 

Há algum dano irreparável que o Brasil tenha sofrido com esse isolamento internacional ao longo dos últimos quatro anos?

Os danos, tanto de imagem quanto na defesa de interesses concretos, foram muito grandes. Estamos trabalhando para repará-los, já a partir do processo eleitoral, quando as instituições democráticas brasileiras foram ameaçadas por discursos e orquestrações autoritárias e souberam dar a resposta adequada. O Brasil mostrou que é uma democracia madura e sólida, em um momento turbulento no mundo, e mais uma vez se credenciou como um ator responsável para a comunidade internacional. A partir da posse do Presidente Lula, a tarefa que ele me delegou foi a de reconstruir pontes com o mundo. A expressão “reconstruir pontes” dá a exata noção dos muitos danos a reparar, e temos trabalhado nesse sentido desde o primeiro dia de gestão.

Quais países o presidente pretende visitar ainda em 2023?

O Presidente tem uma série de convites para visitas bilaterais e para eventos multilaterais no segundo semestre, e temos definido a agenda de viagens em diálogo com o Planalto, e em sintonia com as demandas da agenda doméstica, que são prioritárias para o governo. Com isso, é natural que a confirmação de algumas viagens ocorra mais perto das datas de cada compromisso. Mas, no segundo semestre, entre outros compromissos, o Presidente já participou da cúpula do Mercosul, em Puerto Iguazú, na Argentina, no começo de julho, está participando da cúpula CELAC-União Europeia em Bruxelas, e ainda terá a cúpula dos BRICS em Joanesburgo, na África do Sul, em agosto, a cúpula do G20 em Nova Délhi, na Índia, e a Assembleia-Geral da ONU, em Nova York, ambas em setembro, além da COP 28 do clima, nos Emirados Árabes Unidos, entre o final de novembro e o início de dezembro.

Na cúpula do Mercosul o Brasil assumiu a Presidência pro tempore do bloco, e o Brasil também assumirá a Presidência do G20 no ano que vem, o que torna indispensável a presença no encontro em Nova Délhi. Além disso, na COP 28 do Clima será oficializada a escolha de Belém (PA) para sediar a COP 30, em 2025. Belém também sediará outro importante evento de política externa do segundo semestre, a cúpula da Amazônia, que reunirá os presidentes dos oito países membros da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) e mais alguns convidados, em agosto, com o objetivo de debater soluções e articular políticas para enfrentar os desafios do desenvolvimento sustentável na região.

Uma das questões colocadas como prioridade pelo presidente da República na política externa é o meio ambiente. O Brasil não envia sinais contraditórios ao mundo quando uma das Casas do Congresso aprova medidas como o marco temporal para as terras indígenas ou diminui as atribuições do Ministério do Meio Ambiente, como já foi feito?

Não vejo contradição aí, vejo apenas os Três Poderes da República desempenhando suas funções, e o Executivo também já reagiu a algumas dessas decisões, no âmbito das suas competências constitucionais. É assim que uma democracia funciona. O compromisso do governo do Presidente Lula com o desenvolvimento sustentável, já demonstrado plenamente nas duas gestões anteriores dele, voltou a ser demonstrado a partir do primeiro dia de gestão. Foram tomadas medidas duras de combate à criminalidade ambiental, como foi o caso do garimpo ilegal no território ianomâmi, por exemplo, entre tantas outras políticas em favor da sustentabilidade. Como consequência imediata, dados do INPE mostram que houve uma redução de 33,6% no desmatamento na Amazônia no primeiro semestre, na comparação com o mesmo período de 2022.

Nesse contexto, quais são as ambições do Brasil com a realização da COP 30, em 2025, em Belém?

Não se trata de ambição, e sim de reassumir um papel de liderança que o Brasil tradicionalmente ocupou no debate global sobre o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável, agora somado ao desafio da mudança climática, que ameaça a todos. E esse papel significa dar voz às preocupações dos países em desenvolvimento e às populações de regiões como a Amazônia. O Presidente Lula tem sido muito claro no sentido de cobrar dos países desenvolvidos o cumprimento de reiteradas promessas de apoio financeiro a projetos de desenvolvimento sustentável, promessas que não têm se materializado. E é preciso que elas se materializem, com urgência. O Brasil tem credenciais, tem credibilidade para fazer essas cobranças, e por isso é importante que reassuma seu papel no debate global sobre grandes desafios como o da mudança climática, e não só na COP. Já a partir da Presidência brasileira do G20, no ano que vem, esse assunto será uma das prioridades do período em que estaremos à frente do grupo. Muito tempo já foi perdido com promessas não cumpridas e, mais recentemente, com um negacionismo em relação à ameaça da mudança climática que é típico da era da desinformação em que vivemos.

Realisticamente, que tipo de suporte se pode esperar da atual composição do Congresso Nacional à política externa do governo Lula? O número alto de parlamentares mais à direita representa um obstáculo?

Pessoalmente, creio que boa parte da sociedade brasileira, e também do Congresso, já está convencida dos prejuízos do isolamento diplomático dos últimos anos, quando em muitos momentos se abdicou de fazer diplomacia por simples sectarismo ideológico. Diplomacia se faz por meio do diálogo com todos, e em especial com aqueles com os quais não concordamos, dessa forma se superam as dificuldades.

Essa tem sido a linha condutora da política externa brasileira ao longo de décadas, em governos de diferentes orientações ideológicas, e é essa a linha que estamos retomando, a da diplomacia, do diálogo, da busca do entendimento. E, desde o início da legislatura, temos contado com o apoio e com a compreensão de ambas as Casas do Congresso Nacional em relação ao nosso esforço de reconstruir pontes com o mundo e de retomar os princípios e linhas de ação tradicionais do País na política externa, com o pragmatismo e a responsabilidade que sempre nos caracterizaram no cenário mundial.

Eu mesmo já participei de audiências públicas tanto na Câmara como no Senado, e em ambas contei com uma ampla compreensão dos parlamentares a respeito da necessidade de retomada das linhas tradicionais de política externa brasileira.

Em relação aos Estados Unidos: é comum que se faça uma analogia entre o ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021, de inclinação pró-Trump, com os atos golpistas de caráter bolsonarista na Esplanada dos Ministérios em 8 de janeiro de 2023. O Itamaraty considera que a pré-candidatura de Donald Trump a presidente representa algum risco à democracia, seja nos Estados Unidos ou em uma escala maior?

