sexta-feira, 16 de abril de 2010

2025) O Bolsa-Familia e seus impactos negativos sobre o mercado de trabalho: um debate metodológico e empiricamente fundamentado

Uma leitora habitual deste blog, Glaucia, comentou em outro post meu,

quinta-feira, 15 de abril de 2010
2022) A parabola do samaritano, revisitada, e novamente corrigida

que, por sua vez, começou tratando dos efeitos nefastos do BF sobre o mercado de trabalho, neste post inicial ao debate da questão:

terça-feira, 13 de abril de 2010
2096) Efeitos nefastos do Bolsa Familia sobre o mercado de trabalho

e que acabou derivando para uma pretensa parábola do “bom samaritano” sobre virtudes cívicas e morais – como se a caridade, a benemerência e o assistencialismo oficial (e politicamente motivado) fossem um substituto à boa política econômica ou ao bom ordenamento de uma economia produtiva, funcionando em bases normais – que “qualquer pesquisa rápida sobre os números do emprego no Brasil desmonta a tese de que o Bolsa-Família bloqueia o emprego, ou impede a formalização das relações de trabalho.”
Desconheço “qualquer pesquisa rápida” que tenha dito isso e convido minha leitora a trazer-me essas pesquisas rápidas, para minha informação e dos leitores.

Mas, de molde a poder oferecer um debate amplo sobre essa questão importante, num espaço aberto ao debate de boa qualidade (nem sempre) como o oferecido neste espaço, com base na honestidade intelectual, na consistência dos argumentos e no simples atendimento de algumas poucas regras de boa convivência e de lógica elementar – ou seja, evidências consistentes, não contradição intrínseca dos argumentos, boa fé dos argüidores – vou retomar cada um dos pontos do debate, começando pela transcrição completa do que disse minha leitora:

Glaucia deixou um novo comentário sobre a sua postagem "2022) A parabola do samaritano, revisitada, e nova...":

Apenas reitero: qualquer pesquisa rápida sobre os números do emprego no Brasil desmonta a tese de que o Bolsa-Família bloqueia o emprego, ou impede a formalização das relações de trabalho.

IBGE, FIESP, CNI, Dieese, google, cada um pode escolher sua fonte. O essencial é substituir o senso comum, anedotas e ditados populares por dados estatisticamente relevantes e, de preferência, agregados. Ao menos foi o que aprendi nas aulas de metodologia.


Agora, meus comentários (PRA):
1) Pois bem, estou à espera dessas “pesquisas rápidas” que provariam o que eu venho argumentando aqui, com base em evidências prima facie – ou seja, que não se apóiam em pesquisas de terreno e em números imediatamente verificáveis – mas que apresentam alguma consistência teórica e prática, qual seja: o BF diminui sim, a oferta de mão-de-obra não qualificada no mercado de trabalho, com impactos setoriais que podem ser importantes, diminui a empregabilidade geral do sistema econômica, distorce as condições de concorrência no mercado de trabalho, sobretudo no plano dos custos da mão-de-obra, e introduz um viés anti-mercado no comportamento geral da economia e da sociedade brasileira, sem mencionar seus custos fiscais e tendências perversas do ponto de vista da psicologia social, que se aproxima da cultura da assistência pública, em lugar da cultura do trabalho e da inserção produtiva nos mercados.
Estes são os meus argumentos, que não vêm, por certo, apoiados em qualquer pesquisa de terreno, rápida ou lenta, que agora caberia desmentir.

2) Então ficamos assim: a Glaucia nos apresenta suas pesquisas rápidas que desmentiriam o que venho afirmando na linha do que está escrito acima. Podem ser pesquisas longas também, à condição que sejam consistentes e compatíveis com a metodologia científica. Tenho certa desconfiança, confesso, dos trabalhos atuais do IPEA, depois que esse instituto, outrora sério, descobriu uma metodologia genial para “provar” que a produtividade do trabalho no setor público no Brasil era fantasticamente maior do que a do setor privado, e que estados periféricos, como Roraima, eram 150 vezes mais eficientes do que estados neoliberais como São Paulo.
O importante é que essas pesquisas -- pode ser IBGE, FIESP, CNI -- “desmontem” as minhas teses, como ela nos promete. Se elas forem fiáveis e desmentirem minhas percepções, vou oferecer aqui uma contrição pública, um mea culpa por ser tão maldoso em relação ao BF.