Tanto as instituições democráticas norte-americanas quanto as brasileiras, que enfrentaram desafios muito semelhantes, demonstraram estar à altura desses desafios. Somos duas democracias sólidas, devemos estar atentos a eventuais ameaças, mas não vejo razão para temores quanto ao futuro.

Em relação à guerra entre Rússia e Ucrânia, o presidente Lula tem postulado o papel de mediador no conflito. Ele sofreu algumas críticas por declarações a respeito da posição da Ucrânia no conflito. Que grau de protagonismo o presidente brasileiro pode ter nessa negociação? 

O que o Presidente Lula tem postulado é a necessidade urgente de se falar na paz, e não só na guerra. Não somos candidatos à mediação, o que temos dito é que estamos dispostos a apoiar qualquer esforço de paz, e que a guerra na Ucrânia requer um esforço coletivo, de vários países. Não é tarefa para um país só.

Nosso objetivo, que é esse, de que se fale também de paz, está sendo atingido, basta ver o recente engajamento dos países africanos, que enviaram delegação de alto nível a Kiev e Moscou para dialogar com as partes. E também outras lideranças globais têm atuado nesse mesmo sentido, recentemente no Vaticano o Papa Francisco e o Presidente Lula também falaram sobre os esforços de paz. Desde a posse, já mantive reuniões de trabalho com quase 60 chanceleres, e em todas as conversas nas quais a guerra na Ucrânia foi mencionada, o papel do Brasil e do Presidente Lula foi bem recebido, mesmo pelos países em conflito e pelos seus principais aliados. Eventuais críticas na mídia fazem parte do processo, mas o importante é que já contribuímos para que o debate sobre a paz ocupe também o primeiro plano.

A evolução desse processo depende fundamentalmente dos países envolvidos, e da sua disposição em negociar, mas o avanço recente fez com que o debate global não esteja mais exclusivamente focado no conflito. Ele já contempla posições como a do Brasil, e agora também dos países africanos, e isso é um avanço.

Encontrar-se com Volodymyr Zelensky é uma prioridade para o presidente Lula?

Como sabemos, não foi possível o encontro entre os dois líderes à margem da cúpula do G7, em Hiroshima, no Japão, mas não há qualquer ansiedade a respeito. O Presidente Lula já manteve contatos telefônicos tanto com o Presidente Zelensky como com o Presidente Putin, o Embaixador Celso Amorim esteve em Moscou e em Kiev, como enviado especial, e avistou-se também com ambos os líderes, e eu também já me encontrei com o chanceler ucraniano Kuleba e com o chanceler russo Lavrov. Os canais estão abertos e estão funcionando, e o encontro pessoal entre os Presidentes ocorrerá quando houver uma próxima oportunidade.

A indústria brasileira tem perdido terreno na América do Sul para a China. Que medidas comerciais concretas o governo Lula pretende adotar para recuperar esse espaço no subcontinente?

Um dos grandes avanços em matéria de política externa nesse início de gestão foi a reunião de Presidentes da América do Sul. Um encontro presidencial na América do Sul não ocorria havia nove anos, e ocorreu no final de maio, em Brasília, por iniciativa do Presidente Lula, com a presença de 11 Chefes de Estado e um Chefe de Governo, ou seja, todos os países sul-americanos estiveram representados no mais alto nível. Depois de nove anos de canais bloqueados para o diálogo. Esse é um dado significativo dos prejuízos do isolamento, que começamos a reverter. Os chanceleres da reunião reuniram-se em Bruxelas à margem da reunião CELAC-UE, desta semana, para dar seguimento à retomada do diálogo, e voltarão a reunir-se em setembro em Nova York, à margem da Assembleia Geral da ONU. A integração latino-americana é um mandamento constitucional, em democracia nossos países protagonizaram uma aproximação inédita, e construíram um patrimônio de laços econômicos que precisa ser aprofundado. A reunião presidencial é o primeiro passo nessa retomada, que tem impacto direto e positivo em matéria de integração e das oportunidades econômicas que ela é capaz de gerar. 

Presidentes de esquerda de países da América do Sul criticaram o presidente Lula pelas declarações dele, no encontro em Brasília, de que há uma narrativa contra o governo de Nicolás Maduro na Venezuela. O governo brasileiro reafirma que a miséria e as violações de direitos humanos, apesar de reconhecidas por organismos internacionais, são uma narrativa?

Meu papel é o de Ministro das Relações Exteriores do Brasil, e não de comentarista das notícias da atualidade, por isso procuro ser bastante claro em questões complexas do contexto regional. E insisto no fato de que o grande avanço do semestre na região foi a realização da reunião dos presidentes sul-americanos, após nove anos de silêncio e de falta de diálogo. Para mim, é natural que divergências surjam, e é saudável que seja assim, não se convocou o encontro para que houvesse uma troca de elogios. No que diz respeito à situação na Venezuela e à relação bilateral, para mim o mais importante foi a retomada das relações diplomáticas entre dois países vizinhos, após um afastamento que durou três anos, determinado pela decisão equivocada do governo anterior de fechar a embaixada e os consulados brasileiros naquele país. O primeiro resultado foi o de que cerca de 20 mil brasileiros que vivem na Venezuela não tiveram, durante três anos, qualquer assistência do governo brasileiro. Se algum deles precisasse de algum documento oficial, só o obteria viajando à Colômbia ou voltando ao Brasil. Um governo não pode deixar seus nacionais sem qualquer apoio do Estado durante três anos. Mas foi justamente isso o que ocorreu na Venezuela. Além disso, o fechamento dos canais de diálogo afetou duramente o comércio, com impacto negativo para a região Norte do Brasil, e privou a população de Roraima do acesso à energia mais barata da usina hidrelétrica venezuelana de Guri. 

Isso é a antidiplomacia, com prejuízos evidentes para o Brasil. O Itamaraty sempre soube fazer diplomacia, e voltou a praticá-la. É bom lembrar também que, mesmo com as relações virtualmente rompidas, durante a pandemia foi o oxigênio doado pela Venezuela que salvou centenas de vidas em Manaus, em um momento no qual a escassez de oxigênio gerou uma séria crise na capital amazonense.

O governo brasileiro, que já condenou publicamente o embargo econômico à Venezuela, pretende repudiar as violações à democracia atribuídas ao governo Maduro?

O Brasil tem como tradição, sempre que chamado, atuar na construção de consensos em momentos de dificuldades em países amigos. Também com a Venezuela tem sido assim, em especial desde 2013. O Brasil tem estado à disposição para apoiar e, quando convidado, mediar o diálogo entre os atores políticos venezuelanos. Naquele momento isso ocorreu com o engajamento também da UNASUL. Vários dos esforços diplomáticos desde então produziram resultados positivos, enquanto o rompimento do diálogo não trouxe qualquer benefício ao longo dos últimos anos. Em 2019, ao decidir reconhecer como presidente “autoproclamado” o deputado Juan Guaidó, eleito em 2015 com pouco menos de 100 mil votos, na prática o governo anterior inviabilizou qualquer possibilidade de atuação efetiva da diplomacia brasileira para a superação da crise política na Venezuela.

A história recente demonstra claramente que o Brasil cometeu um grande equívoco.

Não repetiremos esse equívoco, e faremos chegar ao governo venezuelano nossas preocupações e críticas por meio de um diálogo diplomático franco, mas que será mantido pelos canais diplomáticos adequados, e não pela mídia ou pelas redes sociais. Os interesses do Brasil e da integração regional exigem de nós profissionalismo em uma relação que é estratégica para nós e também para a colaboração fronteiriça na Amazônia.

As previsões para a economia mundial são de baixo crescimento para 2023, mas vêm melhorando em comparação ao início do ano. De um modo geral, que oportunidades isso representa para o Brasil?

Economia não é minha especialidade, mas nos contatos que venho mantendo desde janeiro, percebo que o cenário global oferece boas perspectivas para a economia brasileira, tanto para o nosso setor exportador quanto para aqueles que investem em novas fronteiras tecnológicas, como a da transição energética. Há uma profunda transformação em curso no mundo, e é preciso que estejamos prontos para aproveitar as oportunidades que ela já está oferecendo. Em matéria de transição energética, por exemplo, nossas possibilidades são muito promissoras, desde que consigamos gerar, na política e na sociedade, os consensos necessários quanto aos rumos a seguir. Tenho a confiança de que não deixaremos passar essa oportunidade.



A China vai trazer a paz à Ucrânia? - Ian Bremer (GZero)

 Will China end Russia’s war?

   Xi Jinping

Ian Bremer

GZero Daily, July 24, 2023

China can end the war in Ukraine. Xi Jinping is the one major world leader that both Russia’s Vladimir Putin and Ukraine’s Volodymyr Zelensky would gladly meet with. And China is the one country that has both the carrots and the sticks that can persuade Putin and Zelensky to accept the tough-to-swallow compromises needed to make peace. 

China has leverage with Russia. Europe’s post-invasion refusal to buy Russian oil and gas sharply increases China’s importance as an energy buyer. In fact, China bought a record amount of Russian energy over the first half of this year, thanks in large part to the steeply discounted price the war has forced Russia to offer.

But China has more energy suppliers than Russia has alternative high-volume buyers. A Chinese decision to reduce those imports would hurt Russia far more than China. China is also a major supplier of computer chips and other products Russia badly needs and can’t buy elsewhere. These facts give Xi real leverage with Putin if he wants to use it. 

Xi can tell his friend Putin that he must accept a peace deal that brings Russia a modest amount of Ukrainian land that he can use to declare “victory” in return for letting the rest of Ukraine go. Even if that means the remainder of Ukraine one day joins NATO and the EU. 

Putin, of course, will oppose any such suggestion. But if Xi privately advises his friend that refusal means China will publicly distance itself from Russia’s invasion and apply heavy economic pressure on his government, Putin will have to listen. With China on board, Putin looks much more powerful. Were Xi to publicly back away, Putin would be far more isolated. 

Xi can then promise that a peace deal with Ukraine will bring China and Russia economically and politically closer than ever before … and that China will pay to rebuild and modernize Russia’s war-depleted military. 

From Xi’s point of view, pushing Putin toward peace isn’t a betrayal. It’s a credible plan to save Russia from a disastrous war before much more damage is done. He’s giving Putin the “off ramp” the Russian president can’t (or won’t) create for himself. 

And if Putin isn’t ready to cut this deal now, wait through a few more months of military frustration with continuing Western support for Ukraine. 

China has leverage with Ukraine. Xi can assure Zelensky that if Ukraine will make the hard choice to surrender the Donbas region and Crimea, that China can stop the war, invest billions in the country’s reconstruction, and free Ukraine to join Western clubs. (Let Ukraine and the West argue over when and how.)

Ukraine gets peace, a European security guarantee, underwritten by Chinese infrastructure investment, and a new lease on life as an independent nation with powerful friends and allies. 

Xi can use this plan to divide Europe from the United States, an outcome that expands China’s global influence. Most European leaders would surely cheer an end to the war and reconstruction of Ukraine that Europe doesn’t have to pay for. 

US officials would not look happily on China’s ability to make new friends and extend its influence in Europe, but Washington would be hard-pressed to block a peace plan that everyone else favors. 

China can use this plan to enhance its reputation as a leader and peacemaker around the world.The Americans could not have made this deal, Xi can fairly claim. Only China has the power and the will to stop this terrible war, ending the pressure the war creates on food and energy supplies and prices for poor countries and stopping the killing of innocents. 

That’s a huge propaganda win for Beijing. At a time of frustratingly slow economic growth at home, Xi can use that win. 

Xi has already shown he wants to play peacemaker. He brokered a minor deal between Saudi Arabia and Iran this spring, and he has already offered a sketch of a Ukraine peace plan, though its current form lacks the detail needed to make it credible. Xi has even been understanding in response to a Russian strike on Ukrainian cities last week that destroyed a facility that contained grain reportedly destined for export to China and damaged a Chinese consulate building

Obviously, as with any plan to end a war, several hundred devils lurk in the details. But Xi has real leverage, even with Putin, if he wants to use it. What’s stopping him?


Arquivos do Itamaraty sobre a repressão a opositores da ditadura militar: Fundo CIEX, no Arquivo Nacional

Como constataram todos os que percorrem as postagens deste modesto blog, eu publiquei novamente, a série de reportagens elaboradas pelo jornalista Claudio Dantas Sequeira, de 2007, sobre os arquivos do CIEX do Itamaraty. Reproduzo abaixo o início da matéria.

Depois disso, em 2012, o governo Dilma Rousseff providenciou a abertura dos arquivos do SNI, depositados agora no Arquivo Nacional de Brasília (eu até descobri a minha ficha, feita em 1978, me classificando como "diplomata subversivo"), e eles estão agora liberados.