3) Senso comum não é o mesmo que falácia, embora muitas falácias sejam de senso comum. Senso comum pode ser até verdadeiro, desde que embasado na realidade, e não corresponder a mitos.
O que eu pretendo destacar em relação ao BF é isto: o programa criado pelos tucanos se prendia ao Bolsa-Escola, limitando os pagamentos a contrapartidas escolares. Parece uma solução genial – mas é a confissão de nossas mazelas – e pode ser um expediente temporário, até que pais tenham renda suficiente para manter seus filhos na escola e não retira-los para trabalhar (pode demorar, dai que o Bolsa-Escola é temporariamente aceitável).
Ao se criar o BF – volto a repetir, por motivos basicamente políticos – se introduziu um “free-ride” para todos: ou seja, basta ser pobre para desfrutar da benesse (com contrapartidas vagamente implementadas). As evidencias prima-facie são de que isso impacta significativamente o mercado de trabalho, por uma série de mecanismos que não é preciso descrever aqui, sumariamente inserido naquilo que os economistas chamam de “wrong incentives”.
Se a renda aparece caindo do céu, por que é que eu vou me dar ao trabalho de fazer algo duro – como são todos os trabalhos de baixa qualificação – por um pagamento que se aproxima do mínimo, ou fica abaixo disso?
E quanto ao capitalista, como ele vai fazer? Paga duas vezes o mínimo para atrair os BFs da vida, e corre o risco de ficar pouco competitivo? Capitaliza a sua indústria, serviço, plantação? Paga por fora (porque assim exigem os contemplados do BF, diga-se claramente), correndo o risco de ser multado pelo Ministério do Trabalho?
Se isso não é um conjunto de distorções, então eu não sei o que são distorções.
Aguardo as pesquisas rápidas para tirar minhas conclusões.

2024) Manipulacao cambial dos amigos, nao é bem isso o que estao dizendo...

Reunião dos Bric ignora câmbio chinês
Alex Ribeiro
Valor Econômico, Sexta-feira, 16 de abril de 2010

A subvalorização da moeda chinesa provoca a perda de milhares de empregos industriais no Brasil, mas esse não foi um tema relevante na pauta da reunião de cúpula dos Bric, que trouxe ontem a Brasília o presidente Hu Jintao.

Esta semana, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, esteve aqui em Washington para participar de uma reunião de cúpula de segurança nuclear. Foi uma oportunidade para questionar se o Brasil pretende fazer algo a respeito da manipulação do câmbio chinês.

Claro, mas talvez não com essas palavras, respondeu Amorim, rejeitando a expressão manipulação do câmbio, muito usada pelos industriais e sindicalistas americanos para designar a desvalorização artificial do yuan, a moeda chinesa. O Congresso dos Estados Unidos ameaça retaliar a China com tarifas mais altas, mas o Brasil prefere levar o assunto na base da negociação. Cada um tem sua maneira de agir, diz o ministro. A gente prefere mostrar como foi bom para o Brasil a experiência de câmbio flutuante, como isso ajudou também a combater a inflação.

Muito realista, o ministro acha que os chineses, por si só e para atender pressões de sua própria economia interna, terão que valorizar o câmbio mais cedo ou mais tarde. A China cresce rápido demais, e uma taxa de câmbio mais valorizada pode ajudar a conter pressões inflacionárias.

O câmbio subvalorizado da China faz com que o Brasil exporte menos produtos industrializados ao país asiático e se especialize em produtos básicos, além de sofrer a concorrência desleal de produtos chineses no mercado interno e também no comércio com outros países que compravam nossos bens manufaturados, como nossos vizinhos da América do Sul.

Também não é assim, protesta Amorim. Não dá para dizer que o Brasil virou um celeiro de commodities . Exportamos aviões, temos os investimentos da Marcopolo na China... Mas ele reconhece que é preciso avançar na diversificação da pauta de exportações para a China, já que, em sua opinião, o volume de negócios dos negócios com a China é adequado.