Transcrevo, a esse propósito, nota do livro da professora Adrianna Setemy

Sentinelas das Fronteiras: a diplomacia brasileira e a conexão repressiva internacional para o combate ao comunismo

(Curitiba: Editora Prismas, 2018, 392 p.; ISBN: 978-85-5507-968-9)

Nota 4 (p. 17-18), sobre o Arquivo do Centro de Informações do Exterior (CIEX), oriundo do Ministério das Relações Exteriores e sob a guarda do Arquivo Nacional, com sede em Brasilia: 

4. Em sintonia com o decreto n. 7.724, de 16 de maio de 2012, da presidente Dilma Rouseff, que regulamenta, no âmbito do Poder Executivo Federal, os procedimentos para a garantia de acesso à informação e para a classificação de informações sob restrição de acesso, o Diretor-Geral do Arquivo Nacional lançou o Edital AN n. 1, de 17 de maio de 2012. Nele, reconhece que os conjuntos relacionados, direta ou indiretamente, ao Sistema Nacional de Informações e Contrainformação - SISNI, sob custódia do Arquivo Nacional, são necessários à recuperação de fatos históricos de relevância, lista e descreve resumidamente esses conjuntos documentais, incluindo assunto, origem, dimensões e datas-limite e solicita, ao titular das informações pessoais contidas nos conjuntos documentais referidos, a apresentar, no prazo de 30 (trinta) dias corridos da data de publicação do Edital, requerimento de manutenção de restrição de acesso aos documentos sobre sua pessoa. Uma vez que não foram apresentados requerimentos solicitando a manutenção de restrição de acesso, o Arquivo Nacional abriu à consulta, no dia 18 de junho de 2012, todos os conjuntos documentais relacionados aos óergãos de Informações e Contrainformação integrantes do mencionado edital, dentre os quais, o Fundo CIEX.

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Esta foi a base das matérias do jornalista Claudio Dantas, que transcrevi nessa postagem do Diplomatizzando de 2007, redirecionada recentemente para minha página na plataforma Academia.edu, como informo abaixo, e como já informei numa nova postagem deste meu blog: 

Os Serviços Secretos do Itamaraty - Claudio Dantas Sequeira, 2007 Correio Braziliense 

ou

https://diplomatizzando.blogspot.com/2023/07/os-servicos-secretos-do-itamaraty.html

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quarta-feira, 25 de julho de 2007

757) O Itamaraty colaborando com a ditadura...

Tristes tempos aqueles, nos quais diplomatas era levados a colaborar com um regime de exceção...

https://diplomatizzando.blogspot.com/2007/07/757-o-itamaraty-colaborando-com.html 

Correio Braziliense
Assunto: Política
Título: 1a O serviço secreto do Itamaraty
Data: 22/07/2007
Crédito: Claudio Dantas Sequeira 
Segredo de Estado

Diplomatas brasileiros perseguiram opositores da ditadura por meio de um poderoso sistema de inteligência, criado e operado pela cúpula do Ministério das Relações Exteriores. O Correio desvenda, a partir de hoje, um mistério de quatro décadas 

Claudio Dantas Sequeira 
Da equipe do Correio 

Um rígido código de honra, uma portaria ultra-secreta e seguidas ações de desinformação garantiram que até hoje permanecesse desconhecido da sociedade um dos segredos mais bem guardados da ditadura: de 1966 até 1985, o Itamaraty operou um poderoso serviço de inteligência, tendo como modelos o MI6 britânico e sua versão norte-americana, a CIA. Naquele período, os punhos de renda da diplomacia do Barão de Rio Branco ganharam abotoaduras de chumbo. Diplomatas de vários escalões foram recrutados para compor o chamado Centro de Informações do Exterior (Ciex) — que agora, se sabe, foi a primeira agência criada sob o guarda-chuva do Sistema Nacional de Informação (SNI), o aparato de repressão política usado para sustentar o regime militar. 

O Correio obteve acesso exclusivo ao arquivo secreto do Ciex, um acervo com mais de 20 mil páginas de informes produzidos ao longo de 19 anos. Depois de quatro meses analisando cada documento, seu grau de confiabilidade e nível de distribuição, pode-se concluir que nunca houve refúgio seguro aos brasileiros contrários ao golpe de 64. Banidos ou exilados, eles foram monitorados a cada passo, conversa, transação ou viagem no exterior. A malha de agentes e informantes operada pelo Itamaraty se estendeu para além da América Latina, alcançando o Velho Continente, a antiga União Soviética e o norte da África. 
(...)

Ler a íntegra neste link deste blog: 

https://diplomatizzando.blogspot.com/2007/07/757-o-itamaraty-colaborando-com.html 

ou neste pdf que coloquei na plataforma Academia.edu: 

https://www.academia.edu/104861759/Os_Serviços_Secretos_do_Itamaraty_Claudio_Dantas_Sequeira_Correio_Brasiliense_2007_


O falso salvador do mundo - Lourival Sant’Anna O Estado de S. Paulo

 Grato a Augusto de Franco pela transcrição em seu blog, de onde copiei este artigo de Lourival Sant'Anna. Meus comentários iniciais: 

Não são só posições ideológicas ou princípios moralmente indefensáveis que movem a péssima diplomacia de Lula 3 (como aliás já era em Lula 1 e 2). Ele também exibe distorções notáveis em termos de cálculo estratégico, ao apostar num rápido e incontornável declínio americano e numa indefenida e propriamente indesejável “nova ordem global” numa aliança estreita com duas grandes autocracias que estão a anos-luz de distância de nossa própria régua moral, em democracia e DH. Pretende levar o Brasil a embarcar na canoa furada do Brics, claramente dominado pelo peso dos interesses nacionais chineses? E agora russos? O Itamaraty se submete passivamente a todas essas loucuras? (PRA)


O falso salvador do mundo

Lourival Sant’Anna, O Estado de S. Paulo (23/07/2023)

Lula embarcou em uma fantasia calcada em premissas moralmente indefensáveis

O forte viés ideológico da política externa do governo Lula cria fraturas na América Latina e inviabiliza o exercício da liderança que naturalmente caberia ao Brasil. A complacência de Lula com as ditaduras russa, venezuelana e nicaraguense, assim como sua repulsa ao livre-comércio e ao Ocidente, anulam o peso da credencial do presidente no que realmente interessa ao mundo quando olha para o Brasil: a proteção ambiental.

O desmatamento da Amazônia foi reduzido em 34% no primeiro semestre deste ano. A conquista confirma as incomparáveis credenciais de Lula e da ministra Marina Silva, que conseguiram reduzir o desmatamento em 84% entre 2004 e 2012, enquanto o PIB do agronegócio crescia espetaculares 75%.

Lula poderia surfar nesse inestimável capital, para extrair concessões de Europa e EUA. Mas prefere atacar a ambos, responsabilizando-os pelo flagelo da Ucrânia, pela corrida armamentista e pela inflação de alimentos, como se não fossem consequências da guerra expansionista de Vladimir Putin.

A palavra “Rússia” não pôde sequer constar da declaração final da cúpula União Europeia-América Latina, por causa da preocupação do governo brasileiro em não melindrar o ditador russo. Para indignação do presidente do Chile, Gabriel Boric: “Hoje é a Ucrânia, amanhã pode ser qualquer um de nós”.

Outro presidente de esquerda, Gustavo Petro, da Colômbia, também criticou o imperialismo russo. Depois descambou para denunciar a invasão de Iraque, Líbia e Síria. Cobri as três guerras para o Estadão. A invasão do Iraque foi um crime, mas os EUA não colonizaram o país, como a Rússia tenta fazer com a Ucrânia. Líbia e Síria foram palcos de revoluções populares que receberam apoio ocidental.

FRATURAS. Boric e os presidentes do Paraguai, Mario Abdo Benítez, e do Uruguai, Luis Alberto Lacalle Pou, já haviam se insurgido contra o desagravo de Lula ao ditador Nicolás Maduro na véspera da cúpula sulamericana, em 30 de maio, em Brasília. Lula justificou com a pérola “democracia é um conceito relativo”. Os presidentes de Equador e Peru também rejeitam essas posições.

Por causa de seu apoio ao chavismo desde sempre, Lula não goza da confiança da oposição venezuelana para mediar uma negociação entre ela e o regime.

Por fim, com sua iniciativa de reabrir o acordo com a UE para proteger o mercado de compras governamentais, Lula também frustra Uruguai e Paraguai, e futuramente a Argentina, com a saída de cena de seu amigo Alberto Fernández, nas eleições de outubro.

Lula trocou oportunidades reais de liderança e benefícios para o Brasil por uma fantasia de salvador do mundo, calcada em premissas moralmente indefensáveis.

domingo, 23 de julho de 2023

Os Serviços Secretos do Itamaraty - Claudio Dantas Sequeira, 2007 Correio Braziliense

 Os Serviços Secretos do Itamaraty

Claudio Dantas Sequeira, 

Correio Braziliense (2007)


Série de artigos de Claudio Dantas Sequeira, então jornalista do Correio Braziliense, publicados nos dias 22 a 26 de julho de 2007, reportagem “sobre os serviços secretos do Itamaraty”, depois contemplada com o Prêmio Esso de Jornalismo, pelo conjunto das matérias, com base nos arquivos do CIEX, o Centro de Informações do Exterior, do Ministério das Relações Exteriores.

 

Série publicada por Paulo Roberto de Almeida no blog

Diplomatizzando

Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.

Tristes tempos aqueles, nos quais diplomatas era levados a colaborar com um regime de exceção...

 

quarta-feira, 25 de julho de 2007

 

757) O Itamaraty colaborando com a ditadura...

 

https://diplomatizzando.blogspot.com/2007/07/757-o-itamaraty-colaborando-com.html

 

Divulgado na plataforma Academia.edu (23/07/2023): 

https://www.academia.edu/104861759/Os_Serviços_Secretos_do_Itamaraty_Claudio_Dantas_Sequeira_Correio_Brasiliense_2007_

 

Correio Braziliense

Assunto: Política

Título: 1a O serviço secreto do Itamaraty

Data: 22/07/2007

Crédito: Claudio Dantas Sequeira 

Segredo de Estado

 

Diplomatas brasileiros perseguiram opositores da ditadura por meio de um poderoso sistema de inteligência, criado e operado pela cúpula do Ministério das Relações Exteriores. O Correio desvenda, a partir de hoje, um mistério de quatro décadas 

 

Claudio Dantas Sequeira 

Da equipe do Correio 


Europa se distancia dos Estados Unidos: crescimento é mais rápido numa economia mais livre

 "Segundo números do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI) trabalhados pelo think tank Conselho Europeu sobre Relações Exteriores (ECFR, na sigla em inglês), em 2008, as economias dos países da União Europeia somavam US$ 16,2 trilhões, contra US$ 14,7 trilhões dos Estados Unidos.

Porém, no ano passado, o PIB americano chegou a US$ 25 trilhões, enquanto a UE e o Reino Unido (que deixou o bloco nesse intervalo) juntos atingiram apenas US$ 19,8 trilhões. (...)

Em um artigo recente para o Financial Times, o colunista Gideon Rachman apresentou dados que ilustram como a Europa ficou para trás. Enquanto as maiores empresas de tecnologia do mundo são americanas e a China vem conseguindo desenvolver também gigantes no setor, há apenas duas big techs europeias no top 20 mundial em valor de mercado (a holandesa ASML e a alemã SAP).

Rachman citou também que os levantamentos Shanghai Ranking e Times Higher Education de melhores universidades do mundo colocaram apenas uma instituição da UE entre as 30 primeiras (o Reino Unido teve mais nomes, como Cambridge e Oxford); que a participação europeia na fabricação mundial de semicondutores caiu de 44% para 9% desde 1990; e que hoje o capital privado para investimentos está muito mais disponível nos Estados Unidos do que na Europa.

O ponto de partida para a disparidade econômica entre os aliados foi a crise de 2008, que, conforme ressaltado por Josilmar Cordenonssi, professor de ciências econômicas do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas (CCSA) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), “apesar de ter surgido nos Estados Unidos, foi pior para a Europa”.

Em 2009, ano seguinte à detonação da crise, o PIB dos Estados Unidos sofreu retração de 2,6%, segundo dados do Banco Mundial; já o da UE teve queda de 4,3%. Com a crise e nos anos seguintes, países do bloco enfrentaram problemas de solvência, recessão profunda, aumento da dívida pública, ajustes fiscais severos e outros obstáculos.

A isso, lembrou Cordenonssi em entrevista à Gazeta do Povo, se somam fatores estruturais. “A economia americana é muito mais dinâmica que a europeia. É muito menos regulada, principalmente no mercado de trabalho, na facilidade de abrir e fechar negócios”, explicou. “Você tem países na Europa, como a Espanha, em que o desemprego dificilmente fica abaixo de 10%. Nos EUA, o nível de desemprego é sistematicamente baixo, [hoje está] abaixo de 4%.”

O analista destacou outras diferenças nos Estados Unidos: uma rede de proteção social menor para os trabalhadores americanos, “então eles precisam trabalhar mais e tendem a ser mais produtivos”; maior abertura para a imigração, o que traz mais dinamismo para o mercado de trabalho, apesar de problemas na fronteira com o México; e o respeito à chamada destruição criativa.