Nos Estados Unidos, a manipulação do câmbio pelos chineses é o mais importante tema da agenda econômica internacional. Alguns cálculos apontam que ele leva a uma perda de cerca de 2,5 milhões de empregos industriais. Há muita pressão da opinião pública para que o Departamento do Tesouro declare que a China manipula a moeda, e parlamentares apresentaram projetos de lei que permitem subir tarifas de importações de produtos chineses.

A China deu os primeiros sinais de que pode valorizar um pouco sua moeda, algo como 3% neste ano, percentual que talvez seja muito tímido para acalmar a opinião publica americana. Usando diferentes metodologias, os economistas calculam que a subvalorização do câmbio chinês em relação ao dólar esteja entre 20% e 40%.

No Brasil, surpreende que o assunto não tenha maior relevância. O Peterson Institute, um influente centro de estudos de Washington, calcula que o yuan esteja 40,7% subalorizado em relação ao dólar. Já o real brasileiro estaria valorizado em 15,7% em relação ao dólar. Tudo somado, o yuan estaria mais do que 50% subvalorizado em relação à nossa moeda.

Depois da crise financeira internacional, os Estados Unidos estão corrigindo um pouco de seu déficit externo e, porque a moeda chinesa é mantida artificialmente desvalorizada, o Brasil acaba sofrendo mais. A carga do ajuste da moeda americana, que deveria ser dividida com os chineses, está sendo carregada por países com taxas de câmbio flexível, como o Brasil. Visto de outra forma: os americanos estão consumido menos e exportando mais. Como os chineses impõem uma barreira cambial às exportações americanas, os Estados Unidos fazem seu ajuste externo despejando uma carga maior de produtos no Brasil.

Os prejuízos causados pelos chineses ao Brasil são um pouco obscurecidos pelo fato de que a nossa própria taxa de câmbio está sobrevalorizada. O real sobrevalorizado é um erro, que deveria ser corrigido com um aperto fiscal, mas um erro não justifica o outro.

Ironicamente, uma eventual apreciação do câmbio chinês significará, para o Brasil, uma taxa de câmbio ainda mais apreciada. Com uma moeda mais forte, a China ampliará a demanda por commodities exportadas pelo Brasil. Também permitirá à industria brasileira competir com os chineses com um pouco mais de igualdade tanto no nosso mercado interno como em outros mercados no exterior. A combinação desses dois fatores é o aumento dos dólares disponíveis no nosso mercado de câmbio, que levariam ao um real ainda mais forte.

Se é para ter um câmbio ainda mais apreciado, vale a pena o Brasil brigar por um câmbio chinês mais justo? Claro que sim. Hoje, a apreciação do câmbio é causada sobretudo pelo fluxo de capitais estrangeiros ao país. Mas o Brasil registra déficit em conta corrente, estimado em US$ 50 bilhões pelo mercado para este ano, e em US$ 60 bilhões no ano que vem. Se os chineses deixarem de manipular sua moeda, esse déficit tende a diminuir, deixando a nossa economia menos vulnerável a paradas súbitas no fluxo de capitais.

Com tantos interesses estratégicos em jogo em torno da moeda chinesa, é irônico que o principal assunto da agenda econômica na reunião com os Bric foram os mecanismos para substituir o dólar como moeda nas transações de países do grupo. Por enquanto, a ideia é apenas desenvolver os sistemas de pagamento em moedas locais, mas no longo prazo há a ambição de substituir o dólar como principal moeda de reserva internacional. Não há dúvida que, em algum momento, será adequado achar uma moeda mais estável e mais sólida do que o dólar para lastrear as relações econômicas internacionais. Mas é improvável que a solução vá nascer de entendimentos com um país que manipula sua própria moeda para tomar empregos de outras economias.

Alex Ribeiro é correspondente em Washington. A titular da coluna, Claudia Safatle, não escreve hoje excepcionalmente

E-mail: alex.ribeiro@valor.com.br

2023) Diplomacia do futebol e suas metáforas....

E o Irã, que posição ocuparia no jogo de futebol?