“Se a empresa vai mal, que quebre, ninguém vai lá recuperar, enquanto na Europa, o Estado tenta entrar para salvar se [a empresa] é um símbolo nacional, é uma relação mais paternalista em relação a algumas empresas”, comparou.

Cordenonssi citou o exemplo das grandes demissões realizadas pelas big techs este ano, sem grandes repercussões internas nos Estados Unidos, “enquanto na Europa estavam negociando com governos e sindicatos como fazer”.

“É muito mais difícil [demitir funcionários e reestruturar empresas na Europa]. Os principais talentos, os grandes centros de desenvolvimento tecnológico, como é uma atividade de risco, migram naturalmente para os Estados Unidos, para diminuir esse custo da inovação. Na Europa, há uma mentalidade, parecida com a do Brasil, muito sindical, estatizante, de proteção. Isso sufoca esses setores mais dinâmicos da economia, é difícil inovar, melhor ir para os Estados Unidos”, afirmou o professor."

Eu acrescentaria apenas mais uma variável nesta equação que torna os EUA muito mais dinâmico que a Europa: Nos EUA não tem IVA.

Dois pesos e nenhuma medida: a diplomacia brasileira está realmente de volta? - Paulo Roberto de Almeida

Dois pesos e nenhuma medida: a diplomacia brasileira está realmente de volta?

Paulo Roberto de Almeida


O Itamaraty costuma soltar notas de solidariedade a propósito de qualquer inundação mais forte em cantos remotos do planeta. 

Não entendo por que, até aqui, não soltou NENHUMA nota a propósito dos ataques desumanos cometidos por Putin na Ucrânia, até a Odessa, um patrimônio da Unesco. 

Por que isso?

Alguma bronca em relação a um país com o qual temos relações normais, até troca de embaixadores?

O Brasil exibe uma TOTAL indiferença ao mais devastador conflito militar que ocorre na Europa desde o final da Segunda Guerra Mundial.

Onde estão as credenciais universalistas da política externa brasileira?

Escondidas atrás de algum biombo de um neutralismo absolutamente hipócrita?

Continuarei cobrando notas do Itamaraty: pelo menos para pedir alguma coerência do corpo profissional de diplomatas: me parece que estão sendo incoerentes no presente momento.

O que devo concluir?

(Não espero respostas de diplomatas, nominais ou anônimas.)

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 23/07/2023


Homenagem ao Amigo Sergio Amaral — Sergio Florencio

 Homenagem ao Amigo 

 Sergio Florencio

 

Sergio Amaral foi para mim aquele amigo de infância, o amigo de toda a vida, o amigo irmão. Essas não são verdades temporais. São verdades que vão além dos fatos, sobrepassam as circunstâncias, porque moram no coração e na alma. 

Estudamos juntos no Instituto Rio Branco, trabalhamos juntos no Governo Fernando Henrique, ele então como meu chefe. Integramos os quadros de um governo que formulou e implantou reformas decisivas na trajetória da social democracia em nosso país. Sergio teve papel central elaboração e na divulgação desse reformismo esclarecido ancorado no Plano Real, no Bolsa Escola, no tripé macroeconômico, na Lei de Responsabilidade Fiscal. Esses foram os pilares que pavimentaram a manutenção da política econômicaa ampliação e o aprofundamento das políticas sociais no governo Lula. 

Nós éramos muito diferentes. Um mais realista, outro mais sonhador. Um admirava no outro o que lhe faltava. Eram diferenças complementares. Talvez por isso mesmo fomos grandes amigos. Ele com aquela disciplina intelectual que ocultava uma sensívelafetividadeEle com o rigor da racionalidade,  com erudita reflexão que faziam dele um sólido analista da política internacional e do lugar do Brasil no mundo. Nas grandes capitais onde serviu como Embaixador, logo era convidado para ser  palestrante de renomadas instituições acadêmicas ou para integrar prestigiosos “Think tanks”. Foi assim em Londres, Paris e Washington. 

Não era economista, mas foi destacado negociador da dívida externa brasileira nos turbulentos anos 80. Não tinha formação especializada, mas foi um dos arquitetos do Programa Nuclear Brasil-Alemanha.Não foi Embaixador em Buenos Aires, mas conhecia como poucos os desafios e oportunidades do Mercosul.  Não foi Embaixador em Pequim, mas era agudo analista da nova superpotência.

Esses traços refletiam uma mente aberta aos grande temas globais e voltada para a defesa do interesse nacional como eixo central de sua trajetória profissional . Poucas pessoas conheci com seugenuíno espírito público. Com sua aptidão para o equilíbrio entre reflexão e ação.

Sergio nunca se guiou por uma suposta ética relacional,  pautada por relações de parentesco ou laços de interesses recíprocos. Nunca buscou privilégios, sempre combateu corporativismos . Foi um verdadeiro social democratavoltado para a construção de uma economia moderna, competitiva e de uma sociedade mais inclusiva, menos desigual. Sua partida prematura deixa imensa saudade no filho Marcelo, nas filhas Manuela, Camila e Adriana, nlegião de amigos (as) e admiradores(as). E um gigantesco vazio na construção de um Brasil melhor.  

 

Sergio Abreu e Lima Florencio

Brasília, 19 de julho de 2023

Estados vilões buscam a inteligência das universidades ocidentais - Fiona Hamilton (Times)

É um fato: Estados vilões - aqui identificados explicitamente com a Rússia de Putin, a China de Xi Jinping e o Irã dos aiatolás - usam o conhecimento avançado obtido nos centros de produção mais sofisticados como alavancas contra os seus próprios povos e contra outras nações civilizadas. Goste-se ou não da afirmação, ela parece evidente.

You are targets for hostile states, students told

Fiona Hamilton 

Crime and Security Editor 

Times, July 27, 2023

Universities are "magnetic targets for espionage and manipulation", the head of M15 has warned, as he compared the global scientific race to the Cold War.

 Ken McCallum said hostile actors were stealing British research with "dispiriting regularity" and urged students to be extremely cautious to avoid passing secrets to China, Russia and Iran.

 McCallum said: "Today's contest for scientific and technological advantage is not a rerun of what we had in the Cold War but it is every bit as far reaching. Systemic competition means just that.

If your field of research is relevant to advanced materials or quantum computing or AI or biotech, to name but a few, your work will be of interest to people employed by states who do not share our values." 

McCallum issued the warning last month as he delivered the annual Bowman Lecture at the University of Glasgow, where he graduated with a degree in mathematics in 1996. He was speaking to students, staff and alumni. 