Brasil não teme ficar isolado, diz Amorim
TÂNIA MONTEIRO
Agência Estado, 15 de abril de 2010

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, declarou, após o final das reuniões do BRIC, que o Brasil não tem nenhuma preocupação em ficar isolado na defesa de que não sejam aplicadas sanções ao Irã por causa de seu projeto nuclear e usou uma comparação com o futebol para falar da situação brasileira.

"Antigamente no futebol tinha o ponta esquerda e ele ficava isolado porque ninguém jogava bola pra ele. O Brasil não tem esse problema. O Brasil joga no meio de campo e, portanto, recebe bola e passa bola", afirmou Amorim, insistindo que a imprensa é que tem preocupação com isolamento, não o governo. "Não temos essa preocupação. Isso é uma preocupação de vocês", disse o ministro.

Celso Amorim disse ainda que o Brasil está conversando com vários países sobre a questão do Irã e depois destes encontros, certamente, todos vão refletir sobre as conversas. "Todos compartilham a percepção sobre o valor de uma solução negociada e os inconvenientes que podem ter as sanções", declarou Amorim, acrescentando que cada país fala por si e o Brasil defende o diálogo e todas as conversas foram muito produtivas.

Comentários à matéria do Estado:

4 Alfredo Junior
16 de abril de 2010 | 7h 11Denunciar este comentário

Esse Celso Amorim é a pior desgraça do governo Lula. O panaca quer comparar um assunto tão sério com futebol. É um imbecil de carteirinha mesmo. Mas é bom que os brasileiros vejam bem quem é o pivô de todas as enrascadas em que se mete o presidente, para que depois saiba de quem cobrar. Maldita hora em que delegaram poder a um retardado mental.

3 Alberto Martinet
16 de abril de 2010 | 6h 22Denunciar este comentário

O Amorim idolatra de tal maneira o chefe que já está se deixando contaminar pelo vezo de arrematar seus pensamentos com metáforas futebolísticas. É muito rasteiro para quem ocupa hoje o lugar que já foi do Barão do Rio Branco.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

2022) A parabola do samaritano, revisitada, e novamente corrigida

O leitor José Marcos, a propósito deste meu post:

terça-feira, 13 de abril de 2010
2096) Efeitos nefastos do Bolsa Familia sobre o mercado de trabalho

que provocou certa polêmica, como se pode constatar pela fileira de comentários a ele anexa,
mandou-me esta singela parábola adaptada ao seu gosto:

José Marcos deixou um novo comentário sobre a sua postagem "2096) Efeitos nefastos do Bolsa Familia sobre o me...":

A PARÁBOLA DO BOM SAMARITANO REVISITADA
Descia um homem de Manari para Maceió, e caiu desfalecido, meio morto, em virtude da fome e do inclemente calor do sertão nordestino. E, ocasionalmente, descia pelo mesmo caminho certo empresário; e, vendo-o, passou de largo. E de igual modo também um banqueiro, chegando àquele lugar, e, vendo-o, passou de largo. Mas um alto funcionário público, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão; com seu telefone celular, convocou um carro-pipa para aplacar a sede do infeliz; em seguida, inscreveu-o num programa assistencial do governo para combater a fome. Ao ver as ações que o alto funcionário público tomara, o empresário e o banqueiro ficaram profundamente indignados. Foram tomar-lhe satisfações, alegando que ele estava gastando o dinheiro dos impostos de forma irresponsável, sem uma contrapartida de prestação de serviços. Acrescentaram que tal assistencialismo contribuiria apenas para produzir indolentes e refratários ao trabalho. Tomaram, então, os benefícios que o alto funcionário público havia dado ao homem que caíra no caminho. Decorridos alguns dias, o homem tornou novamente a cair na estrada de Manari para Maceió. Dessa vez, não mais se levantou do lugar.

==============

Volto a comentar (PRA):

Eu acho que ele errou ligeiramente na parábola, por isso me permito corrigi-la (e corrigi-lo):

A NOVA PARABOLA DO SAMARITANO (versão corrigida e atualizada)
Estavam 44 milhões de brasileiros, à beira da estrada, desfalecidos, desnutridos, quase mortos de fome, sob o sol inclemente, chuvas torrenciais, bandidos salteadores, políticos desprezíveis, enfim, mais de 9 milhões de famílias absolutamente desprovidas de meios para se alimentar dignamente, e que esperavam pelo seu salvador há 500 anos.
Nunca antes neste país alguém havia se preocupado com eles. E ali estavam os 44 milhões de brasileiros prestes a morrer de fome.
Passavam por eles banqueiros, capitalistas, políticos do PSDB, do DEM, coronéis do Nordeste, funcionários do Banco Mundial, do FMI, da ONU, do Vaticano, todo esse bando de privilegiados, e deixavam os 44 milhões de brasileiros entregues à sua própria sorte, condenados a morrer de fome, se não fosse uma aparição repentina.
Foi aí, então, que em 2003, quando a história começou nestepaiz, que um Salvador, filho de Deus (quem sabe até o próprio), saído dos grotões de Pernambuco, para caçar rato e passar fome em SP, mas que depois engordou um bocadinho, foi aí que este anjo salvador criou o Bolsa Família -- com um pouco de know-how tucano, mas isso não é para ser dito nesta parábola tão exemplar -- e começou a encher o programa de gente pobre, saídos das listas das prefeituras (algumas controladas por coronéis, que maldosamente também incluiam suas cunhadas, o gato e o cachorro no programa) e salvos milagrosamente de morrer de fome pela mão do divino redentor.
E foi assim que 44 milhões de brasileiros famintos puderam comer.
Como o divino redentor não tinha meios próprios para alimentá-los, ele foi pedir ao maldito agribusiness que aumentasse a sua produtividade e passasse a fornecer uma quantidade maior de alimentos.
Sim, o divino redentor não contava que todos aqueles miseráveis que antes sobreviviam de agricultura de subsistência, de xepa na feira, de pequenos trabalhos no mercado informal, parariam de trabalhar apenas para serem acolhidos pela graça divina de receberem dinheiro do Bolsa-Família e assim poderem ir na feira, na quitanda, no empório, no supermercado, e comprar seu alimento.
Mas, como antes eles viviam de sistemas de subsistência, houve uma diminuição do trabalho e do fornecimento de produtos desses setores informais.
Se não fosse o extremo dinamismo da agricultura capitalista no Brasil, o Bolsa-Família teria tido efeitos inflacionários e de desequilíbrio entre a oferta e a procura, o que foi contornado pelo tremendo potencial da agricultura moderna no Brasil (e isso a despeito de um bando de energúmenos que insistiam em bloquear as possibilidades de o agronegócio aumentar sua produção, com invasão de propriedades, destruição de culturas, de equipamentos e toda a sorte de abusos).
Foi assim que o divino redentor conseguiu alimentar todo aquele povo.
Mas antes precisa ser dito outra coisa.
Se ele não tivesse colocado mais impostos e contribuições sobre os empresários, sobre a classe média e sobre o povo trabalhador em geral, ele JAMAIS teria conseguido o dinheiro para dar para aqueles 44 milhões de famélicos, que corriam o risco iminente de morrer de fome, não fosse sua genial e divina intervenção.
E assim foi a história verdadeira do bom samaritano, que de samaritano não tem nada, sendo apenas uma aliado de velhos e novos coronéis, para manter o povo humilde na dependência da assistência pública, com propósitos claramente eleitorais.
E tem gente que ouve uma outra versão da parábola e ainda pensa que o mundo é feito de milagres e de divinos redentores...

Pela nova versão da parábola:
Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 16.04.2010)

2021) A quantos ministerios estamos?

Será o 39., ou o 40. ministerio? Alguém sabe dizer?

Lula incentiva criação de ministério para PME

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva incentivou a criação de um ministério específico para pequenas e micro empresas durante evento no Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). "É incompatível o mesmo ministro estar preocupado com os problemas da Gerdau [empresa do setor de aço] e da companheira costureira de Brasília que veio aqui", disse, se referindo a uma costureira que discursou no evento. Mas descartou criar um ministério no final de seu governo.


Alguém me ajude, por favor, eu perdi a conta depois de ministerio 37...