He has previously said that spies for hostile states are targeting politicians, military officials, think tanks, academics and other officials to gather valuable information but had not previously been so explicit in his language about the threat at universities. 

Last week a report by the parliamentary intelligence and security committee said universities had become a "rich feeding ground" for China to seek intellectual property and military technology, saying some had turned a "blind eye" to the risks while taking its money. 

The Times revealed last year that British universities had accepted £240 million for research collaborations with Chinese institutions, many with links to the military, leading to concerns the work could help Beijing to build superweapons. 

McCallum told Glasgow students:

"Hostile actors working for other states make it their business to take your hard work and use it for their gain... We see this happening with dispiriting regularity. Precisely because our great universities are so great and rightly prize openness, they are magnetic targets for espionage and manipulation." 

He added: "If you look at what [Vladimir] Putin's military and mercenaries are doing in Ukraine; at the Iranian regime's ongoing suppression of its own people; at the restrictions of freedoms in Hong Kong and human rights violations in Xinjiang, or China's escalatory activity around Taiwan - I don't think you want the fruits of your inspiration and perspiration to be turned to the advantage of the Russian, Iranian or Chinese governments."

 McCallum said students should not be fooled by attractive conference invitations, collaboration proposals, "donations with strings" or "jointly funded research that builds dependency". 

"These aren't hypotheticals," he said. "They're things MI5 sees in investigations week by week, and they happen in universities just like Glasgow." 

The National Protective Security Authority, which is part of MI5, will offer expert advice and training to universities, businesses and institutions to help them protect themselves.


O irmão menor da União Europeia: reunião Celac-UE em Bruxelas - Paulo Roberto de Almeida

 Meu artigo mais recente publicado na revista Crusoé, parcialmente reduzido em relação ao original submetido: 

1516. “O irmão menor da União Europeia” [título original: “O Brasil, a América Latina e a União Europeia: alguma novidade?”; Artigo sobre a cúpula Celac-EU], revista Crusoé (21/07/2023, link: https://crusoe.uol.com.br/edicoes/273/o-brasil-a-america-latina-e-a-uniao-europeia-alguma-novidade/). Relação de Originais n. 4434.  


O Brasil, a América Latina e a União Europeia: 

alguma novidade? 

 

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Nota sobre o encontro de dirigentes da América Latina (Celac) com contrapartes da UE.

Publicado, com cortes, e sob o título “O irmão menor da União Europeia”, na revista Crusoé (21/07/2023, link: https://crusoe.uol.com.br/edicoes/273/o-brasil-a-america-latina-e-a-uniao-europeia-alguma-novidade/).

  

A União Europeia – em sua terceira ou quarta encarnação desde o início do processo de integração – é, sem dúvida alguma, o mais sofisticado experimento de construção de unificação política, econômica e institucional que se conhece no mundo, superior a quaisquer outros esquemas de derrubadas de barreiras em escala bilateral ou plurilateral. Partindo de uma mera comunidade de seis países em 1951 – produção comum de carvão e de aço entre Alemanha, França, Itália, Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo –, o bloco partiu para o primeiro projeto de mercado comum da história, em 1957, com os mesmos países. Treze anos depois, recebeu a adesão da Dinamarca, da Irlanda e do Reino Unido, que havia liderado um experimento concorrente, mas apenas de livre comércio, a Área de Livre Comércio Europeia (Efta), liderada pelo próprio Reino Unido. 

(...)

Esse encontro de cúpula não deverá, assim, chamar muito a atenção da mídia global, assoberbada por problemas bem mais graves em outros cenários geopolíticos. Nas manobras atuais que podem reconfigurar os grandes equilíbrios geopolíticos mundiais, a América Latina permanece excêntrica e, aparentemente, condenada a continuar a ser uma exportadora de matérias primas pelo futuro previsível. Os espanhóis e portugueses podem continuar a se interessar pela região, mas os demais europeus estão com os olhos postos em outros cenários. Quanto ao acordo Mercosul-UE, enquanto argentinos e brasileiros continuarem insistindo em seus instintos protecionistas, ele não parece ter grandes chances de ser ratificado, não importa quantas promessas de resultados concretos sejam formuladas nesta cúpula de 2023.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4434, 13 julho 2023, 3 p.

 

 Publicarei o artigo na íntegra em mais duas semanas...

sábado, 22 de julho de 2023

Segurança alimentar, Direito Internacional, Direito do Mar e suas violações pela Russia de Putin - CDS

 O presidente Lula, sempre tão preocupado com a fome no mundo, em especial a segurança alimentar dos povos africanos, poderia pedir a seus assessores diplomáticos uma informação sobre as ações criminosas de Putin no Mar Negro e suas consequências sobre o mercado de alimentos no mundo inteiro. Aqui estão alguns dados:

Russia's Actions: Potential Impacts on Global Food Security, Ukraine, and Western Relations.

Center for Defense Studies, July 20, 2023

Russia is poised to starve millions of people in the developing world as it pursues the destruction of Ukraine and undermine the West. Russia pulled out from the Black Sea Grain Initiative (BSGI), threatened to target any cargo ships bonded to or from the Ukrainian ports, mined the sea routes, and stepped up targeting grain and other Ukraine's port and commodity-related infrastructure.

If Russia had succeeded in invading Ukraine, it would have the potential to emerge as a significant agricultural superpower, thereby gaining additional leverage to pursue its geopolitical goals. With 17% of world wheat exports in 2021 (33 million tons), Russia ranked first, surpassing the E.U. (16% or 31 million tons). Along with Ukraine (ranked 5th with 10% of exports or 19 million tons), it could have amassed a 27% share of global wheat exports — equivalent to the combined export share of the E.U. and the U.S. On top of that, before the all-out Russian invasion, Ukraine ranked first in exports of sunflower oil and millet; third in corn, barley and rapeseed; fifth in walnut and honey; and sixth in the export of soy.

Unable to achieve its initial neo-colonial objectives, Russia resorted to dismantling the Ukrainian economy and infrastructure. This strategy aimed to weaken the Ukraine’s ability to resist the invasion immediately and hinder its capacity to recover, rebuild, and allocate resources for defense and security in the long run.

Agriculture accounted for 10% of Ukraine's GDP in 2021 and was severely affected by Russia's illegal occupation and combat in Ukraine's Eastern and Southern oblasts, which are crucial agricultural regions. Russian forces intentionally targeted agricultural infrastructure, looting equipment and machinery, and "exporting" stolen grain and other products to foreign markets. 