2020) A moeda (ainda inexistente) dos Brics: um exercicio intelectual, segundo Lamy

Sempre achei que essa mania de trocar o dólar por moedas locais, ou outras moedas, acarreta custos, e não apenas de transações, como diz o diretor geral da OMC, Pascal Lamy, mas também custos políticos.
Ora, não acho que seja função de Bancos Centrais assumir riscos comerciais de agentes privados, que devem, de maneira geral, ser brindados com todas as opções disponíveis no mercado para que eles mesmos façam suas escolhas (ou seja, escolher eles mesmos as moedas em que pretendem transacionar -- bens, serviços, moedas, financiamentos, etc -- e assumir os riscos cambiais disso).
Aos Bancos Centrais, em nome dos governos, cabe diminuir os custos de transação e tornar o sistema homogeneo, simples e de fácil contabilidade e controle.
A libra nos serviu durante mais de 150 anos; desde 1939 foi substituída pelo dólar, por razões de guerra e de ordem econômica: este já se tinha tornado a moeda dominante de nosso comércio.
O que deveria haver, sim, seria a conversibilidade do Real brasileiro, e a plena liberdade dos agentes econômicos para fazer o que desejarem de seus bens e moedas.
Ao governo, cabe defender o interesse coletivo e o patrimônio público.
Se trocar o dólar por qualquer outra moeda implica em maiores riscos e maiores custos, é evidente que pretender trocá-lo contra essas evidências, só pode ser por motivos políticos e ideológicos, e é preciso que isso fique bastante claro.
Por isso concordo com Lamy: essa conversa de substituir o dólar é um exercício intelectual, mas vou mais longe do que ele. É um exercício que pode custar caro para o Brasil.
Paulo Roberto de Almeida

Substituição do dólar é apenas um exercício intelectual, diz Lamy
Assis Moreira
Valor Econômico, Quinta-feira, 15 de abril de 2010

O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, chegará nesta sexta-feira à noite ao Brasil sem muito entusiasmo por um dos temas que os Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) pode ter discutido pouco antes em Brasília: o uso de suas moedas no comércio entre eles em gradual substituição ao dólar. Em entrevista antes de partir para o Chile, Lamy qualificou a questão de exercício intelectual e que o papel do dólar no sistema monetário internacional é um debate de 50 anos.

Se você olhar a taxa de câmbio dessas moedas (dos Bric), ela é muito mais estável que uma cesta aleatória de outras moedas, afirmou. Haveria uma expressão política dos países emergentes em optar por isso, eles acham que o sistema monetário internacional devia agir quanto ao dólar. Acredito que é bom investir intelectualmente no que for o sistema monetário internacional adequado em uma economia globalizada. Mas é um exercício intelectual.

Em novembro, a OMC foi bem mais incisiva num texto divulgado como anexo. Primeiro, constatou sinais de erosão no papel dominante do dólar no mundo. Estimou que nos próximos cinco anos a economia americana vai crescer menos do que o resto do mundo. E essa divergência de expansão é particularmente importante em comparação com a China e a Índia. Enquanto os EUA continuarão a ser a maior economia do mundo, sua fatia de produção vai declinar. Futuros déficits fiscais americanos e ameaça de inflação por causa da gigantesca expansão monetária na crise podem erodir a confiança no futuro valor do dólar. Mas, diz a OMC, é difícil prever se o dólar será destronado, como ocorreu com a libra esterlina no século XX.

Em todo caso, segundo a OMC, o papel internacional do dólar americano, mesmo se erodido, não vai declinar imediatamente. É que, para o comércio, um sistema monetário internacional com múltiplas moedas em vez de uma dominante significa custos de transação mais elevados e mais incertezas na condução das exportações e importações.

Lamy procurou, porém, driblar a questão de moedas, que está no centro das divergências entre os Estados Unidos e a China, por exemplo, com Washington acusando Pequim de subavaliar sua moeda e agir deslealmente no comércio. Isso que o câmbio chinês está desequilibrando o comércio é o que dirão alguns economistas, mas outros dirão que o câmbio não importa para moldar os fluxos comerciais, comentou.

2019) O Fim do Terceiro Mundo -- calma, apenas do conceito...

Na verdade, ainda que a realidade seja completamente diferente, atualmente, as mentes ainda não mudaram, e algumas vão demorar para mudar.
Tem gente, por exemplo, que precisa desse conceito desesperadamente. Não querem deixar de ser Terceiro Mundo para nada.
Tem gente conservadora que detesta mudanças, mesmo quando elas são ditadas pela realidade.
AO fim e ao cabo, as mentalidades vão demorar a mudar, sobretudo certas mentalidades...
Paulo Roberto de Almeida

Nova ordem: Zoellick defende fim do uso do termo datado da Guerra Fria
Para o Banco Mundial, não há mais 'Terceiro Mundo'

Valor Econômico, 15/04/2010

O antigo conceito de "Terceiro Mundo" já não se aplica atualmente e os países ricos não podem mais impor sua vontade às nações em desenvolvimento, que são agora os principais motores do crescimento mundial, disse o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick.

Em um discurso feito ontem, que serviu como uma espécie de preparação para as reuniões do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI), em Washington, na próxima semana, Zoellick advertiu contra o uso de velhos padrões, que refletem apenas interesses próprios. Ele se referia ao termo hoje pejorativo de Terceiro Mundo, já que esses países emergentes tendem a desempenhar um papel cada vez maior nas duas instituições surgidas dos Acordos de Bretton Woods (1944).

Ele disse que o progresso econômico nos países em desenvolvimento teve profundas implicações para a cooperação global, multilateralismo e para o trabalho de instituições como o Banco Mundial. "As placas tectônicas econômicas e políticas estão se movendo", afirmou Zoellick em discurso no Woodrow Wilson Center. "Nós podemos mudar com elas ou podemos continuar a ver o novo mundo pelo prisma do velho. Devemos reconhecer novas realidades. E agir sobre elas."

O termo Terceiro Mundo foi oficialmente adotado pela primeira vez durante a reunião de países asiáticos e africanos, em abril de 1955, na Conferência de Bandung, em Java, na Indonésia. Ele definia os países que se pretendiam não-alinhados às duas superpotências da época: EUA e URSS.

A origem do nome está na ideia do demógrafo francês Alfred Sauvy, que propunha a ideia de um Terceiro Mundo, inspirado na ideia do Terceiro Estado, usada na revolução francesa. Os países do chamado Terceiro Mundo deveriam se unir e revolucionar a Terra, como fizeram os burgueses e revolucionários na França. Os chamados Primeiro Mundo e Segundo Mundo surgiram de uma interpretação errônea por parte principalmente da mídia. Assim, convencionou-se que o Primeiro Mundo seria o dos países capitalistas desenvolvidos, enquanto o Segundo Mundo seria o dos países socialistas industrializados. Restariam no Terceiro Mundo os países capitalistas economicamente subdesenvolvidos e geopoliticamente não-alinhados.

Espera-se que nas reuniões da próxima semana seja aprovado o o primeiro aumento de capital para o Banco Mundial em 20 anos. Os países ricos industriais têm sido os maiores contribuidores para o Bird e ditado a forma como esses fundos são gastos. Espera-se agora que os países emergentes tenham um papel maior.

Zoellick disse temer que o incentivo à cooperação entre países vá desaparecer com a recuperação da economia global e a rápida evolução de uma economia mundial multipolar, em que alguns países em desenvolvimento estão se tornando potências econômicas.

As mudanças no mundo não estão apenas na China e na Índia, disse ele. A África Subsaariana poderia crescer a uma média de mais de 6% até 2015, enquanto o Sul da Ásia, onde vive a metade dos pobres do mundo, pode crescer até 7% ao ano no mesmo período. "Estamos agora em uma nova economia mundial, em rápida mutação multipolar, onde o norte, o sul, o leste e o oeste são agora os pontos de uma bússola, não destinos econômicos", disse Zoellick.

Mas com a maior influência global vem acrescentada a responsabilidade, observou ele, advertindo os países em desenvolvimento que querem maior participação nas instituições internacionais.

Na semana passada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou reformas nos organismos multilaterais e disse que o Brasil não se tornou credor do FMI e do Bird para não haver modificações em seus procedimentos.

"É preciso que o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional abandonem seus dogmas obsoletos e condicionalidades nefastas. O Brasil não se tornou credor desses organismos para que as coisas continuassem como antes", disse o presidente.

"Exigimos reformas profundas para que os países em desenvolvimento possam ter voz ativa na definição de seu futuro."

(Com agências internacionais)

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...