Ukraine is now among the most heavily mined countries globally, with up to a third of its territory contaminated by mines and unexploded ordnance. The estimated time required for demining the territory, including crop fields, varies from thirty to sixty years. Russia's destruction of the Kakhovka dam also caused the irrigation system's collapse on which key regions depended (Kherson - 94%, Zaporizhzhia - 74%, and Dnipropetrovsk - 30%). 

After another instance of withdrawing from the grain deal, Russia has escalated its attacks on Ukrainian ports and agriculture-related infrastructure for several consecutive days. These actions constitute war crimes and will have lasting damaging implications for Ukraine's economy and worsen global food security for years to come.

The Black Sea Grain Initiative (BSGI) comprises two distinct agreements: one between Turkey, Ukraine, and the U.N. for exporting food from Ukraine and Turkey, and another between Russia, Turkey, and the U.N. for exporting food and fertilizers.

Russia has consistently disregarded the agreements it entered from the start of it. Just barely 12 hours after signing a deal on July 22, 2022, Moscow initiated a missile barrage against Odesa, targeting Ukraine's main port and infrastructure. It had frequently threatened to withdraw from the deal or decline its extension routinely. Moreover, it deliberately misused the monitoring mechanism to create shipment hurdles and disrupt their flow.

In October 2022, the Kremlin declared the suspension of its participation in the deal. However, it had to eventually rejoin the agreement due to the continued determination of Ukraine, Turkey, and the U.N. to proceed with the outflow of food under the terms of the deal.

The BSGI allowed Ukraine to export some 30 million tons of its food to foreign markets through the Black Sea, while enhancing alternative transportation routes. The railway is capable of exporting more than a million tons monthly, road transport could handle more than 600 thousand tons, and the Danube River ports might handle over two million tons, potentially reaching up to three million tons. However, alternative export routes can't substitute the sea trade for many reasons, including increased costs, logistical difficulties, the necessity for big-ticket and long-time infrastructure investments, etc. 

While its sea trade remains unimpeded, Russia has managed to claim control over the North-West part of the Black Sea, even though it did not succeed in occupying it, and faced no repercussions for doing so under the Law of the Sea. Instead of making Russia obey the Law of the Sea, ensuring freedom of navigation, the international community talks about prolonging the BSGI.

The U.N. State of Food Security and Nutrition in the World 2023 Report highlights that one in ten people worldwide faces hunger, and a staggering 3.1 billion individuals cannot afford a nutritious diet. Due to Russia's aggression against Ukraine, an alarming 23 million people have been pushed into hunger. The Russian authorities have been utilizing these vulnerable populations as leverage against the West. The Kremlin has been widely disseminating narratives in the Global South, attributing the surge in food prices and food scarcity to the Western sanctions imposed on Russia.

In June, a delegation of African leaders led by South African President Cyril Ramaphosa visited Kyiv and Moscow, advocating for their peace initiative, which involved facilitating food exports. Prior to that, in May, Senegalese President Macky Sall, acting as the African Union chief, visited Moscow and Paris (bypassing Kyiv), urging the West to lift sanctions against Russia. It's worth noting that there are currently no sanctions on Russian food and fertilizer exports, and these exports have been particularly lucrative, bringing Russia a 70% increase in revenue due to the surge in prices. Furthermore, U.N. Secretary-General Antonio Guterres recently emphasized that "Russian grain trade has reached high export volumes." 

Russia has strategically utilized the BSGI to undermine the Western sanctions directly or, in the event of failure, to shift the blame for the food crisis onto the West. The Kremlin's objective is to create a looming food crisis that could trigger waves of refugees, destabilizing social and political situations in European countries. The Russian hope is that this instability would pave the way for pro-Russian political forces to displace the current ones, consequently weakening support for Ukraine and disrupting Trans-Atlantic unity concerning Russia.

Ukraine has been proactively seeking a solution to restore its freedom of navigation and ensure a stable food supply to countries in need. Kyiv has urged its partners to create a naval demining coalition, either as a standalone initiative or as a first step towards enabling protected cargo convoys under the escort of a joint naval force. This coalition may involve assets from littoral states and, hopefully, from nations beyond the Black Sea region. In either scenario, the pivotal role of Turkey is crucial, as it possesses the largest Navy in the Black Sea.

Since the beginning of the all-out Russian invasion of Ukraine, Turkey has invoked the Montreux Convention of 1936 provisions, which restricts Russia and non-Black Sea nations from deploying naval assets to the Black Sea. Ankara is hesitant to proceed with shipments via cargo vessels under its flag, as it fears potential attacks as Turkey is a significant military power and a NATO member. 

The unique dynamics in the relationship between Vladimir Putin and Recep Tayyip Erdoğan could act as a buffer against further escalation. In 2015, Turkey downed a Russian jet that had violated its airspace, leading to a tense moment in bilateral relations. However, it did not escalate into a full-blown military response from Moscow.

An alternative approach that appears more feasible is chartering sea lines of communications from Ukrainian ports toward the Straits within the territorial waters of the littoral states (Romania, Bulgaria, and Turkey). However, this approach would require these nations to confront the risks of a direct attack, regardless of how insignificant it may be, and find solutions to the mine issue in the region.

In addition, legal actions under international law and Ukraine's domestic laws are crucial to hold Russia accountable for its actions. Ukraine's current military capabilities are insufficient to deter the Kremlin from transforming the Northern part of the Black Sea into a "Russian lake." The deployment of anti-ship missiles and modern Western fighter jets could play a significant role in restraining Moscow's actions in the region. 

As Russia continues to cause increasing damage to Ukraine, it has effectively deterred the West from taking more assertive actions against its exports. Notably, the Russian ports on the Sea of Azov and the Black Sea have remained sanctions-free. In fact, Russia has even escalated its exports of oil and oil products from the Black Sea ports, including instances that breach the prohibition of direct shipments to Europe.  

Before the E.U.'s 11th package of restrictive measures was announced, crude oil exports from Russia witnessed a significant surge, increasing by 14.55% in June alone. Among the 42 tankers transporting Russian oil from the Black Sea last month, 15 belonged to companies from E.U. countries, with 14 belonging to Greek shipowners and one to a Latvian company. Russia is gradually shifting its grain exports to Baltic Sea ports in response to capacity challenges.

To compel the Kremlin to reconsider its actions, it is imperative to enforce existing sanctions and target Russian ports in the Black Sea, the Sea of Azov, and the Baltic Sea. Additionally, Ukraine and its allies must intensify efforts to engage with developing countries to counter Russia's propaganda.